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História Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter nineteen


Escrita por: kyyyaxoxo

Notas do Autor


segura muleque

Capítulo 20 - Chapter nineteen


Fanfic / Fanfiction Blue Moon (Em Hiatus) - Chapter nineteen

O alfa respirou fundo várias vezes, em busca de autocontrole, o que parecia impossível já que o cheiro daquele ômega estava arrancando sua sanidade. Depois de ajudar a protegê-lo, o Son havia se trancado em seu quarto para respirar direito e tentar esconder a ereção já bem formada. Aquilo irritava, a maneira que seu corpo respondia tão bem aos estímulos olfativos. Por que aquele ômega o afetava tanto? E de tantas maneiras diferentes?

Ouviu um gemido e soube muito bem de onde vinha. Fechou os olhos e se concentrou nos sons que o Shin produzia. Parecia um tanto masoquista o que estava fazendo consigo mesmo, mas ele não ligava para detalhes, os ruídos libidinosamente melodiosos que saíam da boca do loiro era por demais fascinantes. Também podia sentir a presença de Jooheon no quarto, e uma raiva estourou dentro de si sem motivo aparente.

— Honey... — Hoseok gemeu, claramente pedindo ajuda do irmão. A audição de alfa de boa linhagem o ajudava a entender a “conversa” que se passava no cômodo ao lado.

— É errado, eu não consigo. Me desculpa, hyung. — e então ouviu o barulho da porta se abrindo e passos no corredor.

As lamúrias do Shin aumentaram. O Son estava tentando a todo custo se controlar para não sair dali e foder aquele loiro perturbadoramente lindo. O ômega choramingava desesperado, desesperado por um parceiro, e toda aquela atmosfera apenas contribuía deixar a calça de Hyunwoo ainda mais apertada.  Ele não se movia por conta própria, não tinha domínio sobre o que fazia, estava perdendo a consciência a cada segundo que se passava. A mão direita acariciava o volume no meio das pernas por cima do tecido grosso da roupa que usava, a fricção fazendo-o soltar pequenos grunhidos. O cheiro do ômega parecia mais forte ou era sua imaginação?

Os olhos do alfa mesclavam intensamente, indicando seu imenso descontrole. Seu cio provavelmente seria na próxima semana, porém o cio de Hoseok foi a espoleta para os sentidos já sensíveis do alfa, que quando percebeu, estava parado na porta do quarto do ex ruivo, observando o a inquietação do loiro deitado na cama, necessitando aliviar o próprio corpo.

— Você é meu, ômega. — proferiu em um grunhiu.

Hoseok tinha o olhar inebriado pelo tesão e a febre do cio, sua presença forte e a voz de comando indicando posse fizeram-no estremecer no colchão, no mesmo lugar onde Jooheon o havia deixado. O loiro tirou a cueca sem pudor algum e, ainda mais excitado com a ideia de ele estar o observando, começou a se masturbar, flexionando as pernas e deixando os joelhos afastados para dar a visão privilegiada a sua área sedenta por atenção. O lubrificante natural escorrendo de sua entrada detinha toda atenção do alfa e seu cheiro parecia estar se impregnando no olfato dele.

— Dói... — gemeu o Shin com lágrimas nos olhos enquanto tentava se aliviar, friccionando o corpo contra o colchão. — Faz parar... Hyunie... — o apelido saiu manhoso, o que fez o alfa rosnar e ir em direção ao ômega.

Hyunwoo parecia um animal tentado proteger algo que lhe pertencia, colocando seu cheiro ali. Enfiou o rosto no pescoço do Shin sem a menor cerimônia, puxou o ar e deixou o que lhe restava de consciência se esvair de uma vez por todas. Começou a beijar e chupar aquele lugar sensível sem delicadeza alguma, e o Shin se remexia pedindo por mais. O alfa emaranhou os fios loiros entre os dedos e puxou para trás com certa violência, dando-se mais espaço para judiar da tez incrivelmente clara a sua disposição.

— Meu. — Shownu repetia isso como um mantra enquanto aproximava seus lábios famintos da pele febril.

Ele deixou uma trilha de beijos, lambidas e chupadas do pescoço até o peitoral que, mais tarde, estariam roxos devido ao jeito duro que dava as caricias. Capturou um mamilo do loiro, rodeou o botão com a língua e sugou com força, raspando o dente ali e fazendo o ômega gemer mais alto pela mistura de dor e prazer que aquilo causou em seu corpo.

— M-mais...! — o Shin pedia, sem parar a masturbação em momento algum.

O alfa cuidou do outro mamilo e, em seguida, se levantou, retirando suas calças rapidamente e, não perdendo tempo com a camisa, rasgou-a. Queria voltar para o calor do corpo de Wonho, este que já estava completamente nu e entregue abaixo de si. Aproximou os quadris e fez o outro parar de se tocar para juntar seus membros, segurando-os com sua mão e começando movimentos de vai e vem em ambos os falos, que escorriam certa quantidade de pré-gozo. Shownu cessou seus movimentos e bateu na mão do ômega, que choramingou desgostoso, quando tentou se tocar de novo. O loiro arfou alto, não esperava que o Son fosse abocanhar seu membro. O outro não fazia movimentos de vai e vem, deixava somente sua língua fazer o trabalho, deixando o ômega agoniado por querer mais fricção, querer se satisfazer por completo.

— Hyunie...! — gemeu, e o lobo do alfa estava se divertindo com as reações do ômega, seu ego estava sendo inflado com a ajuda dos gemidos e pedidos de Hoseok.

O Shin puxou o alfa pelo cabelo, a procura dos lábios do moreno. Diminuiu a distância entre seus rostos, as línguas se tocavam naquele beijo eroticamente afoito e deixava ambos mais excitados. Mas aquilo não era nada ainda, o alfa estava possessivo, como a maioria dos alfas durante o cio, ele apertava todo o corpo do loiro, fazendo-o arfar e gemer pela dor graças a força mal calculada. O Son estava sendo um tanto sádico, pois o corpo de Wonho ficaria cheio de marcas roxas mais tarde, era como se quisesse marcar seu território.

O alfa desfez o beijo e ficou por cima do ômega, ficando de quatro sobre ele e fazendo com que ambos ficassem com os membros de frente para os rostos um do outro. O Shin lambeu somente a glande e fez o alfa rosnar com aquilo, usando a ponta da língua para delinear as veias saltadas no membro de Shownu e aquilo estava irritando o alfa. Alfas gostam de contato direto durante seus cios, sem muita enrolação, ômegas também não gostavam disso, afinal ambos queriam se aliviar, mas aqueles dois não se encaixavam nos parâmetros considerados normais. Mesmo sem ter noção sobre seus atos e sobre o efeito do cio, parecia que queriam se provocar.

O Son colocou o falo de Hoseok de uma vez na boca e começou a sugar. O ômega urrou e decidiu por contribuir, acolhendo-o em sua boca. O som de sucções e ofegos soava pelo quarto, deixando-os ainda mais desesperados, o que corroborou para não ficarem nisso por muito tempo. Assim que o alfa decidiu invadir o orifício do Shin com dois dedos de uma vez, o ômega pareceu se assustar, consequência dos abusos sofridos, mas a febre logo o fez responder aos toques. Hoseok era sensível ali, mais sensível que qualquer ômega com quem já tenha se deitado antes. Retirou os dedos abruptamente dali e se sentou, trazendo o ômega para seu colo.

— Senta. — usou a voz de comando, e o ômega pareceu sorrir com aquilo, a febre parecia estar aumentando novamente. O outro se esfregava, mas parecia temeroso ao mesmo tempo. O alfa, já sem paciência, posicionou o membro na entrada do loiro, que jogou a cabeça para trás só de sentir a glande molhada do alfa tocar sua entrada. — Senta. — mandou mais uma vez, e o ômega obedeceu indo de uma vez e soltando um grito ao sentir todo o comprimento do alfa escorregar para dentro de si, chegava a senti-lo pulsar de tão sensível que estava e era muito gostoso. — Se mexa.

O ômega estava definitivamente fora de si, começou a cavalgar no colo do Son, que segurava firmemente em seu quadril ajudando nos movimentos rudes e certeiros. O Shin arranhava com força os ombros e bíceps do alfa e podia sentir a fina camada de pele sob suas unhas. Eles uniram os lábios novamente em um beijo afoito e cheio de desejo.

— Mais... — Hosek disse após separarem os lábios. Era uma bagunça desesperada de suor, gemidos e ofegos. — R-rápido...! — pediu.

— De quatro. — o Son ordenou e o foi atendido rapidamente. O outro queria mais rápido, mais forte, mais fundo, e Shownu daria isso ao loiro.

O azulado se colocou erguido e afundou o rosto entre os travesseiros da cama, levando as mãos a ambas as nádegas e afastou a carne macia, deixando-se completamente amostra ao Son. Hyunwoo sentiu o sangue ferver ao ver os anéis daquele lugar se contraindo e relaxando e a lubrificação natural em abundância. Necessitava provar daquilo, então colocou a boca ali, dando leves lambidas e sugando um pouco do lubrificante do ômega. Era maravilhoso, queria poder provar daquele ômega para o resto de sua vida. Retirou o rosto da entrada do Shin e deu um tapa estalado na nádega direita, deixando o local vermelho e com a marca dos dedos, e se posicionou. Sem esperar mais nada, começou a investir com violência ali e aquilo estava agradando imensamente ao Shin, que gemia e pedia por mais.

O som dos corpos se chocando era delicioso para os ouvidos de ambos. Shownu atingiu um ponto que fez o ômega tremer e gritar pela onda de prazer que sentiu. O Son sorriu e começou a mirar nesse ponto, acertando-o consecutivamente, levando o Shin à beira do limite. O Son sentiu o nó começar a se formar e aos poucos a movimentação ficava mais difícil, estava quase chegando ao ápice, e os espasmos no corpo do ômega indicavam que ele também estava quase lá.

— S-Son...! — chamava pelo alfa, que estava com seu ego do tamanho do universo por aquele feito. Alfas são extremamente orgulhosos e, deixar um ômega completamente extasiado, os deixava satisfeitos.

O corpo do Shin tremeu mais e o Son ainda se mexia mesmo com o nó quase que totalmente formado. Queria fazer perdurar a sensação de êxtase, seus olhos reviravam dentro das pálpebras fechadas e gemeu arrastado ao chegar ao seu ápice quase que ao mesmo tempo que o ômega, algo que é muito raro durante o cio de alfas e ômegas juntos. 
Caíram cansados e suados na cama ainda atados pelo nó, o alfa puxou o ômega pelo torso para mais perto de si, colando as costas dele ao seu tronco, e aspirou o cheiro do loiro. Os dois agiam de forma instintiva no momento, tanto o Son querendo deixar seu cheiro em Hoseok, quanto o Shin aceitando e querendo mais do alfa para si. E aquela seria uma longa semana para eles.

 

(...)

 

As ruas estavam consideravelmente calmas para uma cidade que nunca dormia. Ou talvez isso só se aplicasse a determinadas horas e a alguns pontos específicos de Nova Seul. Não que isso fosse relevante naquele instante, muito pelo contrário, Jooheon sequer notava os detalhes ao redor enquanto dirigia sem rumo algum. O Lee sequer ligava com a pequena, porém possível, possibilidade de ser parado numa blitz e acabar sendo preso por estar dirigindo sem possuir uma habilitação. Se ele se importava com isso? Francamente, não, até porque a bagunça mental perturbante e a borbulha de sensações em seu âmago impediam-no de se importar com meros detalhes. Uma coisa que queria e necessitava no momento era ar puro para espairecer ao menos que um pouco.

O parque Hangang ainda parecia o mesmo de séculos atrás, com pequenas diferenças de alguns detalhes de infraestrutura que foram implantados para ornamentar os arredores com passar do tempo. O fluxo de pessoas estava pequeno, quase nulo, para aquela hora da noite (ou já era madrugada?), deixando assim todo o perímetro numa extrema calmaria. O alfa estacionou e saiu do carro, caminhando parque a dentro. Sentou ali mesmo na grama, observando a Ponte Yanghwa se estender até os prédios um pouco mais ao longe, as luzes típicas da cidade, que ofuscavam as estrelas no céu noturno apenas parcialmente encoberto, a lua azul brilhando imponente e a extensão do Rio Han que ia muito além do que seus olhos permitiam enxergar.

Suspirou. Nem mesmo aquela paisagem magnífica ao redor conseguia distraí-lo um pouco da baderna interna. Havia se tornado tão comum sentir isso e, mesmo assim, nunca conseguia se acostumar. Contudo, haviam momentos em que se pegava pensando se aquele mar de confusões instaurado dentro si realmente poderia ser considerado como algo comum. Ele, em toda sua vida, jamais sentira algo tão intenso como isso, mesmo parecendo uma simples crise amorosa adolescente.

Sim, o ex ruivo não era e nem nunca foi cego como Kihyun havia sido, tinha plena consciência dos seus sentimentos por Changkyun. Assim como os dele por si. Apesar de que nunca houvessem dito isso um ao outro em momento algum, os sinais eram claros como água. Ainda assim, não era como se esse fato fosse explicar o turbilhão que se apossava de si quando certo ômega estava envolvido.

Será que simplesmente poderia dizer que estava profundamente apaixonado pelo menor? Seus instintos lhe diziam que não. Já havia se apaixonado algumas vezes e sequer chegava aos pés do que sentia por Changkyun. O curioso era que, quando o viu pela primeira vez, naquele dia que Wonho foi dormir na casa dos Yoo, sentiu-se tão fascinado por ele, tão encantado, tão enfeitiçado que as pessoas ao redor não lhe pareciam mais chamar atenção, ninguém parecia mais perfeito para si do que aquele garoto. E sabia que o outro se sentia desta mesma forma. Soava tão arrogante e presunçoso afirmar tal coisa, afinal como podia ter tanta certeza disso se sequer estava na pele do ômega para sentir o que ele sente? De fato, parecia ser um egocêntrico com essas conclusões, mas não era. Ele simplesmente sabia, sem saber como, mas sabia. E, ao analisar tal coisa, notou que era completamente equivocado associar tudo aquilo a uma mera paixão.

— Seria precipitado demais dizer que o amo? — perguntou a lua azul. Talvez fosse, talvez não, mas era a única explicação que fazia sentido para si. Jooheon grunhiu desgrenhando o cabelo. Por que diabos ainda parecia ser uma resposta tão vaga? O que, afinal, estava tentando descobrir?

O celular vibrou dentro do bolso da calça. Nem lembrava de tê-lo trazido quando saiu de casa horas atrás. E, antes de pegá-lo, soube que era Changkyun. Não, seu celular estava no vibracall, não havia como a notificação do Kakao Talk lhe alertar que era ele, até porque não havia outra pessoa (a não ser ele, claro) que estaria lhe enviando mensagens a essa hora. Parou com as teorias da conspiração que estava começando a formular em sua cabeça e tratou de ler a mensagem.

 

[Puppy]

Desculpa, devo ter te acordado

Mas você tá bem, hyung?

 

Um sorriso irônico repuxou seus lábios. Ainda não entendia como Changkyun conseguia ler sua máscara de imparcialidade tão bem e, agora, ele também sabia quando estava passando por um conflito interno mesmo estando longe? Era só o que faltava.

Respondeu um simples, lacônico e pouco sincero “Sim” a ele.

 

[Puppy]

Mentiroso

Você prometeu que não iria mentir pra mim

 

— Eu minto tão mal assim? — disse para si mesmo enquanto seus dedos digitavam a resposta.

 

[JH Lee]

Nem eu sei porque tô assim

Mas obrigado por se preocupar comigo, Puppy

 

O alfa não precisava ver para saber que o ômega estava corado. A resposta dele evidenciava: um aviso de que iria dormir, outro pedido de desculpa por ter possivelmente lhe acordado e um desejo de boa noite, tudo escrito de forma tão afobada que veio cheia de erros de digitação devido ao nervosismo. Aquela mensagem, por mais simples que fosse, era a coisa mais meiga do mundo aos seus olhos. Somente por ter sido digitada erroneamente por Changkyun.

Tudo que envolvesse Changkyun o atraía. Era um feitiço ao qual não conseguia se libertar de maneira alguma. Porém, isso somente seria ruim caso o pequeno não estivesse também nessa mesma condição.

Foi então que algo que se acendeu em sua mente.

Claro, como não pensei nisso antes?

Talvez fosse tão cego quanto Kihyun no final das contas, mas seu caso era ainda mais justificável do que o dele. Afinal, jamais passou pela sua cabeça a possibilidade de ser um daqueles raríssimos casos, aqueles que mais pareciam lendas do que verdade. Por isso sente aquilo, todas aquelas sensações que nem sempre pareciam derivar de si, por isso que Changkyun consegue lê-lo tão facilmente para saber quando está bem ou não, por isso que seu lobo reage a ele, uivando para chamar o lobo do ômega; era simplesmente por isso.

Porque eram almas gêmeas.

Enquanto dirigia de volta para casa, apenas uma coisa estava clara em sua mente: ainda amanhã, não importa como, iria retirar qualquer dúvida que o ômega possa ter a respeito da relação deles e dar a resposta tão esperada para a pergunta que pequeno não conseguiu lhe dizer naquela varanda.

 

(...)

 

Changkyun arrastou aos pés até a cozinha, bocejando mais do que qualquer coisa e com os olhos mais abertos do que fechados. Após aquela breve conversa (se é que podia chamar assim) noite passada com Jooheon, teve um pouco dificuldades para voltar dormir. Não sabia ao certo quanto tempo descansou os olhos, mas, se fossem as horas que costumava dormir normalmente, seria um verdadeiro milagre. E assim, cansando de ficar rolando na cama, levantou-se cedo naquela manhã de sábado.

Ele abriu a geladeira e retirou os ingredientes para fazer o café, colocando-os no balcão próximo ao fogão, indo pegar os demais utensílios necessários para a preparação do desjejum. Antes que pensasse em colocar a frigideira num dos bocais, sobressaltou-se com o toque de seu celular. Retirou o aparelho do bolso de seu moletom preto de capuz e surpreendeu-se com o número e apelido de Jooheon em destaque na sua tela. Ele nunca havia ligado para si antes, não sabia se ficava feliz ou preocupado. Num misto de sono, curiosidade e até mesmo certo receio, deslizou o dedo para atender ligação e levou o celular a orelha.

— H-Honey? — praguejou mentalmente por ter gaguejado. Parecia estranho falar com ele desde aquela tentativa frustrada. Céus, sentia suas bochechas arderem só de lembrar.

— Oi, Puppy. Te acordei? — aquela voz rouca lhe causou arrepios ao chegar aos seus ouvidos. Aquele tom não esbanjava sono, mas, sim, exaustão.

— Tá tudo bem? Você não parece bem. Aconteceu alguma coisa contigo? Aconteceu alguma coisa com o Seok hyung? O que foi que-

— Changkyun. — aquele era um dos poucos momentos que Jooheon lhe chamava pelo nome. — Eu estou bem, de verdade. Eu só... não tive uma boa noite de sono.

O Yoo franziu as sobrancelhas. Ele também passou parte da madrugada insone?

— Tem certeza que tá bem? — insistiu.

— Está preocupado comigo, Puppy? — seu rosto esquentou com a insinuação.

— É claro que me preocupo com você. — resmungou baixo, esperando que ele não fosse ouvir. O que era muito ingênuo, pois o mais velho era alfa.

— É mesmo? — céus, tinha vontade de socar o rosto possivelmente sorridente dele. — E por que se preocupa?

Changkyun mordeu a língua. Estava quase falando que era porque estava apaixonado por ele ali mesmo no meio da ligação, contudo lembrou-se do que disse a ele ontem. Estava de cabeça quente devido a situação, despejou aquilo da boca para fora e, agora, arrependia-se disso. O outro provavelmente levou suas palavras a sério pelo jeito abatido que estava depois de ter pedido aquilo a ele. Agora, depois desse mico, uma barreira criada pelo medo de ser motivo de piadas estava o impedindo de tomar alguma atitude. Pela primeira vez em meses, não sabia como deveria agir ou falar com o Lee.

— Para com isso, idiota! — soltou um pequeno grunhido entre a vergonha e a irritação.

— Você podia passar o dia aqui hoje? — o pulso do Yoo vibrou quando ouviu aquilo.

— P-passar o dia aí? — repetiu, tentando digerir as palavras dele.

— É. Por favor, venha. Eu preciso me distrair um pouco.

O pequeno não soube exatamente o que queria dizer aquilo, mas o outro parecia tão cansado e, se não estivesse ficando louco, carente de sua atenção que ficou impossível recusar esse convite.

— E-eu preciso pedir pros appas se eles estiverem aqui agora ou pro hyung. E tem a pequena chance do Kihyun hyung não me deixar ir se ele não for junto também.

— Não tem problema, Puppy. Só vem, por favor.

— Ok, eu vou pedir e te mando mensagem quando tiver indo.

— Tudo bem, vou tá esperando. — o tom dele parecia ficar mais leve de repente. — Até depois.

— Até.

O barulho de ligação sendo encerrada soou no seu ouvido, e ele tornou a guardar o celular dentro do bolso do moletom, mordendo o lábio inferior. Kihyun estava dormindo feito pedra e seus pais, provavelmente apagados na cama após terem chegado em casa pelo início da madrugada por estarem muito ocupados com o caso que ficaram responsáveis há mais ou menos dois meses. Se acordasse o irmão, ouviria o tão conhecido discurso típico de ciúmes antes de tudo, mas ainda assim poderia ganhar um não como resposta. Kihyun podia ser bem pé no saco às vezes, quando com ciúmes mais ainda. Ele era seu hyung, afinal. E, embora estivesse com pena de acordar Donghae e Siwon para pedir isso, era melhor pedir a eles do que a Kihyun.

Estava tão distraído escolhendo as palavras certas para dizer ao mais velhos que nem percebeu alguém aproximar-se sorrateiro por trás de si. Quando sentiu dois braços restringindo seus movimentos com um agarro, seu corpo se moveu sozinho: agachou-se o quanto conseguiu para evitar que fosse derrubado ou levantado, girou o quadril para a direita e, com a palma aberta, começou a desferir golpes rápidos e fortes com a intenção de acertar a região pélvica de quem o segurava. Enquanto jogava o peso do corpo para frente, deu uma cotovelada na costela do outro, conseguindo se libertar, e virou para desferir um soco no rosto dele, mas seu punho foi segurado antes que acertasse o golpe.

— É bom ver que seus reflexos continuam bons, Kyunnie. — o mais velho sorriu e largou o punho de seu filhote.

— Desculpa, Hae appa! — o rosto de Changkyun se tornou escarlate. — Eu não sabia que era você. Eu pensei que-

— Se acalme, filhote. — riu do desespero do mais novo. — Eu só estava te abraçando por trás, mas é natural que tenha reagido assim por estar distraído.

— Vai nessa, Hae. — a voz de Siwon invadiu o recinto. — Da última que fiz isso quando ele estava distraído, levei um chute no saco.

— Não tenho culpa se você não reagiu a tempo. — Donghae deu de ombros, fazendo Siwon fechar o rosto numa carranca. — Bom dia, filhote. — virou-se para o ômega, beijando a bochecha dele em seguida. — O que faz acordado tão cedo? Não são nem oito horas ainda.

— Eu só acordei. — sorriu para não deixar seus pais preocupados. — E não consegui dormir de novo.

— Você ainda parece muito cansado. Vem cá com o papai. — o alfa mais alto abriu os braços, chamando-o. Seu filho que foi sem relutar, e o aconchegou em seu peito ao abraçá-lo. — Tem certeza que não quer ir dormir mais um pouco, hm?

— Eu tô bem, Won appa. — acomodou a cabeça no peitoral forte dele e inspirou fundo a fragrância natural do alfa. — Eu ia fazer café pra vocês.

— Você mal consegue deixar os olhos aberto ainda, filhote. — Donghae apertou o biquinho manhoso de Changkyun. — Sente na mesa e espere. Won e eu cuidamos disso.

O ômega assentiu e logo fez o que seu pai disse. Sentado à mesa, observava Donghae e Siwon se ajudando nas tarefas, vendo vez ou outra o mais baixo brigar com o mais alto para que parasse de ficar beliscando e esperasse a comida ficar pronta. Era engraçado o jeito como Siwon fazia drama para cima de Donghae, alegando que o esposo era muito cruel, e acabava ganhando um puxão de orelha ou uma tapa no braço para que parasse de frescura. Os dois, apesar da idade, por vezes tinham tendência a agir como crianças. Quando terminaram, os alfas colocaram os pratos na mesa e se juntaram ao filho para tomar café.

— Chegaram muito tarde ontem, appas? — Changkyun perguntou enquanto se servia com mais sopa de kimchi.

— Umas duas horas da manhã mais ou menos. — Siwon respondeu, levando mais uma porção de japchae a boca. — O que é cedo se considerarmos as vezes que chegamos as cinco.

— Ou quando passamos a noite em claro no departamento. — Donghae emendou. — Apesar de gostar do meu trabalho, prefiro acordar na minha cama do que debruçado numa mesa cheia de papéis. O que, ultimamente, tem sido difícil.

— Tem certeza que não quer entregar o caso? Outras pessoas podem ficar no nosso lugar. — os olhos do Yoo mais novo voltaram-se para Siwon. Mesmo não entendendo direito a conversa, alguma coisa no tom de seu pai mostrava que o caso era bastante complicado. — Sabe que-

— Não vamos entregar o caso, Won, e sabe muito bem que não vai me fazer mudar de ideia. — estreitou os olhos numa espécie de ameaça. Ambos haviam pegado o caso pelo mesmo motivo, não era um mero detalhe que iria fazê-lo abandoná-lo. — Deveria estar preocupado em fazer a barba ao invés de ficar sugerindo isso.

— Não seja tão cruel, Hae. — Changkyun abafou o riso quando o pai fez um bico. Ver Siwon tentando agir de forma fofa era adoravelmente engraçado. — O papai fica bonito de barba e bigode, não é, Kyunnie?

— Sim, appa. — o outro sorriu vitorioso com sua resposta.

— Viu? O Kyunnie sabe o que fala. — inclinou-se para perto do marido. — Você também gosta que eu sei. — deslizou o nariz pela extensão do pescoço alheio.

— Siwonie, para. A barba faz cócegas. — pediu em meio a riso baixo. — Para! Você vai acabar me fazendo derrubar meu kimbap!

— Paro se me der um beijo. — sussurrou ao pé do ouvido dele.

— Nosso filho está aqui. — alertou.

— Deixa de ser chato, Hae. Só um beijinho rápido. O Kyunnie nem vai prestar atenção. — com um movimento de cabeça, sinalizou em direção ao menor, que estava ocupado demais comendo bulgogi.

— Desde quando é tão carente, Yoo Siwon? Que lembre, eu que sou assim. — segurou o rosto dele e o beijou brevemente, sorrindo após isso.

— Desde que ficamos muito ocupados. — retribuiu o beijo e voltou a tomar seu café. — Talvez devêssemos acordar Kihyun. Faz tempo que não tomamos cafés juntos.

— Deixe ele dormir mais um pouco, Won. Eles voltaram da festa pouco antes de nós voltarmos para casa. — terminou de comer o que havia em seu prato. — Então, Kyunnie, — o ômega levantou o olhar quando o chamou. — está bem quieto.

— É só o sono, appa. — desviou o olhar, comendo o arroz com alga para disfarçar. A percepção de Donghae era afiada, ele não se deixaria levar por uma resposta pouco convincente, sabia disso.

— Tem certeza, filhote? — arqueou uma sobrancelha.

— Bom... Na verdade... — abaixou o jeotgarak ao lado do prato. — Honey hyung perguntou se eu podia ir passar o dia na casa dele, posso? — despejou de uma vez.

— Só você? — Siwon perguntou, falando pela primeira após algum tempo, e o tom que usou fez com que seu filho corasse.

— S-sim... — afundou-se no assento, constrangido.

— Pode ir. — Donghae disse. — Apenas diga para o teu irmão te acompanhar até o ônibus ou metrô quando for.

— Mas, appa... — resmungou, um biquinho manhoso se formando em seus lábios. — O hyung não vai me deixar ir.

— Diga ao teu irmão para não ser um pé no saco porque nós dois já deixamos. — Siwon se levantou, pegando toda a louça suja da mesa e colocando na pia. — Lave a louça, tome banho e fale com ele. Se ele não acreditar no que disse, nos ligue que a gente resolve isso pra você, ok? — o menor assentiu. — Vamos nos arrumar para o trabalho, Hae.

Changkyun recebeu um beijo de ambos os pais no topo da cabeça e os viu deixarem a cozinha. Tratou de lavar a louça rapidamente como havia sido dito para logo ir acordar o irmão. Enquanto subia após terminar de fazer a tarefa, cruzou com os pais nas escadas e lhes desejou bom dia e pediu para tomarem cuidado no trabalho. Tomou um banho rápido, vestiu uma camisa branca com um pouco de decote, colocou uma camisa xadrez vermelha por cima e botou seu jeans favorito, calçando o primeiro sapato que viu. Pegou a mochila, jogou o celular, a carteira, seus remédios e uma muda de roupas (caso quisesse trocar depois) nela e a pôs nas costas, rumando para o quarto do irmão.

Ele entrou com todo o cuidado do mundo para não acordar o mais velho. Fechou a porta bem devagar para não emitir algum ruído e colocou a mochila no chão. Kihyun estava deitado de bruços na cama, a cabeça afundada nos travesseiros e o corpo inteiramente cobertos pelos lençóis, roncando baixo. O menor sorriu antes de correr e se jogar sobre o rapaz adormecido. O alfa soltou um resmungou ao sentir seu peso sobre si, sendo despertado com sucesso.

— Bom dia, hyung. — encheu o rosto do alfa de beijinhos.

— Kyunnie, você não tá me deixando respirar desse jeito. — remexeu-se no colchão e suspirou ao sentir mais novo sair e cima de si. Seus olhos se direcionaram para o relógio digital na cômoda. — Eu não acredito que me acordou as oito e vinte de uma manhã de sábado. Eu vou dormir de novo.

— Levanta logo, seu chato. — levantou do colhão e puxou os lençóis, fazendo o outro se encolher em posição fetal. — Não reclama. Você ia ser acordado mais cedo, mas o Hae appa não deixou.

— Os appas estão em casa? — sentou-se, coçando os olhos para espantar o sono.

— Não, eles saíram ainda agora depois do café.

— Era pra ter me chamado. — resmungou, triste por ter perdido a chance de passar um tempinho com os pais. — Eu levantava na mesma hora.

— Desculpa, hyung. — deslizou os dígitos pelos fios rosados, tentando ajeitar a cabeleira em pé.

— Por que tá todo arrumado? — Kihyun bocejou enquanto se espreguiçava. Esfregou o rosto e piscou algumas vezes até estar devidamente acordado. — Vai sair?

— É... — mordeu os lábios num ato nervoso. — Preciso que me leve até o metro.

— Vai aonde?

— Casa do Honey. — soltou, já esperando uma má reação.

— Oh... — Changkyun permaneceu tenso enquanto o irmão perecia processar o que disse. — Tão cedo assim?

O ômega piscou, perplexo. Ok, aquela, de longe, não era a reação que estava esperando. Não que estivesse reclamando, olhando pelo lado bom, ele não ter se irritado já aumentava suas chances de conseguir o que queria. Talvez fosse o sono ou algo que tivesse acontecido ontem na festa quando não esteve por perto, tanto faz, as coisas aparentavam estar a seu favor.

— Ele me ligou, perguntando se podia passar o dia lá pra fazer companhia pra ele. — proferiu devagar a frase, escolhendo as palavras a dedo.

— Sério? — franziu as sobrancelhas, estranhando. — Não vai ser muito inconveniente? Digo, ele não- — interrompeu-se ai perceber o que estava para falar. Céus, o que tinha na cabeça? Quase falou que era possível que Jooheon estivesse ajudando Hoseok com o cio! Seu dongsaeng quebraria por inteiro apenas com sua insinuação. — Nada, esquece. Vou tomar banho e ir tomar café, daí a gente vai juntos pra casa dele. — tratou de mudar de assunto.

— Ele não te convidou, e eu não preciso de uma babá. — falou irritado, mas logo se arrependeu disso.

— Tá falando sério? — arqueou as sobrancelhas. — Até parece que vai me despachar assim, Kyunnie.

— Mas, hyung! — reclamou na mesma hora.

— Não tem “mas”, dongsaeng. Eu vou contigo. Ele jura que vou te deixar ficar sozinho com ele. — sorriu irônico.

E lá estava o ciúme característico de Kihyun.

Tava fácil demais pra ser verdade.

— Tá, seu chato! — bufou, já caminhando em direção. — Acho bom não demorar senão eu saio sozinho! — e saiu batendo a porta.

Kihyun riu do “emputecimento” do irmão, levando-se para ir ai banheiro. Tomou um banho um pouco demorado devido ao resquício de sono que ainda o deixando lento e vestiu-se o mais rápido possível para evitar que Changkyun comece a lhe gritar impaciente do primeiro andar. Antes de sair do quarto, pegou as chaves de casa, a carteira e o celular, botando tudo no bolso, rumando para a cozinha. Graças ao menor, praticamente engoliu o café e lavou a louça de qualquer jeito, e eles enfim deixaram a casa.

Durante toda a caminhada até a estação de metrô localizada a duas quadras de distância, Changkyun ficou de cara fechada. A frustação exalava de seus poros, era claro que estava chateado com o fato de Kihyun também estar indo. Não que não gostasse da presença do irmão, longe disso, mas estava pensando em como iria se redimir com Jooheon pelo incômodo da noite passada na varanda e, houvesse mais alguém por perto, provavelmente não iria conseguir fazer isso.

— A casa do Heon fica aqui. — Kihyun deu zoom no mapa digital pregado na parede para checar a rota feita pelo transporte. — Então, a gente desce nessa parada aqui — bateu a ponta do indicador na tela. — e anda o resto do caminho. Por sorte, o trajeto é menor do que se fossemos de ônibus.

— Ok, então. — Changkyun abriu a mochila e tirou a carteira de lá. — A passagem, contando comigo e contigo, vai dar- — o barulho de celular tocando interrompeu sua fala.

— É o meu. — falou enquanto tirava o smartphone do bolso. Viu o nome e o número de Minhyuk em destaque na tela e afastou-se um pouco para atender. — Oi, Min.

— Kihyunie... — a voz do Lee estava estranha, isso o deixou em alerta. — Você... tá ocupado agora?

— Eu tô indo com o Kyunnie pra casa do Heon. — disse, olhando o irmão por cima do ombro, e logo emendou: — O que foi? Você não parece bem.

— É só a ressaca. — aquilo era mentira. O alfa conseguia reconhecer o tom embargado de choro em qualquer lugar. — Se divirta na casa do Heon.

— Lee Minhyuk, não desligue. — fez uma pequena ameaça. — Sabe que pode me contar qualquer coisa, meu amor. — apelou para o apelido carinhoso.

— Eu só... — uma pausa. — Eu não me sinto muito bem e não quero ficar sozinho. Você pode vir pra minha casa agora? Aí eu te explico direito.

— Tudo bem, eu vou deixar meu irmão no metrô e vou pra aí, ok? Me manda o endereço por mensagem. Eu chego logo, logo. — disse ameno, apenas para acalmá-lo.

— Não demora, por favor. — pediu, e a ligação encerrou.

— Aconteceu alguma coisa, hyung? — o Yoo mais novo perguntou ao mais velho. — Você tá meio pálido.

— Min ligou. Ele tava... muito estranho. — coçou a nuca.

— Quer ir vê-lo, não é? — o maior assentiu. — Então, vá atrás dele. Ele deve tá precisando de ti.

— Mas você-

— Hyung, — segurou as mãos do irmão. — é do Minnie hyung que estamos falando, seu namorado e meu futuro cunhado. — o mais velho riu baixo. — Ele precisa de ti agora. Eu prometo que não vai acontecer nada demais na casa do Honey, e, qualquer coisa, sabe que eu posso torcer o pulso dele sem problema nenhum. — viu o outro concordar com um aceno de cabeça. — Eu te mando mensagem quando estiver voltando, e você me buscar aqui, tá?

— Tá. — enfim cedeu, suspirando alto. — Tome cuidado, Kyunnie. — beijou a testa dele.

— Você também, hyung. — devolveu o beijo na bochecha. — Até mais tarde.

O alfa checou o celular para ver o endereço e, sem mais perder tempo, pegou o ônibus que o Minhyuk lhe indicou. Durante todo o percurso, ficou imensamente inquieto, pensando no que o platinado havia dito. Bufava mais do que as pessoas atrasadas para o trabalho, sua mente criando mil e uma situações do que poderia estar acontecendo. E, quando viu que estava no bairro de Minhyuk, desceu apressado, rumando para a casa do mesmo.

Tocou a campainha e esperou até ser atendido. Enquanto a porta continuava fechada, observou os arredores. A casa dos Lee não era assim tão longe da mansão dos Lee, era localizada num ponto influente da cidade, um bairro quase do mesmo patamar que o de Jooheon. O único problema, segundo Minhyuk, era que levava quase uns quarenta e cinco minutos para chegar na escola a pé, um sacrifício que o ômega fazia todo dia para passar um tempo a mais com Hyungwon. O rosado sorriu só de pensar nisso.

A ruído da porta sendo aberta o fez voltar sua atenção para entrada novamente. Antes que pudesse entrar, sentiu os braços de Minhyuk ao redor dos ombros e o corpo dele se chocando contra o seu, fazendo-o cambalear alguns poucos passos.

— Min, o que foi? — perguntou, confuso, enquanto retribuía o abraçado.

— O Hyunginie mandou mensagem pra ti? — o respondeu com outra pergunta, encarando. — Ele mandou?

— Não. Você esteve chorando? — segurou o rosto dele. Os resquícios da maquiagem da noite passada estavam borrados pela pele alva do ômega, os olhos, vermelhos e inchados, e ele vestia a roupa de ontem.

— Ele... ele sumiu de repente. — Minhyuk não prestava atenção ao que Kihyun falava devido a sua preocupação. — Ele não me avisou nem nada, nem um sinalzinho de vida, e você também não sabe.

— Vamos entrar, Min. — segurou a mão dele, entrelaçando seus dedos, e guiou para dentro da casa, parando apenas para tirar os sapatos. — Você dormiu? Parece tão cansado.

— Eu liguei pra ele quando cheguei, mas a ligação caiu na caixa postal. Eu não consigo dormir sem falar com ele no celular antes disso, pode rir de mim. — sorriu sem ânimo. — Então, continuei tentando e, quando vi, amanheceu.

— Tomou café? — o outro negou. — Tome banho e me espere no quarto. Vou fazer teu café e levar pra ti.

O mais alto apenas assentiu e seguiu com suas ordens, deixando-lhe sozinho no primeiro andar. Tratou de fazer um café reforçado para ele, tentando um pouco de dificuldade para achar as coisas, nada que um pouco de paciência não resolvesse. Assim que terminou, colocou tudo numa bandeja e subiu as escadas, seguindo em direção ao quarto que tinha a porta entreaberta, o que julgou ser o do Lee. Ao adentrar o cômodo, deparou-se com um Minhyuk de rosto lavado a esfregar os cabelos molhados, vestido só de jeans. Ele pareceu não se importar com esse fato, mas o leve rubor em sua face lhe dizia o contrário.

— Vai ficar aí parado na porta? — o ômega disse ao sentar-se na cama, indicando que o alfa fizesse o mesmo.

— Já tá melhor pra tá falando desse jeito? — arqueou as sobrancelhas, indo colocar a bandeja ao lado da cama, na cômoda, e sentando ao lado dele.

— Sinceramente, eu mal me aguento em pé. — riu baixo e encarou a mochila de Hyungwon no chão. — Ele ia dormir aqui, sabia? — indicou a mochila que estava a encarar. — Ele sabia que eu ia ficar porre e não conseguir voltar pra casa sozinho.

— Era meio previsível. — riu com o soco que levou no braço. — Vai ver a amiga a mãe dele precisou que ele voltasse mais cedo já que a senhora Chae está doente. Os dois estão cuidando da senhora Chae, não é?

— Uhum. — concordou, sentindo-se desconfortável por mentir pra ele, mas não podia simplesmente contar a verdade.

— Deve ter sido isso. Não preocupe. — acariciou o rosto cansado do platinado, vendo-o fechar os olhos com o carinho, e deixou um selar demorado nos lábios dele. Levantou-se e pegou a mochila, tirando uma camisa de lá. — Vista. Tem o cheiro dele, vai te ajudar a ficar mais calmo.

Minhyuk sorriu com a ideia, que acabou por acatar. Tomou o café sem falar nada, sendo observado pelo rosado, que lhe olhava preocupado. Após terminar de comer, tornou a tentar ligar para Hyungwon e pediu para que Kihyun também tentasse. Com o alfa ali, parte de sua aflição evaporou, mas sua mente não lhe deixava quieto. Estava cansado, as pálpebras implorando por descanso, mas sua teimosia o impedia de dormir.

— Só mais uma vez, por favor. — Minhyuk fez seu melhor bico para fazer Kihyun lhe devolver o celular.

— Não, vamos fazer uma pausa. Você mal se aguenta acordado. — o alfa deitou-se. — Venha, deite aqui, amor.

— Kihyunie... — falou, manhoso, sentindo as bochechas arderem. — Não me chama assim.

— Você não gosta?

— Não é isso... — tufou as bochechas, um tanto envergonhado com o sorriso do alfa.

— Então, meu amor, — o Yoo falou, divertido. — deite aqui.

— Tá... — arrastou-se no colchão e deitou, posicionando a cabeça no peito dele.

— Descanse um pouco. Eu tô aqui qualquer coisa. — beijou a franja platinada. — O Hyunginie vai ligar logo.

— Eu espero que sim. — aconchegou-se mais no peito do alfa.

 

(...)

 

Changkyun sentou no sofá da sala e deixou a mochila no estofado enquanto esperava o empregado ir chamar Jooheon. A mansão estava calma, apenas os empregados arrumando os cômodos da casa, os pais do Lee provavelmente no trabalho. Não importava quantas vezes fosse lá, certo fascínio era inevitável, aquele lugar era magnífico.

— Senhor Yoo. — Changkyun olhou quando foi chamado, dando de cara com o empregado que o antedeu minutos atrás. — O senhor Lee pediu para esperar mais alguns minutinhos. Ele logo estará aqui.

— Ok, obrigado. — levantou-se apenas para reverência que o outro fez e tornou a sentar.

O ômega abriu a mochila e tirou o celular para se distrair. Clicou na galeria, vendo as diversas fotos que tinha ali. Não tinha aquele mesmo “quê” para fotografias como Donghae e Kihyun tinham, mas, assim como Siwon, era ótimo em tirar selcas. Passou de foto, parando numa um pouco antiga tirada no inverno. Olhar aquela recordação lhe trazia boas lembranças, tanto que um sorriso foi inevitável.

— Desculpe a demora, Puppy.

Desviou sua atenção do celular para encarar Jooheon. Esperava que seu rosto estivesse neutro porque não estava nem um pouco preparado para ver o Lee vestido um camisa azul de manga comprida e gola alta, um jeans preto e coturno. Se não fossem a calça e o sapato, o chamaria de mauricinho pois ele ficar com aquele ar ao vestir aquelas roupas. Ele não estava reclamando, claro, mas o alfa costumava usar roupas mais simples a maior parte do tempo. Estranhou a escolha de uma camisa gola alta, não estava tão frio para precisar de uma peça dessas, mas deixou isso de lado.

— Puppy? — o Yoo despertou do transe.

— Ah... disse alguma coisa? — sorriu amarelo.

— Perguntei se tem algum lugar que queira ir. — riu baixo.

— Nós vamos sair? — juntou as sobrancelhas, confuso. — Achei que ia passar o dia aqui.

— Ah, sobre isso... — o Lee coçou a nuca. Ah, ali tinha coisa, o Yoo sabia. — Não conte ao Kihyun, mas... Shownu está ajudando Wonho hyung no cio dele.

— Oh... — estava sem palavras.

— Eu não consegui dormir por causa dele e não pude fazer nada para impedir o Shownu. Eu até tentei, mas só ganhei um rosnado alto e a porta sendo fechada na minha cara. — suspirou. — Que bom que você não chegou mais cedo, não queria que ouvisse o que ouvi. — caminhou até ele. — E, sinceramente, preciso sair antes que eu enlouqueça. — fez o ômega rir pela sua situação.

— Não tenho ideia de um lugar legal. — deu de ombros.

— Gosta de parques de diversões? — os olhos do ômega brilharam com sua pergunta. — Inaugurou um próximo da cidade vizinha, a mais ou menos quarenta e cinco minutos de carro daqui. O que acha de irmos juntos?

Jooheon nem precisou perguntar duas vezes, Changkyun segurou sua mão e saiu o puxando até garagem. Esperaram apenas até o motorista particular chegar e adentraram o veículo, sentando no banco travesseiro. Não perceberam quando, mas ambos pegaram no sono, o que foi bom já que não haviam dormido muito bem noite passada, e quando deram por si, foram acordados pelo motorista, avisando que haviam chegado.

O Lee precisou andar rápido para não perder o Yoo de vista. O pequeno estava admirado com a diversidade de brinquedos no local, afinal fazia muito tempo desde que fora um parque de diversões. O ex ruivo foi puxado do moreno para irem de brinquedo em brinque, parando apenas fazer comer alguma coisa nas barracas.

Os brinquedos mais emocionantes eram os favoritos de ambos, haviam perdido a conta de quantas vezes foram na barca, kamikaze, o de queda livre, montanha russa, entre outros que também envolvessem altura, só sabiam que não se cansavam de ir neles. Era divertido, e fato de estarem juntos proporcionavam uma diversão ainda maior para ambos. Afinal, Jooheon e Changkyun não largavam a mão um do outro quando sentiam aquele famoso frio na barriga.

Os dois tiveram que fazer uma pausa pelo seu tour sem fim pelos brinquedos quando a fome apertou e, agora, estavam andando pelo parque, decidindo onde iriam comer.

— Não tem comida chinesa nesse lugar? Mas que absurdo! — Changkyun reclamou, fazendo o outro rir.

— Tem sim, Puppy. A gente que ainda não achou. — Jooheon apertou o ombro dele, num pedido mudo de paciência. — Acho que estamos andando em círculos. Eu sei que tem comida chinesa aqui em algum lugar, eu vi as pessoas com algumas sacolas pra viagem.

— Eu juro que, se a gente passar mais uma vez na frente de onde vende comida tailandesa, a gente vai comer lá mesmo. — ajeitou a mochila nas costas. — Vamos por aqui. — puxou o alfa pelo pulso, mudando o caminho. Andaram por volta de mais cinco minutos até que enfim acharam o lugar procurado. — EU NÃO ACREDITO NO ESTÁ DIANTE DOS MEUS OLHOS! — gritou de felicidade, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.

— Não acredito que achou mesmo. — abafou o riso, rumando para o estabelecimento junto a ele.

— Ai, uma cadeira. — jogou-se de forma desleixada no assento localizado ao fundo do local e deixou a mochila na larga mesa branca. — Eu não aguentava mais andar.

— Era só pedir que a gente parava um pouco pra descansar. — tomou o lugar em frente ao dele. O comportamento do Yoo estava lhe arrancando vários sorrisos naquele dia.

— A fome era mais forte que a preguiça. — falou com um ar filosófico. — Agora vamos ao que interessa. O que a gente vai comer?

— Pode pedir o que quiser, Puppy. — sorriu ao ver os olhos brilharem. — Por que não vai pedindo pra mim? — falou enquanto se levantava.

— Ei, você vai mesmo me deixar sozinho aqui, Honey? Nós acabamos de chegar. — resmungou com um biquinho nos lábios.

— Não fique assim. Vou rapidinho no banheiro e já volto, ok? — afagou os negros do ômega, deixando-os levemente arrepiados. — Peça qualquer coisa pra mim, não tem problema.

Changkyun franziu as sobrancelhas, curioso pelo outro ter respondido a pergunta que ainda estava pensando em formular. Ele, por acaso, era telepata? Ou era tão óbvio que iria perguntar isso? Qualquer que fosse a resposta para suas dúvidas, por mais simples que fossem, faziam-no crer que Jooheon sabia absolutamente tudo quando se tratava de si, como se ambos estivessem numa espécie de conexão que dispensasse o uso de palavras. Ou talvez fosse apenas alguma baboseira que sua mente criativa julgava que era. No final, concordou com um aceno de cabeça e viu o mais velho se distanciar.

O velhinho que cuidava do local aproximou-se de si com um sorriso simpático, entregando-lhe o cardápio e postando-se ao seu lado para anotar o pedido. Analisou os pratos típicos listados no menu, pensando no que deveria pedir. Jooheon havia dado o sinal verde para si, então não faria mal algum se aproveitar um pouco, não era? Devolvendo o sorriso ao idoso, começar a ditar os pratos a seu gosto, não se importando com quantas porções eram. A carteira do Lee não sairia prejudicada pela quantidade de comida que estava pedindo no final das contas.

O ômega tirou o celular do bolso para se distrair enquanto esperava tanto a comida quanto Jooheon chegarem. Ficou vagando pelas redes por alguns minutos e, quando se cansou, abriu num jogo. Enquanto passava de uma fase, ouviu o ruído de cadeira sendo puxada, e ergueu a cabeça, sorrindo.

Seu sorriso desmanchou.

— Oi, bonitinho. — Changkyun quase riu irônico por aquele beta desconhecido lhe chamar pelo apelido que Jooheon usava antes. — O que faz aqui sozinho?

— Esperando a comida, o que mais seria? — sorriu, debochado, voltando a dar atenção para seu jogo.

— Oh, não seja assim. — o rapaz mais velho tomou o celular do menor e deixou na mesa. — Por não vem pra mesa? Minha amiga não vai se importar.

Changkyun revirou os olhos.

— Não, obrigado. Estou bem aqui. — cruzou os braços, já irritado.

— O que posso fazer para te convec-

— Nada. — o cortou, farto dessa insistência. Céus, ele não estava vendo que não estava interessado,

— Ah, por favor. — colocou a mão sobre a dele para logo segurar o pulso dele levemente e puxá-lo para levantar.

Já em pé, Changkyun agarrou o pulso dele com a mão livre num apertou firme que o fez lhe lagar e puxou o braço dele para trás, empurrando o corpo dele contra a mesa, imobilizando-se por completo ao segurar a cabeça dele contra a mesa.

— Não me faça torcer teu pulso, hyung. — forçou o pulso do beta, fazendo-o resmungar de dor. — Volte pra sua mesa e fique com sua amiga, ok? — sorriu inocente, vendo-o assentir assustado com sua reação inusitada.

— Você está bem, meu jovem? — o ômega virou em direção a voz, vendo o idoso que lhe atendeu.

— Sim, ahjussi. Eu consigo lidar com caras como ele. — deu de ombros, voltando a se sentar.

— É bom saber disso. Estava quase pedindo para um funcionário tirá-lo de perto de ti. — a voz cansada pela idade tinha preocupação nítida. — Não é todo dia que um ômega lida com calma e facilidade com uma situação dessas.

— Sabe, ahjussi, — sorriu para o avô. — um ômega me disse uma vez que eu não deveria chorar como uma criança indefesa e gritar para um alfa quando acontecesse algo assim comigo, disse que eu podia me defender sozinho e ser forte mesmo sendo ômega. Eu aprendi com ele que ninguém é fraco por ser ômega.

— Esse rapaz tem toda a razão, meu jovem. — o Yoo sorriu mais quando sentiu o senhor bagunçar seu cabelo, como se fosse neto dele. — Ele é muito forte, com certeza.

— É, ele era. — coçou a nuca. — Ahjussi, ainda falta muito pra comida ficar pronta? — o idoso riu vendo seu biquinho.

— Ela estará aqui em um segundo. — fez uma reverência e se retirou.

— Voltei, Puppy. — Jooheon sentou na cadeira. — Aconteceu alguma enquanto estive fora?

— Nada demais. — o Lee achou por demais suspeito o sorriso do ômega, mas acabou não dizendo nada pois a comida havia chegado.

Após o almoço, os dois voltaram a perambular pelo parque, dessa ver indo nas barraquinhas de jogos. Ambos eram bastante competitivos e tratavam disputas para ver quem ganhava mais prêmios, mas, no final, Jooheon sempre acabava dando o que ganhava a Changkyun, que corava e sorria sem jeito. O clima entre eles estava agradável e proporcionava uma diversão ainda maior para eles.

— Vamos ali agora. — Jooheon indicou a roda gigante que se destacava mais do que qualquer coisa ali.

— Eu nunca tinha visto uma roda gigante tão alta assim! — Changkyun exclamou e disparou, correndo entre as pessoas para chegar logo ao brinquedo. Deu uma olhada para trás, apenas para checar se o alfa o seguia, e sorriu ao ver que ele estava a seu encalço. Parou em frente a grande estrutura branca de ferro, observando-a com admiração. — Honey, Honey! — chamou, vendo que o outro já vinha com os ingressos na mão. — O quão alto é isso?

— Uns sessenta metros pelo que soube. — esticou o pescoço, como se fosse confirmar a altura só de olhar. — Tudo bem pra você?

— Tá achando o que? Que eu sou o Seok hyung? — o ex ruivo riu. É, parece que seu irmão era de fato acrofóbico. — Eu não tenho medo de altura. Para de me enrolar, Honey. Vamos logo!

Os dois caminharam até a fila e lá ficaram por volta de quinze minutos até umas das cabines da roda gigante ficar vaga. Quando chegou a vez deles, o ômega adentrou, animado como uma criança, sem nem mesmo esperar pelo alfa. O Lee riu do comportamento infantil do Yoo que havia excitado e sentou ao lado dele no banco. A porta da cabine fechou. Seriam vinte minutos totalmente confinados naquela cabine, vinte minutos que ninguém poderia entrar ou sair de lá.

A roda voltou a se movimentar. As exclamações que Changkyun soltava aumentavam conforme mais se distanciavam do chão. Jooheon também estava com os olhos fixos no horizonte, observando a cidade ficar mais e mais evidente e as pessoas ficando pequenas à medida que subiam.

— Honey, isso é incrível! — o Yoo disse quando atingiram metade da altura máxima.

— A noite, é mais. A roda gigante se ilumina, as luzes da cidade brilham entre a escuridão... é realmente de tirar o folego. — olhou para o menor, que não conseguia desgrudar o olhar da vidraça da janela atrás do banco. Um sorriso repuxou seus lábios ao notar orbes do outro cintilando. — Mesmo sendo de dia, ainda é uma vista muito bonita. — tornou a olhar a paisagem.

Um silêncio se instaurou no local. Os dois estavam concentrados demais olhando a cenário janela afora que só era possível ouvir suas respirações calmas caso prestasse muita atenção. Changkyun desviou o olhar por um instante, passando a observar Jooheon e não à vista. Analisou com cuidado cada curva do perfil do alfa, parando por longos segundos ao chegar a boca. Aqueles lábios carnudos e bonitos, tão lindos quanto o próprio dono. Balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos e voltou a admirar descaradamente o rapaz ao seu lado.

Algo, porém, estava o incomodando. Desde que se encontraram horas atrás, perguntava-se o porquê do alfa estar com uma camisa gola alta. A curiosidade chegava a lhe pinicar de tão tentado a saber o motivo daquela roupa. Levantou o olhar outra vez, o mais velho estava tão hipnotizado que parecia até ter se esquecido de si no momento. De certa forma, tinha medo do que iria encontrar, mas aquilo só podia ser coisa da sua cabeça. Afinal, era o Jooheon ali, ele não tinha nada para lhe esconder.

“Será que não tem mesmo?”

Seus olhos se arregalaram por um momento. Não, não podia começar a ouvi-las, não ali, não agora, justo com o alfa ao seu lado.

“Olhe!”

— Pare. — sussurrou tão baixo que sabia que, mesmo assim, Jooheon ouviria por ser alfa. Aquilo o deixou triste, seria deixado por Jooheon, ele iria embora dali o deixando sozinho. E tudo que menos queria era ficar sozinho.

Olhou para o alfa. Ele ainda detinha a atenção presa aquela paisagem, parecia realmente não ligar para o mais novo ali. Será que ele já começou a me ignorar?, pensou erroneamente, mordendo os lábios.

O Yoo ergueu a mão devagar, tentando não chamar a atenção do Lee com seus movimentos. Ao mesmo tempo que queria atenção do alfa, queria saber o que ele escondia debaixo daquela gola e precisava não ser notado. Engoliu em seco, aproximando a mão com cuidado do pescoço do outro. Hesitou por um momento, ponderando se devia ou não fazer aquilo.

“Ele te engana, bem debaixo do seu nariz.”

Começou a suar frio, com medo do que veria. Elas nunca mentiam para si.

Esticou o indicador e enfiou a ponta para dentro da gola.

“Fuja dele.”

Respirou fundou e abaixou o tecido de uma vez, seus olhos se arregalaram ainda mais.

Jooheon se assustou com o puxão na gola de sua roupa e encarou Changkyun com receio do que viria a seguir. O que o ômega viu foi o suficiente para fazer seu coração disparar de tão improvável.

Não, não, não. Isso não pode tá acontecendo, isso não é verdade. Eu tô vendo coisas.

“Realmente, está vendo muita coisa errada.”

— CALA A BOCA! — Changkyun gritou, fazendo Jooheon se assustar.

A pele dele não tá assim.

Ele queria não ter sido tão curioso.

“Se você não fosse curioso, viveria essa mentira?”

— Não. — sussurrou para com quem falava consigo.

Se eu continuar olhando, esses roxos vão sumir... não é?

“Não.”

Recebeu uma resposta em sua cabeça, assim como havia perguntado. O Yoo voltou a ficar encarando o Lee, que parecia surpreso demais para dizer qualquer coisa.

“Você tem que sair daqui.”

Elas eram reais.

“Ele vai te enganar sempre.”

Marcas de chupões bem reais.

“Quer ser deixado?”

— NÃO! — Changkyun gritou, levantando-se num movimento rápido. Parecia que iria fugir, mas apenas levou as mãos à cabeça, ela estava doendo.

— Kyunnie, olhe para mim. — Jooheon se levantou, tentando conversar com o mais novo, que tinha o olhar vazio. — Olha pra mim. Eu vou te dizer o que houve. — tentou abraça-lo e foi empurrado. Aquilo doeu em seu ego, ser rejeitado por quem se ama era uma das coisas mais temidas entre alfas, seus lobos se remoíam de tanta tristeza e raiva ao mesmo tempo. Mas tinha uma parcela de culpa ali, só não entendia o porquê de Changkyun estar daquele jeito.

Paranoia.

O ômega estava literalmente no meio de um ataque. Ele estava atordoado, seu coração, palpitando como um louco, a respiração, acelerada e o corpo, suando. Seu único desejo sair dali, sentia-se sufocado, queria a ajuda de seus pais, queria a ajuda de Zhoumi.

Jooheon mordeu o lábio, não sabendo como agir. Doía ver o menor naquela condição, precisava fazer algo para ajudar. Pensou por um momento e decidiu tentar uma coisa, mesmo que aquilo fosse deixar Hoseok chateado ou o irmão do mais novo furioso, não importava, ele só precisava ajudá-lo e tentaria com isso.

— Olha pra mim, Changkyun. — usou a voz de comando. O ômega pareceu travar e se encolheu como resposta ao seu tom. Jooheon quis se bater por isso, mas tinha que continuar. — Olhe para mim. — pediu de novo, o timbre imperativo ainda presente. Se aquele era o único modo de fazer o menor o ouvir, então assim seria.

— Não. — com os dedos embrenhados no cabelo e ainda naquele estado de pânico, o ômega disse, como se respondesse a pergunta de alguém, não se direcionando a Jooheon.

“Ninguém vai te ajudar.”

— Honey... — sussurrou em um pedido de ajuda. Naquele momento, ele não via nada e nem ninguém, mas podia ouvir com clareza tudo que era dito. — Vai me abandonar. — murmurou, olhando para o alfa, que franziu o cenho em óbvia confusão. — Eu vou ficar sozinho. De novo. — algumas lágrimas escorreram pelo seu rosto, e aquilo deixou o alfa ainda mais triste. Ele sentia toda a angustia do outro com clareza, sequer sabia sabia como ajudar o menor e ainda se perguntava de onde ele havia tirado aquelas ideias. — Om-

— Changkyun! — cortou a distância entre eles, abraçando-o pela cintura e apertando-o contra si, mesmo sem obter resposta. — Não vou te abandonar, nunca. — sussurrou no ouvido dele com a voz calma, tentando usar sua presença de alfa para passar segurança a ele.

— Me desculpe. — pediu num sussurro abafado, enfim retribuindo o abraço ao enlaçar o pescoço dele. — Me desculpe, me desculpe, me desculpe...

— Shh, você não tem culpa de nada. — esticou o pescoço para o lado, num pedido mudo para que o mais novo aninhasse a cabeça ali. Sentiu o Yoo afundar o rosto na curvatura e inspirar fundo, inalando sua fragrância, e passou a acariciar a nuca do pequeno, sem a necessidade de soltar enlaço. — Tá tudo bem, Puppy. Sou eu quem te deve desculpas. — suspirou alto. — Eu vou te explicar, só me ouça, ok? — esperou até ouvir um “Ok” baixinho. — Estava tendo um grande transtorno por causa do cio do Wonho, muitos alfas queriam se aproveitar dele, e, se não fosse pelo teu irmão e Shownu terem me ajudado, algo horrível teria acontecido. Quando consegui tirá-lo do meio da confusão, ele avançou em mim, mas era a febre falando por ele. O hyung me incitou, só que não pude ajudá-lo, por isso meu pescoço tá assim. Eu não queria que tirasse conclusões precipitadas, então resolvi esconder.

— Idiota. — tentou esmurrar o peito dele, mas tudo o que conseguiu foi ficar ainda mais preso pelo aperto, segurando-o pelos ombros. — Idiota, idiota, idiota, idiota.

— Eu sei. Foi errado ter feito isso, mas não queria que se afastasse de mim por isso, por algo que nunca aconteceu. Me desculpe. — fez com que ele voltasse a lhe encarar e enxugou a face dele úmida. O mais novo já aparentava estar calmo, um leve rubor nas bochechas dele indicava que estava envergonhado. Circundou a cintura dele de novo antes que o mesmo pensasse em fugir (apesar de não haver como). — Ontem, você ia me dar um beijo como presente, não é? — o rubor se tornou mais intenso após ter dito isso. — Mas você também queria me dizer uma coisa também. O que era? — fingiu-se de desentendido.

— Eu... — apertou os ombros dele para descontar o nervosismo. — Eu... H-Honey, eu...

— Diga. — o incentivou.

— Eu... estou... — engoliu em seco. — apaixonado por você. E... — mordeu os lábios, desviando o olhar. Ele o encarando tamanha atenção causava as mais diversas sensações em si.

— Quer saber se sinto o mesmo e se eu namoraria contigo? — sorriu ao ganhar um movimento tímido de cabeça. — Olhe pra mim. — pediu ameno e encostou sua testa contra a dele. — Eu também estou apaixonado por você e, sim, aceito ser teu namorado, Yoo Changkyun. — o rosto do ômega se iluminou com sua resposta, e não pode deixar de sorrir por conta disso. — Eu receber meu presente agora? — Changkyun assentiu, aproximando seus rostos.

Primeiro, um leve e inocente roçar de lábios, como se estivessem com medo de que alguma coisa inusitada fosse acontecer para interrompê-los tal qual as demais vezes. Então, quando notaram que a cabine em que estavam não iria se desprender daquela roda gigante de sessenta metros ou qualquer outro imprevisto do tipo, pressionaram suas bocas num selar demorado, ainda um pouco receosos de que de fato o universo não iria conspirar contra eles de novo e aproveitando a sensação de maciez cálida que aquele pedacinho de carne tentador transmitiam um para o outro. Um, dois, três selinhos, Jooheon deu, apenas para ter certeza de que outro estava ali consigo; quatro, cinco, seis, Changkyun se mostrou incentivado a experimentar fazer aquilo como o Lee estava; sete, oito, dessa vez juntos, fazendo o que antes só podia acontecer em seus sonhos; nove, a risada baixa e alegre de ambos soou pelo local; dez, mais um estalo sonoro, talvez o mais alto de todos, e eles abriram os olhos, sorrindo cúmplices.

Naquele momento, quando a cabine parou no ponto mais alto, donde era possível ter a visão privilegiada da cidade, o universo, pela primeira vez em meses, finalmente pareceu ter se compadecido de seus esforços.

Changkyun moveu as mãos dos ombros de Jooheon para a nuca do mesmo, donde entrelaçou os dedos, puxando-o para o beijo que tanto esperaram. Os lábios dele eram uma delícia recém descoberta, ansiando para ser explorada por ele. O tempo ao redor parou diante de si com o alfa correspondendo o ato. Sua língua invadiu a boca do Lee e encontrou-se com a dele de imediato. O ex ruivo sorriu em pensamentos, jamais imaginando que o Yoo estaria tomando o controle. Os movimentos se encaixavam quanto mais tentasse intensificar o osculo. Barulhos de estalos enchiam a cabine, Jooheon conseguia gemidos incríveis do menor quando o mordia lábio e sonoros suspiros ao sugá-lo. E, quando o ar lhes faltou, eles abriram os olhos e viram que ambos tinham um sorriso que mal cabiam em seus rostos.

Agora, os dois iriam recuperar, de pouco em pouco, sem pressa alguma, o tempo perdido. Nada e ninguém seria capaz de estragar o momento deles, era fato. Sendo assim, tornaram a fechar os olhos e mergulharam mais uma vez em outro beijo, um dos primeiros de vários outros que ainda estavam por vir. Afinal, ainda tinham mais algumas horas a sós para desfrutarem e também todo o tempo do mundo a partir daquele instante.

 

(...)

 

Quando despertou, Hyungwon sentia cada átomo de seu corpo doendo. Abriu os olhos certa dificuldade e se viu ainda no chão da sala de sua casa.

Casa.

Hyungwon não queria mais chamar aquilo de casa, mas era sua vida, teria de suportar. Mesmo depois de ter desistido, ainda estava ali. Como?, perguntava-se. Seu pai teria se controlado para não matar a cria? Não, definitivamente não. O alfa Chae odiava tanto o mais novo, que com certeza o teria matado. O que havia acontecido então?

Tentou se levantar, não obtendo sucesso. Ficou sentado observando o local, havia uma mesa jogada no chão e o pequeno porta-retratos que ali havia estava estilhaçado no chão. Sinais de luta. Alguém tinha o impedido? Quem?

A cabeça do ômega latejou, e ele levou as mãos até a nuca, no lugar onde havia machucado quando seu pai o jogou com força contra o piso logo após reclamar de seu cabelo. Roçou a ponta dos dedos ali e sentiu mais dor, mas não ligou e tentou tirar algo meio duro que parecia estar em sua pele. Puxou de uma vez, assustando-se quando notou o sangue seco, e olhou para onde estava deitado. O piso estava sujo, nada muito grandioso, apenas algumas gotículas já secas pelo tempo que se passou, mas o suficiente para fazê-lo ter noção do tamanho da raiva do mais velho. O medo crescia dentro de si a cada segundo que se passava, não queria ver aquele homem.

— Merda... — sussurrou o Chae já sentindo um nó se formar em sua garganta. — Min... — foi limpar as pequenas lágrimas que ousaram sair sem sua permissão, mas, ao encostar as mãos em seu rosto, sentiu mais dor e gemeu contidamente. Prosseguindo com o processo de secar sua face úmida com o tecido da camisa, encostou o tecido tão levemente que julgou não ter secado nada.

Levantou meio zonzo e se segurou no braço do sofá em busca de apoio. Amaldiçoou-se por suas pernas terem fraquejado, mas o que esperava? Sua saúde sempre foi fraca, depois que começou a tomar o remédio para seu cio aos quinze anos, tudo vinha piorando. Sua cabeça parecia estar sendo esmagada, e podia ouvir um zumbido irritante, que parecia fazer a dor aumentar. Respirou fundo algumas vezes e direcionou o olhar na escada na tentativa de focar sua visão ali. Deveria ir para seu quarto, seu pai provavelmente estava em casa, e aquilo deixava o mais novo ainda mais tenso, apenas com o pavor iminente que era a possibilidade de encontrar com ele no corredor.

Subiu as escadas após ter recuperado o equilíbrio e a força nas pernas. Podia sentir seus músculos contraindo e relaxando incessantemente enquanto pisava degrau por degrau. Cessou os passos no meio das escadas, colocando a mão próxima as costelas, onde mais doía, e levantou um pouco sua camisa, vendo os mais diversos tons de roxo. Soltou a camisa e continuou subindo, imaginando como estaria o resto de seu defeituoso corpo. Nem mesmo num momento como aquele, Hyungwon se permitia ser de fato a vítima, ele sempre se sentia como o causador de tudo que acontecia ao seu redor, se a quarta guerra mundial se iniciasse, o ômega provavelmente se culparia por aquilo.

Suspirou e seguiu cauteloso para seu quarto. Passou pela porta do quarto do alfa e encostou o ouvido ali, não ouvindo nada, o que foi um alívio. A porta do quarto de sua mãe estava trancada e isso fez com que sentisse um calafrio. Mesmo preocupado, seguiu seu caminho até seu quarto, trancando a porta atrás de si. Deixou as lágrimas rolarem enquanto retirava sua roupa, ficando nu como sempre fazia. Andou calmamente até chegar em frente ao grande espelho de seu quarto (que havia providenciado assim que chegou de viagem). Seu olhar percorreu seu corpo de baixo para cima e ficou travado em no rosto.

Hyungwon sempre se julgou feio e estranho, mas aquilo... era demais. O lado esquerdo de sua face era o que parecia pior, havia um corte perto da sobrancelha (não exatamente corte, era como se a pele tivesse sido arrancada devido um forte atrito), ambos os olhos estavam roxos, assim como parte do maxilar. A face inteira tinha regiões vermelhas e a impressão da pele arrancada por atrito existia em suas bochechas e na testa, seus lábios pareciam estar inchados e com certeza estava partido, o olho esquerdo ainda estava bem inchado e se surpreendeu em o direito não estar no mesmo estado. Em nenhum momento, suas lágrimas cessavam. Era um choro mudo, não conseguia emitir som algum, talvez devido ao choque, talvez por medo de o homem ainda estar por perto e ouvi-lo. Por um momento pensou se Minhyuk ainda gostaria de si com aquele rosto, imaginou Kihyun fazendo cara de nojo para si, e isso só o deixou ainda mais triste.

O peitoral estava com poucos roxos, mas as partes laterais de seu corpo estavam com uma horrível mistura de tons vermelhos e roxo, pela quantidade sangue coagulado de baixo daquela camada de pele. Pela primeira vez, observou seus braços, que estavam também machucados com roxuras mais isoladas umas das outras, a parte inferior de seu corpo parecia a única em perfeito estado.

Ele seguiu para o banheiro e se enfiou de baixo do chuveiro, gemendo pela dor sentida ao ter a água gelada sobre os machucados em seu rosto. Passou as mãos, limpando a maquiagem que ainda havia ali, perdida entre tantos tons diferentes. Se limpou como podia (ou como a dor lhe permitia mover-se) e saiu do banheiro procurando algo para vestir rápido pois queria sair dali o quanto, mesmo que encontrasse seu pai na saída.

Colocou o maior moletom que encontrou em seu guarda roupa, era um preto e com capuz que esconderia qualquer um pelo tamanho. Procurou a máscara preta cirúrgica que guardava ali e a colocou afim de cobrir sua maior vergonha no momento, não queria que ninguém visse seu rosto daquele jeito. Hyungwon saiu de casa o mais rápido que seu corpo permitia se mover, precisava de ajuda, e sabia onde encontraria.

Sua maior vontade era corre, embora todo seu corpo reclamasse. Precisava ver o platinado, mesmo com a chance de ser repudiado por sua condição deplorável. Quando a casa dos Lee entrou em seu campo de visão, aproximou-se ainda relutante e tirou do lugar secreto próximo a entrada a chave que Minhyuk sempre deixava a sua disposição. Destrancou a porta e adentrou, sem se importar em deixar os sapatos na entrada. Arrastou os pés pelos degraus após verificar o primeiro andar à procura do amigo e foi em direção ao quarto do Lee. Minhyuk estava logo ali, provavelmente pronto para lhe dar uma bronca pelo seu sumiço, e bastava girar a maçaneta para que pudessem se reencontrar.

Ah, como Hyungwon desejava não ter aberto aquela porta. A visão de Minhyuk beijando tão avidamente Kihyun deixou sua garganta apertada, seu coração estilhaçou observando aquilo. O platinado estava praticamente debruçado no de cabelo rosa, este último emaranhando os fios da nuca do outro entre seus dedos. O sorriso bobo do alfa quando o ômega enfiou o rosto na curvatura de seu pescoço só confirmou que havia gostado da atitude do Lee. Há quanto tempo estavam juntos? E, acima de tudo, por que se escondiam do Chae?

 

— Vamos tentar ligar outra vez. — Kihyun sussurrou, envolvendo-o num abraço.

— Ok. — o ômega inspirou fundo, inalando o perfume natural dele. — Eu vou- — o rosto de Minhyuk empalideceu quando este olhou por cima dos ombros do alfa.

Uma figura esguia estava estática na porta do quarto. A primeiro momento, qualquer um se assustaria ao se deparar com uma pessoa alta, vestida de preto das cabeça aos pés, observando-os. Porém, a vestimenta, tal como o capuz fazendo sombra e a máscara cirúrgica preta cobrindo metade do rosto, poderiam deixar quem quer que fosse irreconhecível aos olhos de outras pessoas, exceto para os do Lee.

Aquele era Hyungwon.

Um Hyungwon que com certeza os viu se beijando.

Um Hyungwon que saiu correndo quando encontrou o olhar de Minhyuk.

A mente permaneceu em choque até que deu um estalo, fazendo-o reagir. Ele levantou-se imediatamente e saiu correndo porta a fora, indo atrás do amigo, deixando um Kihyun confuso. Os passos apressados de Minhyuk quase o fizeram tropeçar diversas vezes enquanto descia as escadas. Vasculhou rapidamente o andar inferior, não achando o castanho em lugar algum. Mordeu os lábios, nervoso, e viu a porta da casa aberta. Tratou de calçar os sapatos para a voltar ao ritmo frenético, sem se importar em deixar a porta escancarada.

Correu sem rumo pelas ruas, os solados do sapato emitindo o som característico ao se encontrarem com o asfalto. Muitos pensamentos rodavam sua mente, todos em graus diferentes de paranoia, fazendo-o ficar ainda mais aflito enquanto procurava Hyungwon. O ômega estava livre por mais alguns dias pela viagem de negócios do pai, será que o senhor Chae voltou antes? Foi por isso que Hyungwon saiu ontem da festa de repente e sem lhe dar explicações? O Lee estremeceu com essa possibilidade.

A pracinha perto da casa de ambos surgiu em seu campo de visão, e ele se aproximou na esperança de encontrá-lo lá. Varreu o local com um olhar, parando a corrida por alguns segundos. O lugar tinha algumas crianças brincando por sua extensão sob a supervisão dos pais, uns poucos idosos conversavam em alguns dos bandos e pode ver também um casal de namorados sentados na grama, trocando caricias. Enxergou um vulto caminhando entre as sombras das árvores e aproximou-se dele cuidadosamente, decidindo encará-lo.

— Hyungie? — agarrou o pulso da pessoa. O estranho permaneceu estático, e Minhyuk o segurou pelos ombros, aproveitando a brecha para virá-lo de frente. Parte de sua angústia sumiu ao constatar que era mesmo o Chae. — Graças aos Deuses, é você! — seu sorriso se desmanchou quando Hyungwon se afastou do abraço. — Hyungie, o que foi?

Hyungwon umedeceu os lábios por baixo da máscara. Desde quando havia se tornado tão difícil falar com ele? Os olhos ardiam com o possível choro, sua voz não parecia querer sair por mais que tentasse dizer algo. A imagem dos dois passava em sua cabeça como um disco arranhado. Sempre foi somente uma diversão para o amigo, algo tão evidente e que tentou ignorar com todas as suas forças. Sentia-se tão traído, mas, no fundo, isso era previsível demais. Afinal, por que Kihyun e Minhyuk gostariam logo do Chae, alguém tão cheio de problemas e uma vida imprestável, quando tinham um ao outro?

— Hyungie, por favor. — o ômega aumentava a distância entre eles, deixando o platinado frustrado. — Fala alguma coisa, por favor! — grunhiu, desesperado. — Eu vou te explicar tudo, mas deixa eu te ajudar. Por favor.

Hyungwon tentou fugir do amigo, mas não adiantou, ele o seguia para onde quer que fosse. Sentia que estava cada vez mais próximo de chorar com o Lee lhe enchendo de perguntas, a mente lhe pregava peças criando cenas de Kihyun feliz, feliz com Minhyuk, os dois sorrindo apaixonados.

E sem ele.

O platinado agarrou a mão do castanho, tratando de levá-lo de volta para sua casa. Durante o trajeto, o maior se deixou ser levado pelo outro, que sentia-se triste por não estarem com os dedos entrelaçados como costumavam ficar e por também não receber o aperto na mão de volta. Balançou a cabeça, precisava se concentrar em ajudá-lo primeiro.

Chegaram à casa, o mais novo sendo puxado até a cozinha. Desvencilhou-se do toque, mas pernas não o aguentavam em pé e fraquejaram, forçando-o a se apoiar na bancada. O platinado, afobado, o sentou numa das banquetas e sentou-se em outra ao lado dele no mesmo instante. Tentou tocar no Hyungwon mascarado, mas seus toques não foram aceitos, sendo jogados para longe quando tentou abaixar o capuz que cobria o rosto do castanho. As mãos dele se aproximaram de novo, desta vez mais cautelosas, e tocaram seu rosto.

Hyungwon virou a cabeça para o lado, estava sendo um perfeito covarde por estar com medo de quem o ajudava. Os dígitos do Lee dedilharam sua pele, limpando a primeira lágrima que ousou sair sem permissão. Hyungwon parecia estar num estado vegetativo, olhando para o nada, sem expressão, apenas chorando silenciosamente. O Lee continuou a carícia até tirar as alças da máscara de trás de suas orelhas e abaixar o capuz.

O olhar perdido do ferido encontrou-se com o do amigo. Haviam tantos sentimentos passando por ele: dor, medo, sofrimento, raiva, apreensão, mas o carinho e o amor ainda estavam ali (Hyungwon podia ler tudo isso num simples olhar), e essa reciprocidade sempre o deixava aliviado. Viu o platinado deixar a franja cobrir os orbes. Minhyuk puxou o ar ao encarar o estado deplorável que sua face se encontrava, e se levantou, deixando-o sozinho.

Hyungwon se viu abandonado na cozinha. Será que Minhyuk desistiu de si ao recusar sua ajuda? Ele temia que sim. Mordeu o lábio pela própria amargura, o choro aumentava gradativamente, mas ele nem conseguia exprimir algum som de desespero, era como se estivesse anestesiado. Merecia palmas por estragar anos de amizade sincera.

— Hyunginie, o que aconteceu com você?! — o timbre tão conhecido invadiu o recinto. Ah, aquilo não podia estar acontecendo. — Min, me passa essa caixa de primeiros socorros!

Hyungwon manteve o olhar preso ao chão quando Kihyun aproximou-se, preocupado. Minhyuk veio logo atrás, voltando sentar-se ao lado do Chae. O Yoo, com o kit em mãos, pediu para que afastasse as pernas e assim o fez. O de cabelo rosa ficou entre elas no instante seguinte, a distância entre seus corpos reduzida a menos de dois palmos, além de ter abaixado um pouco a banqueta para que seus rostos ficassem na mesma altura a fim de facilitar o processo. O platinado segurou a mão do ômega ferido na primeira tentativa de passar algum conforto enquanto o alfa trabalhava arduamente em fazer os curativos no rosto do ômega.

Hyungwon encarava a feição concentrada do alfa enquanto as mãos habilidosas tratavam seus ferimentos com extrema delicadeza. As sobrancelhas franzidas, os olhos fixos em seu rosto, os dedos deslizando na sua pele corada... Ah, como podia suspirar (mesmo que internamente) por alguém tão perfeito e comprometido?

Parece que seu pai estava certo.

Todos podiam ser felizes, menos ele.

— Pronto. — Kihyun ajeitou o último curativo. — Hyunginie, olha pra mim, sim? — pediu, esbanjando uma calma que nem mesmo ele sabia ter, e ofereceu um sorriso ao ômega a fim de deixá-lo confortável. — O que aconteceu?

— Kihyun, melhor não perg-

— Ele me agrediu. — o ferido interrompeu a fala do Lee. — Ele sempre me agride. — confessou com a voz baixa, quase num sussurro. Não tinha a certeza se deveria contar isso ao alfa, mas o que poderia acontecer? Já tinha perdido tudo.

Minhyuk observava os olhares do alfa e do ômega vidrados um no outro. Surpresa definiu o perfil dele ao ouvir o mais alto confessar seus fantasmas para Kihyun. O alfa deveria ser especial para alcançar tal conquista, algo que, para si, demorou muito tempo para ser conquistado. Isso fez o platinado confirmar suas suspeitas: Hyungwon também estava apaixonado pelo alfa.

— Quem te agrediu?! — Kihyun disse entredentes, perdendo a pose calma. Quem ousou ter tocado seu ômega?

Sim, seu ômega. Ele já considerava ambos seus parceiros e donos do seu coração.

— Meu pai. — revelou sem rodeios. — Ele me bate desde pequeno e tenho aguentado sozinho todos dias. Isso até o Min hyung aparecer. — disse, sorrindo sem verdadeiro ânimo. As lágrimas, que haviam cessado durante o tratamento de seus machucados, retornavam agora.

— Então, por que não deixou ele te ajudar?

Minhyuk e Kihyun se entreolharam confusos ao ouvirem Hyungwon soltar um riso irônico.

— Parem com isso. Eu sei... eu v- — Hyungwon engasgou com as palavras. — Eu vi. Por quanto tempo iam me esconder que estão juntos?! Fazem ideia do quanto isso é doloroso?! — esmurrou o peito do alfa, descontando toda sua fúria. — Como vocês tem coragem de se fazerem de sonsos na minha frente?! Ele tem razão, ele sempre teve... — Hyungwon parecia que iria convulsionar quando Kihyun o abraçou. Ele estava tendo um ataque, mas era melhor deixá-lo por tudo pra fora. — Eu não tenho merda nenhuma!

O Yoo apertou o enlaço, sentindo o tremor do ômega diminuir gradativamente, e posicionou o rosto dele na curvatura de seu pescoço no intuito de usar a fragrância natural para acalmá-lo, algo que estava funcionando. O alfa encarou o platinado e abraçou-o de lado no mesmo instante, embalando seu corpo. Ele chorava desesperado, mas sem fazer barulho, claramente afetado pelas palavras de Hyungwon.

— Desculpa! Não era nossa intenção, Hyungie! — Minhyuk soluçou alto. Jurou que o protegeria e, agora, também estava o machucando. Que tipo de amigo era?

O ômega machucado havia parado de se debater, mas ainda chorava no ombro de Kihyun. Uma das mãos dele segurou seu queixo entre o polegar e o indicador e ergueu seu rosto, trazendo de volta a profunda troca de olhares. Como ele podia bagunçar seus sentimentos sem fazer muito esforço? O toque causou o disparo de seu coração que estava a ponto de sair do peito, as bochechas rubras pela proximidade do outro.

Nada, entretanto, se comparou ao choque estampado nos traços delicados ao finalmente descobrir o sabor dos lábios do alfa.

A boca do Yoo fez movimentos sutis contra a sua, querendo que cedesse a essa caricia em seu próprio tempo. Estava de pálpebras cerradas, como se tivesse medo que se afastasse. Mas o ômega não faria isso; muito pelo contrário, foi o Chae quem pediu passagem com a língua. O de cabelo rosa sorriu contra seus lábios e, com a mão livre, entrelaçou os dedos nas madeixas castanhas logo ao lhe conceder espaço, feliz com a atitude dele. Deixou-o que tomasse controle do osculo, aproveitando para mordiscá-lo nos lábios. Hyungwon estava necessitado, aquilo era tão bom quanto beijar Minhyuk, a língua dele se enroscando na sua o fazia sentir a mesma sensação de frio no estomago que sentia quando beijava Minhyuk. Não queria findar aquele beijo, mas o ar escasso em seus pulmões o obrigou a fazê-lo.

— Eu disse que vou proteger vocês, não disse? — Kihyun descansou a testa contra a do ômega, que respirava ofegante de olhos fechados. — Vocês são meus ômegas. — descansou a mão na face inchada de Hyungwon enquanto apertava enlaço ao redor do corpo de Minhyuk. Quem diria que Jooheon estava certo ao dizer que se declararia para ambos? — Gosto dos dois da mesma maneira. — fechou os olhos e depositou um selar nos lábios dele, continuando a carícia na bochecha. — Então, por favor, Hyunginie, não chore. E aceite ser nosso namorado.


Notas Finais


falta responder comentários do cap anterior, mas eu to atrasada aqui, responderei na hora do almoço.
beijos no coração de vcs <#


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