História Blue Tattoo - Vinte e nove

    Cassandra estava na portaria, olhando para a rua e esperando Zayn chegar. Ele tinha avisado que estava perto da casa dela, mas se ele demorasse mais um minuto ela subiria de volta para seu apartamento. Ou pelo menos era isso que ela falava para si mesma.

    Quando ela olhou para a rua de novo, viu uma moto preta encostando. Ele tirou o capacete e acenou, então ela foi andando até o seu encontro. Ficou se forçando a não reparar em como o cabelo dele estava bonito naquela noite, como o sorriso dele estava iluminando seu rosto e seus olhos escuros, que estavam mais brilhosos que o normal. Em não reparar seus músculos se contraindo quando ele tirava o capacete e o balançava na frente do corpo.

    -Oi - ela falou quando chegou mais perto. A mulher se inclinou para frente e deu um beijo na bochecha dele como cumprimento.

    -Tá tudo bem, Cass?

    -Sim - ela respondeu.

    -Então não aconteceu nada demais nesses cinco minutos entre a nossa conversa e agora?

    -Cinco minutos? Você quis dizer quinze, né?

    Ele riu e entregou o capacete para ela.

    A mulher pegou e colocou em sua cabeça, mas o fecho não queria ir.

    -Eu te ajudo - Zayn disse e depois conseguiu fechar para ela. - Senta ai - ele falou, apontando para a moto com a cabeça.

    Cassandra então subiu no veiculo e se posicionou atrás de Zayn. Para não cair, ela segurou na cintura dele. Seus corpos estavam muito próximos, suas pernas mais ainda. Ela começou a respirar fundo para acalmar o seu coração que batia rápido, mas acabou piorando, já que começou a inalar  o perfume maravilhoso de Zedd.

    -Pronta? - ele perguntou, ligando a moto.

    -Sim - ela respondeu e então, ele acelerou.

    […]

    Eles entraram no apartamento pequeno de Zedd. O homem acendeu a luz e ela foi na cozinha deixar o capacete em cima da bancada. 

    -Leila está aqui? - ela perguntou.

    -Não, ela avisou que ia voltar tarde.

    Cassandra concordou.

    -E então, como foi lá com sua família?

    -Minha irmã ficou feliz, falou comigo normal. Minha mãe que tava puta, mas depois de muitas patadas ficou calma e me ouviu. Então, acho que hoje foi uma vitória.

    -E como se sente agora?

    -Muito bem, na verdade. Parece que um peso enorme foi tirado dos meu ombros, já que desde que eu comecei a me recuperar, penso em falar com elas, só tava faltando um incentivo.

    Ele chegou mais perto da mulher.

    -Obrigada - ele disse, a abraçando.

    -Pelo quê? - ela perguntou e acabou retribuindo o abraço.

    Parecia que pequenos raios de eletricidade subiam pelo corpo dela, fazendo-a se sentir extremamente bem por abraçar Malik.

    -Por sempre ter sido e continuar sendo meu incentivo.

    Ela conseguia sentir o abraço dele ficar cada vez mais apertado e não sabia o que fazer ou responder. Por isso, Cass só ficou parada. Até Zayn começou a se afastas e ela sentiu a necessidade de falar algo, mas tava com medo de falar alguma coisa que estragasse o momento então acabou ficando quieta.

    Ele percebeu.

    -Está bem, Cass?

    -Estou.

    -Certeza?

    -Sim.

    Ele deu de ombros.

    -Só to bem feliz por você ter entrado em contato com a sua família e também por ela ter te recebido e te aceitado de volta.

    -Obrigada, pequena. Também estou transbordando de felicidade.

    Ela riu.

    -Quer comer alguma coisa?

    -Não, to bem.

    -Você que sabe - ele respondeu. - Vou pedir pizza.

    Ela se sentou na bancada enquanto ele discava no celular o número da pizzaria. Depois de cinco minutos, ele já tinha pedido uma pizza grande de pepperoni com massa fina.

    -Ainda não acredito que vai pedir pizza no meio da tarde - ela falou rindo.

    -Pizza é a melhor comida para todas as horas. Sério, não tem hora do dia que uma fatia de pizza não seja bom - ele se sentou ao lado dela. - Cass, queria falar outra coisa com você.

    Ele logo tirou o sorriso do rosto e a mulher percebeu que a conversa tomaria um rumo mais sério. Em seguida, começou a pensar em tudo que tinha feito, mas não conseguiu achar nada que o tenha chateado.

    -Tudo bem.

    -Eu fiquei me perguntando o que aconteceu, depois que sai da minha casa, porque tava pensando em Kyle e em você e então acabei pensando em Christian.    

    A mulher concordou com a cabeça.

    -O que ele tinha? Eu lembro que você disse que ele ficou doente. Se não quiser falar, tudo bem.

    -Não, eu não vejo problema em falar sobre isso - ela respondeu. - Ele tinha bronquiolite, mas no começo ele só tava com tosse e falta de ar. Eu e Jamie levamos ele para o hospital e disseram que não era nada, receitou alguns remédios então voltamos para casa tranquilos. Só que ele continuou com dificuldade para respirar e ele começou a ter um pouco de cianose, que é quando a pele e lábio ficam arroxeados. Mas só quando ele tava com 38 de febre que corremos para o hospital com ele de novo. Isso foi em uma manhã, Kyle estava no colégio. Quando chegamos no hospital outro médio nos atendeu e disse que tava com bronquiolite, mas em um estado mais grave. Dali, ele foi internado.

    Zayn não disse nada.

    -Eu peguei mais turnos quando tinha os dois e Jamie trabalhava direto no estúdio de tatuagem, então não ficávamos muito com Kyle e Chris. Eles ficavam juntos muito tempo e com a babá. Ninguém tava entendendo porque Chris tinha piorado, já que o médio tinha dito que não era nada sério e tinha receitado medicamentos que eram para ter feito com que Chris melhorasse. Até que um dia, Liam comprou comida para os dois e quando foi deixar no apartamento, a babá estava fumando ao lado de Chris - Cassandra bufou. - Eu fumava na época, mas não ao lado de uma criança.

    Ela respirou fundo.

    -Ele já tava com o vírus respiratório sindical e o vírus parainfluenza, mas eles eram fracos e fáceis de combater. O tabagismo passivo e a exposição a umidade ajudou esses vírus a se fortalecerem e então, depois de sete meses internado, ele não aguentou lutar mais.

    -Sinto muito - Zayn disse, lutando contra as lágrimas. - De verdade, Cass.

    O homem esticou a mão na bancada, alcançando a dela e segurou-a forte.

    O cômodo que estavam muitas vezes havia servido como um lugar de conforto à Zedd, mas agora, parecia que aquelas paredes estavam se fechando em volta dele, o sufocando-o.

    Tudo que ele queria naquele momento era gritar que amava a mulher sentada ao seu lado. Porém sabia que, diferente de seis anos atrás, aquelas palavras não teriam o efeito que ele queria nela. E ele tinha certeza disso, pois ela amava outro que a fazia extremamente feliz.

    Ele chegou perto dela, dando um beijo em sua testa e a abraçando. Por estar sentada, Cass envolveu a cintura dele com um dos braços. Já estavam muito próximos quando uma pergunta surgiu na mente do homem: se ela ama mesmo Jamie, por que me ajudou? Por que ainda está aqui?

    Ele conseguia senti-lá respirando fundo. Não resistindo, ele virou a cabeça dela para cima, para conseguir vê-la melhor. Seus olhos estavam meio vermelhos, deixando claro que ela também estava lutando contra as lágrimas, mas sem sucesso completo.

    Malik se inclinou em direção à mulher e começou a se aproximar devagar. Seus lábios finalmente se encontraram e suas mãos foram involuntariamente para a nuca dela. Ele logo se perdeu no tempo e espaço, focando apenas no contato entre os dois.

    Quando o interfone tocou, era como se ele tivesse saído de um transe. Ela saiu de cima dele e então, o homem percebeu que os dois estavam no sofá. Ele levantou meio bambo, torcendo para que suas pernas não o abandonassem no caminho até o interfone. Ele atendeu e liberou o cara da pizza.

    -Eu vou… - ele começou a falar, pegando a carteira no bolso.

    -Acho que vou indo - Cassandra respondeu, ainda no sofá. Ela havia prendido metade do cabelo em um coque alto e agora, passava a mão pelo rosto.

    -Pode ficar, Cass. Só vou pegar a pizza rápido.

    Ela concordou com a cabeça e ele piscou para ela antes de sair.

    […]

    Menos de dez minutos depois, Javadd entrou no apartamento novamente.

    -Voltei - avisou. - Perdi a fome - respondeu e em seguida colocou a pizza em cima do balcão, indo para o sofá e sentando ao lado dela.

    -Tem certeza? Pode comer se quiser - ela falou.

    -Prefiro você - ele respondeu, a puxando para seu colo e beijando-a.

    Suas mãos desciam e subiam pela coxa dela. A mulher passava a mão pela sua nuca e o começo do cabelo dele. Zayn fechou os olhos e apoiou a cabeça no sofá quando sentiu a boca dela embaixo de sua orelha e depois descendo pelo seu maxilar.

    Ele mordeu o lábio para não amaldiçoar quando sentiu que ela chupava e mordiscava uma região de seu pescoço. Não agüentando mais, ele a pegou no colo.

    -Que porra, Malik? - ela perguntou rindo.

    -No sofá não - foi o que ele disse quando entraram em seu quarto.

    Ele a jogou na cama e subiu em cima dela. Suas mãos rápidas a deixaram só de sutiã em pouco tempo e depois, ele a beijou mais. Não queria parar o beijo nunca, mas sabia que logo logo ela estaria entediada, então parou o beijo e desceu com a boca para o peito dela.

    Ele mordiscou e chupou, até que sentiu que ela já estava pronta o suficiente, então foi descendo uma mão pela barriga dela. Ele a olhou, e viu que a mulher encara algo.

    -O que foi? - perguntou, apoiando a mão na barriga dela.

    -Nada - ela respondeu sorrindo. - É só que seu quarto agora é tão diferente do antigo.

    Ele riu.

    -Você gostou pelo menos?

    -Sim.

    -Que bom - ele disse, segurando sua cintura firme e beijando sua barriga até chegar na barra da calça.

    Ele tirou a peça dela e ficou olhando para sua calcinha de renda preta. Se repreendeu por demorar tanto e acabou tirando a peça também. Ele chegou perto da intimidade dela, mas só para provocar, começou a beijar o interior de sua coxa. Quando ela já estava ficando incomodada, ele a penetrou com a língua e depois, a chupou como nunca.

    Ficou esperando aquele momento por anos, queria que fosse perfeito.

    Depois, ele começou a estimular o clitoris dela com seus dedos até ela gemer como nunca e gozar. A mulher levantou em seguida, ficando em cima dele.

    -Sua vez - disse com a voz rouca e começou a tirar a calça dele.

    […]

    Sophia estava sentada, olhando o menino pequeno brincar pelo parque. Até que ele parou na frente de um carrinho de sorvete e se sentou ali. Claro que a grávida quis interferir e pedir para Kyle ir sentar ao seu lado no banco, mas sabia que ele costumava tomar sorvete com o irmão ali e não quis interferir o menino e seus pensamentos.

    Seu telefone logo começou a tocar e ela atendeu logo depois de ver o nome.

    -Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou preocupada.

    -Eu que devia estar perguntando isso, não acha, amor? - a voz de Payne estava calma do outro lado da linha.

    -Sei lá, você tá no meio do turno, pensei que só fosse me ligar em caso de emergencia e já estava aqui pensando no pior.

    -Você precisa relaxar, ir para um parque… - o marido ia continuar a dar opções, mas ela o interrompeu.

    -Estou no parque, com Kyle. Só tá faltando você aqui - ela colocou a mão na barriga, já pensando em sua filha.

    -Só liguei para dar um beijo em você, não precisa se preocupar com nada. Acho que é a primeira vez em dias que a emergência não está cheia. Que bom - ele disse rindo e ela o acompanhou.

    Mas logo, a risada dele cesou.

    -Acho que cantei vitoria cedo demais - ele respondeu. - Caralho, So. Depois te conto o que eu to vendo, mas preciso ir agora.

    -Vai lá, meu amor. Te amo.

    -Te amo - ele respondeu correndo.

    Ela voltou a encarar Kyle e quando viu que o menino não estava mais encarando o carrinho de sorvete, ela o chamou.    

    -Brincou muito? - a mulher perguntou ao menino.

    -Sim, tia Sophia. Obrigada por me trazer - ele subiu no banco e a abraçou de lado. Depois, deu um beijo na bochecha dela.

    A mulher sorriu e retribuiu o beijo.

    -Quando ela vai vir? - perguntou Kyle apontando para a barriga pouco grande da mulher.

    -Daqui a 8 meses. Está animado para ter uma priminha?

    -Sim! Sim! Sim! - ele respondeu pulando. - Chris ia ficar também, tenho certeza - ele disse, ficando parado por um tempo.

    -Sim, querido. - Sophia comentou.

    O sol já estava se pondo, então a mulher achou melhor ir andando para casa com o menino. Ele concordou na hora quando ela comentou da ir embora, o que a poupou de fazer um discurso sobre estar tarde.

    Kyle cantava uma música baixinho enquanto andava na rua. Ele sempre tomava cuidado para não pisar nas linhas da calçada, sempre dentro dos quadrados pequenos que tinham. Sophia amava ir ali, principalmente por ver que a morte do irmão não tinha tirado toda a inocência do menino pequeno.

    -Quer comer alguma coisa? - Sophia perguntou, apontando para a padaria no caminho da casa deles.

    -Comer não, mas um suco eu quero. Você pode comprar para mim, tia Sophia? Depois meus pais te pagam. 

    -Eles não precisam me pagar, Kyle - ela respondeu, pegando a mão do menino e o levando para dentro do lugar. - Que sabor? - perguntou quando estavam na frente de vários sucos.

    -Maracujá - ele disse. - Tem?

    -Deixa eu ver… - ela respondeu, olhando para as caixinhas de suco e tentando achar a que o menino queria. - Achei - disse, se esticando e pegando na última prateleira o suco.

    -Obrigada - Kyle respondeu, com um sorriso de orelha a orelha.

    […]

    Um barulho ensurdecedor acordou Jamie, que quase caiu da cama para atender o telefone.

    -Campbell - ele atendeu.

    -Oi, espero não ter te acordado - a voz de Sophia logo soou do outro lado. - Só para avisar que to chegando para deixar Kyle ai, mas não vou poder subir.

    -Sem problemas, Sophia. E obrigada por ter distraído ele.

    -Ele é um menino maravilhoso, vocês o educaram bem - a mulher riu. - Já estamos aqui na rua.

    -Tudo bem. Posso falar com ele um minutinho?

    -Claro - a voz dela foi audível e então, Jamie reconheceu a voz do filho. - Papai?

    -Oi, amigão. Como foi?

    -Ótimo. Tia Sophia até comprou um suco para mim.

    O homem riu.

    -Posso te pedir um favor?

    -Claro, papai.

    -Quando você chegar, entra no elevador, aperta o nosso andar, abre a porta aqui de casa, nem precisa bater nem nada e vem para o meu quarto, pode ser? O papai tá cansado, ai você fica aqui na cama da mamãe e do papai enquanto eu durmo. Meu telefone está aqui, se quiser jogar algum jogo.

    -Ok, papai. Te vejo daqui a pouco.    

    -Até, meu amor - Jamie disse e desligou.

    […]

    Zayn estava sozinho, olhando para o teto. Ainda estava sem forças psicológicas para levantar e colocar alguma peça de roupa, mesmo já fazendo um tempo que Cassandra havia saído. O jeito que ele estava depois de transar com ela até o deixava assustado. Seu corpo inteiro estava relaxado, parecia que ele flutuava.

    De todas as drogas, ela sempre foi a preferida dele.

    Até que a mente dele estava a mil, mesmo seu corpo estando mole. Ele juntava palavras que o fazia lembrar dela, com frases e essas frases com outras frases que ficavam boas. Até que ele tinha um verso e depois uma estrofe. E ai, ele só precisava de um ritmo para tudo ficar do jeito que queria.

    Sem pensar, começou a batucar no peito. O primeiro ritmo que tentou não coube em todas as palavras, nem o segundo. O terceiro ficou razoável. Foi apenas no quarto que ele achou o ritmo perfeito para a sua nova música. Ele então, se forçou a levantar e pegar um papel e uma caneta. Escreveu bem grande Closer no topo e depois, naquelas frases que havia pensado antes.

    Hey, I was doing just fine before I met you

    Hey, eu estava bem antes de te conhecer 

    I drank too much and that’s an issue

    Eu bebia demais e isso é um problema

    But I’m ok

    Mas estou bem

    Hey, tell your friends it was nice to meet them

    Hey, diga aos seus amigos que foi bom conhecê-los

    But I hope I never see them again

    Mas eu espero nunca mais vê-los

 

    I know it breaks your heart

    Eu sei que quebra seu coração

    Moved to the city in a broke down car 

    Se mudar para a cidade em um carro aos pedaços

    And six years no call

    E seis anos sem ligação

    Now you’re looking pretty in a hotel bar

    Agora você está bonita em um bar de hotel

    And I can’t stop

    E eu não consigo parar

    No I can’t stop

Não eu não consigo parar

 

    So baby pull me closer

    Então baby me puxe mais perto

    In the back seat of your Rover

    No banco de trás da sua Rover

    That I know you can’t afford

    Que eu sei que você não consegue bancar

    Bite that tattoo on my shoulder

    Morda aquela tatuagem no meu ombro

    […]

    We ain’t ever getting older

    Nunca vamos ficar velhos.