História Boxe e Sumô, Café e Espaço - Chuva de Meteoros

Alguns dias se passaram desde que Tweek virou amigo de Craig oficialmente. Durante esse tempo, ele começou a sentar e andar mais com Craig, Token e Clyde. Mas, mesmo assim não abandonou seu amigo Francis, que ainda sentava com Tweek no almoço, nas aulas, eles também brincavam juntos no recreio, e se encontravam depois da aula para construir bonecos de neve.

Todos os noticiários locais começaram a circular a notícia de que ocorreria chuva de meteoros naquele sábado. Qualquer cidade normal teria apenas ficado animada com o acontecimento, mas Tweek e Craig moram em South Park, e South Park nunca é normal.

Todos os adultos começaram a planejar uma festa na casa do conselheiro da escola, Sr. Mackey, usando os meteoros como uma desculpa. Tanto Tweek, quanto Craig sabiam que seus pais participariam de tal evento, e também sabiam que voltariam para casa bêbados e ficariam o resto da noite fazendo barulhos no quarto.

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Era sexta-feira, um dia antes desse acontecimento. Craig e Tweek se sentaram juntos em algumas aulas neste dia, mas na hora do almoço, Tweek sentou-se ao lado de Francis, como sempre, e isso fez o sangue de Craig ferver.

— Então caras — começou Clyde, apoiando o cotovelo na mesa. – O que vocês vão fazer durante a chuva de meteoros?

— Acho que vou a uma festa em Denver. — Respondeu Token, enquanto comia o pouco que restava de sua comida.

— Uma festa de ricos, hein? Aposto que vai ter um monte de gatinhas ricas lá! Vê se pega elas! — Zombou Clyde, cutucando Token com o cotovelo.

— Sem chance, cara. — Cortou Token secamente, afastando o braço de Clyde. — Não sou dessas coisas.

— Eu vou observar a chuva de meteoros, é um fenômeno astrológico impressionante. — disse Craig, parecendo levemente animado.

—Ui, oh, nerd. — Chiou Clyde novamente.

Craig mostrou o dedo do meio para ele.

— Meus pais vão me deixar... Argh! Sozinho em casa! É pressão demais! — Disse Tweek, nervoso, enquanto puxava os botões da sua camisa.

— Eu vou pro Jubileu. — Comentou Francis, distraído, enquanto comia suas bolachas Sneacky Smoores.

— O que é isso? — Questionou Token.

— É o acampamento pra judeus. — Esclareceu Francis, mastigando suas bolachas.

— Você é judeu? — Perguntou Craig, franzindo a sobrancelha.

Francis apenas acenou afirmativamente com a cabeça em resposta.

Tweek sempre soube que Francis era judeu. Desde que os dois eram pequenos, a mãe do garoto dos olhos castanhos contava histórias sobre figuras do judaísmo, o garoto loiro sabia o nome de algumas delas por isso. Também há um candelabro de nove braços na sala de Francis, ele e Tweek até brincam de peão nos dias de Hanukkah.

— Achei que o único judeu da escola era o Kyle. — Disse Clyde, com o braço atrás da cabeça.

— Ah, sim... a família dele é um pouco escandalosa sobre isso mesmo. — Explicou Francis. —Lembro daquela vez que a mãe dele fez um escândalo por causa de uma peça de Natal. E quase fez o Natal acabar.

Craig e Tweek também se lembravam disso. No fim, Kyle fez todos acreditarem em um cocô natalino. O Natal em South Park era literalmente uma merda.

— Na verdade, o Broflovski é exagerado mesmo. — Concluiu Craig distraidamente, enquanto comia sua pizza.

— Ele e o Cartman brigam tanto que até parecem um casal. — Debochou Clyde.

— Que nojo! — Falaram todos à mesa, em uníssono. De repente, a pizza que Craig estava comendo e o sanduíche de Tweek pareciam algo muito nojento.

— Na verdade, ele e o Marsh parecem mais um casal do que qualquer outro que seja um casal real. — Falou Craig, naturalmente.

Todos se viraram para encarar a mesa onde Stan, Kyle, Cartman e Kenny estavam sentados. Neste exato momento, Kyle e Stan estavam sorrindo um para o outro por um motivo que todos ali desconheciam. Tweek pensou um pouco sobre isso e lembrou-se do quanto os dois parecem mais próximos um do outro, do que são de Cartman e Kenny. Craig tinha razão.

Eles continuaram conversando até terminarem de comer e depois disso foram para o pátio. Lá os garotos resolveram jogar futebol juntos e chamaram Kevin para completar o time. Uma raiva cresceu dentro de Craig quando Tweek escolheu ficar no time de Francis e Kevin, e só por isso ele quis vencer, mas acabou perdendo, já que Clyde era muito lento.

Não demorou para o sinal tocar e eles se dirigiram para sala.

— Aliás, Clyde — começou Token, no caminho para a sala do terceiro ano. — O que você vai fazer na noite dos meteoros?

— Vou ficar em casa, preso com a minha babá. — Respondeu ele. — Ela me prende na sala assistindo TV e não deixa que eu chegue nem perto das minhas playboys.

Todos começaram a rir e Clyde ficou chateado, em seguida chorou alto durante o resto do percurso, no entanto, quando chegaram na sala, ele viu Bebe. Os dois começaram a flertar e a loira até comentou graciosa algo sobre os olhos de Clyde estarem “mais brilhantes”.

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Na tão falada noite de sábado, Craig estava sozinho em casa. Seus pais foram à festa idiota e levaram Ruby para brincar na casa de sua prima Red. Craig deveria ter ido junto, mas ele já aguentava sua irmã e sua prima todos os dias, e as conhecendo bem como ele conhecia, elas não iriam deixar o garoto da touca azul observar a chuva de meteoros em paz.

Já Tweek havia sido deixado sozinho em casa pelos seus pais, já que eles também foram para a mesma festa que os pais de Craig. O loiro não gostava de ficar sozinho, os gnomos poderiam vir a qualquer momento e levar suas cuecas junto com seu corpo sem vida. Geralmente quando acontecia algo assim, ele ia para a casa de Francis, mas seu amigo não estaria lá, graças ao maldito acampamento judeu.

Então, Tweek se lembrou que Francis não era mais seu único amigo. Agora ele tinha Craig, Token e Clyde também. Ele refletiu que Craig estava ocupado observando estrelas, Token estava em alguma festa em Denver, e Clyde estava com uma babá, que provavelmente não permitia visitas.

Enquanto o garoto loiro pensava no que faria, ele ouviu um barulho que lhe pareceu uma marcha de gnomos, pronta para levar seu sangue.

— Jesus Cristo! — Gritou Tweek, enquanto tremia mais que antes e puxava suas mechas de cabelo. — Eu tenho que sair daqui!

Tweek saiu correndo pela porta de sua casa, correu muito até que chegou a casa de Craig. Esse foi o primeiro lugar que passou pela sua cabeça. O garoto loiro bateu na porta desesperadamente. Craig não demorou muito para atender e se surpreendeu a ver que era Tweek.

— O que você quer? — Perguntou ele assim que abriu a porta.

—Argh! Me deixa entrar, Craig! Os gnomos vão me comer vivo se eu ficar aqui fora! — Implorou Tweek, puxando os botões da sua camisa.

— Gnomos? — Craig arqueou as sobrancelhas. Ele já tinha ouvido Tweek murmurando sobre isso durante as aulas, mas não levara a coisa a sério.

— É cara, os gnomos! Eles roubam minhas cuecas e logo vão querer meu sangue também! Argh! — Tweek continuava tremendo e olhava para todos os lados, procurando os gnomos.

Craig achou aquilo um pouco divertido.

— Entra. — falou Craig, por fim, dando espaço para Tweek passar. O loiro pareceu um pouco mais calmo.

—Aqui não tem gnomos, né? Argh! — Quis saber Tweek, ainda olhando para todos os lados.

Craig colocou a mão sobre o ombro do garoto loiro.

— Zona livre de gnomos. — Afirmou ele, fazendo um gesto fluído que indicava todos os cantos da casa.

Tweek ficou mais calmo e Craig saiu andando para ver a chuva de meteoros. Tweek ficou com medo de novo, e se os gnomos o pegassem por ele estar sozinho no escuro?

Por isso, Tweek decidiu seguir Craig até o quintal, ele alcançou o garoto moreno antes que a porta de correr que dava acesso ao jardim fosse fechada.

— Você não vai me deixar sozinho lá dentro, não é, Craig? Os gnomos vão...Argh! ME COMER VIVO! — Tweek gritava enquanto segurava Craig pela gola do casaco e o sacudia vertiginosamente.

—Calma. Só achei que você não ia querer ficar olhando os meteoros.— Falou Craig, enquanto Tweek ainda o sacudia.

— TANTO FAZ! Só não quero ficar... Argh! Sozinho lá dentro! — Tweek agora tinha parado de sacudir Craig e estava correndo em círculos puxando suas mechas de cabelo.

— Tá bom, cara, chega. — Disse Craig, colocando a mão no ombro de Tweek. – Tenho um binóculo extra ali, caso você queira olhar a chuva de meteoros também

Tweek pegou o binóculo com as mãos trêmulas e olhou para algum ponto no céu. Craig tinha razão, estrelas eram incríveis. Nesse momento, Craig estava agradecendo por ter nascido em uma cidadezinha nas montanhas, pois se ele vivesse em uma cidade grande, as estrelas não seriam assim, tão nítidas.

Depois de alguns momentos, a chuva de meteoros começou. Vários feixes de luz cortaram o céu e Craig ficou maravilhado com a visão. Ele sorriu radiante, mais do Tweek já tinha visto o moreno fazer. Mas a cena era mesmo tocante, até mesmo Tweek estava achando tudo aquilo impressionante.

Depois de três minutos, o céu voltou ao normal.

— Isso foi... Argh! Incrível. — Declarou Tweek, sorrindo timidamente enquanto colocava o binóculo em um banquinho.

— Eu sei. — Falou Craig, sonhador, enquanto olhava para o céu, um sorriso pequeno ainda enfeitava seu rosto.—Foi legal ver a chuva de meteoros com você, às vezes é bom ser a última opção.

— Argh! O que você quer dizer com isso? — Perguntou Tweek, surpreso.

— Se seu amigo estivesse em casa, você não teria vindo aqui. — respondeu o moreno, naturalmente.

Tweek se sentiu um pouco pra baixo. Craig tinha toda a razão, Tweek realmente queria ir até Francis nessas horas, mas ele não estava lá.

— Ei, cara, não fica assim, é bom pelo menos ser uma opção. — Consolou Craig, colocando o braço sobre o ombro de Tweek.

Os dois trocaram um sorriso terno. Nesse momento, os olhos azuis de Craig pareceram transmitir algo contrário a casual indiferença sempre presente, e os olhos verdes aveludados de Tweek ficaram calmos.

Porém, antes que qualquer coisa acontecesse, ou que eles dissessem algo, os dois garotos ouviram um barulho e perceberam uma sombra atrás da cerca da casa de Craig.

— Argh! O que foi isso? — Perguntou Tweek, agitado. Seus olhos voltaram com a ansiedade de sempre.

—Sei lá, deve ser o gato idiota da minha irmã. — Descartou Craig, com indiferença usual.

— Craig Tucker, venha já aqui! — Gritou uma voz de dentro da casa de Craig, o fato  os pegou de surpresa. Tweek ficou inquieto, e se os gnomos tivessem descoberto o paradeiro de Tweek e agora quisessem o sangue de Craig também?

Os dois se dirigiram juntos até a sala, e ao chegarem mais perto viram que a voz era da Sra. Tucker, que estava sentada no sofá ao lado do Sr. Tucker. Ambos pareciam muito bêbados. Ruby estava com eles, parecendo assustada, mas nem por isso deixou de mostrar o dedo do meio assim que os dois garotos entraram em seu campo de visão.

— Era pra você estar na cama! — Xingou Sra. Tucker, com a voz embriagada.

— E o que seu amigo cheirador de cocaína está fazendo aqui? Vocês estavam transando? — perguntou Sr. Tucker, com a voz mais embriagada que a de sua esposa.

Craig não respondeu e apenas levou Tweek até a porta.

—Não ligue para eles, esses aí sempre ficam assim quando estão bêbados. — Explicou Craig, enquanto abria a porta para Tweek sair. – Provavelmente vão ficar o resto da noite batendo a cama na parede, fazendo barulhos estranhos e não me deixando dormir.

— Obrigado por... Argh! Me deixar ficar aqui, Craig. Foi bem legal. — Agradeceu Tweek, já do lado de fora da porta.

—De nada. — Respondeu Craig.

Os dois se despediram e Tweek foi andando até sua casa. Ao chegar lá, ele percebeu que seus pais já haviam chegado e estavam fazendo barulhos no quarto. Parece que eles não tinham notado a ausência de Tweek, como sempre, então ele resolveu apenas ir tentar dormir, já que tinha sido cansativo correr até a casa de Craig.