História Brasa - Irmãs

                 " Eu mato ele"

Foi a última frase que Eugênio ouviu sair da boca de sua sócia. Enquanto dirigia as pressas ao casarão, observava ora ou outra Violeta olhando através da janela. Mordia e arranhava os lábios com os dentes, apertava e estralava os dedos da mãos, batia e tremelicava os pés no assoalho do automóvel. Percebendo seu nervosismo, Eugênio decidiu quebrar aquele silêncio ensurdecedor.

- Benzinho, não acha melhor... Nós pararmos um pouco ? Você precisa se acalmar.

Violeta virou lentamente o rosto, olhando para Eugênio indignada. Percebendo a expressão incrédula da mulher que não lhe deu resposta alguma, ele prosseguiu

- É que... você está muito tensa... E-eu..._ Gaguejou com medo do olhar furioso dela_ Melhor a gente parar._ E assim ele o fez, estacionou o carro na beira da estrada e segurou nas mãos de Violeta_ Vai ficar tudo bem, tá? A Heloísa vai ficar bem.

- Ah jura Eugênio ? Bem como ? Ãn? Me diz! Bem COMO ?!_ Ela foi se alterando cada vez mais_ Você é idiota ou se faz?! Ele me SEQUESTROU, Eugênio. SEQUESTROU a mulher que ele diz amar, quase me matou! Colocou uma faca no pescoço da mãe das filhas dele!

- Violeta, por que não contou nada ? Por que não disse a verdade ?!

- E de que iria adiantar ? Hein ?! Eugênio, se ele fez o que fez comigo, imagina o que..._ Sua voz ficou fina e trêmula_ O que ele pode fazer com minha irmã_ Se desesperou e desatou a chorar.

- Calma meu amor... Calma, vem aqui_ Ele puxou Violeta para um abraço, mas foi impedido por um empurrão

- NÃO! Eu não quero consolo! Eu quero ir AGORA pra minha casa, e se você não me levar já, eu vou sozinha!

- Ta bom! Tá bom! Calma! Eu só não quero que você faça alguma besteira! Por Deus Violeta, eu nunca te vi assim...

- Nunca me viu cansada Eugênio, porquê é isso que eu estou, cansada! De ser boazinha o tempo todo, de ser empática com todo mundo, incluindo o Matias! Eu errei em trair ele com você, e por Deus Eugênio, que se ele poupar a vida de minha irmã..._ Ela engoliu a seco_ Eu desfaço nossa sociedade.

Eugênio na mesma hora arregalou os olhos e soltou as mãos da mulher, sentiu o nó na garganta e as mãos começaram a suar. Se repreendeu ao ser tão egoísta a ponto se se preocupar somente em ficar sem Violeta, ao invés do bem estar de Heloísa, mas procurou não deixar pensamentos tão humanos o dominar. Preferiu não dizer mais nada a amada, apenas deu partida no carro e terminou seu trajeto.

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Minutos depois, o padrinho de Joaquim estava quase terminando de estacionar o carro, e se assustou ao ver Violeta saltando do automóvel como um foguete. Ele saiu logo atrás pegando novamente a bolsa dela, rezando para que o pior não tivesse acontecido. Ao chegar ao pé da escadaria, Violeta ouviu os gritos de Matias vindo dos fundos da casa, arrancou os saltos os largando no chão, subindo correndo cada degrau daquela escada.

- Que Deus nos proteja_ sussurou Eugênio, se abaixando e pegando os sapatos da amada.

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- Doutor Matias, vamos meu amigo, abra essa porta, deixa Heloísa sair... Sim?_ Leônidas com toda a calma do mundo, conversava com Matias que do outro lado da porta, mantinha a faca em punhos ouvindo atentamente o médico, em silêncio.

Violeta ao final do corredor se deparou com Leônidas calmo, conversando com seu marido. Ela foi caminhando devagar até ele e a grande porta de madeira, com o rosto enxarcado de lágrimas. Estava se acalmando, quando ouviu os gritos de Matias.

- NÃO! NÃO! HELOÍSA MERECE MORRER! Foi ela, meu amigo... Ela que desvirtuou a minha Violeta! Ela que seduziu você meu amigo, ELA É A CULPADA DE TUDO

Ouvindo a última frase do ex juiz, Violeta apertou os passos até a porta, puxou Leônidas pelo ombro o empurrando com toda sua força para o canto da parede, o fazendo sair de sua frente, encostou com as duas palmas das mão na porta, e tentou manter a voz o mais calmo possível

- Ei... Matias ?

- Vi-Violeta ?

- Sim! Sim Matias, sou eu... Matias você, você se lembra? Do nosso acordo? Você me prometeu que não brigaria mais com a Heloísa, se eu não te internasse denovo, não foi ? Não foi esse nosso trato ?_  Tentando ainda manter a calma, ao ver que não obteve respostas do marido, ela prosseguiu_ Meu amor... Por favor... solte a Heloísa, por favor_ Pediu encostando a testa na madeira, se desabando em choro.

- Vo-você... Tá chorando?_ Ele perguntou quase num sussuro, sendo somente ouvido por Heloísa, que mantinha uma frieza incalculável, sentada na cama

- É óbvio, que ela está chorando... Você só faz isso com ela, só a faz chorar!

- CALA BOCA! CALA BOCA SENÃO EU TE MATO

- Não... Matias não! Por favor meu amor, não faz nada com ela... Não faz!_ Violeta Implorou ao ouvir os gritos de ameaça do marido_ Abre Matias, vamos, por favor abre! Você... Você prometeu que não ia mais brigar com ela... você prometeu!_ Violeta começou a se alterar, deixando novamente a raiva a querer possuir

- Você também me prometeu... Violeta, disse que não ia mais me trair...

- O que... ?_ Ela perguntou em um sussuro

- Aquela... Como é o nome dela ?_ Olhou para Heloísa

- Úrsula._ Respondeu secamente

- É! É! A Ursa, ela me disse que você deixou cair sua aliança, enquanto se agarrava com seu sócio!

Violeta olhou sua mão esquerda, enfim notando a ausência da aliança

- Droga..._ Murmurou

- Então você TAMBÉM! Descumpriu sua parte. Mas agora Violeta, agora eu entendo_ Colou a testa na porta_ A culpa não é sua, não não, você é meu bibelô, meu troféu... Jamais! Faria algo desse tipo se não fosse influência dessa DESGRAÇADA!_ Gritou com Heloísa_ Uma laranja podre, estraga todas as outras..._ Falou mais calmo_ E eu vou cortar essa laranja ao meio.

- Não.... Não Matias... NÃO! ABRE A DROGA DESSA PORTA!_ Violeta desesperada, começou a disparar tapas, murros e chutes contra a grande estrutura de madeira. As palmas de suas mãos começaram a ficar vermelha, e o torço de seus dedos, começaram a sangrar

- Violeta calma!_ Eugênio tentou a segurar, mas ela o empurrou

- ABRE ESSA PORTA MATIAS! ABRE AGORA! MATIAS! Se você não abrir, VAI QUEIMAR NO INFERNO SEM A ELISA!

Mal terminou a frase, Matias abriu rapidamente a porta, deixando Leônidas, Eugênio e Violeta estagnados, não esperavam aquela atitude do ex-juiz.

- Não fala, da Elisa. NÃO FALA DA MINHA FILHA!_ Gritou na cara de Violeta

Ela não deu atenção, apenas olhou por trás do homem e viu Heloísa amarrada na cama e correu para soltar a irmã, desatou os nós as pressas e abraçou a mais nova.

- Você está bem meu amor ? Está bem ?_ Passava a mão no cabelo da mulher, olhando seu corpo para ver se achava alguma marca.

Heloísa não respondeu, apenas chorava e observava a irmã mais velha tão preocupada com ela. Do outro lado do quarto, Eugênio pensou em partir para cima de Matias, mas foi impedido por Leônidas. Agora os três observavam as irmãs trocando carinhos e juras de amor, aos olhos dos respectivos namorados aquilo era lindo, admirável, aos olhos de Matias era um absurdo.

- Não... Não meu amor, solta ela... Ela não merece o seu amor_ Matias caminhou lentamente até Violeta, e a segurou pelo braço a levantando da cama tentando a fazer soltar Heloísa.

A empresária não obedeceu, endureceu o corpo e segurou firme nas mãos da irmã.

- Quem não merece o meu amor, é você!_ Ela esbravejou chorando, logo voltando a atenção para Heloísa.

- Você está enganada, meu amor. Você acha que a Heloísa te ama ? Acha que ela é sua melhor amiga ? Pois saiba que ela não é nada disso.

Heloísa ergueu o olhar encarando o homem, ainda jogada na cama nos braços da irmã

- Cala a boca, seu verme_ Esbravejou entredentes

- Matias não fala assim da minha irmã, eu amo ela, é a única pessoa que eu confio

Ao ouvir tais frases da irmã, a costureira a encarou e voltou a chorar compulsivamente, Violeta franziu as sobrancelhas com uma cara incrédula

- Ei ei... Calma Heloísa, calma. Já passou, eu tô aqui..

- Ela está chorando porquê... Ela traiu, você. É uma traidora.

- Não! Eu não fiz nada, eu juro... Eu juro, não foi culpa minha_ A costureira chorava desesperada

- Cala boca Matias! Heloísa olha pra mim_ Ergueu o rosto da irmã_ Tá tudo bem, eu não ligo pro que o Matias está falando, tá bom ? Sei que você jamais faria algo para me magoar_ Sorriu

O silêncio de Heloísa assustou Violeta, Leônidas havia percebido a mudança brutal na feição de sua amada, e torceu internamente para que ela não falasse nada, não naquele momento. Ele como um bom médico psiquiatra, analisou com cuidado o estado de Violeta, e saberia que naquele momento a última coisa que precisava, era que ela surtasse.

- Você... Acredita em mim ?_ Heloísa perguntou enxugando as lágrimas, ainda nos braços da irmã

- Claro! Somos irmãs, melhores amigas. Eu coloco minha mão no fogo por você_ Respondeu Violeta sorrindo

- Coloca porquê é burra_ Murmurou Matias

Violeta apenas o olhou séria, apertando Heloísa contra seus braços

- Se fosse inteligente_ Matias prosseguiu_ Teria percebido

- Percebido ? Percebido o que ?_ Ela perguntou num fio de voz, já estava cansada 

- Nada! Dona Violeta!_ Leônidas se intrometeu indo em direção a seu paciente o puxando pelo braço

- Não! Deixa ele falar Leônidas_ Ordenou Violeta

Eugênio percebendo que Leônidas tentava impedir que o ex-juiz falasse o que queria falar, estufou o peito e se aproximou dos dois homens, segurou nos braços de Leônidas sério

- É melhor obedecer sua patroa, meu amigo.

- Eugênio, você não entende que isso aqui, pode se tornar uma tragédia grega?_ Sussurou o médico

- Isso é assunto de família, não cabe a nós nos metermos

- BRAVO! BRAVO! O engomadinho aí tem razão, ele tem... Não era pra você estar aqui... Dane-se! Dane-se..._ Matias voltou sua atenção para Violeta_ A sua irmã, é uma vagabunda! Uma polaca! Prostituta! Destruidora de lares

- Por favor para..._ Implorou a costureira, com medo

Violeta vendo o estado de choque da irmã, se levantou da cama e ficou apenas segurando suas mãos.

- JA CHEGA,MATIAS! Eu não aceito que fale assim da minha irmã!

- Ah não?  Você vai defender ela ?

Violeta assentiu com a cabeça, apertando firmemente as mãos da mais nova

- Pois bem_ O homem prosseguiu, estranhamente calmo_ Quero ver se vai continuar bancando a heroína, sabendo que o pai da filha de Heloísa, SOU EU!