História Break Of Dawn - Memphis

"Mais um dia se passou e eu continuo sozinho. Como pode ser? Você não está aqui comigo."-You Are Not Alone, Michael Jackson. 

 Q Magazine - Agosto de 1995

Há também o evento que foi bizarro até mesmo para os padrões de Jackson, e, o cínico pode acreditar, a principal arma na reação pública: o casamento do rei do pop com a filha do rei, Lisa Marie Presley.

Janis de Silva: Eu estava feliz, muito feliz por ele. Eu estava apenas pulando de alegria. Eu acho que Lisa Marie é uma mulher de muita sorte porque Michael é muito, muito romântico. Eu estava no estúdio no domingo passado e ele estava no telefone três vezes com Lisa dentro de uma hora. Eles estão muito apaixonados e qualquer um que não acredita que é apenas estúpido.

O casamento não é apenas parte de um grande esquema para reabilitar Michael?

Michael não se casaria com alguém apenas por causa de publicidade ou ele teria feito isso anos atrás quando eles estavam dizendo que ele tinha uma mudança de sexo e que ele era gay.

Kevin Smith: Nós realmente sabíamos disso. Temos ótimas fontes dentro da fazenda agora. Nós tínhamos toda a documentação provando que era Lisa Marie, mas ninguém iria imprimir a história. Ninguém no mundo acreditava nisso.

Parece um golpe, mas há uma coisa que me faz acreditar que não foi. Ele a estava vendo a portas fechadas. Se fosse apenas um golpe de publicidade, você faria isso pelas câmeras. Então, acho que há alguma verdade no fato de que eles são próximos.

Bastou que a porta do carro se abrisse para que Lisa Marie saísse rapidamente, sem falar com ninguém. Eu tentei agir tranquilamente com ela, mas foi inútil. Sorri e cumprimentei os fotógrafos que nos abordaram dentro do evento, o que a irritou mais. Definitivamente hoje seria uma das vezes em que ela demora para ceder e eu já consigo sentir minha cabeça latejar ao prever a briga que teremos daqui a pouco.

Troquei algumas palavras com Bill sobre quando voltaríamos para Los Angeles e segui para o duplex na cobertura onde eu sempre me hospedava quando passava algum tempo em Nova York. Como esperado, Lisa não estava em nosso quarto, nem mesmo suas coisas foram colocadas lá. Provavelmente está trancada no quarto ao lado me xingando das piores coisas possíveis enquanto cria planos para me matar.

Depois de um banho, tomei coragem e fui até a porta do quarto ao lado. Respirei fundo algumas vezes enquanto escutava o barulho da TV e finalmente tomei coragem para bater na porta. Fui prontamente ignorado. Tentei mais algumas vezes, porém ela não parecia nem um pouco disposta a olhar na minha cara.

-Lisa, por favor, abra essa porta. Eu preciso falar com você.-Peço batendo pela quinta vez.

- Ah, agora o Sr. Jackson tem algum tempo para me receber?-Ela zombou finalmente abrindo a porta.

-Será que podemos tentar ser um pouco flexíveis aqui?-Ignoro sua ironia, tentando manter a calma.

-Você veio até aqui só para me falar essas merdas?-Lisa coloca suas mãos na cintura e mantém sua cara emburrada.

-Não, eu...-Suspiro.-Eu só não quero que fiquemos assim para sempre. Quero resolver isso.

-Você pode começar não sumindo por um mês inteiro. A propósito, feliz aniversário.

-Tudo bem, o que eu fiz foi um tanto impensado. Mas acho que nós dois precisávamos desse tempo longe, não é? De qualquer forma, não é algo que eu me orgulhe.

Lisa Marie continuou me cortando com seu olhar enfurecido, mas nada disse. Eu não pude manter o contato visual e abaixo minha cabeça sinalizando minha derrota naquela situação. Por fim, a ouvi bufar e quando ergui meu rosto de novo, percebi que ela havia dado passagem para eu entrar no quarto. E assim o fiz.

-É difícil para mim entender o que você sente. Parece até que... Que a minha presença é ruim, que eu não sou querida na sua vida.

-É assim que você acha que eu me sinto?!

-Não, não...-Ela balançou a cabeça rapidamente.- Não por você, mas por... Por outras pessoas. Talvez eles pensem que eu não vejo, mas eles não me querem por perto. Eu já ouvi seus advogados falando de mim. Eles acham que eu sou uma distração para você. E eles não gostam que eu possa ver através de alguns deles. Isso ficou bem claro no último mês.

-Nós conversamos sobre isso.-Respondi.-Eu acho que eles estão apenas fazendo o trabalho deles, você sabe. Eles esquecem que eu tenho uma esposa.

-E quanto a você?- Minha esposa voltou com o olhar raivoso.

-O que?!

-Você também se esquece que tem uma esposa?-Ela completou, estreitando os olhos.

-Ok, agora você está sendo ridícula.

-Talvez eu não esteja sendo.-Lisa retrucou.-Talvez seja porque você descobriu o que significa ser casado, você não está realmente preparado para isso…

-O que você está dizendo, Lisa?!-Dou um passo em sua direção.

-Estou dizendo que talvez você se arrependa de ter se casado comigo!-Ela disse em voz alta, mantendo a feição irritada no rosto.

-Como você pode dizer isso?!-Pergunto, ainda atordoado com as suas últimas palavras.-Depois de tudo que passamos... Como você poderia pensar isso?!

-Você acha que eu quero acreditar nisso?-Ela respondeu de volta.-Mas quando meu marido vai embora e mal me dá a hora ou o dia de quando irá voltar, quando fica longe sem motivo aparente... Bom, isso me faz pensar em muitas coisas.-Ela estreitou os olhos novamente.-Basicamente, você me trata como se eu fosse apenas uma que você leva para a sua casa! Mais uma transa casual!

-Ok, isso já é demais!-Esfrego os meus olhos, tentando organizar meus pensamentos.

-É a verdade!-Ela persistiu.-Oh, você tem a gentileza de me convidar para os eventos que você e o seu pessoal acha que são apropriados, como hoje...-Lisa ri sarcasticamente.-Como se eu fosse um chaveiro pra você carregar.

-Lisa...-Tento me aproximar, porém ela recua.

-Tenho que manter as aparências, certo?-Ela zombou.

-Não é apenas assim, e você sabe disso.-Desisto de qualquer contato físico.-Você está sendo...

-O que? Exigente? Carente? Irracional? O que você vai dizer dessa vez, Michael?-Lisa me interrompe dando alguns passos em minha direção.-É irracional querer compartilhar minha vida com meu marido? Porque é o que eu pensei que ia acontecer. Talvez eu devesse ter ficado na parte secreta da sua vida, não é? Sem amarras. Na verdade, acho que fui tratada muito melhor naquela época do que agora.

-O que quer que eu diga?-Finalmente me dando por vencido.

-Eu não sei! Eu só quero o homem pelo qual me apaixonei de volta.

- Eu estou aqui!-Finalmente consigo me aproximar e envolvo gentilmente minhas mãos em seus braços.

- Tudo bem, você está hoje, nesse momento. Mas e amanhã? Quem será você? Por que eu sei que eu continuo a mesma.-Seus olhos se enchem de lágrimas.

- Eu vou continuar te amando, não duvide disso.-A puxo para um abraço enquanto sinto suas lágrimas molharem meu pijama.-Eu não gosto de te ver triste.

- Então não me deixe triste.-Lisa se afasta e olha nos meus olhos, me surpreendendo já que ela nunca foi de expor suas dores assim. Aquilo me traz mais um pontada na mente, me lembrando do problema que eu havia arranjado há pouco tempo atrás.

- Tudo bem.-Deposito um delicado beijo em seus lábios.-Se importa se eu dormir com você hoje?

-Tudo bem.-Lisa caminha até a cama, desliga a TV pelo controle e se deita. Eu desligo a luz e a acompanho.-Boa noite.

- Boa noite.-A abraço por trás e beijo seu ombro. Tento colar mais os nossos corpos e distribuo beijos pela extensão de seu pescoço, na intenção de matar a saudade. Entretanto, ela se afasta.

-Michael, eu não estou no clima agora.

- Ah, tudo bem.-Acabo me afastando também. Sei bem que insistir em momentos assim só serve para dar continuidade ao confronto.

24 de Setembro de 1995 (P.O.V. Lisa M.)

Passamos pelos fotógrafos e curiosos que nos rondavam no zoológico de Memphis e entramos na vã para finalmente voltarmos a Graceland. Depois da situação do VMA, Michael parecia entranhamente querer ser o mais agradável possível comigo. Sempre que passava o dia no estúdio, me ligava pelo menos uma vez avisando que horas voltaria.

Em uma dessas ligações ele até se prontificou a me acompanhar para o Tennessee, já que aconteceria algumas reuniões envolvendo o Espólio do meu pai. E cá estamos, bastou ele organizar a agenda que nós voamos juntos com meus filhos para a minha terra natal.

Eu realmente aprecio essa dedicação que ele anda tendo, porém não sei se devo confiar. Michael nunca foi do tipo que recua, não posso negar que é uma atitude um tanto incomum. Para completar, enquanto ele esteve longe, a tal enfermeirinha Rowe ligou para nossa casa algumas vezes em um dia. Eu simplesmente me cansei de sua insistência e peguei o telefone no lugar da empregada.

"-Lisa Marie falando.-Solto sem disfarçar meu tédio.

- Ah, o-oi.-Ela gagueja.-Eu só gostaria de saber quan...

- Olha, já lhe foi informado que ele não está em casa. Por favor, ele irá ligar para você depois, ok? Meu Deus!-A interrompo e coloco o telefone no gancho, sem esperar uma resposta."

Não gosto da proximidade que essa Debbie Rowe possui com Michael e já deixei isso bem claro a todos que interessam. Por mais que ele esteja se esforçando para me deixar "mansa" de novo, eu ainda não me sinto confortável para agir naturalmente com ele de novo. A mágoa e a desconfiança ainda me consomem. Talvez eu esteja sendo injusta, mas qual mulher ficaria tranquila no meu lugar?

Depois de voltarmos a Graceland e tomarmos um banho, descemos para o jantar. Minha mãe estaria presente, junto com Marco, pai do meu irmão mais novo. Ele até recebeu Michael com respeito, porém pouca simpatia, como minha mãe que parecia estar se obrigando a dar um simples sorriso.

As crianças ficaram com a babá e nós quatro nos dirigimos para a sala de jantar. Por mais que Marco puxasse assunto com Michael, trazendo uma tranquila conversa a tona o clima de tensão podia ser claramente percebido. Ninguém ali parecia verdadeiramente confortável.

-Então em breve você estrará em turnê, certo?-Marco pergunta.

-Na verdade, ainda irá demorar alguns meses. Atualmente eu ando viajando muito, porém é mais para a divulgação e gravação dos clipes.-Michael responde depois de um gole no vinho tinto.

-Imagino que seja bem cansativo.-Marco comenta.

-Ah, mas Michael cresceu nesse meio. Ele já está acostumado. Eu não sei é como Lisa lida com isso.-Minha mãe entra no assunto.

-Não é tão complicado quanto parece, na verdade.-Michael responde.

-Bom, se ele teve tempo para conhecer Lisa e ter uma relação com ela, imagino que de resto eles devem saber administrar. Apesar de Lisa nunca ter se dedicado a vida pública como agora.-Marco completa.

-Realmente.-Observou Priscilla secamente.-Quero dizer, vocês dois certamente são de círculos diferentes.- Michael, assim como eu, olhou para ela interrogativamente e ela continuou.-Quero dizer que você é obviamente uma grande celebridade, e eu mantive Lisa fora dos holofotes durante a maior parte de sua vida.

-Eu acho que foi o destino que nos juntou, então.-Meu marido rebateu ironicamente.

-Eu sei, quais eram as chances de algo nascer em um simples jantar?- Decidi entrar na conversa.

-Bem, foi alguma coisa.-Ela respondeu e eu lhe lancei uma olhar, já sabendo onde ela queria chegar.-Eu só acho que vocês dois são de mundos diferentes.

-Lisa se encaixa muito bem no meu mundo.-Meu marido disse incisivamente.

-Parece que ela se adaptou. É só que quando você considera as diferenças em como você foi criado, para não mencionar as... Bom, vocês sabem... As diferenças culturais.-Ela disse enfatizando a última parte.

-O que?!-Michael perguntou incrédulo.-Diferenças culturais?

-Mãe!-Quase engasguei com a comida que eu engolia. Obviamente, percebi o significado velado daquela frase.

-Bem, você sabe o que eu quero dizer.-Minha mãe tenta apressadamente se corrigir.

-Não, na verdade não. Por que você não me diz o que quer dizer? Quer dizer, eu e Lisa Marie não somos de países diferentes. - Pressionou Michael. Ah, ele sabia exatamente aonde ela estava chegando, mas ele a desafiava a dizer isso.

-Eu não acredito no que você está dizendo, mãe!

-Eu simplesmente quis dizer que vocês dois vêm de diferentes tipos de famílias, diferentes meios. Por isso estarem juntos, bem, não é o que se esperaria.-Priscilla responde a Michael, me ignorando.

- Eu sei o que você quis dizer, Priscilla - ele disse brevemente enquanto jogava o guardanapo na mesa e empurrava a cadeira para trás.-Obrigado pelo jantar, mas acho melhor me retirar.

-Michael...

-Escute, eu quero ir embora... Agora.-Ele mumurrou para mim.

-Não... Espere.-Implorei totalmente envergonhada.

-Pode ficar para a sua reunião, eu acho melhor eu voltar para Los Angeles. Falo com você mais tarde.-Michael disse quando se levantou.-Marco, prazer em conhecê-lo. Priscilla... Sempre um prazer.

-Michael...-Me levantei com ele e segurei seu braço.

-Eu... Eu vou falar com você mais tarde.-Ele repetiu, incapaz de olhar para mim enquanto se dirigia para a porta da frente.