História Breaking Rules - Jortini - Temp. 2 - Capítulo 23

                     Jorge Blanco: 

   Acordei com a luz do sol adentrando o quarto, minha cabeça dói e eu nem me lembro o porquê. A cama estava muito aconchegante e minha vontade era passar o dia todo deitado ali, mas tive que me obrigar a levantar. 

   Enquanto caminhava até o banheiro tropecei em uma peça de roupa no chão, um vestido amarelo que com certeza não era meu. 

   Lembranças da noite de ontem vieram a minha cabeça. Como de costume sai do hospital e fui tomar uma cerveja no bar mais próximo, lá eu conheci uma mulher muito atraente e o restante da noite já é óbvio. 

   Escutei um barulho alto ecoando de fora do quarto, então caminhei até lá rapidamente. 

-O que você está fazendo? – encarei a mulher de frente para o fogão, segurando uma frigideira com o que parecia ser um ovo mexido 

-Não queria te acordar – sussurrou colocando a panela sobre a bancada 

   Quando ela ficou de frente pra mim pude ver as roupas que usava, minha camisa e por cima um avental. 

-Onde você achou isso? – encarei o avental cor de rosa com um bordado feito à mão, com aquele maldito nome – Que merda – me aproximei e desamarrei o mesmo 

  Me lembro muito bem de quando esse avental chegou aqui em casa, embrulhado em uma caixa de presente e acompanhado por uma carta emocionante. Naquele dia Martina chorou tanto ao ver que se tratava de um presente da Olga. 

   Junto dele veio um livro de receitas escrito a mão, receitas que ela cozinhou durante um mês inteirinho. Ainda hoje posso sentir a minha alegria, ao ver o sorriso que se formava no rosto dela sempre que uma receita ficava perfeita. 

   Pensei que tinha me livrado de todas as coisas da Tini. Só não posso fazer o mesmo com nossas lembranças. 

-Eu não te dei o direito de mexer nas minhas coisas – abri a lixeira da cozinha e joguei o avental lá dentro – Muito menos pedi café da manhã – revirei os olhos 

   A mulher de cabelos longos me encarou assustada. 

-Me desculpe, eu não queria – tentou se desculpar, mas eu logo a interrompi sem paciência 

-Acho melhor você arrumar suas coisas e ir embora – pedi me afastando da cozinha 

   Peguei meu casaco pendurado ao lado da porta e sai dali o mais rápido possível. Precisava respirar um pouco. 

   Então fui no único lugar que me proporciona isso. 

   Cheguei no terraço e logo me aproximei do para peito. A cidade hoje estava mais calma, talvez por conta do dia nublado e frio. As pessoas são mais felizes naqueles dias de sol, com o céu azul e aquele calor que te obriga a sair de casa. 

   Tempos atrás eu poderia dizer que era feliz em qualquer dia, com qualquer clima, qualquer horário, em qualquer lugar..., mas não com qualquer pessoa. Posso fingir que não me importo e ignorar meus sentimentos, mas no fundo eu sei que a minha felicidade dependia dela. 

   Dependia daqueles olhos castanhos, o cabelo loiro, o sorriso largo. Aquela droga de sorriso. 

-Você está bem? – escutei uma voz feminina murmurando atrás de mim 

   Qual parte do ‘é melhor você ir embora’ que ela não entendeu? 

-Sim – respondi sem rodeios e continuei observando a vista.

-Eu posso te perguntar uma coisa? – questionou receosa e eu assenti dando de ombros – Quem é Tini? – de todas as perguntas que ela poderia fazer, essa é a pior – Eu vi o nome bordado naquele avental – explicou 

-Não é ninguém – respondi cruzando os braços 

   Não fui nem um pouco convincente na minha resposta. 

-Ninguém não te deixaria assim – retrucou ficando ao meu lado 

-Olha, sinceramente não te interessa quem é – murmurei rude e logo me arrependi, ela pareceu assustada – Me desculpa – pedi respirando fundo 

-Tem razão, não me interessa mesmo – se encolheu entre seus braços, tremendo de frio – Eu só queria ser gentil e – a interrompi 

-Martina é minha ex-namorada – comentei – Aquele avental era dela – expliquei desanimado 

   Cada vez me machuca mais falar sobre ela. 

-Eu não sabia – apoiou sua mão sobre meu ombro esquerdo – Faz muito tempo que vocês terminaram? – perguntou 

-Alguns meses – respondi sem me desviar do seu carinho – Mas as vezes parece uma eternidade – admiti 

-Porque terminaram? – fez a pergunta mais temida por mim 

   Abaixei a cabeça e suspirei. Não queria responder. 

-Não precisa me contar – percebeu meu desconforto e mudou de ideia - Da pra ver que você ainda gosta dela e eu não quero me intrometer 

   Uma vontade estranha invadiu meu corpo e em um impulso eu a abracei. Não sei o porquê, mas eu precisava de um abraço, mesmo que de uma mulher que eu nem me lembro o nome. 

-Sinto muito – sussurrou entre o abraço 

   Passamos longos minutos ali, observando a vista. Mesmo sabendo que eu não posso me enganar, aquela não era a pessoa que eu queria abraçar de verdade. 

   O silêncio foi interrompido pelo barulho da porta do elevador se fechando, o que foi bem estranho, porque éramos os únicos ali. 

-Acho que já está na minha hora – a garota se afastou e também observou a porta do elevador – Você vai ficar aqui? – questionou 

-Não – neguei ajeitando meu casaco – Tenho que trabalhar hoje ainda – resmunguei e ela riu 

   Então eu chamei o elevador, que levou longos minutos pra chegar, o que acontece sempre que ele está ocupado. 

-O que vai fazer essa noite? – a morena puxou assunto assim que adentramos o elevador – Eu vou estar livre – sorriu animada 

   Sinto que ela confundiu as coisas, eu não quero nada com ela. 

-Tenho plantão hoje – menti descaradamente 

   Ela pareceu acreditar, não insistiu mais. 

   Enquanto o elevador descia eu me distraio por alguns minutos e uma coisa no chão chamou minha atenção. Parecia ser um pingente de ouro, muito brilhante. 

   Me abaixei e peguei o mesmo, na mesma hora percebi do que se tratava. 

    O colar que eu dei pra Tini, aquele colar que ela continuou usando mesmo depois do nosso término. 

-Não acredito – murmurei incrédulo – Ela me viu no terraço – conclui quando vi o fecho do colar arrebentado 

   Conhecendo a Martina como eu conheço, ela me viu abraçada com outra no nosso terraço e entendeu tudo errado. Nesse momento deve estar me odiando mais do que nunca. 

   Sou um idiota.