História Breaking Rules - Jortini - Temp. 2 - Capítulo 13

                      Jorge Blanco: 

   Me ajeitei sobre a cadeira sem desviar os olhos do meu prato, a comida parecia tão interessante naquele momento.

-É tão bom quando nos reunimos - escutei Alba comentar quebrando o silêncio que pairou na mesa 

-Deveríamos fazer isso mais vezes - Foi a vez de Ruggero falar - Nosso grupo já não é mais o mesmo - encarou a namorada sentada ao seu lado 

   Depois de semanas planejando, nós finalmente conseguimos sair para jantar todos juntos. 

   As vezes penso que Mechi e o Ruggero são os responsáveis por manter nosso grupo intacto, os dois estão sempre planejando jantares e noites de jogos na casa deles. 

   Se nossa amizade prevalece até hoje, é graças aos dois. 

-A vida adulta é uma droga - Candelaria resmungou dando de ombros 

   Na verdade resmungar é uma coisa que ela tem feito muito depois que terminou com Jimmy, eu não fiquei sabendo o motivo do término, mas imagino não ter sido muito amigável. 

-Não deveria ser assim - Mechi murmurou entediada - Nós somos jovens demais pra cair na rotina - completou - Além de que a maioria aqui tem vinte e dois anos - encarou os amigos a sua volta 

-Com exceção do Diego, que tem vinte e quatro - Facu não perdeu a oportunidade de zombar da cara do Domínguez 

   Diego respondeu com um revirar de olhos. 

-O que eu quero dizer é que devemos aproveitar a vida - a loira continuou com sua tentativa de motivar a todos - E esse jantar aqui não chega nem perto de aproveitar a vida - debochou 

   Todos da mesa concordaram imediatamente, como se pensassem a mesma coisa, mas a Mechi foi a única a expressar. 

-Ela tem razão - Martina desviou seu olhar do prato de comida e encarou a amiga - Isso aqui tá chato pra caramba - observou as mesas a nossa volta 

   As pessoas pareciam nem ter vida, falando baixinho e calculando cada movimento do garfo até a boca. 

-Então vamos para uma festa - Cande sugeriu animada pela primeira vez em dias - Nós precisamos beber um pouco - afirmou 

-Ótima ideia - Lodovica também se pronunciou - Eu fiquei sabendo de uma festa na mansão de um desses ricassos de Los Angeles - sorriu como quem tem uma ideia genial - Ninguém vai perceber se entrarmos de penetra - concluiu com esperança 

   Um silêncio estranho dominou a mesa, todos pareciam pensar se esse risco vale mesmo a pena. 

   Encarei minha namorada sentada ao meu lado, por coincidência ela fez o mesmo. Um sorriso semelhante ao da Lodo surgiu em seus lábios pintados de vermelho. 

-Eu topo - foi a primeira a concordar empolgada 

-Onde essa mulher vai eu vou atrás - murmurei dando de ombros 

   Tini sorriu orgulhosa. 

-Não tem como ser mais entediante que esse jantar - Diego também concordou 

-Uma festa é tudo que eu preciso - Alba suspirou animada 

-Eu não tenho outra opção mesmo - Ruggero se rendeu ao olhar ameaçador da Mercedes 

   Logo todos da mesa concordaram, no fundo acho que nossa turma precisava de uma distração. 

[...]

   Estacionei meu carro um pouco distante, Tini e eu seguimos andando até a mansão barulhenta e movimentada. Encontramos o restante da nossa turma na entrada da festa, todos bem animados. 

   Pra nossa sorte não havia nenhum segurança ou lista de convidados, então passamos despercebidos entre a multidão de pessoas bêbadas. 

-Isso sim é uma festa animada - Mechi gritou mais empolgada que nunca 

   Se a casa parecia grande por fora, por dentro então era como um palácio, com o pé direito alto e janelas de vidro enormes. Muito luxo por metro quadrado. 

   Parece até uma mansão Stoessel. 

-Tem uma mesa ali no canto - Alba apontou para uma mesa um pouco mais afastada - Ninguém vai perceber se ocuparmos ela - sugeriu puxando Facu até lá 

   Seguimos o casal até o canto mais discreto da festa, quase escondidos. 

-Para com isso - Lodo revirou os olhos - Acha mesmo que tem alguém aqui reparando em quem entra ou sai da festa? - ergueu suas sobrancelhas - Tá todo mundo bêbado ou drogado - encarou com certo nojo um casal se pegando indiscretamente 

-Falando em bêbado, eu vou buscar uma bebida pra mim - Mercedes murmurou se afastando da mesa 

-Eu vou com ela - Tini soltou sua mão da minha e seguiu a amiga, Lodovica também fez o mesmo

   Quando percebi eu já não conseguia mais ver elas, essa festa está lotada demais. 

   As horas foram passando e tomei algumas garrafas de cerveja enquanto Tini tomou tantos drinks que perdeu a conta. Mas sei que foram suficientes para deixá-la animada e rindo de qualquer coisa. 

   Martina bêbada é incontrolável. 

-Eu quero dançar - Cande se levantou depressa - Vocês vem comigo - puxou Lodo e Martina de suas cadeiras 

-Eu também vou - Mechi seguiu a amiga, acompanhada também por Alba 

   Elas seguiram até a pista de dança movimentada e aos poucos perderam o receio de dançar com estranhos. 

   Receio esse que Tini nunca teve, pelo contrário. Ela sabe que dança melhor do que ninguém e adora quando as pessoas reparam nisso. 

   Confesso que as vezes tenho que me segurar pra não brigar com todos os caras que ficam babando por ela de longe. 

-A parte boa de não ter namorada é não ter ciúmes dela dançando - Nicolas debochou encarando as garotas um pouco distantes da nossa mesa 

-Todas as outras partes recompensam - Ruggero rebateu tomando mais um gole da sua cerveja sem desviar os olhos de Mercedes 

-Falando sobre isso, já que eu sou solteiro e não corro nenhum risco de vida - Nicolas listou os dois pontos em seus dedos da mão - Eu posso admitir uma coisa - continuou 

   Deu uma longa pausa, como se buscasse coragem para dizer. 

-De todos aqui o Jorge é o mais sortudo - murmurou encarando minha namorada dançando ao lado da amiga - Martina é absurdamente linda, ameaço dizer que é a mulher mais bonita que eu conheço - desviou seu olhar até mim 

   Me segurei pra não expressar minha cara de ciúmes, mas acho que falhei. 

-É, ela é incrível - concordei levando a garrafa de cerveja até a boca e tomando mais um gole 

-É de família - Ruggero se gabou passando a mão em seu topete ridículo 

-Até parece - Facu também se envolveu no assunto - Martina não parece em nada com você - acrescentou e eu concordei 

-Graças a Deus - ergui as mãos para o céu e todos da mesa riram 

-Vai se foder - Ruggero apontou seu dedo do meio em minha direção - Nós sabemos que eu sou muito mais bonito que a minha priminha - zombou dando de ombros 

   Eu não disse mais nada, deixei ele se iludindo um pouco. 

   Minha atenção voltou para minha mulher dançando com as outras, eu sempre soube que sou mesmo o mais sortudo. 

   Martina é uma daquelas pessoas raras de se encontrar, do tipo que só acontece uma vez na vida. Uma mulher com a mente tão bonita quanto a aparência. 

   As vezes eu gostaria que nada de ruim nos afetasse e pudéssemos ter momentos apenas como esse, onde os problemas não existem. Mas no fundo a verdade é como uma ferida que não cicatriza. 

   Eu e Tini já não somos mais os mesmos, e pensar sobre isso me machuca. 

[...]

   Eu já nem sei quantas horas são agora, mas já parece estar muito tarde. As pessoas não param de chegar, a festa está completamente lotada. 

   Perdi quase todos de vista, só restou Diego e eu encostados em uma parede observando Tini e Lodo dançando com uma garota desconhecida. 

-Até quando você acha que elas vão aguentar? - Diego questionou esvaziando mais uma garrafa de cerveja 

-Espero que não muito - respondi tentando não parecer tão desanimado - Eu já nem sei quantas garrafas eu bebi - admiti 

-Imagina eu então - o moreno concordou erguendo os ombros - Achei o Ruggero - apontou em uma direção 

   Acompanhei seu olhar, Ruggero estava em um canto agachado de frente a Mercedes, tentando convencer ela a levantar-se do chão onde estava sentada. 

   Provavelmente bêbada. 

-Coitado - não evitei rir da sua situação - Mercedes já é louca, imagina bêbada - comentei 

   Esqueci o casal e continuei observando Martina dançar como se não houvesse amanhã. Notei de longe um cara estranho se aproximando dela.

   Senti meu sangue ferver quando ele segurou seu braço e disse alguma coisa em seu ouvido, Tini o encarou assustada e balançou a cabeça, provavelmente negando o que o cara disse. 

-Calma ai - Diego percebeu o que estava acontecendo e meu semblante sério - Ela vai resolver - afirmou segurando meu ombro 

   Queria acreditar nisso, mas quando eu vi o idiota beijando o pescoço da minha namorada foi impossível me controlar. 

   Quando eu percebi já estava acertando um soco no cara, atingi seu rosto, ele cambaleou para trás e me encarou indignado. 

-Não encosta na minha namorada - acertei em cheio outro soco no seu nariz, o observei caindo no chão em câmera lenta - Seu desgraçado - subi por cima dele acertando todos os socos eu consegui 

   Tudo aconteceu tão rápido que ele se quer conseguiu reagir. Senti minhas mãos cada vez mais sujas com o sangue que escorria do seu nariz. 

   A raiva dentro de mim era tão grande e eu não consegui me controlar. Senti que no fundo estava descontando em um desconhecido todas as minhas frustrações das últimas semanas. 

-Para com isso Jorge - escutei Martina gritando com sua voz desesperada - Sai de cima dele - tentou me puxar, mas foi em vão

   O cara já estava praticamente desacordado quando senti alguém me obrigando a levantar, com muita luta eu sai de cima do idiota. 

-Me solta - resmunguei para Diego e Ruggero que me puxavam para longe da confusão 

   Eu mal percebi que todas as pessoas pararam para observar a briga, a festa parou pra ver a surra que eu dei nele. 

-Você é louco? - Diego gritou me empurrando contra a parede - Quase matou aquele homem - completou revoltado 

   Encarei os outros a minha volta, meus amigos me encaravam assustados. Procurei por Tini entre eles, mas não a encontrei. 

-Onde está a Tini? - questionei limpando a mão na minha camiseta branca 

-Lodovica levou ela lá pra fora - Ruggero respondeu com desdém - Ela ficou desesperada com a briga - engoliu em seco 

   Não pensei duas vezes antes de ir atrás dela, passando entre as pessoas que sustentavam seu olhar indignado sobre mim. 

-Fica calma Tini - escutei a voz de Lodovica assim que atravessei a porta de entrada da mansão 

   Na calçada vazia Martina andava de um lado para o outro com as mãos no rosto e resmungando coisas que eu não consegui entender. 

-Tini - me aproximei com cautela - Eu não queria fazer - tentei me explicar mas logo fui interrompido 

-Qual o seu problema? - gritou apontando o dedo na frente do meu rosto - Você passou de todos os limites - bateu suas mãos no meu peito 

-Você queria que eu ficasse olhando ele dar em cima de você? - perguntei com repulsa 

-Eu queria que você confiasse que eu posso resolver meus problemas sozinha - enfatizou a última palavra - Não sou sua propriedade, você não tem o direito de sair brigando com as pessoas por mim - tentou acalmar sua respiração 

-Porque você tem que ser sempre tão exagerada? - murmurei ofendido 

-Eu sou exagerada? - debochou - Não fui eu quem perdeu a porra do controle minutos atrás - deu de ombros com o sorriso mais falso possível 

-Sei que foi errado - concordei - Mas isso não te dá o direito de dizer essas coisas - tentei controlar o tom da minha voz 

-Pode acreditar que eu não disse nada comparado com tudo que eu penso - se afastou ficando de costas pra mim 

-Então me diz Martina, diz logo tudo que está guardando pra você - pedi com ironia - Porque eu tenho a consciência limpa, não fiz nada de errado - completei 

   Ela voltou a me encarar, seu olhar transmitia tanta decepção e angústia, o tipo de olhar que ela nunca carrega em seu rosto. 

-Você é inacreditável - se abaixou pegando sua bolsa que havia deixado no chão - Não vou te dizer nada, já que você pensa nunca está errado mesmo - colocou a bolsa sobre o ombro 

- Sabe que eu não penso assim - joguei a cabeça pra trás respirando fundo 

-Eu já não sei de mais nada - negou desanimada - E sinceramente, é horrível essa sensação de não conhecer mais a pessoa que eu amo - suspirou 

   Me encarou uma última vez antes de se afastar em passos rápidos. 

-Martina, espera - a segui pela rua cheia de carros estacionados - A gente tem que conversar, você precisa me entender - alcancei sua mão 

-Eu não aguento mais brigar - puxou sua mão de volta 

-Não vamos brigar mais então - sugeri com esperança 

   Escutei alguém se aproximar de nós e me empurrar com força para longe da Tini. 

-Você é um idiota - Lodovica apontou o dedo no meu rosto e ameaçou me empurrar outra vez 

-Lodovica - Diego se aproximou a repreendendo - Não se mete - pediu segurando os braços da namorada 

-Eu me meto sim - tentou se soltar - Não vou deixar ele colocar a culpa do seu descontrole na minha amiga - me olhou com desprezo 

-Eu não fiz isso - neguei rapidamente 

-Ainda por cima não sabe admitir as merdas que faz - conseguiu se desfazer dos braços de Diego - A Tini vai dormir na minha casa hoje, tudo que ela menos precisa é das suas desculpas esfarrapadas - sustentou seu olhar antes de se afastar 

   Alcançou a amiga, que já estava passos a nossa frente, caminhando na rua movimentada. 

-Lodo tem razão, ela vai ficar melhor lá em casa essa noite - Diego apoiou sua mão em meu ombro e esboçou um sorriso amigável em seus lábios - Tenho certeza que amanhã quando estiverem mais calmos as coisas vão se resolver - afirmou convincente 

   Logo ele também se afastou e alcançou as garotas no caminho até o carro e naquele momento eu me senti a pior pessoa do mundo. 

   Hoje não foi a primeira vez que vi os olhos dela tão distantes de mim, denunciando que estamos perdendo um ao outro. 

   No fundo eu sei que estou errado, mas também sei que não posso admitir isso agora, porque sei que se eu admitir tudo que fiz de errado. 

   Também vou admitir que estou deixando escapar aos poucos a mulher da minha vida.