Se sentia uma fugitiva, mas de um modo que a deixava feliz e alegre. Sorria consigo mesma, pensando na conclusão perfeita de seu plano imperfeito.
O vento de outono lhe recebeu balançando seus cabelos, lisos e negros com mechas roxas, ao sair do estúdio.
Andou rápido até o parque, sendo tomada por pensamentos fúteis. Era sempre assim nos dias em que não tinha paciência para suportar seu "chefe", fugia para o parque, este que ficava cerca de três quadras do local em que ela trabalhava. Ia jogar xadrez com o velho que sempre estava por lá, apreciar a fonte jorrando água que ficava perto das mesas de xadrez, ou até mesmo ler um bom livro sentada sob a sombra de alguma das diversas árvores que enfeitavam o lugar. As estações deixavam tudo mais bonito e, dessa vez, o vermelho dava ao parque um aspecto monocromático, principalmente na hora do crepúsculo. Era lindo, e ela não perderia toda a beleza daquele lugar por causa de um superior que era, acima de tudo, “mal comido”.
Hoje havia "saído" mais cedo que o costumeiro, nem sabia o que encontraria lá a essa hora. Entretanto, precisava esfriar a cabeça e, quem sabe, conseguir alguma inspiração.
No parque, tratou de reduzir a velocidade de seus passos e observar com atenção o que acontecia ao seu redor. Já estava perto das mesas de xadrez, reconheceu o velho - que mesmo jogando com ele por três anos, ainda não sabia o nome - pelas costas. Ele jogava com um garoto de, aproximadamente, trinta anos de idade.
Escondeu-se atrás de uma árvore observando melhor o rapaz: alto, magro, cabelos castanhos médios, olhos verdes, pele branca, agia de modo estranho, ou melhor, diferente, um diferente bom, parecia extremamente inteligente e concentrado, pela rapidez que o jogo se desenrolava.
Já que não jogava com uma mulher, o velho levava a sério e parecia estar tão concentrado quanto seu adversário. Seria um belo jogo, se ela estivesse perto para ver o seu desenrolar, mas houve algo que a hipnotizou momentaneamente, enquanto analisava o rapaz, passou muito mais tempo observando seus cabelos, eles pareciam tão macios e tão... perfeitos, dando-lhe uma leve vontade de enterrar suas mãos naquela possível maciez.
Seu transe parou ao perceber o mesmo que ele, uma mensagem em seu celular. O garoto a leu e então disse algo ao velho, que simplesmente sorriu assentindo. O dono dos olhos verdes pegou sua pasta, que estava presa a cadeira, se levantou e saiu, deixando Kaliza a olhá-lo ir embora.
Quando não pôde mais vê-lo, percebeu o quanto parecia uma stalker¹, e riu com tal pensamento. Aproximou-se da mesa em que o velho estava e sentou-se.
-Olá senhorita - ele cumprimentou, indiferente. - O que faz aqui tão cedo?
Realmente não estava na rotina da moça aparecer ali naquele horário.
-Tive que fugir do meu chefe... - respondeu sorrindo minimamente.
Mesmo com a curiosidade sobre o rapaz roendo seu interior, atentou-se a simplesmente seguir o rotineiro:
-Vamos jogar?
Como resposta, recebeu apenas um sorriso malicioso e o próprio pensamento: "velho tarado...".
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.