História Bring Me To Life (Hiatus) - Everybody's Fool

“Me incomoda a tamanha beleza da minha voz... isso parece incrivelmente imodesto, mas me incomoda o quanto ela pode soar gentil quando talvez o que estou cantando seja profundamente ácido.” 

Spencer se sentia extremamente satisfeito e cansado, assim como o resto da equipe. Contrariando essa ideia, a tristeza e o incômodo de serem incapazes de salvar as outras quinze mulheres os assombrava. Além de conseguirem devolver duas garotas ao seu lar, a única coisa que os aliviava era saber que o culpado passaria a vida atrás das grades e longe de seu único e tenebroso prazer: matar.

-Você está com olheiras. - constatou Emily ao sentar do lado do colega.

-Acredite, você não está muito melhor. - Riu fraco em resposta.

-Esse foi difícil mesmo... a única coisa que eu quero agora é uma longa noite de sono e um bom banho. - Comentou sorrindo.

-Eu só quero... - Quando deu por si o que iria dizer, se cortou.

-O quê? - Prentiss estranhou.

-O mesmo que você.

Emily Prentiss era uma mulher com belos cabelos e olhos negros, além de muito astuta, obviamente a desculpa de Spencer não havia satisfeito a perfiladora, mas ela não gostava de se intrometer na vida de seu melhor amigo, então optou apenas por se calar e tentar dormir, seria uma longa viagem.

[...]

Estavam todos tão cansados física e mentalmente, que dormiram dez minutos após a decolagem do avião. Spencer, particularmente, só despertou quando J.J. lhe acordou.

-Foi um caso e uma viagem longa... vocês podem tirar o dia de folga para tentarem descansar, mas quero todos de volta amanhã. - Hotchner informou enquanto todos chegavam às suas respectivas mesas.

Um garoto trajado com o uniforme dos correios entrou no local, interrompendo a comemoração da equipe.

-Com licença, você é Jennifer Jareu? - Se dirigiu á loira.

Ele levava em mãos um único envelope completamente preto, nele apenas as iniciais de Jennifer eram visíveis em tinta branca. A empolgação da jovem foi o que deixou todos os presentes atônitos.

-Sou eu mesma. - Ela respondeu sorrindo. - É uma carta de resposta, certo?!

-Sim. - Ele devolveu o sorriso com o envelope em mãos e um papel. - Você poderia assinar aqui?

-Claro! - Ela concordou pegando o envelope e uma caneta, assinando o papel que ele pedira. - Muito obrigada.

Ele apenas acenou e foi embora, deixando uma garota completamente feliz para trás.

-O que é isso? - Garcia, que recém havia chegado, perguntou, estranhando a situação.

-Uma carta da minha ídolo! - Respondeu sorrindo. - Eu me inscrevi em uma promoção, enviei uma carta concorrendo a três ingressos para o próximo show e uma carta de resposta. Eu estou esperando esse envelope fazem uns três dias!

Ela exalava alegria, enquanto todos ali sequer imaginavam que a garota nutria tal admiração por uma artista.

-Então o que você está esperando para abrir?! - Penelope se animou com a amiga. - O que está escrito?

J.J. abriu o embrulho com mãos trêmulas, era nítido o quanto ansiava por aquilo, em seguida leu o conteúdo da carta.

"Querida Jennifer... Que modo estranho de começar uma carta, não?!

Sei que demorei para respondê-la, mas espero que entenda... a vida de uma cantora e compositora não é tão simples como eu gostaria que fosse.

Em sua carta, você abriu seu coração para mim com uma sinceridade da qual achei que esse mundo era incapaz de possuir.

Nada mais justo do que eu fazer o mesmo.

Encontrei alguém especialmente interessante, acho que com isso digo "adeus" aos dias sem inspiração e nossa volta aos palcos! Dessa vez de verdade. Fique feliz com isso! Mais músicas!

Estou lisonjeada por ter a admiração de uma agente do FBI, pois se não fosse por pessoas como você, o mundo estaria perdido em pleno caos. É uma pena eu sentir que não sou digna da atenção de alguém tão forte e corajosa como você...

Mas mesmo assim, muitíssimo obrigada por todo o seu carinho!

Estarei te esperando no show de hoje, faça bom uso dos seus três ingressos!

Mais uma vez, obrigada.

Imensamente grata;

Apenas uma musicista"

O sorriso de J.J. expressava uma felicidade quase estranha, mas ela atraiu a atenção de todos com um simples pedido.

-Quem vai comigo? Tenho dois ingressos sobrando.

-Eu adoraria ir, se isso é realmente um convite aberto. - Garcia se pronunciou com a mesma euforia que a outra loira.

Após algum tempo em uma pequena discussão sobre quem queria ou não ir, o resultado foi que o gênio e a garota da computação iriam acompanhar Jennifer no show. Os três se encontrariam em frente ao local mencionado nos ingressos às oito horas da noite, meia hora antes do início das duas horas de música ao vivo.´

[...]

E lá estava Spencer. Em frente ao local marcado, observando a estrutura do palco ao longe e a fila para entrar no local do tão esperado show. Ele se perguntava como infernos havia ido parar ali. Queria sair para comprar livros novos, mas J.J. insistiu tanto para que fosse com ela, que ele simplesmente não pôde recusar.

-Eu achei que você não viria. - Garcia comentou ao chegar perto de si com Jennifer.

-Eu achei que J.J. me mataria se eu não viesse.

Os três companheiros sorriram uns para os outros e rumaram para a mesma direção da fila.

Como haviam chegado cedo, não tiveram dificuldade em chegar ao local desejado, ficaram não muito distante do palco, tendo a certeza de que a cantora os veria, assim como dissera na carta.

Depois de certo tempo, alguns gritos eufóricos tiraram Reid de seus próprios pensamentos para olhar na direção do palco. Tamanha fora sua surpresa ao reconhecer a tão aguardada cantora, e teve certeza que ela demorou um tempo para se restabelecer do susto de vê-lo naquele lugar.

-Céus, como a Kaliza consegue ter um cabelo tão perfeito?

O comentário da loira o deixou ainda mais surpreso, mas optou por não dizer-lhe que sua ídolo jogava xadrez em um parque com ele.

-Nossas saudações aos presentes! - A mulher que agora ele sabia se chamar Kaliza, falou ao microfone após envolver o pescoço com o cinto da guitarra vermelha.

Além do vermelho do instrumento da cantora, tudo se resumia nas cores preto e roxo; maquiagem, roupa e mexas nos cabelos de todas as integrantes da banda, que se posicionavam em seus respectivos instrumentos musicais.

-Como muitos esperavam nossa volta ao palco, venho dar-lhes a notícia de que agora é permanente! - Aquela fala arrancou gritos da multidão em que o "Doutor" estava. - E nada melhor do que começar com uma música nova. Com vocês, Everybody's Fool.

A música iniciou com um leve dedilhado de Kaliza em sua guitarra, para depois ser acompanhada pelo resto das garotas.

Era um tanto quanto harmônico, mas pesado demais para os ouvidos de Spencer, que nunca havia parado para escutar esse tipo de música. Quando ele pensou que aquilo seriam duas horas em um inferno musical, a voz da vocalista o fez congelar por completo na mesma medida em que ficava arrepiado. Que tipo de bruxaria era aquela?

Perfect by nature

Icons of self indulgence

Just what we all need

More lies about a world that

Perfeita por natureza

Ícone da própria indulgência

Exatamente o que todos nós precisamos

Mais mentiras sobre um mundo que

Never was and never will be

Have you no shame don't you see me

You know you've got everybody fooled

Nunca existiu e nunca existirá
Você não tem vergonha?
Você não me vê?
Você sabe que tem feito todo mundo de tolo

Talvez fosse apenas sua impressão, mas algo lhe prendia tanto naquela melodia, que ele simplesmente não podia se mover.

Look, here she comes now
Bow down and stare in wonder
Oh, how we love you
No flaws when you're pretending
But now I know she

Veja, aí vem ela agora
Curve-se e encare com admiração
Oh, como nós te amamos
Sem defeitos quando você está fingindo
Mas agora eu sei que ela

Never was and never will be
You don't know how you've betrayed me
And somehow, you've got everybody fooled

Nunca existiu e nunca existirá
Você não sabe o quanto me traiu
De alguma forma, você faz todo mundo de tolo

Os olhos daquela mulher brilhavam tanto enquanto cantava, eles estavam tão presos em Spencer que parecia haver apenas ele em meio a multidão. Como se ela cantasse para si, como se dissesse que ela era a mentira em sua própria música, como se quisesse adverti-lo de que ela era assim, a tola de todos.

Without the mask
Where will you hide?
Can't find yourself, lost in your lie

Sem a máscara
Onde você vai se esconder?
Não consegue se encontrar, perdida em sua mentira

I know the truth now
I know who you are
And I don't love you anymore

Eu sei a verdade agora
Eu sei quem você é
E eu não te amo mais
 

Os sons transbordavam seus sentimentos mais íntimos. A única verdade em sua vida era a música que tocava.

E ela tinha medo. Medo do que seria sem sua máscara. Medo de quem seu "Doutor" veria sem a maquiagem, sem a mentira que era sua vida.
Perdida na própria mentira, se ele soubesse a verdade, o que seria daquele relacionamento? Ela não queria perder mais nada, simplesmente não podia perdê-lo.

Never was and never will be
You don't know how you've betrayed me
And somehow, you've got everybody fooled

Nunca existiu e nunca existirá
Você não sabe o quanto me traiu
De alguma forma, você faz todo mundo de tolo

It never was and never will be
You're not real then you can't save me
Somehow, now you're everybody's fool

Isso nunca existiu e nunca existirá
Você não é real, então, não pode me salvar
De alguma forma, agora você é a tola de todos

No fundo, Kaliza sempre soube que um dia ela iria querer mostrar seu verdadeiro "eu" para alguém. Mas nunca imaginou que teria tanto medo de fazê-lo.

 De fato era a tola de todos.