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História Brio: A Genesis de Lilith Dramione - Capítulo 4


Escrita por: elysianfl

Notas do Autor


Mil perdões pela demora, é que eu estava tentando fazer do esquema de terminar primeiro a fic e depois postar, mas creio que já que cometi o equívoco de postar 3 caps, não posso mais fazer dessa forma porque vocês vão abandonar a história né, eu mal criei vínculos dos personagens com vocês. Sorry :O Tentarei manter a constância de 15 em em 15, isto é, se vocês assim desejarem, comentando seu feedback.
Boa leitura!

Capítulo 4 - Capítulo 4


A tristeza é causada pela inteligência,

quanto mais você entende certas coisas,

mais você gostaria de não compreendê-las.

Charles Bukowski

— Mamãe, o que é um sangue ruim?

- o garotinho indagou enquanto segurava com os dedos gordinhos a mão de sua mãe.

— Uma anomalia entre os bruxos. Eu queria que todos eles fossem queimados na fogueira anos atrás, mas nossos antepassados não fizeram o suficiente. - a mulher de cabelos platinados até a altura do pescoço respondeu enquanto atravessava a rua com o unigênito.

— Então eu não posso ser amigo de um sangue ruim?

— Você não deve sequer falar com eles, são escórias indignas de simpatia. E pensar que no mundo há milhares de meios bruxos assim… - a mulher continuou falar mas, sua voz ia sumindo em meio aos insultos.

O diálogo provinha de uma memória que há muito tempo Draco não acessava e que surgiu para perturbar seu sono assim que adormeceu. Entre devaneios da noite passada, muitas das cenas que lembrou de forma vívida vinham de lembranças reais.  Sonhou também com sua primeira queda de voo, com seis anos, quando pegou escondido a vassoura de seu pai para brincar e impulsionou com toda sua força - que era mínima na época, mas o suficiente para fazê-lo voar mais de seis metros acima. Seu primeiro osso remendado, foi o que essa pequena aventura resultou. E ao ser descoberto, a primeira agressão física que sofreu do pai. Desde então jamais desobedeceu às regras de Lucius Malfoy.

 

Sua imaginação foi deveras mais confusa quando entrou no estado profundo de seu sono; o momento em que mesmo sonhando sabia que o que via não era real.

 

Talvez tenha sido por causa dos corvos que viu na outra manhã, aqueles que se moviam em ritmo bizarro no céu, ou talvez mera coincidência, mas fantasiou corvos, centenas deles cobrindo o exterior da cabana. Agitados e agressivos, os sons que corvejavam  feriam seus ouvidos e ele sentia o sangue escorrer e manchar suas mãos enquanto tapava-os tentando proteger seus tímpanos. 

 

Hermione e Naiád não estavam no pesadelo - aquilo não era mais um sonho - estava sozinho na cabana. Ferido e trêmulo. Tinha alguma coisa lá fora, além dos corvos que o deixava hesitante e desejando acordar, mas se sentia preso, como se a qualquer instante fosse ser capturado ou morto e nem veria o que lhe atingiu.  

 

Não foi até que ouviu sussurrar seu nome que deu meia volta piscando os olhos com força esperando acordar e deixar o sonho lúcido que o aprisionava. Mas, não foi o rosto de uma das duas mulheres com quem dividia a cabana que viu, sequer foi um rosto humano. 

 

A criatura de poder assombroso que rugiu seu nome com um timbre metálico sem mover a bocarra, foi um imenso dragão com escamas douradas e olhos cheios de luz prateada. A altura de Draco não era metade do que o porte da besta em sua frente. E ele só estava apoiado sob as patas sem destruir aquela cabana, porque aquilo era um sonho - e só por isso o loiro não desmaiou ali mesmo. 

 

Seu nome foi chamado mais algumas vezes, mas não teve certeza de onde viera. Os corvos tinham parado de voar sobre o lado externo, mas o dragão continuava em sua frente sem desviar as grandes órbitas metálicas. Com os sentidos prejudicados pelo sangue seco em sua orelha, sequer soube distinguir se ainda estava no sonho ou passou para a névoa de consciência prestes a acordar.

 

Mas, o estremecimento que sentiu em um dos braços teve efeito imediato no seu pesadelo, assim, Draco ficou aliviado quando recobrou a lucidez e sentou-se sobre o colchão assustado. A voz que chamava o seu nome era a de Hermione, e ele se sentia tão mal quanto em seu estado inconsciente. O franzir de sobrancelhas e a careta da grifinória a sua frente o confirmava o mesmo. Ele não estava bem. 

 

______________________

 

—     Ele já está à horas assim, por que não está melhorando?

 

Pela milésima vez, Hermione questionava Naiád ao enxugar o suor na testa de um Draco adormecido. 

 

— Você sabe porquê, quando ele desobedeceu ao chamado, a marca negra começou a deixá-lo doente. 

 

— Então temos que voltar?

 

— Você não deve voltar. E ele também corre riscos, afinal se descobrirem que estava te protegendo será considerado um traidor.

 

Hermione suspirou alto, cansada da mesma resposta, ao espremer a toalha molhada numa bacia e se levantar para pegar mais água. 

 

Durante o tempo em que ela deixou o colchão que Draco dormia, a druidesa se aproximou e depositou mais seiva de acácia em cima da marca negra para diminuir a febre e controlar a magia das trevas o máximo para que ele não perdesse as forças por recusar-se a cumprir o chamado.

 

O garoto delirou a noite inteira, pouquíssimas vezes abrindo os olhos e sentando-se, no entanto, sem estar realmente presente. Naiád sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, só que não estava pronta para concordar com a partida deles. Gostaria de acreditar que estariam seguros ali com ela e ponto final.

 

Se pudessem ficar ali, ensinaria seus saberes a Hermione, pela ânsia por conhecimento que vê em seu coração quando observa a garota. Ela não entenderia tudo, assim como não entendeu as últimas vinte e quatro horas com tudo que despejou sobre jovem, entretanto ela aprenderia rápido, tinha certeza sobre isso. O que não tinha era tempo. Draco não tinha. E Naiad não podia deixar de admitir que a presença dele ali, mesmo com o auxílio de suas ervas, não seria tranquila por muito  mais tempo, ele estava piorando a cada hora e ela entendia que por estar em uma propriedade invisível até para o resto do mundo bruxo, transfigura um bruxo como um corpo morto. E morto, Draco não estava. Ainda.

 

Mas, ela não colocaria mais esse peso nos ombros da Hermione. Ela não suportaria outra perda tão próxima. Estava se saindo muito bem em demonstrar força mas, a druida percebia como estava prestes a quebrar se mais alguma coisa pesasse sobre si. 

 

Decidiu por fim, deixar que eles saíssem por conta própria e dessa vez prometeu a si mesma que não interferiria mais.

 

_____________________

 

Da próxima vez que acordou, Draco se sentiu um pouco melhor. O braço ainda latejava e seu lado esquerdo inteiro parecia que havia sido esmagado por centauros. Não lembrava muito bem o que tinha acontecido, mas a julgar pela gosma esquisita que cobria seu braço, supôs que o mal-estar provinha da marca. 

 

Ele não se lembrava do que sonhou, mas tinha a sensação que despertara de um pesadelo “daqueles”. Também podia jurar que Hermione estava ao seu lado, ou será que sonhou com a mão dela acariciando sua testa? Bem provável - o que não tirava a esquisitice da coisa, afinal por que diabos ele sonharia com algo assim? - e lógico, ela nunca faria isso de livre e espontânea vontade. 

 

Jogou os pés para fora da cama de solteiro com o apoio dos braços, suas pernas pareciam chumbo, ele certamente não poderia andar no momento nem se assim desejasse, mas, calçou suas botas - surradas e de segunda mão, já que os membros da Ordem sumiram com tudo que lhe pertencia no dia em que chegou com Harry Potter.

 

Se o pai dele o visse agora…

 

Pensando em Lucius Malfoy não pode evitar lembrar de uma história - verídica - que ouviu pela primeira vez de um dos retratos na Mansão sobre a antiga e conturbada relação dos Malfoy com trouxas pouco antes da ascensão da família. Havia um livro na Mansão, chamado por O Livro da Verdade, nele continha os únicos escritos e registros da família desde a primeira geração descendente de Merlin. 

 

Segundo seu tio-avô, tais escrituras comprovam que entre a família dele e bruxos nascidos-trouxas houveram laços que foram convenientemente esquecidos com o passar das gerações. O nojo por sangue ruins começou a partir do tataravô de Draco, mesmo sua mãe sendo mestiça - genealogia essa que fora muito bem escondida dos livros mágicos acessíveis ao mundo bruxo. 

 

O que a família Malfoy faria se a verdade dos seus ancestrais viesse à tona? 

 

Para Draco, hoje, a vergonha não seria tanta. Na situação em que ele estava, disseminar que seu passado tinha parceria com trouxas, não era nada. E para ele, pessoalmente, foi um alívio quando ficou ciente, dias depois de Greyback capturar o trio de ouro e levá-los a sua casa, e sua tia torturar Hermione em sua frente e ele não fazer nada. 

 

“Caminhava nervoso pelo corredor da Ala Sul, onde seu pai não gostava que ele fosse, mas, ele não prestava atenção nos passos, só queria fugir da sala e ir para o mais oposto possível. 

 

Lesath Malfoy, era irmão de Abraxás, seu avô, e nenhum dos dois ele conheceu, apenas através dos livros. Seu tio-avô morreu amaldiçoado por uma feiticeira enquanto usava indevidamente um vira-tempo - objeto que o permitiu voltar ao passado para tentar impedir seu próprio casamento. Triste jornada, a dele. Mas nunca foi do interesse do Draco sua história, e sua presença na parede Malfoy só foi notada pelos resmungos barulhentos do mesmo sobre o quão vexaminoso era torturar uma não puro-sangue no mesmo solo em que outrora aquela família havia casado com trouxas.

 

Claro que, o velho resmungava sem cessar e coisas sem nexo. Somente quando citou sobre o Livro da Verdade, Draco decidiu por si só trocar o foco dos seus pensamentos já que, da sua casa, não podia fugir. 

 

Ele achou o tal livro na biblioteca com uma etiqueta escrito “Não abra este livro nunca” que, lógico, foi rasgada e ignorada com sucesso por ele.  

 

E folheando as páginas com ligeira pressa, procurou por entre nomes e hieróglifos que ele não sabia traduzir, onde estava a genealogia da sua família.

 

Os registros aqui escritos jamais serão lidos por vossos olhos em outro lugar. 

|

Merlin; uranometria “Virtuoso”

Malfoy; uranometria “Má Fé”

|

[...] De origem desconhecida para qualquer usuário mágico, Merlin, é um dos seres mais misteriosos que já existiu. Sua existência é somente comprovada pelo sangue que seguiu-se multiplicado por novas gerações, fragmentos do voto perpétuo que o enlaçou com uma estrangeira trouxa e deu início à primeira linhagem de puro sangue - não literal - reconhecida posteriormente. A Linhagem Malfoy…


 

Draco não percebeu que se sentara no chão para ler, até sentir a ardência de sua coluna pela má postura. Estava estupefato. Desconhecia a origem de seu sobrenome, de jeito nenhum o que acabara de ler tinha ido para A História e Ascensão dos Malfoy, publicado em todo mundo mágico. Pois, as páginas em suas mãos lhe diziam que sua descendência do grande mago Merlin viera por um envolvimento puramente mágico e artificial com uma sangue ruim. E isso mudava tudo.”

_________________

 

— Como se sente?

 

Naiád pergunta quando vê o garoto terminar de calçar suas botas e, tentar sem sucesso, levantar da cama.

 

— Como se alguém me lançasse uma maldição imperdoável.

 

Ela abriu um sorrisinho.

 

— Infelizmente é uma dor que não posso curar. - aponta para o braço dele. A Marca em carne viva.

— Você só está sentado pela proteção concedida pela propriedade, fora daqui, em uma convocação negada já estaria morto.

 

— Hum. Obrigado por me lembrar do que já sei - resmunga. 

 

Ela segura seu braço e passa a mão por cima da tatuagem entorpecendo a dor por mais algumas horas.

 

— Obrigado. - murmura de novo, dessa vez, grato e ela balança a cabeça. — Naiad…será que eu posso falar com você?

 

Ela o observa com um olhar avaliativo e Draco prende a respiração.

 

— Pressinto que eu não vou gostar do teor da nossa conversa.

 

— Não vou perguntar nada que você desconhece, isso eu te juro.

 

A mulher se senta em um banco na frente dele e gesticula para que prossiga. 

 

— Eu queria saber sobre algo que você falou anteriormente, você disse que presenciou o início da família Malfoy. O que quis dizer com isso?

 

— Eu disse isso a Hermione…

 

— E eu estava lá perto, embora sendo ignorado pelas duas. - lembrou arqueando a sobrancelha.

 

Ela suspira.

 

— Aonde você quer chegar com isso?

 

— Quero saber se teria alguma relação com um voto perpétuo ocorrido há muito tempo, com a presença de alguém que ambos temos em comum, Merlin.

 

 — O quanto você sabe sobre isso? 

 

Ela nem tenta negar a suposição, então Draco conta até onde ele leu no Livro da Verdade e os símbolos que ele não soube traduzir.

 

— Você devolveu o livro à biblioteca?

 

— Sim…Por que? Eu deveria levar comigo?

 

— Você esteve com um tesouro escondido por milênios em suas mãos e está me perguntando se não deveria ficar com o livro e tentar traduzi-lo a todo custo? - jogou as mãos para o alto - Francamente, não sei onde essa nova geração vai parar!

 

Draco revirou os olhos, mas a encarou insinuando que estava à espera de uma resposta para a sua pergunta.

 

— Certo. Sim, a minha ligação com os Malfoy tem a ver com o fato citado naquele livro.

 

— E…

 

— E que a pessoa envolvida na cena que testemunhei era sim uma garota trouxa e o voto na verdade foi em uma breve cerimônia de casamento...

 

— Mas Merlin não casou!

 

— Será que eu posso continuar sem que me interrompa com observações irônicas?

 

— Isso eu não posso prometer - sorriu com escárnio e a mulher estreitou os olhos.

 

— Eu não posso te revelar a intenção daquela cerimônia, mas-...

 

— Para Hermione você conta tudo, mas para mim são sempre meias respostas! - resmunga ciumoso.

 

Uma veia saltou do pescoço dela e Draco sentiu que ela estava prestes a desistir, mas não conseguia evitar interromper, especialmente quando achava que tinha razão.

 

— Eu só vou contar uma pequena parte e se você me interromper de novo eu não somente vou parar de falar, eu não trarei mais a seiva que alivia sua dor e você vai voltar ao estado alucinógeno que esteve nos últimos dias, estamos entendidos?

 

Ele engoliu em seco e assentiu. Agora ela parecia estar falando sério.

 

— Muito bem. Assim como hoje vocês temem seu Lorde das Trevas, na minha época, todos temíamos uma bruxa, chamada por muitos de A Grande Rainha, ela era uma espécie de anjo das trevas e comandou diferentes reinos com punhos de ferro, tortura e violência, para ser um contra peso à boa influência que Merlin teve na terra. Ela era a única pessoa mágica com sabedoria e poder tamanho para enfrentar um mago como ele, A Grande Guerra teria sido a pior das batalhas sangrentas se tivesse acontecido. - suspirou, tocando o medalhão sobre seu pescoço. Depois de um longo silêncio, como se voltasse à memória que proferia, continuou:

 

“ A aliança com uma trouxa foi feita com o meu mestre. Sim, Merlin fez um voto perpétuo com uma desconhecida por um bem maior. Era um Preço Menor a ser pago caso ele viesse a deixar de existir. Com os murmúrios de uma grande batalha se aproximando, ele precisava de um meio onde sua magia perdurasse em novos bruxos.”

 

Dessa vez, com medo, Draco levantou a mão para indagar uma dúvida. 

 

— Por que uma trouxa? Por que não uma bruxa que já tinha poderes e por que diabos um casamento - por mais estranho que seja casar por meio de um voto - impediria uma guerra?

 

— Certo. Vamos por partes. Ele precisava de um hospedeiro para sua magia, alguém que ao se reproduzir passasse todo poder dele para seu primeiro filho e assim sucessivamente para o primeiro filho de seu filho, semelhante a história trouxa sobre Jesus, mas você não deve conhecer, Hermione talvez entenda melhor, pergunte a ela quem sabe um dia, se não for abaixo da sua dignidade de Malfoy querer saber mais sobre os trouxas. - o alfinetou. —  Segundo porque, uma bruxa que já teria poderes, como você disse, não seria um hospedeiro, ele não poderia passar seu poder para alguém que já fosse mágico, porque sua magia se fundiria àquela já existente e apenas aumentaria a mágica de quem a recebesse. Era necessário que fosse especificamente um ser não mágico, e aquela mulher em questão, havia sido muito acolhedora com alguns magos e druidas do meu círculo, não confiávamos nela porque não se confia em quem não é bruxo, mas, ela foi escolhida por unanimidade. Compreende?

 

Draco aquiesceu levemente.

 

— E por fim, não foi bem um casamento, sim, eu fui testemunha e houve de fato juramento das duas partes, mas nem de longe foi uma relação conjugal, na verdade foi através dali que os primeiros nascidos trouxas tiveram origem. Mas não tendo Merlin como seus progenitores.

 

— Então quer dizer que essa tal de Grande Rainha foi responsável pela perda de poder e desaparecimento dele?

 

— Isso eu já não posso te responder. Por que não olhou no livro? Certamente a resposta estaria lá. - o cutucou, lembrando-o que ele deixou passar a oportunidade de ter quem sabe todas as respostas que agora acreditava, melhor explicadas.


 

— Bem, como eu ia imaginar que seria importante? Deixei-o na biblioteca e nunca mais pensei sobre ele, afinal estávamos em uma guerra, minha mente estava muito ocupada. Ai! - interrompeu-se segurando forte o braço.

 

 O efeito da anestesia tinha passado.

 

— Temos que fazer alguma coisa sobre essa tatuagem, se continuar assim, suas forças irão se exaurir até não conseguir mais ficar consciente.

 

— Eu tenho que voltar…

 

— Se você for, ela vai atrás e você sabe o que farão com ela se a pegarem primeiro, não sabe? 

 

Sua parte, de orientar e dizer as palavras que as pessoas não queriam ouvir, mas precisavam, tinha cumprido. Pensou a druidesa. Sabia que havia a possibilidade de ter cometido um engano, afinal, anos se passaram desde que um humano a visitou - e Draco embora inconveniente desde tenra idade, nunca foi potencialmente perigoso.

 

Tampouco achava o mesmo sobre a garota. No entanto, ela não a conhecia como conhece Draco. E a redoma abrindo brechas que nunca abrira antes…

 

Não. Ela não era louca. 

Conhecia demais, sobre tudo em todos os universos.

Não podia estar errada.

 

Contudo, a prioridade por enquanto era a saúde do menino. E Naiad não poria mais caraminholas em sua cabeça, não até ele se recuperar - o que pelo menos resolveria uma das preocupações da morena. 


 

Draco deitou-se novamente no colchão choramingando quando Naiád saiu. Era horrível não ter soluções. Hermione sempre foi a cabeça que solucionava os mais impensáveis imprevistos. Ele queria, egoisticamente, ela bem de novo. Só a mente brilhante dela os tiraria dali em segurança.

 

_________________


 

Bastou deitar-se e relaxar seus membros que a sonolência o derrubou e Draco voltou para o espaço dos sonhos.  Dessa vez não estava presente de forma corpórea, apenas via o que seu subconsciente queria lhe mostrar, como uma coruja vigiando noite adentro. Por mais que não pudesse se ver, ele ouvia um coração batendo acelerado e passos afundando na neve, em um túnel estreito e familiar - Travessa do Tranco.  As lojas estavam fechadas como se não houvesse ninguém ali por muito tempo. Uma mera passagem esquecida que virou ruínas. Ao se aproximar do fim do corredor, Draco soube de quem pertencia o coração que ouvia as batidas e as pegadas que marcavam o chão. Hermione.

 

Descendo por uma escada estreita em caracol, ele viu quando ela usou uma passagem secreta - que ele nem sabia se de fato existia - que deu vista para um pequeno templo onde um altar ocupava o centro fracamente iluminado por tochas nas quatro laterais da mesa de pedra.

 

Um corpo jazia deitado ali.

 

Não parecia estar morto. 

Não cheirava mal ou aparentava estado pútrido.

Era como se estivesse dormindo.

 

Hermione se aproximou até sua barriga encostar na grande pedra e recitou encantamentos que ele não compreendia, mas sabia que era em Sindarin; idioma dos antigos feéricos. 

 

O sonho lúcido, como todos os que Draco vinha tendo recentemente, o surpreendeu. Como Hermione saberia uma língua élfica perdida há séculos - ou melhor, como o Sindarin era um produto do consciente dele - se nem sequer o sabia falar?

 

A resposta era simples. Não era excesso de imaginação. Era uma visão.

 

O corpo deitado no altar respondeu ao encanto dela e ergueu-se ereto, ainda de olhos fechados. Draco então pôde notar suas grandes orelhas pontudas, quase escondidas pelos longos cabelos dourados. Um Alfa Feérico. Espécie de guerreiros da primeira linhagem mágica na terra. Inimigos mortais de bruxos e feiticeiros, todos eles. 

 

De repente, Draco sentiu-se afastado da cena, como se estivesse acordando, mas ele não queria acordar agora. Queria ficar e ouvir o que aconteceria e porque Hermione estava ali. Então, forçando seu eu a estar presente ele, literalmente, entrou no templo. Seus pés tocavam o chão empoeirado e era capaz de ver e movimentar suas mãos, assim como ouvir mais do que uma batida de coração. 

 

E a sua presença ali também se fez percebida, não só pelos outros dois, mas pela coisa na qual esbarrou atrás de si e provocou um baixo, mas sinistro, bramido. 

 

O dragão dourado.

O mesmo que ele vira no chalé da outra vez. 

Mas ele estava naquele pequeno espaço e com a ciência dos dois outros que estavam no altar de cerimônia, já que ouviu o arquejar de Hermione.   

 

“Ela está aqui.”

 

Ouviu em sua mente e podia jurar que somente ele era capaz. Pensou em questionar sobre quem seria  “ela” mas uma mão no seu ombro roubou-lhe a atenção.

 

“Isso começou muito antes de nós e continuará existindo quando não estivermos mais por aqui.”

 

O elfo falou, em pé e tão próximo de si, que seu nariz estava rente a Draco, e as globes negras sob os azuis acinzentados dele. 

 

O grito de Hermione, o despertou do transe que aquele olhar o manteve. 

Sangue prateado escorria da barriga dela e a julgar pelos seus berros ela não conseguia ouvi-lo ou sequer enxergá-lo. Como se não estivesse mais ali. 

 

E de fato não estava.

 

O grito que ouvia quando abriu os olhos era real e menos aterrorizante, embora também emitido por ela, apenas chamava por seu nome e não urrava de dor.

 

— O quê? O que houve? 

 

Respondeu zonzo, secando o suor frio das sobrancelhas enquanto piscava forte para se acostumar com a claridade.

 

— É a terceira vez que você apaga e não acorda de jeito nenhum. Naiad já tinha tentado de tudo!

 

— E o que você fez para conseguir?

 

— Nada. Eu só segurei seu braço e chamei seu nome. - suspira alto - Você está proibido de dormir a partir de agora.

 

— Ah, que ótimo!

 

— Eu estou falando sério! Se você não se preocupa com seu bem estar o suficiente, alguém tem que reivindicar esse papel. 

 

— Então, agora eu é que não me preocupo? Pois eu me lembro bem de frequentemente estar te lembrando que tenho a marca no meu braço e que essa merda pode me matar. 

 

— Não grita comigo!

 

— Não estou gritando!

 

O olhar que ela lança a ele o irrita ainda mais. Merlin! Como eles tinham chegado a esse nível de estresse em tão pouco tempo? 

 

— Não vou pedir desculpa.

 

— Eu sei que não, seu mau educado.

 

Ele acompanha ela com o olhar quando a mesma senta sem postura no colchão, perto dos pés dele, e encosta na parede. Parecia exausta e irritada ao mesmo tempo, porém mais exausta, e ele - por um milagre - teve compaixão. Verdade seja dita, ele havia esquecido como os últimos dias foram insanos para ela, para os dois, mas ele estava mais acostumado a dor. 

 

— Desculpa.

 

— Ué

 

— Não provoca. Eu só lembrei que não é justo ser maldoso com você agora porque…você sabe…

 

— Ah, então antes podia né?

 

Ele acha que ela começaria uma nova discussão, mas nota uma linha fina esticada na lateral dos lábios dela e balança a cabeça devolvendo o sorriso.

 

— Eu não vou quebrar, você sabe né?

 

— Como assim?

 

— Se você disser o nome dele. Se disser o nome do Ron.

 

Ele não sabe o que responder a isso. Estava evitando falar sobre o fatídico garoto justamente por medo da reação dela.

 

— Você está bem com isso? - ousa indagar.

Ela ri sem humor.

 

— Se eu estou bem com a morte do meu melhor amigo que eu tenho quase certeza que estava apaixonado por mim? Não, eu não estou bem - suspira triste e Draco se amaldiçoa, ele sempre falava a coisa errada para ela. — Mas eu estou bem, comigo quero dizer. A Naiad…confesso que tive impressões equivocadas sobre ela no início, mas ela me ajudou a ver umas coisas que eu não veria se me atesse somente a morte dele. 

 

— Como assim ele estava apaixonado por você?

 

Ela olha para ele descrente e lhe dá um peteleco no pé.

 

— Sério que foi nisso que você prestou atenção?

 

Ele a ignora, é claro. Mas, não consegue evitar o rubor subir seu pescoço. Será que soou muito óbvio? Pensou e por uns segundos considerou fingir desmaio mas, a fase covarde prometeu que deixaria no passado, então não recairia por uma bobeira.

 

— Não é legal responder os outros com outra pergunta, sabia?

 

Ela ergue a sobrancelha e rebate.

 

— Você já fez muitas coisas não-legais comigo e eu não estou aqui jogando na sua cara.

 

— Ta, ta, mas conta. Ele estava ou não apaixonado por você?

 

— Eu não sei, Draco! - declara incisiva. — E nem tenho como saber mais. - seu semblante volta a aparentar infelicidade. 

 

— Mas e você…Estava apaixonada por ele de volta?

 

— Não acredito que esteja realmente me perguntando isso. E isso vindo da pessoa que da última vez se esquivou da característica de insensível. Como isso parece para você?

 

— Pura curiosidade. 

 

— Draco!

 

— Você disse que estava tudo bem falar sobre o Weasley.

 

— Sim, mas não desse jeito. Argh, quer saber? Vou deixar você descansar.

 

— Não. - Ele a segura pelo pulso e geme com o esforço, pois usou o braço enfraquecido. — Não queria te deixar irritada, desculpa. - grunhiu — E para de me fazer te pedir desculpas.

 

— Se você não estivesse sendo babaca não precisaria pedir desculpas. - objetou enquanto virava o braço dele para avaliar a temperatura em cima da tatuagem. Ainda estava quente. — Agora é sério, preciso que você descanse, e sim, eu sei que eu disse que não era para você dormir mais, porém, observe que estou falando apenas para descansar, sem dormir. - Draco revirou os olhos durante a repreensão passivo-agressiva dela. - E se você for bonzinho quando anoitecer nós vamos ver uma coisa.

 

Levanta com cuidado ao pôr o braço dele ao lado do corpo. 

 

— Ver uma coisa? Aonde?

 

— A curiosidade matou o gato. 

 

— Nah…Sou muito bonito para morrer.

 

— Rá! Vai sonhando. 

 

— Hermione.

 

— Hum. 

 

— Obrigado.

 

— Por que?

 Draco balança a cabeça e vira o corpo para o lado da parede. Hermione franziu a testa mas não insistiu e o deixou só. 

 

__________________

 

— Se você contar para alguém que eu deixei você me levitar por livre e espontânea vontade, de olhos fechados e mesmo podendo andar, eu nunca mais falo com você. - ameaçou contrariado com os músculos tensos enquanto deixava Hermione o guiar pelo lado de fora, já que sentia o frio em sua pele, mesmo com ele insistindo que podia andar, afinal sua fraqueza era somente no braço.

 

— Para quem eu contaria? - comenta rindo dele — E além do mais, você só acha que consegue porque é teimoso, mas quem cuidou de você esses dias?

 

— A Naiad. Ai! - geme quando sente um beliscão na panturrilha. 

 

— A Naiad só te salvou, mas eu que cuidei de você, seu ingrato!

 

— Eu estou brincando, sua irritante.

 

— Lembre-se que eu posso te deixar cair. 

 

Ele revira os olhos, mas não abusa da sorte.

 

— Chegamos. 

 

Ela o deixou cair até meio centímetro perto do chão - para o efeito do susto da queda abster-se sobre ele, e deu certo - e retirou a magia.

 

— Hey! 

 

— Ops! Minha varinha escorregou.

 

— Rá! Como se você não soubesse fazer magia sem ela. O que é isso? - perguntou olhando em volta.

 

— Preciso mesmo responder? O que isso te parece? Um observatório astronômico, é lógico! 

 

— Um dia eu ainda vou te azarar e a culpa vai ser sua. - resmungou ao se levantar. — É claro que eu sei que isso é um observatório, mas como está aqui? Isso não faz parte da minha propriedade.

 

Ela apenas arqueou uma sobrancelha incrédula da estupidez dele. 

 

— Tá, já entendi, não precisa me olhar assim. É magia. 

 

— Parabéns! Você acabou de se safar de uma petrificação, depois que eu conheci a Naiad, percebi que gosto mais de você calado. 

 

Draco nem se dignou a responder, passou na frente dela e subiu os degraus do observatório. Não era bem um mirante que ele reconheceria de longe - aliado ao fato de que deve ter sido criado recentemente, já que ele nunca viu quando era mais novo. A aparência do local na verdade era quase uma extensão da cabana; uma grande campânula oval de vidro transparente com teto aberto (ou apenas enfeitiçado para mostrar o céu tal como estava, como em Hogwarts) e uma cama dossel com uma espécie de cortina translúcida que a cobria, apoiada em quatro colunas de madeira. Não servia para aquecê-los, mas novamente, Hermione havia pensado em tudo. O encanto atmosférico usado, aquecia os lençóis e quem deitasse abaixo deles. 

 

Um alívio pós clima gélido do lado de fora. Irlanda era sempre fria, não que Wiltshire não fosse, mas para o que Draco esperava de um lugar mágico, aquele ali nunca o inspirou muito a explorar sozinho. 

 

— Então, o que achou? 

 

Ele a olhou sem entender mas respondeu

 

— Viemos olhar as estrelas? -  questiona entre pausas. — Está tentando me seduzir, Granger? 

 

— Argh! Você é impossível.

 

Ele ri enquanto se acomoda no colchão, com cuidado, pois seu braço doía se pusesse força sobre ele - a última mistura anestésica, Naiad tinha colocado nele, antes de sair. Quando o efeito passasse, estaria à mercê da sorte e então saberia o quão corajoso era para não se render à dor. Ou a morte. 

 

— Não viemos olhar as estrelas! - ela aponta para cima, sentando na beirada da cama. 

 

Draco acompanha com o olhar e observa riscos verdes, azuis e violetas com movimentos inconfundíveis no céu em forma de coroa. 

 

— Isso é uma aurora boreal.

 

— Eu não sou burro, Hermione!

 

— Ai credo, eu sei, é que vocês bruxos puro sangues as vezes não dão valor a fenômenos como esses em um mundo onde já existe mágica, mas para mim como nascida trouxa, antes mesmo de descobrir que podia fazer magia, aurora boreal era meu mistério favorito de admirar.

 

— Deixa eu adivinhar, você sabe cada detalhe da origem, forma, cores e movimentos dessas luzes?

 

Ela suspira alto e o ignora.

 

— Você não entende, não é conhecer só para aumentar o conhecimento, é minha forma de admirar as coisas. Procurando entendê-las.

 

— Então você me estudou também? - ironiza e ela balança a cabeça divertida.

 

— Só estudo o que admiro.

 

— Hey!!!

 

O sorriso se estende aos olhos dela ao observá-lo compreendendo sua resposta.

Ela volta a olhar para o céu e ele a faz companhia. Após alguns minutos em quietude, Hermione quebra o silêncio.

 

— Se eu te contar uma coisa você promete que não vai rir? 

 

Draco pensa antes de responder.

 

— Se você acha que eu vou rir é melhor nem contar.

 

— Bem, você é imprevisível, então eu nunca posso ter certeza. - bufou revirando os olhos. — É sobre algo que a Naiad me revelou naquele dia. 

 

Ele faz sinal para ela continuar.

 

— Aliás, você já assistiu um eclipse lunar?

 

o garoto balançou a cabeça esboçando uma careta.

 

— Qual o seu problema com fenômenos esquisitos no céu? 

 

— Não importa, essa mesma pergunta ela me fez. Eu disse que já ouvi meus pais falarem sobre quando era pequena, e então ela me contou porque a escuridão cobre todos os pontos de luz por um tempo e o que isso representava. 

 

“Um eclipse solar por muitos séculos era um temor entre bruxos e feiticeiros, porque esse episódio possuía origens proféticas. Houve um tempo, antes ainda dela entrar no Conselho de Druidas, que Merlin teve um sonho, ainda jovem, quando tinha acabado de descobrir-se como feiticeiro. Este sonho, que mais tarde veio a ser uma profecia, anunciaria a vinda de Lilith. Lilith andaria tanto sobre a terra que cobre o solo, quanto aquela que mantém os seres das trevas aprisionados num Inferno.”

 

A garota ajeita as costas no travesseiro em rolo e o questiona. 

 

— Você sabe o que é Inferno, Draco? 

ele nega, sem comentários extras. — Para a crença dos trouxas é uma possibilidade de destino que as almas impiedosas têm ao deixarem esta vida. Alguns o imaginam não como um estado de condenação, mas um local, que inclusive você pode visitar mesmo sem estar morto, embora eu desacredite. Um Inferno seria o contrário de Paraíso - e sei que esse você já ouviu falar - se fosse para trazer ao nosso mundo, seria comum pensar que o Lorde e seus comensais iriam para o inferno, por ser quem são e fazer o que fazem. Não existiria misericórdia para eles. É como estar em Azkaban, só que sem nenhuma possibilidade de fuga ou visita. Só os maus estão lá.

 

— É isso que você acha que devia acontecer? - questionou ao mesmo tempo que estica a pele do braço para neutralizar sua dor. Ele também era um comensal. Queria saber se ela pensava que ele merecia um destino daquele.

 

— É isso que eles acreditam. Eu não acredito que há um lugar onde as pessoas que fizeram escolhas ruins vão ser punidas, para mim elas recebem o castigo que merecem ainda em vida. E eu sei o que você está pensando. E você não é uma delas. Não para mim. - Draco aparenta menos ansioso após as palavras dela. —   Enfim, a chegada de Lilith viria, a priori, de modo imperceptível. Seu nascimento não poria caos instantâneo nos dois mundos, mas, abriria uma brecha à aniquilação total de todas as raças, mágicas ou humanas. Só que ela não teria seu rosto ou destino revelado até chegar a hora. E para a druidesa, três ações planejadas precisam ser  modificadas, ocasionando na Trindade Sombria, os três guias que anunciariam as circunstâncias já predeterminadas: O Corvo. O lobo. O Cavalo:  Sacrifício. Caos e Poder. 

 

“Por milênios, a profecia seguia-se sendo uma lenda, E o que inquietou Naiad foi o fato de eu estar aqui. Quem seria capaz de atravessar um véu, erguido por magia milenar se este não fluísse magia antiga em seu sangue? Retórica dela. E por que eu pude fazer isso no exato momento em que Ron foi morto, é tudo semelhante demais para ser coincidência, a derrota de fato nos acompanhou e a vitória caiu sobre você-sabe-quem. Como eu deveria me sentir sobre isso?”

 

— Você está realmente perguntando a mim?

 

— Estou! Quer dizer, não sei! Não estou dizendo que preciso de uma resposta, afinal se nem ela, vinda de uma linhagem de milênios, sabia explicar porque eu passei pelo véu, como nós saberiamos? 

 

— Certo, então deixa eu tentar entender. O que supostamente essa história tem a ver com você? Porque, para ela gastar seu precioso tempo lhe contando uma lenda, que quase me fez dormir por sinal, algo queria dizer-lhe com isso. O quê?

 

A aflição por não conhecer a resposta que estampa o rosto dela, permite que Draco sinta pena.

 

— Eu não sei, ela falou coisas sobre o despertar de Lilith não ser de devastação unânime, mas que quando ela ressurgisse para vingar, seu alvo deixaria de existir por toda a eternidade e os que ao seu lado assentasse, desfrutariam do seu poder em meio a sangue e ossos. Isso faz algum sentido para você?

 

— Profecias dificilmente fazem sentido. Ouvindo uma de uma druida, pior ainda, Naiad nunca fala de forma clara com a gente, sempre foi assim, não se sinta tão especial - embora ela acredite que você seja.

 

— Ela acha que eu tenho a ver com isso. Intencionalmente ou não, eu tenho minhas suposições sobre o que ela estava tentando não ser explícita, mas simplesmente me recuso a questionar isso. Eu não preciso de mais um título ou de expectativas sobre mim, pelo visto nem manter a segurança daqueles que amo, eu sou capaz não é mesmo? Imagina enfrentar o mal e combater as trevas? - força um riso que arranha sua garganta e quase a engasga. 

 

— Mas você acredita?

— O quê?

 

— Alguma parte de você acredita que essa coisa que a inquieta tanto não foi uma mera coincidência e de fato tem a ver com você, mesmo que não seja sua culpa? Sei lá, talvez pelo seu sangue. - Draco fica tentado a compartilhar a conversa recente com a druidesa que o fez conhecer verdadeiramente sobre seu passado familiar. Talvez isso a deixasse mais segura, afinal ambos viviam juntos na ignorância. Ao mesmo tempo, ele ansiava lhe contar sobre o teor dos seus últimos sonhos. Mas isso só a deixaria mais confusa. E ela já parecia esgotada demais emocionalmente para ele contribuir com isso.  

 

— Eu não sei. Tudo o que eu sei é que o cérebro nos prega peças, e às vezes vemos o que queremos ver e acreditamos no que no fundo queremos acreditar, especialmente se pensamos muito sobre algo por muito tempo. - Hermione lembrou que desde que chegou ali, tem tido sonhos que mais pareciam alucinações vívidas, nos quais via suas mãos encharcadas de sangue, ciente de que não era dela, mas de algo ou alguém morto por ela. — Tenho sonhado com o Ron, não a morte dele como foi, mas seu rosto em vários lugares, como uma aparição que tenta me dizer alguma coisa. Às vezes o Harry ou a minha mãe, sempre da mesma forma, parados em frente a mim, tremeluzindo, com o semblante em desespero como se quisessem me dizer algo, mas nenhum som saía deles. O último desses que eu tive foi com você.

 

Agora ela tinha conseguido a atenção dele.

 

— Eu lhe dizia alguma coisa?

 

Ela vira a cabeça de um lado para o outro e prende a respiração, evitando chorar enquanto murmura.

 

— Você estava morto. E eu percebia que minhas mãos, sujas de sangue, estavam molhadas com seu sangue. Você morreria por minha causa.

 

— Ei! Granger! - com dificuldade Draco se esgueira para o lado dela e mesmo desconfortável, ergue o braço saudável sobre o ombro dela, a confortando o melhor que podia. — Não é real. A magia de Naiad e desse lugar nos deixam com essa sensação inadequada. Eu também tenho tido sonhos, não com você morta, mas ainda sim perturbadores. O poder que emana deste chão está nos confundindo. Mas estamos bem, está tudo bem.

 

—  Não está tudo bem!

ela se desencosta de seu meio abraço e com os dedos aponta para o braço da tatuagem. Um lembrete que nada estava bem, para ele mais do que para ela.

 

— Shh…Eu vou ficar bem, tenha um pouco de fé. Vaso ruim não quebra. - sorri para aliviar a tensão mas ela não o acompanha. — Vem, vamos descansar um pouco. — afasta-se dela para deitar de forma confortável no colchão e Hermione faz o mesmo. 

 

— Não tem nenhuma lenda sobre a aurora boreal para me contar enquanto adormeço não?

 

— Tá achando que você é o quê, um garotinho que precisa de historinhas para dormir?


 

— Era para distrair você, sua mal amada, mas deixa que eu conto então. 

 

Ela quase esboça um sorriso, mas se impede, deitando-se de lado, frente a ele, esperando-o prosseguir. 

 

— Era uma vez, uma família muito rica e com a melhor genética que já existiu no mundo mágico: a beleza era cativa de seus membros. O sobrenome da família era Malfoy-...Ai! - resmunga ao sentir arder o beliscão que ela lhe deu no ombro. Hermione o olhava com zombaria e ele riu. De fato, a intenção havia sido espalhar a angústia de sua expressão e já de início ele havia conseguido. — Continuando..- lança um olhar de advertência a ela — A família Malfoy era uma das primeiras famílias a se formarem no Reino Unido, talvez não a primeira, mas certamente a mais poderosa e requintada.

 

— Protesto! Contar sobre si não vale como história para dormir.

 

— Primeiro, esta não é uma história interativa, então fique caladinha. - segurou o pulso dela antes que outro beliscão o machucasse. — Segundo, não é minha a história, eu sou só um por cento da minha linhagem, e você não conhece toda ela. Vai mesmo perder a oportunidade de adquirir um conhecimento de alto nível desse?

 

— Você é um idiota.

 

— E você é uma chatinha. Agora shiu. - ele voltou o olhar para o teto transparente e ela fechou os olhos enquanto ele continuava a contar. 

_______________

Ela não sabe em que momento da história dele ela dormiu, mas não se lembrava de quase nada e quando acordou Draco dormia ao seu lado e aparentemente um sono sem sonhos. Hermione roda os ombros para se levantar da cama sem o acordar, havia despertado por ouvir alguém chamar seu nome, mas pelo ressonar tranquilo do loiro ao lado, não tinha sido ele. 

 

Ela olhou para cima e o céu multi iluminado que coloriu suas orbes até adormecer voltou a ficar escuro com somente uma extensa faixa azul marinho e nenhuma lua ou astros para encher de luz o horizonte. 

 

Lembrou-se, então, porque havia acordado quando ouviu mais uma vez seu nome ser chamado dentro da floresta escura. Não mais nevava como nas últimas semanas, a temperatura permanecia glacial, mas somente pelo vento cortante que permeavam as árvores altas de folhas alongadas e a turva neblina que inibia sua visão mais que um metro à volta.

 

Titubeou, mas a curiosidade a venceu. A voz parecia ser da druidesa e a propriedade já se mostrara segura o suficiente desde que chegara ali, para temer algo. Por isso, seguiu em meio a escuridão nebulosa, avançando para onde achava que a voz vinha - lado oposto da cabana.

 

Durante a caminhada, com os ouvidos apurados para acompanhar a voz, notou que mais nenhum som era capaz de escutar. Sentia o vento em sua camisola, só não o ouvia. Nenhum ruído de animal ou ave, apenas seu nome em um apelo baixo, ainda que claro.

 

Entretanto, um cheiro de morte e podridão exalava de ambos os lados da floresta, e ela teve quase certeza que aquilo tinha ligação com as forças das Trevas, afinal não era algo incomum para a família Malfoy.

 

Ao apertar os olhos para tentar enxergar algo que apontava na frente das árvores sob a densa neblina, parou de andar. Ou sua visão a enganava, ou o que discernia eram corpos enforcados pendendo nos troncos da beira do caminho. Não precisou chegar mais perto, pois na próxima passada que deu, tropeçou num corpo caído em sua frente. Era impossível reconhecer se era um homem ou mulher já que a pele azulada metamorfoseou o cadáver, mas parecia estar morto há muito tempo. 

 

Quando voltou sua atenção para si, notou que não ouvia mais o chamado por seu nome. O que escutava era uma música, em outro dialeto - que ela misteriosamente entendia, embora tivesse certeza que não sabia outro idioma além do inglês. 

 

“Fuja enquanto a melodia pode ouvir,

se a canção parar e aqui ainda estar

a morte te mandará correr

enquanto sorri te vendo cair.”


 

Ela não sabe se aquele pedido foi direcionado a ela, sendo assim apressa os passos, mas não à meia volta, segue em frente quando uma avista uma caverna.

 

“Está feito.”

 

Considerações finais:

 Detalhes talvez importantes que eu nunca avisei:

 

Draco e Hermione tem 21 e 22 anos no momento que a fic começa

 

Eles não terminaram Hogwarts obviamente, e a batalha de Hogwarts não acontece no meu plot, aquele ataque que a Ordem fez que resultou na morte de Ron substitui a batalha só que sem Harry de protagonista (ele já tem sete livros pra brilhar)

 

Caso não tenha ficado claro, Voldemort tomou o poder e os bruxos "da oposição" ou se escondem ou se rendem a ele ou são torturados/capturados como servos. Como Dramione não tinham sido encontrados, eles ainda estavam no limbo, para uns estão mortos, para outros fugidos.

 


Notas Finais


E é isso pessoal, o que acharam do capítulo? Se quiserem o próximo eu adoraria que deixassem pelo menos 4 comentários abaixo :)

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Cumprimentos da Autora:

Vocês preferem ler em modo claro ou modo escuro?
Eu me acostumei a colocar toda plataforma que eu puder em modo escuro, inclusive aqui. Quando eu uso pelo computador é um choque para as minhas vistas, cegueira por 5 segundos aff


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