Caminhei pela cidade e, quando me dei por conta, estava na frente do edifício onde Luke morava. Suspirei e me xinguei mentalmente, pois não planejava andar tanto.
-Julie, você aqui de novo? – ouvi Kevin dizer, então ergui o olhar e o vi parado em minha frente.
-Oi. – falei com a voz embargada.
-O que houve? E, por favor, dessa vez me conte.
Inspirei fundo e me encostei no portão da garagem do edifício.
-Eu e Luke estamos com problemas.
-O que ele fez?
-O que ele não fez seria a pergunta certa. – bufei comigo mesma. – Ele ainda não confia completamente em mim, e isso está me deixando furiosa, magoada e frustrada.
-E vocês já conversaram sobre isso?
-Já. Mas não adiantou nada. Agora a pouco ele surtou de novo. – suspirei. – Mas enfim, não quero ficar triste justo hoje.
-O que tem hoje?
-Meu aniversário.
-Ora, você não havia me contado! Parabéns, Julie. – ele sorriu e me abraçou carinhosamente.
-E depois você acha que eu estou paranoico. – ouvi a voz de Luke e me virei rapidamente, a tempo de vê-lo parado atrás de nós.
-Luke...
-Não, nem perca seu tempo.
-Foi só um abraço, Hemmings. – Kevin interviu.
-Não falei com você, Hashimoto.
-Luke, não aconteceu mais nada além do abraço. Você está sim paranoico, só não quer enxergar.
Ele balançou a cabeça pra mim e riu debochado.
-Quer saber? Podem voltar a se “abraçar”. Mas façam isso longe de onde eu moro.
-Você não é dono da rua, Hemmings. – Kevin comentou, provocando Luke.
-Kevin, por favor. – murmurei. – Você está cutucando a onça com a vara.
-É, Kevin. – Luke arremedou e virou-se para a entrada do prédio. Seu celular tocou e ele de imediato atendeu. – Fala, Calum.
Eu desviei o olhar e mirei o céu, tentando engolir o choro e evitar que as lágrimas caíssem.
-Julie. – Luke voltou às pressas. – Temos que ir para o hospital, agora.
-O que aconteceu?
-Isabelle entrou em trabalho de parto.
Arregalei os olhos e fiquei estática. Luke pegou minha mão e começou a me puxar.
-Eu vou com vocês. – meu chefe se pronunciou.
-Você não é da família. – Luke falou friamente.
Olhei para Kevin, e, por mais que eu estivesse odiando aquela situação, naquele momento eu não queria discutir com Luke. Então lancei apenas um olhar para o irmão de Akemi, que pareceu entender.
Paramos um táxi que estava próximo e nos mandamos para o hospital; o caminho percorrido foi preenchido por um silêncio. Pelo menos até o veículo parar de repente.
---
-Não acredito que isso está acontecendo! – esbravejei dentro do táxi.
Um maldito acidente havia acontecido e bloqueava boa parte da avenida onde nos encontrávamos.
-Sério, isso tinha que acontecer justo hoje? E agora?
Soquei a porta do carro e recebi um olhar do motorista.
-Iiwake (*). – murmurei.
-Ei, ainda estamos longe, mas se fomos esperar até liberarem os carros, vamos demorar séculos. – Luke comentou.
-O que você sugere, Hemmings?
-Irmos a pé. Ou correndo.
Bufei em desgosto, mas era a única solução cabível naquele momento. Luke deu o dinheiro para o motorista e descemos do carro.
-Quanto tempo até chegarmos lá?
-Não sei. Acho que uma hora... Ou mais.
-Tá brincando? Luke, nunca que vamos chegar a tempo.
-Eu sei, Julie, mas não podemos fazer nada. Como iríamos adivinhar?
Começamos a caminhar rapidamente. Luke me guiava, pois era ele quem sabia como chegar no hospital. No meio do caminho, Calum ligou mais uma vez.
-Tivemos um imprevisto. Em que quarto ela está? – Luke pausou. – 201? Tá.
Ele segurou minha mão e continuou a caminhar. Eu estava me perguntando se arriscava mencionar o episódio com Kevin, mas não sabia se era um bom momento. Permaneci em silêncio, pois achei que Luke não estava a fim de trocar mais palavras do que o necessário comigo.
Cerca de quase uma hora e meia depois, já podíamos avistar o hospital. Juntamos o que ainda tínhamos de fôlego e corremos para lá e fomos até a recepção, onde avistamos Gabriel, Calum, Alex e Ashton.
-Mas aonde vocês se meteram? – Alex perguntou agoniada.
-Pegamos um táxi e teve um acidente no meio do caminho. Tivemos que vir a pé. Nós perdemos?
-Sim. – Ashton respondeu. – Faz uns dez minutos. Foi tudo muito rápido. Você saiu, Luke foi atrás, e pouco depois já estávamos colocando Isabelle no carro e vindo pra cá.
-O bebê estava louco para sair. – Calum disse com um sorriso divertido. – Michael entrou com ela na sala do parto mesmo que o médico tivesse pedido que não o fizesse, já que ele não é marido dela. Mas sabe como é.
Suspirei e me sentei em uma das poltronas.
-Não acredito que não estava aqui nesse momento.
-Julie, não fica assim. – Gabriel se sentou ao meu lado. – Não tinha como você adivinhar.
-Bom, se ela não tivesse saído de casa naquela hora, isso poderia ter sido evitado.
Ergui o olhar para Luke após ele ter falado aquilo.
-Está dizendo que a culpa é minha?
-Sim. Tem que reconhecer que é verdade.
-E se você não tivesse fazendo aquela birra desnecessária e infantil, eu não teria saído de casa. Ou seja, a culpa é toda sua.
-Gente...
-Era só você não me dar motivos pra ter ciúmes.
-É tudo coisa da sua cabeça, Hemmings! Quando que você vai entender? Acho que você precisa fazer terapia!
-Chinmoku, onegai (**). Vocês estão em um hospital. – a moça da recepção falou com um olhar de reprovação.
Revirei os olhos e bufei, mas sabia que estávamos falando alto demais. Olhei fundo dos olhos de Luke e decidi falar algo que certamente faria meu coração doer ainda mais, mas era a única opção que eu via ser possível.
-Luke, acho que nós devíamos terminar.
-Julie... – Ashton começou a falar, mas eu fiz um sinal para que ele parasse. Meu amigo se calou.
-Na verdade, eu não acho. – continuei. – Nós temos mesmo que terminar.
Luke apenas me encarou por alguns instantes, até uma enfermeira aparecer.
-Julie Clifford?
-Sou eu.
-Quer conhecer seu sobrinho?
Assenti, ainda um pouco atordoada. Segui ela até o quarto de Izzy e não olhei para trás.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.