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História Broken - I Hate You.


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Vejam quem voltou! Demorei, para variar um pouco, mas cá estou eu, com mais um capítulo extenso de Broken. Espero, de coração, que gostem. Boa leitura. MWAH!

➥ Capítulo sem uma revisão mais profunda. Perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 19 - I Hate You.


Fanfic / Fanfiction Broken - I Hate You.

V A L E N T I N A

Quatorze dias distante e alheia a tudo. Meu pai e alguns agentes me forçaram a entrar em um helicóptero da própria cede do FBI. Eu fui cercada por outros dois homens altos, fortes e com expressões entediadas, não parecendo felizes de estarem ao lado de uma garota que lutava contra a vontade de chorar e gritar. Eu fiz as duas coisas, no entanto. Apenas fui ignorada, como sempre aconteceu desde que a avalanche de problemas desabou sobre as costas do meu pai.

— Sabe que seu pai irá surtar com isso, não é? – a voz de Michael parecia preocupada, mas sua postura era tranquila. — Luke também é capaz de me matar quando me vir com você.

— Eu assumo as responsabilidades. – lhe garanto, e desvio o meu olhar da janela de seu carro e olho para ele. — E com Luke, eu me resolvo.

Estava furiosa com o maldito loiro que nunca saiu da minha cabeça. Ele ignorou minhas ligações, não respondeu minhas mensagens e não tenho certeza se ouviu as inúmeras mensagens de voz que deixei em sua caixa postal que logo pareceu estar lotada. Fiquei angustiada sem noticias dele, e implorei para que Madison e Jake fossem a seu apartamento, e procurassem por ele, mas não o encontraram. Nem um de seus amigos sabia de seu paradeiro, ou não queriam dizer, mas Michael foi o único que eu pude recorrer para me salvar assim que o avião pouso, me tirando da quietude do Texas e me devolvendo a Califórnia.

— Você não devia ter mentido para policiais, Valentina. Isso é perigoso. – alerta-me. — E muito, muito errado.

— Eles me deixaram trancada em um quarto de hotel, rodeada por desconhecidos e não me disseram mais que vinte palavras em duas semanas. – ergo as sobrancelhas. — Não posso mais ficar distante. Eu preciso saber o que está acontecendo.

— Está se colocando em risco. – replica. — Se a levaram para longe e a mantiveram por lá, era para mantê-la segura.

— Eu posso me manter segura, sozinha. – digo depressa e mexo-me no acento, e volto a olhar para fora da janela. — Se não queria me buscar no aeroporto, bastava dizer.

— Não é isso, ruiva. Eu apenas não quero que algum mal lhe aconteça. – olho-o de relance. Não conhecia bem o garoto que um dia teve o cabelo vermelho, e agora seus fios loiros chamavam ainda mais atenção, mas sabia que a seriedade não combinava com sua personalidade. — Você é importante para Luke, e se é importante para ele, meu dever é protegê-la, também.

— Duvido que eu signifique algo para ele. – umedeço os lábios, sentindo a decepção voltar a me atormentar. — Ele não me telefonou, nem mesmo para me dizer se estava bem. Era tudo o que eu precisava saber.

— Ele afastou todos nós. – Michael dobra uma esquina, e troca de marcha. — Luke tem uma mente difícil de entender, e toma decisões precipitadas. Sempre. E nós não concordamos com noventa e nove por cento de suas atitudes, mas nos adaptamos a isso.

— Ele não deixa que o ajudem. Isso é péssimo.

— Esse é o seu jeito de suportar muitas merdas e continuar de pé.

Abaixo minha cabeça.

Mantenho-me em silêncio por mais algum tempo. Michael dirigia calmamente, e em algum instante ligou o rádio, deixando uma música suave tocar. Era boa de ouvir, mas não conseguia acalmar os pensamentos em minha cabeça. Tudo estava uma grande bagunça, e por mais que eu tenha tentado organizá-las no tempo em que estive afastada, não consegui. As respostas pareciam cada vez mais distantes, e as dúvidas ecoavam em alto som, perturbando-me, quase me enlouquecendo.

— Leve-me para o galpão de Luke. – digo e Michael olha-me confuso. — Eu tenho a impressão de que irei encontrá-lo.

— Valentina...

— Por favor. Eu preciso vê-lo e me certificar que tudo está bem.

Michael não contesta mais, apenas faz um breve retorno, e faz o caminho que deduzo levar-nos ao galpão que Luke treinava como se fosse uma academia. Sentia-me um pouco mais nervosa que quando resolvi fugir dos policiais que me cercavam por todo o dia. Não foi fácil, mas fazer uma ligação de uma denuncia falsa sobre um assalto deu-me tempo para correr e me esconder por entre as pessoas alarmadas no andar de baixo do hotel. Frisco não era uma cidade agitada, mas as pessoas eram eufóricas.

— O carro dele não está aqui. – Michael diz assim que entra na pista que levava ao galpão.

— Ele pode tê-lo guardado nos fundos. – dou de ombros, ainda me agarrando as esperanças.

— Essa moto não é familiar. – o loiro murmura. — Não irá sair do carro até que eu verifique se tudo certo por aqui.

Estreito os olhos, e encaro a moto vermelha estacionada em frente ao galpão que tinha as portas fechadas. Michael para o carro, um pouco distante, mas eu não sigo seus dizeres, espero-o distrair-se para alcançar o seu celular no banco traseiro e puxo o trinco da porta, abrindo-a e colocando meus pés para fora, junto ao meu corpo que logo está seguindo a entrada.

— Valentina! – ouço-o gritar, mas não paro de andar.

Piso fundo nos cascalhos e olho para a moto assim que passo por ela. Era grande, e parecia potente, mas não fazia o estilo de Luke. Encorajada e sentindo as batidas do meu coração cada vez mais fortes contra o meu peito, coloco minhas mãos nas portas, e um segundo é tudo o que tenho para ponderar recuar e esperar por Michael que corria em minha direção, ou simplesmente abrir as portas e descobrir o que tivesse que ser descoberto em tal momento.

Eu abro as portas.

— Somos bons juntos, e você disso como ninguém, Luke. – uma voz feminina me faz engolir em seco.

Avisto-a, também. E passo a desejar ter ficado dentro do carro. Seu corpo curvilíneo corrói-me de inveja, ainda que um pouco distante. Os fios de seu cabelo eram tão loiros, e claros como seus olhos aparentavam ser. Seus lábios estavam vermelhos, como se vestígios de batom de tom um pouco mais vivo tivessem coberto-os em algum momento. Ela possuía uma beleza que me incomodava, mas o fato de suas mãos estarem pousadas no peitoral de Luke, tão próxima ao seu rosto, me causa vontade de chorar como uma adolescente tendo o coração partido.

Os olhos estupidamente bonitos do lutador idiota estavam arregalados, e seus lábios entre abertos. Eu me sentia tola por não conseguir me mover, e por ouvir um suspiro de alivio que me escapa por vê-lo bem. Mesmo que esteja sob as mãos de uma mulher que parecia intima dele.

— Valentina...– meu nome escapa por seus lábios, e sua voz vacila alguns tons. — O que faz aqui? 

Desvio o olhar, e encaro alguns pneus empilhados do lado oposto ao que eles estavam.

— Jesus! – a voz de Michael soa atrás de mim, ele estava ofegante. — Você é tão teimosa.

— O que está acontecendo aqui? – Luke altera sua voz, arrisco-me olhá-lo e vejo-o se afastando da mulher que dá dois passos para trás, exalando sensualidade dentro de um ato tão simples. — E o que diabos você faz aqui, Michael... Com ela?

Dou um passo à frente, adentrando o galpão em postura imponente, mas sentia minhas pernas bambas e uma dor cruciante em minha garganta seca, com todas as reais emoções presas pelo nó doloroso que subia e descia em uma bile insuportável de aguentar.

— Eu liguei para que ele me buscasse no aeroporto. E o pedi para ir sozinho, sem avisar outras pessoas.

Os lábios de Luke descolam, e ele me olha como se estivesse louca. Ele se distancia completamente da mulher, e vira-se para mim. Estávamos distantes, mas era como se pudesse sentir tudo o que acontecia por cada passo que mantínhamos longe um do outro.

Eu estava nervosa. Ele estava furioso.

Ainda éramos os mesmos, com as mesmas sensações frequentes, aparentemente.

— Você o que? – ele praticamente cospe a pergunta que deduzo ser retórica. — Seu pai não sabe que está aqui? E entrou em um avião sem nenhum segurança?

— Não estou entrando em uma guerra ou algo assim, Luke. Apenas peguei um voo e voltei para casa.

— Você só pode estar brincando comigo. – ele joga os braços para cima, e balança suas mãos, pousando-as em seu cabelo bagunçado e cacheado, parecia molhado, também. Era raro ver os seus cachos naturais, e ele conseguia ficar ainda mais perigosamente lindo com os fios de tom loiro sujo, completamente expostos.

— Isso parece ser algo que irá durar por um longo tempo. – a loira balbucia entediada, e seu sotaque entrega que ela não era do país. Talvez isso explicasse sua beleza exótica. — E mesmo que eu queira ver como crianças lidam com assuntos de adultos, preciso ir embora. – ela olha para Luke, e sorri de canto. — Você sabe onde me encontrar quando se cansar desse jogo infantil.

Luke não lhe responde, apenas olha-a de rabo de olho. Meu queixo não cai, pois luto para segurá-lo e não transparecer que a mulher tenha conseguido me atingir um pouco mais com suas palavras, e não apenas com sua presença que tornava o clima mais pesado. Seus passos firmam contra o chão velho, e no instante em que ela passa ao meu lado, estreito meus olhos, e encaro-a.

Olhos nos olhos.

E mesmo sem dizer uma palavra dentro daquele segundo desafiador, eu sei que ela quer mostrar que é superior, e que sempre que eu virar as costas, Luke irá correr para ela. Não posso me impor, pois não saberia dizer se ela estava certa ou não em se manter tão confiante. Então, deixo-a passar por mim, e ouço-a pedir licença para Michael que parece ceder, não de bom grado, mas o faz.

O breve silêncio que se estende dentro do galpão que se parecia da mesma maneira de semanas atrás, era perturbador. Mas, sabendo que ele precisava apenas de algum tempo, ouço-o rosnar antes disparar suas palavras arrogantes.

— O que tem na merda da sua cabeça, Mike? – grita para o seu amigo. — Não devia ter feito isso. No mínimo tinha que ter me dito.

Solto uma risada pelo nariz, e balanço negativamente minha cabeça.

— E porque ele devia avisar? Você parecia estar ocupado demais para responder minhas mensagens e ligações.

Era um erro drástico a vida não ser como uma fita cassete, em que podemos rebobinar e voltar na melhor ou pior parte. Queria engolir as palavras e correr o máximo que minhas pernas frágeis me permitiriam. Estava soando como uma estúpida garota ciumenta, enraivecida por ter sido passada para trás pelo garoto que se flagrou pensando em momentos que não devia pensar naqueles malditos olhos, ou nas tatuagens que o tornavam pura arte.

Sentia-me estúpida só por ter pensado em lhe entregar o meu coração. Mas, na metade do caminho, ele o destroçou, e talvez nem saiba disso.

— Bom, parece que vocês têm algo para resolver aqui. – diz Michael, após limpar sua garganta. — Eu não tive culpa, cara. Fiz o que pensei ser o melhor para vocês dois.

Luke não diz nada.

Eu não digo nada.

E nossos olhares presos um no outro, soltando faíscas, era tudo o que parecíamos nos importar. Queria poder ler seus pensamentos, saber o que ele tinha dentro de sua mente confusa e sempre tão difícil de compreender, e ele parecia desejar o mesmo. Eu sabia que não diríamos nada do que estávamos pensando, pois éramos assim.

— Vou nessa. Se precisarem de mim ou dos garotos, basta ligar. – novamente, a voz do loiro soa atrás de mim, mas dessa vez, ele parece se afastar alguns passos. — Não se matem, seria melancólico demais até mesmo para vocês dois.

Com isso, ouço seus passos desaparecerem ao mesmo tempo em que o som de uma moto soa do lado de fora, entregando que a mulher deixava o local e arrastava suas rodas furiosas pelo cascalho.

Estávamos sozinhos.

Se fosse há alguns dias atrás, como no momento em que o avistei algemado, completamente abatido e ferido, teria me jogado em seus braços, o beijado e implorado para que ele se cuidasse melhor, porque vê-lo machucado ou em apuros, era como se algo de valor estivesse sendo arrancado de mim. Mas, depois de tudo, não sei mais o que fazer, então, aperto as pontas dos meus dedos nas palmas das minhas mãos, e continuo o encarando.

Luke não diz absolutamente nada, apenas vira-se de costas e guia seu corpo suado até o ringue. Ele estava além de seu estado nervoso, e seu sangue devia estar evaporando de suas veias. A luta era como seu refugio, algo incompreensível a outros olhos, mas o domava, ainda que sua fera fosse completamente solta para esmagar seus oponentes. Sabendo disso, em passos incertos, sigo-o e faço o movimento de colocar meu corpo para cima do ringue, apoiando minhas mãos nas laterais do tatame alto e macio, ultrapassando as fitas que o cercava.

— Me dê um soco. – ele pede, girando seus calcanhares e ficando de frente para mim, ainda encostada nas fitas. — Use os movimentos dos treinamentos.

Ele me olhava, mas parecia enxergar muito mais do que eu imaginava estar aparentando. Era como se farejasse meu medo, e degustasse a minha insegurança, usando isso a seu favor, testando-me como se fosse um pião em algum jogo doentio de sentimentos alvoroçados.

Ergo uma única sobrancelha, e rapidamente, me abaixo e me livro das minhas botas, jogando os dois pares do lado de fora. Luke acompanha meus movimentos, e um pequeno sorriso prepotente ergue o lado direito de seus lábios.

Afasto minhas pernas, estico a esquerda e firmo a direita, rente ao meu punho do mesmo lado erguido próximo ao meu queixo. Faço o mesmo com o esquerdo, mas o mantenho um pouco mais baixo, exatamente como Luke me ensinou. Foram dias e dias caindo, e ficando a pouco de ser golpeada, mesmo que soubesse que ele não me socaria para valer. Nunca me imaginei lutando com um homem tão alto e habilidoso, mas me sentia melhor quando conseguia golpeá-lo. Eu sabia que ele me deixava acertá-lo ao menos uma vez por treino, apenas para não deixar minhas esperanças morrer, mas não me importava, desde que conseguisse me sentir útil, acreditando que um dia as aulas me serviriam, realmente.

Ele se posiciona, ficando como eu, mas a nossa diferença muscular e de tamanho eram nítidas. Seria cômico alguém ver nos dois sobre o ringue. Ergo o meu nariz, e passo a olhá-lo de cima, solto um suspiro pesado e avanço em sua direção, pulando duas vezes, tentando socá-lo. Eu falho, pois ele desvia com maestria. Não desisto, continuo tentando, mas passamos a rodar como se estivéssemos em uma dança.

O lutador achava graça, conseguia captar isso em seu olhar e no sorriso que parecia engolir sempre que eu esticava o meu braço, levando meu punho próximo a ele, mas ele passava pelo lado contrário, por baixo, ou dava a volta por trás de mim, tão rápido quanto um beija flor. Ele estava brincando comigo, e isso alimentava o seu ego sempre elevado.

— Você pode fazer melhor que isso, Ariel.

Em uma pausa para que eu respirasse, dando passos para o outro lado, planejando a melhor forma de atacá-lo, sinto minhas orelhas e bochechas esquentar. Era pura raiva de ele ser tão difícil, uma verdadeira incógnita. O tipo de mistério que nem mesmo o cérebro mais insanamente esperto conseguiria desvendar. Raiva por ele não me deixar entrar quando tivemos a chance. Raiva por ele não ter tido a coragem de me rejeitar com palavras diretas. Raiva por ele não ter ficado naquela noite. Raiva por ele ter me deixado ir embora. Raiva por ele ter tanto de mim, e não ter me dado nada dele.

Então, como se tivesse deixado aquele sentimento ruim me dominar, minhas vistas ficam turvas pelo vermelho que enxergo, e eu pulo sobre ele, como uma leoa atrás avançava em sua presa. E não me dou conta do que meu instinto furioso é capaz de fazer, até que um urro alto me trás de volta a plena lucidez. Pisco duas vezes, e abaixo o meu olhar, vendo um Luke caído na lona, cobrindo seu nariz com ambas as mãos.

— Oh, droga! – viro minha mão direita e olho para meu punho, notando a vermelhidão da pele avantajada pela pressão de meus ossos. — Luke... Eu sinto muito.

— Você sente?! – ele murmura com a voz rouca e falha. — Caramba, Ariel! Eu só lhe pedi um soco, não para que quebrasse meu nariz.

— Desculpe! Eu... – balanço minha cabeça e balanço minhas mãos, sem saber o que fazer. — Tem gelo em algum lugar?

— Eu não sei... Outch! – ele balbucia e solta um urro de dor.

Apresso-me em sair do ringue, e lanço meu corpo para fora das fitas. Olho ao redor e não avisto nada que se parecesse com pedras de gelo, ou uma geladeira. Mas, ao lado de uma cadeira velha e levemente tombada, encontro uma garrafa de água. Apanho-a, e sua temperatura não era tão baixa quanto ele precisava, mas teria que servir.

Volto para dentro do ringue, e me apresso para me abaixar ao lado de Luke, temendo tocar em seu corpo para ajudá-lo, e acabar machucando-o mais, de alguma maneira.

— Coloque isso, pressionado em seu nariz. Vai aliviar sua dor. – estendo para ele que logo alcança a garrafa, abrindo um olho, e levando-o o plástico rígido e frio ao seu nariz e faz uma careta assim que sente o contato. — Não está sangrando. Talvez não tenha quebrado.

Ele fica quieto por algum tempo, mas solta um gemido baixo.

— Eu sinto como se tivesse o empurrado para o fundo da minha cabeça.

Abaixo a minha cabeça, envergonhada por minha atitude selvagem, mas ainda sentindo raiva dele, e de mim mesma.

— Desculpe-me, de verdade. Não pensei quando agi dessa maneira. – confesso, e solto uma longa lufada de ar.

Deixo-o se recuperar por conta própria, ainda abaixada ao seu lado, observando cada um de seus gestos. Alguns minutos depois, ele se levanta, e afasta a garrafa de seu nariz. Tento analisá-lo. Estava um pouco vermelho, e levemente inchado, mas não estava mesmo quebrado. Ele o mexe devagar, e estala seu pescoço, em seguida.

— Agora pode me dizer o motivo de ter tentado quebrar uma parte do meu corpo? – ele pergunta, olhando-me ao mesmo tempo em que lança para longe a garrafa ainda com água.

— Eu só me dispersei, não tive intuito de feri-lo. – eu minto, de fato. E ele conseguiria captar minha mentira, então desvio o olhar o mais rápido que consigo, tentando me distancia de seu corpo que, de repente, ficou muito próximo.

Sendo mais rápido, Luke alcança o meu braço esquerdo, e puxa-me para perto. Perto demais agora. Meu olhar estava em seu peitoral firme e com marcas de suor, mas o seu cheiro, aquele que sempre me enlouquecia e parecia estar por todos os lugares, me atinge em cheio. Eu podia negar o quanto quisesse a mim mesma, mas seria tão estúpido quanto sentir raiva por outra mulher tê-lo tocado, sempre sentiria sua falta. Falta de cada pedaço dele.

— Diga-me, Ariel, o que aconteceu aqui? O que aconteceu em sua passagem pelo Texas?

— Você sabia onde eu estava? – ouso olhá-lo, e minha voz denunciava meu cansaço. — E não foi me procurar?

— Eu não podia. – responde sério. — Me obrigaram a ficar longe. E para mantê-la bem, eu faria qualquer coisa. Jurei isso ao seu pai, e mesmo que tenha falhado, não repetiria aqueles erros.

Sinto as lágrimas picarem meus olhos.

— Você... – luto para empurrá-lo, mas ele é imbatível, e consegue me parar facilmente. — Eu odeio você. Eu odeio você. Eu odeio...

— Eu sei, Ariel. Eu sei.

— Se recusou a estar comigo quando eu precisava de você! Seu egoísta... – empurro, mais uma vez, seu largo peitoral. — Estava se divertindo com aquela loira o suficiente? Estava tão ocupado que não podia ter atendido uma única ligação?

Novamente, eu tento feri-lo. É em vão.

Seu nariz roça no lado esquerdo do meu rosto, e eu sinto-o sorrir. Sinto seu peito vibrar por uma risada sem som.

Ele estava rindo de mim.

— Porque está rindo?

Busco me desvencilhar, mas ele é mais forte, mais rápido.

— Você está com ciúmes de mim. – não era uma pergunta.

— Seu idiota! – giro meus pulsos. — Eu não... Isso não...

Era uma grande estupidez negar.

Ciúmes. Medo. Insegurança. Eu sentia tudo. E ele sabia disso.

Mais algumas falhas tentativas. No entanto, ele estava me abraçando, de maneira desajeitada, mas era um abraço. Era confortável, e tinha toda a segurança que não senti quando estava distante.

— Eu senti tanto medo... – balanço minha cabeça, sentindo as lágrimas lutarem contra minha coragem, estando a pouco de explodi-la para que possa ter total acesso ao meu rosto.

— Está tudo bem agora. Não irei a lugar algum. – ele murmura, e eu pressiono meus dedos nos seus ombros, fazendo-o de meu suporte. Minha única força.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Seus braços ainda me rodeavam, e eu ainda o mantinha próximo, temendo que fosse algum sonho, enquanto me recusava a abrir os olhos, tudo por desejar ver a melhor parte.

— Seu pai deve estar a sua procura. – Luke balbucia, no topo da minha cabeça. Seus dedos deslizavam, vagarosamente, por meus braços. O calor da sua pele era tudo o que eu queria para me aquecer. — Precisa avisá-lo onde está.

— Não. Não agora. – replico, baixinho, afundando meu rosto em seu peito. — Mas, eu quero ir para casa.

— Irei levá-la.

Respirando fundo, dou um passo para trás, e olho em seus olhos.

— Eu quero ir para a minha casa.

— Isso está fora de cogitação, Valentina. A casa está interditada a semanas e...

— Não precisa me levar, se não quiser. Eu posso ir sozinha. – faço uma breve pausa. — Irei para lá, de um jeito ou de outro.

Ele solta um longo suspiro, e se afasta em dois passos para trás.

Quero puxá-lo para mais perto e prolongar por mais alguns minutos o abraço. Mas não o faço. Ele também não.

— Irei levá-la.

Eu assinto.

Luke leva algum tempo para se recompor, e não posso julgá-lo. Seu rosto perfeito agora possuía um leve inchaço bem no centro, tornando seu nariz fino e arrebitado em algo avantajado e vermelho, quase atingindo o tom vinho. Não tentei ajudá-lo, sentia-me frágil e culpada, apenas o vi trocar de roupa, sem se importar em ficar de roupa intima em minha frente. Também, não consegui desviar o olhar. Mesmo do outro lado, já próxima da saída, conseguia vê-lo se trocando ao lado do ringue, vestindo as roupas que tanto senti falta de encontrá-lo. Preto era sua cor. Na verdade, suspeitava que algum tom não caísse bem nele. Suas tatuagens coloridas confirmavam isso.

Eu odiava admirá-lo tanto. Odiava-me por cobiçá-lo tanto.

— Não quer mesmo ligar para o seu pai? – pergunta ao seu aproximar, passando os braços pelas mangas cumpridas de sua jaqueta de couro. — As tropas mundiais devem estar atrás de você agora.

— Não. – olho para fora, e procuro pelo seu carro. Não tinha nenhum sinal do veículo. — Eu preciso de um tempo. Sozinha.

Sinto o seu olhar em mim, mas não recebo nenhuma resposta.

— Volto logo. – é tudo o que diz antes de se perder atrás do armazém. Ou, de sua academia.

Aguardo alguns minutos, e ouço os pneus deslizando pela areia e terra ao redor, logo surgindo o seu carro, do mesmo modo que me lembrava. Antigo, mas com o toque especial de Luke Hemmings. Coloco-me para dentro, e não me surpreendo quando o vejo apontar para o cinto de segurança, para não perder mais tempo, apenas o passo por cima do meu corpo e cruzo os braços, em seguida. Entramos na estrada, e tudo o que eu ouvia era o som do motor.

Sem música. Sem conversas. Sem brigas. Sem mais nenhum membro quebrado.

Estava bom para mim.

Não saberia dizer em qual momento minhas pálpebras pesaram a ponto de me fazer fechar os olhos, mas adormeci no banco e só acordei ao ver Luke passando pelos fundos da minha casa. Ele empurrou o portão que ficava praticamente sempre fechado, devido à falta de uso, e as plantas e rameiras que cercavam os muros quase o camuflavam.

— Porque estamos passando por aqui? – questiono e esfrego meus olhos, ao mesmo tempo em que endireito meu corpo.

— Mesmo sem seguranças, a casa está protegida. – diz e conduz o carro para dentro do portão, e salta para voltar a fechá-lo.

— Como conseguiu abrir esse sem disparar os alarmes de segurança? – pergunto e deixo o seu carro.

— Tenho meus métodos. – dá de ombros e distancia-se das grades.

Claro que ele tinha.

Olho para a minha casa, um pouco distante do local em que estávamos no gramado, mas não tinha sensação melhor que a de estar em casa. Sentia falta de tantas coisas, principalmente das risadas que compartilhava com o meu pai em noites tranquilas de domingo, quando éramos apenas nós dois. Sentávamos na beira da piscina, colocávamos os pés para dentro da água fria enquanto afundávamos nossas colheres no pote de sorvete. Frutas vermelhas com calda de chocolate. Era nosso sabor preferido. Falávamos sobre tudo, até mesmo sobre o clima. E quando não tínhamos mais o que dizer, e o sorvete estava no fim, apoiava a minha cabeça no ombro do meu pai e o ouvia suspirar debaixo do céu estrelado.

— Valentina? – Luke me faz balançar a cabeça, e seco as lágrimas que não percebi terem caído. — Você está bem?

Pigarreio e olho para o lado oposto ao que ele estava.

— Sim. – começo a caminhar. — Espero que a casa esteja aberta.

— Tem uma chave extra debaixo do vaso...

— Da roseira amarela. – olho para ele, e cesso meus passos por um instante. — Como sabe disso?

— Depois do primeiro atentado ao seu pai, precisamos vasculhar a casa e, casualmente, encontrei a chave extra. – meu olhar era mais acusatório que de alivio. — Fique tranquila, seu segredo está seguro. Não entreguei-a ao seu pai, e nem aos seguranças.

— Bom... – balanço minha cabeça e volto a andar.

Passamos por todo o gramado e jardim. Não pude deixar de tocar a madeira do casebre cheio de ferramentas e sementes. O jardineiro Grant costumava cuidar das flores toda terça feira. Todas pareciam vivas, quase reluzentes, e o tempo em que estávamos afastados deviam ter matado todo o jardim.

— Ninguém conseguiu impedir Grant de cuidar das flores. – Luke comenta. — Lilian também andou por aqui, não queria deixar a cada bagunçada.

— Ela nunca me ligou. – não escondo meu desapontamento.

— Não foi por não querer. – garante, e olha-me por cima dos ombros. Ele estava caminhando na frente, próximo a hidro. — Seu pai achou mais seguro manter tudo em surdina. Não sabendo com quem está lidando, poderia estar sendo rastreado, e antes que dissessem o contrário, isso foi o melhor a se fazer.

— Você apoia suas decisões? – faço uma pausa, apenas para respirar. Meus pulmões estavam me deixando um pouco na mão, talvez fosse pelo peso sobre meu peito. Era uma dor incomoda, e interna.

— Sim e não. – olha para cima, e faz uma careta ao tocar em seu nariz com um único dedo. — Ele deseja mantê-la segura, sou de acordo com isso. Mas, também está deixando tudo nas mãos da polícia, e sabemos como a justiça funciona. Pesquisam primeiro, agem depois.

— Você é o herói implacável. Nem todos possuem sua coragem. – mais alguns passos, e consigo parar de frente para a porta dos fundos, que ligava diretamente a cozinha.

— Tenho certeza que se pudesse, você teria acabado com isso. – diz, simplesmente. — Não sou o único que se acha implacável.

Não lhe respondo. Apenas alcanço a maçaneta, girando-a, mas estava trancada. Luke, como sabia do meu esconderijo, apanha a chave extra debaixo da roseira amarela que continuava no mesmo lugar. Com o objeto dourado em mãos, destranca facilmente a porta, dando-me passagem. Eu entro, e aspiro o cheiro de moveis empoeirados, não me importando com o incomodo em meu nariz.

Ter ficado incontáveis dias na casa de Luke não me afetaram tanto, nem me fizeram repudiá-lo. Pelo contrário, acredito que tenham me aproximado das muralhas que o cercavam. Senti-me bem, segura. Mas, nada se comparava a estar de volta em minha casa. Cada canto tinha uma lembrança da minha adolescência marcada por broncas e regras quebradas. Tive bons momentos, e eles valiam por todo o resto.

Enquanto caminhava, tocava em cada uma das paredes, quadros, vasos. Tudo estava igual, aparentemente, mas algo não se encaixava mais. Passando pela sala, paro em frente a mesa ao lado do armário cheio de bebidas do meu pai, e apanho a fotografia da minha mãe. Foi à última foto em que tiramos e ela estava presente. Estávamos felizes naquela tarde. Era aniversário de casamento dos meus pais, eu era uma menina miúda e os meus fios ruivos eram quase tão laranjas quanto os raios solares do sol prestes a se por. Nós três sorriamos, sem esperar pela tragédia que nos afastaria, para sempre.

— Ela se parecia com você. – Luke comenta, atrás de mim. Podia sentir o timbre de sua voz, e a sua presença corporal. Ele era quente, eu sentia isso. — O mesmo olhar. O mesmo modo de inclinar a cabeça quando está sorrindo. O mesmo sorriso...

— Ela era linda. – contorno seu rosto na fotografia, meus dedos estavam trêmulos.

— Você é linda. – meu coração para por alguns instantes. Eu tenho certeza disso.

Sentindo minhas pernas bambas, e um estranho calafrio percorrendo minha espinha, coloco a fotografia no lugar, e apoio minhas mãos na beira da mesa de madeira. Era difícil respirar, ainda mais quando eu sentia-o tão próximo, e ao mesmo tempo tão distante.

Eu sentia falta de tocá-lo, de ver todos os seus lados. O protetor. O carinhoso. O divertido. O enraivecido. O lutador. O meu segurança. Tudo.

Eu queria continuar vendo tudo o que Luke tinha dentro de si. Fosse bonito ou não, pudesse me jogar para longe, ou me arrastar para mais perto. Eu só queria estar ao seu lado, e mantê-lo ao meu lado, também.

Ele causou uma grande bagunça em minha vida. Realmente, jogou tudo para o ar em todas as vezes que me intimidou e me salvou, me pressionou, me fez sentir raiva e medo. Despertou em mim um súbito desejo de socá-lo, tanto que quase amassei o seu nariz com meu próprio punho. Mas desencadeou em mim algo mais. Algo que nunca senti antes, e neguei por achar ser uma grande bobagem. Mas não era. Eu gostava do seu lado perigoso, e amava seu lado vulnerável. Um misto de desejos me consumiu, e eu só queria saber se o consumiram também.

Eu queria saber se ele sentiu minha falta tanto quanto senti a sua.

— Eu quis te ligar. Eu quis ir atrás de você. – sua voz é tão baixa, mas tão lancinante. — Inferno! Sim, Ariel. Eu quis avançar em seu pai e empurrá-lo contra a parede, e faria o mesmo com qualquer um que tentasse me impedir de ir atrás de você. Mas... – ele estava ainda mais próximo. Eu podia senti-lo. — Eu não podia colocá-la em perigo. Você estava mais segura longe de mim. Não teve um maldito dia que não pensei em você, que não senti sua falta no apartamento e... E que não me culpei por tê-la colocado em linha de frente para o inimigo se aproximar.

Eu fecho os olhos, e aperto-os com muita força.

Levo alguns segundos para voltar a abri-los, e quando o faço, encontro-me colada a Luke. Respiração com respiração. Não sabia qual de nós estava arfando mais. Nos olhares desviavam e fixavam nos lábios um do outro. Eu conseguia sentir o seu hálito bater contra meu rosto.

Nicotina e hortelã.

Eu amava isso.

— Você sentiu minha falta?

Olho para seus lábios. A argola escura ainda estava no mesmo lugar.

Eu amava isso também.

— Como nunca senti falta de outra coisa em toda minha vida. – eu podia desmaiar. — Você me deixa louco, Ariel. De todas as maneiras possíveis, mas, ficar longe de você não é uma opção. – seu maxilar dança em seu rosto tenso. Ele também olha para meus lábios. — Eu nunca mais irei permitir que alguém a leve para longe.

Não sei qual de nós sopra para acabar com a mínima distância entre nós, mas quando sinto seus lábios nos meus, tudo desaparece. Incertezas, medos, receios, falta de esperança, raiva. Mas, cede lugar a sentimentos que nunca pensei sentir por alguém tão antagônico.

Eu amava esse lutador. E odiava não conseguir odiá-lo. 


Notas Finais


Um momento que muitos estavam esperando está chegando, nhac! Nos vemos no próximo capítulo.

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