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História Broken by design - PARTE 1 - CAP 2 - More and More


Escrita por: Luna_Bell

Notas do Autor


Para esse capítulo, ouça: More and More do Finding Hope!
Aproveitem!

Capítulo 3 - PARTE 1 - CAP 2 - More and More


 

Dia 15 de Julho de 2016

Tem coisas que só conseguimos ver quando nossos olhos estão preparados.

Caso contrário, o extraordinário se torna trivial demais para o notarmos.

Sophia

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April está encarando o espelho com uma expressão de derrota. Ela parece insatisfeita (pela milésima vez) com a roupa que escolheu. Dessa vez o problema é que o tomara que caia está apertando demais os seus peitos – minha irmã é conhecida por ter seios bem...chamativos. A última blusa estava apertando pouco.

Balanço a cabeça, impaciente com toda aquela demora.

- Quero sair – digo.

Ela ri, mas me ignora.

- Você pode me emprestar a sua meia calça? A minha rasgou novamente.

- April, nós estamos atrasadas. – falo, ignorando-a também.

Eu estou pronta há exatos quarenta minutos e ela não parece estar nem um pouco mais perto de se decidir.

- Não precisamos chegar cedo.

- Não é cedo mais. Chegaremos tarde. – digo, revirando os olhos.

- Acho que você não está tão nervosa mais sobre encontrar o Keith e seus fofoqueiros de plantão.

- Bem, eu pensei mesmo em faltar, mas não quero cancelar com a Athena por um motivo tão bobo.

Ela assente, mas mal parece me ouvir enquanto continua mexendo nas peças de roupa.

Suspiro frustrada e me levanto.

- Nem ouse sair desse quarto, Sophia! – Ela se vira com uma expressão séria. – Temos que sair juntas, lembra?

Eu havia tentado descer mais cedo, quando ouvi Connor chegando, mas April me impediu fervorosamente de aparecer lá embaixo sem ela do lado. "Não tem graça", ela disse. E bem, qual a graça de ficar plantada esperando ela se arrumar?

Ouço um barulho na porta e sei que Pepita, nossa cachorra, está tentando entrar.

- Está ouvindo? – dramatizo. – Esse é o som da Pepita querendo a minha liberdade.

Ela só me mostra a língua e volta sua atenção para a pilha de roupas em cima da sua cama.

- Será que um vestido fica exagerado? – é uma pergunta, mas não sei se ela realmente quer minha resposta.

Pepita continua arranhando a porta e posso ouvi-la chorando baixinho.

- Tá vendo? Ela quer me ver!

- É só você a convidar para entrar. – diz, distraída. – Já sei! – seu rosto se ilumina com a nova possibilidade.

- O quê?

- Posso usar aquele seu vestido florido? O que sempre faz parecer que eu tenho mais bunda. – ela dá um tapinha na bunda e eu sorrio.

- Se isso significar que você vai estar pronta em cinco minutos, sim. – respondo, tentando parecer séria.

Ela agradece, me mandando um beijo, e vai até o armário, parecendo, pela primeira vez na noite, de fato empolgada. Seu sorriso fica ainda maior quando ela coloca meu vestido e se encara no espelho.

- Satisfeita agora? – pergunto.

Ela ignora meu tom desconfiado.

- Quero estar perfeita hoje. – sua tom é firme, mas por um segundo sua voz falha e eu paro. Eles estão juntos há tanto tempo... não me lembro da última vez em que ela pareceu ansiosa para impressioná-lo.

- Você não precisa estar perfeita. – digo, convicta. – Você só precisa ser você para o Connor. – e sei que é verdade.

Ironicamente, meu comentário, cujo único objetivo era animá-la, gera um desconforto – sua expressão congela em resposta.

- O que foi?

Ela sorri, mas seu olhar não acompanha sua boca. Há uma preocupação ali, escondida debaixo dos seus enormes cílios. Vou em sua direção e a observo. Procuro ver o que ela não está me falando. Acho que ela sente, pois abaixa a cabeça e finalmente me liberta:

- Pode sair, se quiser. Acho que vou demorar mais um pouco.

Faço um bico.

- Tenho que arrumar o cabelo ainda. – acrescenta.

Outra cara de suspeita minha e ela começa a cantarolar, o que me diz que o assunto acabou por aqui.

April não tem falado nada sobre a formatura, ou a distância que a separara de Connor daqui algumas semanas. Sobre toda a incerteza que rodeia nosso futuro.

Nos últimos tempos, sinto ela mais calada. A mudança é sutil. Nossa dinâmica não mudou tanto. Ela ainda é minha irmã e melhor amiga. Ainda trocamos confissões no escuro do nosso quarto até dormir, cansadas e felizes. Mas não temos falado sobre o que importa: o que ela sente.

É como se tudo estivesse bem. Mas eu sei o quanto nossa vida mudará daqui a pouco tempo.

- Você tá bem?

Mas ela não vai me responder. E ainda assim, tento.

Seu sorriso agora é sincero. Seus olhos castanhos me tranquilizam.

- Jujuba – o apelido carinhoso me faz sorrir – eu estou ótima. Mas o Connor deve estar muito entediado lá embaixo.

Entendo a dica e não insisto. Sempre soube quando me retirar e não forçar a bola com a April.

- Pode pegar minha meia-calça, ok? – digo antes de sair.

Assim que fecho a porta, pego Pepita no colo. Ela se agita nos meus braços e tenta me morder. Essa é sua linguagem de amor desde o primeiro dia em que chegou na nossa casa, quatro anos atrás. Quanto mais ama, mais morde. Seu entusiasmo me contagia e coloco meu dedão na sua boca. Ela parece um bebê aninhado nos meus braços.

Me distraio um pouco, mas uma vozinha insistente me diz que talvez eu deva voltar para o quarto. É quando Pepita volta a ficar agitada e pula do meu colo.

Quando olho para o fim do corredor, sei porque ela me largou tão facilmente.

- Ei, Soph.

É Connor. Seu corpo descansa casualmente na parede no final do corredor, como se ele estivesse ali há um bom tempo, só observando. Pepita se agita nos seus pés e ele se abaixa para fazer carinho nas suas costas. Ela parece feliz.

- Ei – falo. Ele pega minha cachorra no colo, o que provoca vários latidos de felicidade. – Nossa sessão cinema está de pé para amanhã? - pergunto, me lembrando do nosso combinado.

- Claro. – ele sorri. – Já consegui baixar os próximos da nossa lista.

No último ano, estamos concentrados em terminar uma longa lista de filmes que devemos assistir antes de morrer. A avó do Connor comprou um desses livros e, desde então, passamos todos os sábados assistindo o máximo de filmes possíveis, entre muita comida e risadas. É nossa forma de não desperdiçar nenhum momento juntos. Nossa última tradição antes da faculdade.

- Ótimo, porque eu ainda estou procurando o próximo que me fará superar Bonequinha de Luxo. 

Connor se aproxima, calado, e quando a lâmpada sob nós ilumina seu rosto, há uma inquietude nos seus olhos azuis. No entanto, quando está a dois passos de mim, ele sorri.

Sua mão direita se move em direção a porta atrás de mim e eu me adianto.

- Ei, April ainda não está pronta para ser exaltada. – estico meus braços na frente do seu peito e ele ri.

– Não estou exatamente animado para ela me ver. – fala, segurando minhas mãos.

Estranho o comentário, mas então olho para a roupa que ele está vestindo e sorrio. Sei o porquê. April com certeza vai revirar os olhos para sua bermuda.

- Bem, a blusa foi uma boa escolha. – falo, tentando consolá-lo de alguma forma. Mesmo seu estilo não me incomodando, particularmente.

- É? – ele sorri de lado, parecendo contente.

- Sim, camisas polos caem bem em você. – por causa dos seus ombros largos, penso. – E gosto do verde. Favorece seus olhos.

Quando Connor veste verde, é como se seus olhos fossem o oceano. Alguém poderia olhar para ele e se perder dentro de si.

- Ela vai gostar do cabelo também. – adiciono. Connor está com seu cabelo preso em um coque alto e sei que April ama quando ele faz isso. "É tão sexy", é o que ela sempre diz.

Acho que ela tem razão. Quando ele usa coque é como se todos os seus melhores traços, como sua mandíbula marcada, ficassem em evidência.

Seu olhar fica sério. – E você?

Balanço a cabeça, confusa.

- Você gosta? - pergunta, esclarecendo.

– Óbvio. - respondo, rápido.

Connor não se mexe e quando noto seu olhar, ainda congelado em mim, vejo nossas mãos entrelaçadas. Meu cérebro parece ficar em câmera lenta e quando reconhece a estranheza do momento, me puxa para longe.

Quase bato na parede atrás de mim, mas me recomponho, olhando para minha roupa.

- Não combinou? – pergunto, porque essa é a única coisa que vem à minha mente. E mesmo sabendo que meu top florido favorito combinou perfeitamente com minha calça de couro preta (passei um bom tempo na frente do espelho analisando, para ser honesta), aguardo sua resposta.

- Não – ele contesta rápido – Não é isso. Está ótimo, Hanson.

Sorrio. – É? – devolvo a pergunta, e olho para os lados, sem graça. – Eu comprei essa blusa meio no impulso e...

- Não – ele me interrompe e a frase seguinte sai em um sussurro. – Ficou bom em você.

Algo no seu olhar me prende. É como se mil coisas passassem pela sua cabeça e ele não tivesse certeza de qual escolher para dizer, mas quando finalmente diz sua voz é firme:

– Você é linda, Hanson.

Abro a boca para agradecer, mas então paro. Ele disse "é", não "está".

É sutil e rápido, mas por um segundo, algo desconhecido se instala no meu coração. Connor está me olhando e sinto que está esperando por algo. Solto a respiração e me pego tentando escapar dos seus olhos azuis, dois imas em cima de mim. Tem algo aqui, pairando sobre nós. E porque sinto que é errado?

Connor já tinha me elogiado outras vezes. Somos amigos desde sempre. E, no entanto, porque me sinto diferente?

- Entendi – digo. – Quer dizer, err... Obrigada.

- Hanson – fala, mas mal consigo encará-lo.

- Já pode entrar no quarto se quiser. – é o que consigo dizer. Minha voz sai trêmula e me repreendo por isso.

Penso em pegar Pepita, mas meus pés querem ir para longe e me afasto, bruscamente. Connor percebe, pois seu rosto se contrai e ele dá um passo em minha direção. Acho que ele quer falar algo, então viro e sigo em direção a escada, sentindo um medo repentino da April ter ouvido nossa conversa. Digo ao meu cérebro para esquecer os últimos minutos, mas contra todos os meus pedidos, sinto aquele momento sendo cravado na minha mente.

#

Quando encontro meus pais na sala de estar, eles me perguntam se está tudo bem. Me olho no espelho e vejo meu rosto. Os pontos onde minhas sardinhas se destacam estão vermelhos, se igualando ao tom do meu batom. Coço meu nariz, tentando disfarçar e falo que sim, está tudo bem. Antes que eles respondam, vou até a cozinha e bebo um copo de água. Respiro fundo antes de fazer o que faço e quando volto, já mandei uma mensagem para Athena pedindo uma carona. Ela responde na hora dizendo que já estava no carro, então não demoraria para chegar aqui. Agradeço internamente por ela não me perguntar o porquê.

-Athena vai me levar – falo, tentando soar casual.

- Está tudo bem? – minha mãe imediatamente se levanta. – Eu tinha feito um bolinho de cenoura para você comer antes de ir.

Sorrio e me sinto péssima por decepcioná-la. – Posso levar um pedacinho? Como no caminho.

Minha mãe faz que sim, mas seus olhos ainda parecem preocupados. – Vou colocar em uma vasilha pequena.

Nenhum dos dois questionam minha decisão, mas meu pai está me encarando com seus óculos enormes e seus olhos curiosos, por isso decido seguir minha mãe até a cozinha.

-Está tudo bem? – ela não me olha. Está colocando os pedaços do bolo na vasilha e parece calma, mas eu a conheço bem. Ela não quer me pressionar, o que não significa que ela vai deixar de tentar.

- Só estou um pouco sem graça de ir no carro com o Connor e a April. – e estou falando a verdade.

Mas ela me olha como se eu tivesse dito que a lua é rosa. – Bem, isso é novidade. – o que também é verdade.

Nunca foi estranho andar só nós três juntos. Não houve um único momento em todo o namoro dos dois no qual eu sofri "segurando vela". Não era assim com a gente. Os dois eram felizes juntos e eu era feliz por eles. Além disso, eu sempre soube o momento de me retirar. Aqueles momentos em que eles precisavam ser um casal, apenas "April e Connor".

- O que mudou dessa vez? – a pergunta da minha mãe é exatamente a pergunta que se instala na minha mente. E a resposta vem rápida, me levando para cinco minutos atrás.

- Acho que quero que eles aproveitem esse momento sozinhos, para variar. – não digo que meu coração está inquieto e que preciso de espaço. – Além disso, Athena estava indo sozinha e achei legal a ideia de chegarmos juntas.

O sorriso da minha mãe me diz que isso ela consegue compreender. Então não demora muito e ela me entrega a pequena vasilha vermelha.

- Não sei se vai realmente sentir necessidade de comer isso lá, então tudo bem se você trouxer de volta para casa.

Minha resposta é um abraço apertado. Tenho apenas 18 anos, mas sou quase da altura dela, então minha cabeça se encaixa perfeitamente no seu ombro. Ela retribui e deposita um beijo na minha testa. Em troca, dou um beijo melado na sua bochecha e ela ri. Sinto o cheiro do seu shampoo de óleo de coco e sorrio. A familiaridade me acalma.

- Aviso quando chegar, ok?

Ela agradece e me faz uma última pergunta: - Você tá bem mesmo, Jujuba?

- Claro.

Coloco a vasilha na minha bolsa e corro para me despedir do meu pai. Consigo ouvir Connor e April conversando no corredor e sei que isso significa que eles estão prestes a descer.

- Tchau, paizinho. – meu abraço é rápido e ele tenta me segurar, mas dou um tapa leve na sua mão e me afasto.

- Está fugindo de quem? – ele brinca, mas corro.

- Do bicho papão – é o que grito quando já estou lá fora. Mas minha mente diz: "Connor."

Então vejo Athena, com o carro parado em frente nossa garagem, e aceno para minha amiga. Quando sento no banco do passageiro, solto um suspiro de alívio.

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