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História Broken Home - Burn the witch


Escrita por: prozac

Capítulo 4 - Burn the witch


Red crosses on wooden doors
[...]
Do not react
Shoot the messengers

This is a low flying panic attack
Sing the Song of Sixpence that goes

Burn the witch
Burn the witch
We know where you live.

Radiohead

 

 

Luke 

Sally havia levantado sua saia. Eu não assistia a cena, mas a minha visão periférica capitava tudo e eu, mal conseguindo controlar minha respiração, tentava ignorá-la. Não me contive por muito tempo e virei meu rosto. Sua perna esquerda estava totalmente exposta, eu podia ver até onde suas meias rasuradas e presas por uma cinta-liga iam. Um celular vibrava a piscava, preso pelo elástico. Ela o tirou de lá.

Eu me esforcei a prestar atenção na conversa.

— ...estou indo pra casa. Max vai sair com Erick... não, é complicado... eu sei que prometi... mas não tenho como...

Ela parou no meio da frase, parecendo perceber algo, então olhou pra mim. Forcei-me a tirar o olhar embasbacado de suas pernas, já cobertas novamente. 

—- ... Ou talvez eu tenha como ir, mas vou levar alguém comigo. Até mais, Ceccee.

Ela desligou, mordeu o lábio e me olhou indecisa se deveria dizer algo.

— Você precisa que eu te leve á algum lugar? — Perguntei. Eu queria ser prestativo.

Ela me estudou bem, analisou-me de cima até em baixo. Um sorriso de monalisa surgiu em seu rosto. Disse:

— Quero que me acompanhe até esse lugar. Tire a camiseta.

Eu travei.

— O quê?

— Tire a camiseta. — Sally levantou-se e sentou-se sobre os pés, virada pra mim. Estávamos parados no sinaleiro já aberto, porém nenhum carro mais transitava por ali. — Vire-se.

Eu me virei e lhe obedeci, o vidro escuro fechado refletia com exatidão e pude ver que fazia o mesmo. Não pude desviar o olhar quando toda a pele exposta do seu tronco pareceu, ela usava um sutiã preto, contrastava muito bem com a pele branca que possuía.

— Me dê a camisa de flanela. — Ela falou, referindo-se ao modelo vermelho da mesma que eu usava até alguns momentos. Estendi pra ela, enquanto eu usava apenas uma camisa justa e preta agora. Vi ela abotoando os botões e ajeitando a peça grande demais para o seu corpo. Sua camisa preta era um monte escuro e encharcado de tecido no chão traseiro do carro.

Virei-me quando ela terminou, estava tirando a maquiagem borrada de baixo dos olhos e havia preso os cabelos molhados em um nó no alto da cabeça. Percebi que a saia também não estava sobre suas coxas, ela tinha um shorts curto — muito curto — e preto por baixo, que não escondia nada das ligas da cinta, ele era rasgado e alto na cintura. Ela parecia... ótima. Olhou pra mim.

— Vamos para Santa Mônica. A festa é lá.

E eu dirigi, sabia que não estava sendo responsável, eu mal a conhecia, mas eu não podia ignorar um pedido de Salem. Ela não dava brechas para que você pudesse argumentar, segui-la parecia ser o certo a fazer.

Passamos por faróis que mal funcionavam, até chegarmos a costa arenosa. Havia barraquinhas de cachorro-quente pela areia, que estava escura e úmida, as luzes de gás dos postes davam um brilho azul para tudo ali. Eu odiava a praia, embora amasse a visão dela.

Já era possível ver a roda gigante à alguns metros, quando ela disse:

— A festa é debaixo do píer. Pode estacionar ali.

A chuva estava cessando e era possível andar sobre a garoa. Saí do carro e fui tomado pelo som  e cheiro salgado do oceano. Ela estava ao meu lado, agora podendo me olhar de cima abaixo realmente, eu me senti um pouco envergonhado, não tinha segurança sobre meu corpo. Ela parecia satisfeita, porém. Os olhos verdes subiram até os meus.

— Você não precisa disso, não estão ajudando na sua visão mesmo. — Tirou os óculos pretos e circulares do meu rosto, jogando para dentro do carro. — E você tem olhos lindos, mas aposto que não sabe disso.

Com esse comentário, ela se virou. Até a garoa havia parado agora, dando lugar para a tempestade que Sally era passar.

Salem

Eu puxava-o pela mão, já que não tinha certeza se me seguiria se eu o soltasse. Parecia assustado. Talvez nunca tivesse participado de uma festa de ensino médio antes, talvez nem ao menos já tivesse sido convidado para uma.

Seguimos pela faixa de areia interminável, reto para a parte baixa do cais. Já era possível ver as pessoas rindo e se embebedando, alguns faziam malabarismo com fogo e outros se beijavam fervorosamente contra as colunas grossas. Eu tive uma ideia.

— Vamos jogar um jogo. — Virei-me pra ele, sabia que meus olhos brilhavam com malícia. Os dele vacilaram.

— Que tipo de jogo?

Eu não iria explicar, mas ele logo perceberia com a minha dica. Umedeci os lábios e agarrei sua outra mão, virei meu corpo e o puxei pra frente. Seu corpo ficou colado com o meu, seu abdômen contra as minhas costas. Ouvi uma respiração alta vir dele. Enlacei suas mãos na minha cintura.

— Sally! — A voz veio da frente, reconheci a garota imediatamente. Ela ainda tinha os Dreadlocks ruivos e as tatuagens que cobriam quase totalmente uma perna.

— Cecee. — Eu cumprimentei Spencer pelo seu apelido, sorrindo para a menina que já havia me ajuntado diversas vezes de banheiros vomitados e chãos sujos. Ela já parecia bêbada. Olhava com bastante interesse para a minha exótica companhia. — Esse é Liam, meu namorado

— Sally é uma comediante. — Sua voz soprou em meu ouvido e eu me arrepiei involuntariamente, fiquei apreensiva, pensando que estragaria a brincadeira. Ela estendeu a mão pra ela: — Me chamo Luke.

Ele apanhou sua mão e a beijou gentilmente. O momento durou um segundo a mais do que precisaria, mas continuei sorrindo. Tínhamos um papel para interpretar.

— É um prazer, Luke. Vejo vocês por aí.

Ela saiu, dando um olhar longo demais para ele. Não podia culpá-la, o nerd era atraente. Era incrível o que a camiseta certa e os olhos nus poderiam fazer com a aparência de um cara. Estávamos sozinhos novamente, então virei-me pra ele, ainda podia sentir o coração dele batendo forte.

— Ótimo, você entendeu como funciona. Agora só precisa beijá-la.

Seu rosto empalideceu.

— O quê? — Ele perguntou. Havíamos andado até um dos muitos galões de cerveja espalhados e eu enchi um dos copos de isopor vermelhos para ele.

— Falso adultério, consegue encontrar um jogo mais divertido? — Disse, enquanto tomava o meu.

Ele ainda estava sem cor, quis perguntar qual era o problema, mas um olhar em meio às pessoas me fez parar. Era um garoto moreno, alto e bonito. Ele me encarava descaradamente, sentado em um tronco na parte descoberta. Correspondi o olhar e sorri com um dos cantos da boca.

— Minha vez. — Eu disse, puxando Luke. Ele andava de forma mecânica atrás de mim. No terceiro passo, ele parou, fazendo com que eu também parasse, arrastá-lo seria impossível.

— Não. — Ele disse. Eu o encarei. Ele balançou a cabeça. — Esse não sou eu. Não faço esse tipo de coisa. Eu nem deveria estar aqui, pra começar.

Eu continuei a encará-lo, queria que me dissesse que estava brincando. Não era isso que garotos como ele queriam? Participar de festas, ter alguma vida social? Ele estava dispensando tudo isso, e não parecia estar brincando. Ele estava... me rejeitando. Pela primeira vez, eu tive que respirar fundo antes de dizer algo.

— Não me diga, você tem algo melhor para fazer agora? Talvez um bolo pra assar? — Eu disse, rindo.

Eu sabia que havia soado maldosa, mas não esperava ver aquilo atropelá-lo com um caminhão. Ele se retraiu, como se fosse um tapa e não palavras proferidas, encarou-me com os lábios entreabertos de choque. Havia um pouco de dor quando disse, baixinho, quase como para si mesmo:

— O que eu estava pensando? Você é mesmo uma bruxa.

Essa foi a minha vez de ficar embasbacada. Como havíamos desviado do foco tão rápido? Estávamos trocando ofensas e ele parecia realmente abalado, prestes a chorar. Luke virou-se na multidão e desapareceu em meio a ela.

 

Luke

Era o quinto copo de cerveja da minha vida. E da noite. Não era tão ruim quanto já me fizeram acreditar e a sensação com certeza era melhor. Eu assistia ao acrobata, girando as tochas acesas com uma facilidade incrível. Eu sentia meu peito inflado, sentia-me capaz daquela proeza também, sentia-me repentinamente confiante.

Olhei ao redor, não sabia mais onde Salem estava, fazia quase uma hora que havia lhe deixado na entrada do cais, havia falado algo horrível a ela, mesmo não sendo uma completa mentira. A garota tinha um ego enorme e pernas mais longas ainda, lembrei-me, ela naquele pequeno e alto shorts rasgado.

A bebida fazia algo com meus sentidos e sentimentos também, tudo ficava mais intenso. Eu queria entender o que ela queria comigo aqui, porque aceitara a minha carona, para me trazer aqui e usar-me como seu brinquedinho? Ela deveria estar rindo em algum canto, rindo da minha patética atuação, e da possibilidade inexistente de que mesmo um dia eu poderia namorá-la.

Eu sabia que não poderia, mesmo se ela quisesse, eu morreria no processo.

Mesmo assim, eu deveria procurá-la, certo? Estava sozinho aqui, mas isso não me incomodava realmente, só me preocupava com o que poderia estar acontecendo com ela. Alguns caras podem ser realmente idiotas bêbados. Ela não merece a sua preocupação. Eu me repreendi.

Salem achou que me divertiria enganando as pessoas e fazendo com que cedessem a um pecado, o pior tipo de quebra de confiança, mesmo sendo algo armado. Eu não era religioso, nenhum pouco, mas tinha valores morais. Sally com certeza não possuía muitos. E eu não tinha planos de beijar a garota chamada Spencer, ou Cecee, ou sei lá o que.

— Você não é o SIB0RG696, recordista no Guitar Hero?

Uma voz doce e infantil disse, eu me virei.

Era uma garota, deveria ter um e sessenta de altura, tinha cabelos platinados e curtos. Toda sua figura era delicada, mesmo com as roupas pesadas.

— Hum, no fliperama perto da minha casa, sim. — Eu disse, um pouco constrangido. Eu era meio viciado no jogo.

Ela sorriu, tinha covinhas e os olhos possuíam o tipo de brilho incapaz de se fingir.

— Fliperama do Bill. Eu sei. Sou a G3DEAD.

Arregalei os olhos. Era a usuária que ocupava o segundo lugar.

— Droga, você veio aqui para me matar?

Ela riu e eu a acompanhei. Ela estava corada, percebi, tinha um copo vazio em mãos. A festa estava ficando cada vez mais agitada, alguém havia conseguido trazer caixas de som e amplificadores para cá e ligá-los de algum modo, rock dos anos noventa tocava. As pessoas gargalhavam, a bruma e neblina do litoral  — e a fumaça de maconha — faziam o papel de criar um cenário enevoado e espectral.

— Na verdade, eu nunca pensei que te encontraria em qualquer lugar, mesmo eu tendo certeza que já havia visto você deixar o fliperama. Seu avatar é extremamente parecido com você.

— Trabalhei duro nele. — Falei. Aquele era um território conhecido, estava confortável em conversar com ela. — O que você pode me dizer sobre você?

— Jenny. 18 anos. Alérgica a mariscos. Nascida em Atlanta. Sem homicídios na ficha.

Jenny-de-18-anos-que-era-alérgica-a-mariscos-que-nasceu-em-atlanta-e-que-nunca-havia-matado-ninguém era bonita, não convencionalmente, mas da sua forma pequena e impactante. Seus coturnos possuíam caveiras desenhadas. Eu estava sorrindo demais, eu sabia, mas não me importava.

— Me chamo Luke.

Ela levantou uma sobrancelha.

— E?

— E levo uma vida desinteressante. Essa é a minha primeira festa.

Ela riu, parecia gostar das coisas que eu dizia.

— É compreensível, provavelmente gastou muitas noites para estabelecer seu recorde.

— Exatamente, Jenny. — Eu falei, minha língua se embolou em seu nome e saiu esganiçado. Eu olhei para baixo, envergonhado da minha própria falta de dicção causada pela bebida. Vi seus pés aproximarem-se.

— Nós deveríamos brindar. Ao Guitar Hero.

Eu concordei, levantava meu copo, mas sua mão segurou meu braço. Ela era quente e seus dedos não conseguiam contornar meu pulso. Tinha as mãos de uma criança. Mas seus olhos não possuíam a inocência de uma.

— Nos meus brindes os copos são dispensáveis.

Ela agarrou a minha blusa e me puxou pra baixo. Nossos lábios estavam quase se encontrando, e se encontrariam, se aquela visão não tivesse me deixado totalmente pasmo. Por cima dos ombros de Jenny, eu via claramente Michael e Salem, mas eles não estavam em um momento amigável.

Ela parecia estar tremendo, como se estivesse chorando e ele, tomado por raiva, vociferava alguma coisa. Estavam afastados de todos, então era impossível ouvir o que gritava, ainda mais com a música. Salem estava encolhida, ele chutava a areia com fúria.

— Você a conhece? — Jenny perguntou. Já havia notado para onde eu estava olhando.

Eu simplesmente assenti e segui para eles. 



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