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História Broken Wings - Versão antiga! - Dor


Escrita por: Isazita

Notas do Autor


DESCULPA NÃO ME MATA PFV

Capítulo 10 - Dor


.:Pedro:.

Amar é realmente uma bosta.

Ao mesmo tempo que amar é bom, também é muito ruim. Tipo um sado-masoquismo maluco, sabe? É um eterno jogo de bate e apanha (mais apanha que bate).

E amar dói. E quando você ama muito, a dor se torna física, como estava sendo agora.

Eu não deveria ter deixado isso acontecer. Foi culpa minha.

Era o meu caso, agora. Eu estava sentado na minha cama, acordado há mais ou menos 72 horas e quase morrendo desidratado de tanto chorar. Nada, nunca doeu tanto quanto aquilo.

Me pergunto o que aconteceria se tivesse sido o pior, porque poderia ter sido.

Me pergunto se aquela pessoa está bem, como está se sentindo. Queria simplesmente ir vê-la e me desculpar por todas as coisas que fiz ou deixei de fazer. Queria simplesmente falar que estava arrependido e que eu o amava muito.

Afinal, eu estava falando do meu melhor amigo.

Eu queria não ser assim, eu queria ter mais tato e eu também queria que ele confiasse em mim. Eu queria que Gael não fosse tão inseguro.

E mais importante que isso eu não queria que ele tivesse sido machucado.

Ele era, de fato, a pessoa mais importante para mim (se não contarmos com minha mãe mas aí não vale). Era ele quem tinha secado todas as minhas lágrimas por quase 17 anos. Era ele que tinha me dado apoio quando ninguém mais ligava. Era ele que esteve sempre ali, para e comigo, era ele que nunca havia me feito chorar.

Eu acabei de fazer isso com ele.

E eu ainda me dava o direito de acabar com a água do meu corpo pelos olhos.

Covarde, não?

- Pedro? Eu tenho uma coisa pra te falar...

Não respondi.

- O Gael... Apanhou na escola... Ele tá em algum lugar com a Laura. Ela falou pro diretor que o estado dele não é dos melhores pra essa situação...

A culpa é minha.

***

Já estávamos na segunda semana de Setembro quando essa treta maligna começou. Naquele dia específico eu, Gael e Laura estávamos na casa da Mama por um certo motivo que eu estava gostando, mas depois não gostaria mais.

Nossas queimaduras estavam literalmente sumindo da nossa pele.

Ok que eu estava gostando disso, e que ninguém estava entendendo bosta nenhuma e que também era bom porque não doía mais.

Mas respostas são legais e a Mama aparentemente tem resposta para tudo então fomos na casa dela, o trio parada dura.

Chegamos lá como todas as outras vezes, a fumaça roxa, a casa roxa, tudo roxo. A aura misteriosa e de certa forma reconfortante que emanava da casa. Amanda abrindo a porta com um sorriso feliz e nos abraçando antes de subir no como da Laura e ficar por ali mesmo. Mama sentada no sofá com um sorriso doce.

- Boa noite meninos... E menina haha!

- Boa! -Gael falou com a típica cara de peixe.

- Boa noiteeee. -isso foi eu e a Laura estando animados.

O sorriso de Mama se desfez assim que pôs os olhos azuis-gelo sobre eu e Gael. Sua expressão passou para espanto e depois terror. Ela parecia realmente apavorada. Pela primeira vez na vida, Mama se levantou e andou até nós, colocando uma das mãos pequenas na parte do meu rosto que estava queimada. A outra, ela colocou no braço que Gael tinha queimado, exposto pela camisa de mangas curtas que ele usava.

Mesmo Mama sendo quase cega, nós sabíamos que ela não precisava dos olhos para ver.

- Meninos... Me digam que eu estou começando a ficar gagá e que as queimaduras de vocês não sumiram.

- M-mama, você não tá gagá... E nossas queimaduras sumiram sim. -me pronunciei.

- Meus meninos... -ela deu uma leve carícia em cada um de nós com um olhar triste antes de voltar a se sentar e nos encarar novamente.- Vocês conseguiram as queimaduras por causa de um monstro, certo. Vocês sabem o que é um monstro? -Laura levantou a mão.

- Uma criatura estreitamente ligada ao espiritual, materializada no plano mortal e criada apartir de pura e estreitamente medo. Tamanho e força variam de acordo com o tamanho do medo de cada um. São mortos por armas etéreas, fogo ou água de utilizada de forma proposital.

- Ok, Ok. Obrigada, Laura. Se eles são ligados ao espiritual, mas se tornam físicos aqui quais campos eles conseguem alcançar em vocês?

Ela continuou nos encarando e de repente eu entendi. Os machucados não estavam sumindo, eles estavam entrando em nossas almas. Olhei brevemente para Gael que me encarou com uma feição apavorada substituindo a de tédio.

- Creio que já tenham entendido. As consequências de tudo isso serão terríveis, mas não pra vocês dois. Pros próximos. Essas feridas vão nascer com as próximas encarnações de vocês, e a cada uma delas vai piorar. Infelizmente não há nada que possamos fazer para evitar, já está dentro de vocês e não irá sair.

A sala ficou em silêncio. Gael pousou uma das mãos em meu joelho e fez uma leve carícia antes de tirá-la novamente. O encarei, ele me olhava de volta, me olhava nos olhos com uma expressão que nem eu consegui entender. Laura pousou a mão no meu outro ombro com um olhar compreensivo, e em seguida nós três abaixamos a cabeça.

Não havia o que fazer.

***

- Gael, por favor, come um pouco mais... -falei, preocupado com a quantidade que meu amigo estava comendo. Ela havia diminuído novamente.

Ele pegou mais uma colher de sopa de arroz e pôs no prato. Comeu-a devagar, seriamente encarando o nada com uma face pensativa. Era isso o que eu conseguia arrancar dele, vários silenciosos sim ou não.

Isso estava me deixando triste, no mínimo. Gael me rejeitava e me expulsava cada vez mais. Ele não me falava mais nada, ele não ria das coisas idiotas que eu falava ou fazia, ele não esboçava nenhuma reação e ele também não aceitava nenhum toque.

Gael estava esquecendo de mim.

Estávamos na casa da Laura, almoçando lá pelos motivos de minha mãe estava viajando, eu não sei cozinhar e tia Kátia não tinha paciência ou tempo para fazê-lo.

Isso e os adultos não iriam ajudar nada no clima da mesa. Iam atrapalhar, com certeza.

- Meninos, como foram as provas?

- Bem. - Gael falou pela primeira vez em uma semana.- todas as notas acima de 8.

Nerd.

- Eu to só acima da média mesmo. Mas gabaritei álgebra. -Laura bateu palminhas, animada e com um brilho orgulhoso nos olhos. Parece mais nossa mãe do que nossa amiga.

A partir daí o tópico acabou por mudar, mas Gael permaneceu calado o resto do tempo. Eu já falei que quero esganar esse tampinha? Não?

Eu quero esganar esse tampinha.

Mas ao mesmo tempo eu quero guardar esse idiota num potinho e proteger do mundo. Chegava a ser idiota o tanto que eu gostava dele. Parece até que eu estou apaixonado! É um cu.

Não que isso faça alguma diferença para ele.

Ficamos na casa da Laura até ela sair para o seu turno na escola e depois fomos para a minha. O clima ainda estava estranho.

Enquanto fazíamos os deveres de casa e até enquanto jogávamos, Gael não mudava a expressão, ou falava alguma coisa. Era sempre a mesma face tensa, de cenho franzido e olhos trêmulos.

Me irritava como esse idiota ainda era bonito mesmo com essa cara de orifício anal.

Me irritava porque ele não percebia nada disso. Me irritava porque eu não podia falar isso para ele. Me irritava porque eu não conseguia falar desse tipo de assunto com ele.

Me irritava porque ele não me deixava entrar nessa parte do mundinho dele. E me irritava porque ele também não deixava eu apresentar o meu.

Nossa que coisa gay. Apesar de eu não ser, no caso eu sou pan. Só porque pessoas são legais.

MUDANDO DE ASSUNTO.

Quando ele foi embora, me deu um aperto um tanto forte - quase como o do dia em que estava doente e se apoiou em mim - no ombro e saiu com sua mochila ridiculamente grande nos ombros. Gael sendo Gael. Esse puto até que tá ficando fortinho, por alguma razão. Meu ombro formigou depois que ele soltou.

Af.

Quando ele saiu daqui já eram quase oito da noite, e como eu realmente não tinha mais nada ou ânimo para fazer, resolvi tomar banho e dormir logo, tão desocupado estava.

Doce ilusão.

Assim que encostei a cabeça no travesseiro o lado do meu corpo que estaria queimado começou a coçar. Mas não aquela pinicação até aceitavelzinha, parecia que alguém tinha derramado 3 Litros por centímetro cúbico de pele de água oxigenada radioativa. Nada era tão desconfortável quanto aquilo, nem o uso das bandagens (abandonadas há algumas semanas) ou tomar banho ainda com aquelas feridas. O pior foi a dor ao tentar coçar a primeira vez.

Me senti queimado novamente.

Ao invés de ser um ser humano inteligente e procurar por ajuda, me encolhi na cama e esperei que tudo passasse para que eu conseguisse finalmente dormir, mas sabe aquela pontada no peito quando você se lembra de algo? Pois é, hoje eu não durmo. Antes mesmo da coceira ou da dor se esvairem eu a senti e lembrei de todos os sinais que Gael me dava esses últimos meses. Durante todos esses anos eu nunca pensei tanto nele quanto pensava agora, durante todos esses anos ele nunca havia me deixado tão preocupado.

Sempre tem uma primeira vez para tudo.

Junto com a pontada no peito a dor aumentou novamente e depois começou a se dissipar junto dos outros sintomas. Demorou cerca de duas horas para que eu finalmente conseguisse me mover sem morrer e mais importante: dormir. Era tudo o que eu queria e tudo o que eu mais precisava naquele momento, me apagar de tudo.

***

- Será que dá pra fazer o favor de parar?! -Gael gritou de maneira irritada.

- Você quer que eu pare?! De me importar com você?! -gritei de volta.

- Se importar comigo?! Você fica basicamente o dia todo pegando no meu pé sem motivo!

- Sem motivo o caralho! Você sequer está comendo, pelo amor de Deus!

- Talvez porque eu não tenha fome? -usou um tom irônico.- Não é como se eu fosse morrer por umas gramas a menos!

- Gael, pelo amor de Deus! Você comeu duas colheres de sopa de arroz ontem o dia todo!

- Eu não tava com fome, caralho! Por que de repente você se importa com isso?! Não é assunto seu!

- Não é assunto meu? Gael você é meu melhor amigo é ÓBVIO QUE É ASSUNTO MEU!

Estávamos brigando. Era a primeira vez que brigávamos. A esta altura Gael já havia se levantado e continuávamos andando em direção ao pátio, as pessoas se juntando em volta e olhando sem entender.

- Seu melhor amigo?! -agora estávamos mais para o meio, ele me olhava como se pudesse me queimar só com o olhar, eu não devia estar muito diferente.- SEU MELHOR AMIGO O CARALHO! VOCÊ PROVAVELMENTE SÓ FALA COMIGO POR OBRIGAÇÃO! VOCÊ SÓ COMEÇOU A "SE IMPORTAR" ESSE ANO! VOCÊ É A PESSOA MAIS RIDÍCULA QUE EU JÁ CONHECI NA MINHA VIDA!

- NÃO QUE VOCÊ TENHA CONHECIDO MUITAS PESSOAS OU VIVIDO PARA FALAR ISSO! -ele não parecia ofendido, parecia genuinamente magoado, mas eu só percebi isso muito mais tarde.

- MELHOR NÃO "VIVER" OU CONHECER PESSOAS DO QUE FICAR IGUAL UMA PUTA COMO VOCÊ FAZ!

Aquilo doeu. Doeu e eu não sabia o por que de continuarmos com isso. As pessoas soltavam exclamações exasperadas, já que jamais imaginariam eu e ele brigando.

- Você me chamou de quê? -meu tom ficou subtamente baixo.

- De puta. É isso que você é, não é?

- Prefiro ser puta a ser virjão igual a você.

- Nossa, obrigado pela opinião que eu não pedi!

- E eu também não pedi a sua, babaca.

- Finalmente revelando as coisas, não é? Eu me resumo a um fracassado, virjão e babaca para você, e o papinho de "melhor amigo"? -permaneci calado quando percebi o que falei, e ele continuou.- Tava esperando essa confissão. Eu sempre soube disso tudo. -os olhos dele brilhavam, não mais de ódio, de mágoa e isso era nítido.- Bom saber que você era exatamente como eu temia, fui feito de trouxa mais uma vez.

Ele começou a virar e então eu gritei que era mentira. Ele voltou e andou muito sério até mim, me mirando nos olhos.

- Se era mentira então por que falou? Não sou sequer digno da sua honestidade, Pedro? -o tom dele já havia variado novamente, e apesar de soar muito magoado e ainda ter várias pontadas de pura raiva, ele estava bem baixo. Eu sequer escutei ele falando meu nome de tão baixo que foi.

- Claro que é! Pare de ser idiota Gael!

- Idiota é toda essa sua atuação e esse seu showzinho. Eu te odeio, Pedro! -a última frase soou alta e o pátio inteiro ficou em silêncio, todos os olhares voltados para mim, esperando minha resposta. Na hora, diante de toda raiva e mágoa, acabei por gritar de volta algo que jamais pensei que falaria. Não para ele.

- SE ME ODEIA TANTO POR QUE AINDA ESTÁ AQUI? POR QUE PERDE TEMPO COMIGO JÁ QUE SEU ÓDIO POR MIM É TÃO GRANDE? VAI FAZER ALGO ÚTIL, ENTÃO!

Me arrependi no mesmo segundo. Ainda consegui ver a primeira lágrima escapar do olho quando ele virou e saiu por entre as pessoas, me deixando lá plantado como um... Poste...

Eu te odeio, Pedro!

Não pode ser verdade.

Igual uma puta como você faz!

Era mentira.

SEU MELHOR AMIGO O CARALHO!

Não era verdade e eu sabia disso. Nós sabíamos disso.

Não é assunto seu.

Não era e eu também sabia disso. Mas não posso mais me preocupar com ele?

Era verdade que eu só demonstrei a mínima preocupação esse ano. Era verdade que minha amizade com ele podia ser vista como uma mera obrigação. Era verdade que eu fui um péssimo amigo por vários momentos, creio que porque eu sempre esquecia dele e sua dificuldade de socialização. Creio que porque eu sempre fui cego e egoísta demais para pensar no que ele sentia.

Eu te odeio, Pedro!

Eu merecia isso. Eu merecia isso e com toda razão.

Mas eu sabia que ele não se sentia assim.

E saber disso só me fazia mais culpado.

***

E cá estamos nós. Eu, naquele estado deplorável que você leu, também por me culpar e ainda sentir a coceira e a ardência, juntamente com as pontadas no peito e na cabeça, que de tornavam cada vez mais fortes.

Novamente, não respondi minha mãe de primeira e permaneci encolhido na cama, mas agora já não chorava mais. Até porque nem tinha mais água, mas mais por causa do sinto sentimento de raiva que me invadiu com a informação de que machucaram o Gael.

Eu te odeio, Pedro!

Não era verdade e eu ia provar que não. Ainda mais para quem quer que tenha sido os que machucaram o meu Gael. Nem fodendo isso vai ficar assim.

- Eu vou pra escola amanhã, mãe.

Minha voz soou muito embargada e quase inexistente, mas foi ouvida pela minha mãe enquanto ela fechava a porta. Eu quase podia sentir o sorriso dela sob mim.

Isso não vai ficar assim mas nem fodendo!

***

Sexta-feira, 7 da manhã e eu aqui nessa merda.

Por merda eu quero dizer escola.

Mas o importante era que eu estava lá. E eu não estava na minha sala. Não mesmo.

Eu estava na sala das pessoas que eu tinha certeza que bateram no Gael. Não pensei que eles fossem realmente fazer isso, já que eles nunca passaram das ameaças, mas eles fizeram.

Entrei na sala sem falar nada, as poucas pessoas que já estavam lá - inclusive eles - Me olharam. Eles, sem entender, e as outras pessoas com aquela cara de "Eeeeeeita bagacera".

Bati na mesa do "Líder" deles. Toda a sala estava olhando para mim.

- No pátio. Intervalo. Quero conversar com vocês.

E, como a rainha do drama que eu sou, saí da sala sem nem esperar uma resposta. E sim, sou barraqueiro mesmo, culpem o Gael por isso.

Agora é só esperar esses três horários de merda acabarem.


Notas Finais


DESCULPADESCUKPADESCULPADESCULPADESCULPADESCULPADESCULPA


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