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História Brotheragem (Romance gay, Yaoi) - Podemos ser mais confiantes


Escrita por: Equipe_Nerds

Capítulo 64 - Podemos ser mais confiantes


A água escorre por suas costas, enquanto pensa em como poderá pedir "desculpa" novamente para seu amado por cometer os mesmos erros. Ao recordar o começo deste desentendimento, Olliver assume mais uma vez para si mesmo que não quer realmente conversar com sua mãe, pois ela tem o poder de o fazer duvidar e, talvez, ele não esteja tão confiante quanto antes. Ele é corajoso, mas só quando tem forças para isso, agora, parece que tudo nele está quebrado, não apenas o braço, não apenas sua cabeça. De alguma forma única e estranha, sua alma está fraca.

Quando ele sai do chuveiro percebe que Thalles está inquieto mexendo na cozinha, ele se senta à mesa e o espera como um cachorro perdido aguardando seu dono encontrá-lo. Mas, como antes, o silêncio prevalece, ele nem pode se opor a esse comportamento que ele mesmo comete quando não sabe lidar com seus sentimentos e pensamentos.

Olliver sente o cheiro da comida após alguns minutos, mesmo que o cheiro lhe agrade, ele não quer comer. Percebendo que não há um real motivo para estar no cômodo ele se levanta e vai para o quarto para se deitar. Estando na cama fecha seus olhos tentando esquecer sua falta de coragem para iniciar um simples diálogo. Porém, depois de algum tempo sente a presença do menino, dono do seu caos mental, se deitar com ele debruçando com o rosto em seu peito.

Permanecem assim, em pleno silêncio.

Thalles está apenas sentindo o respirar calmo de seu amado e como o coração dele bate em um ritmo frequente imaginando que ele possa ser infinitamente eterno nessa mesma batida. Ele gosta do calor, do som, do cheiro, da sensação e do conforto.

— Não posso te obrigar a fazer coisas das quais não quer fazer. Desculpa, não vou me meter mais entre você e sua mãe. – Thalles fala baixo como se não quisesse abafar o som do coração de Olliver para seus próprios ouvidos.

— Perdão por não te notar, por omitir o que eu sinto e te machucar com isso. – Olliver sente Thalles finalmente levantar sua cabeça e logo está olhando para os olhos que considera os mais bonitos do mundo.

— Eu tenho um jeito de resolver isso. – Thalles sorri e percebe que Olliver o olha desconfiado. – Sabe, nós dois temos um mal de não ser sincero e deixar as coisas passarem. Antes era fácil lidar com isso, a gente passava um tempo longe um do outro e depois voltava a se falar como se as coisas simplesmente não tivessem acontecido.

Olliver modestamente sorri ao lembrar de quantas vezes já fizeram isso durante toda sua amizade e Thalles se anima ao ver que quebrou o gelo entre eles

— Mas agora é diferente, se você ficar em silêncio parece que eu estou perdendo você.

Ele respira fundo ao ver que o sorriso de Olliver sumira tão rápido com essa declaração. Ele encosta a cabeça novamente perto ao coração de Olliver tendo plena consciência que está sendo escutado mesmo que não olhe diretamente para seu ouvinte.

— Por isso, não gosto do seu silêncio. Gosto quando fala o que pensa, se sente falta, se quer alguma coisa, se tem medo, se tem raiva, se me ama... – ele sorri bobo colocando sua mão no braço de Olliver lembrando de cada palavra romântica que seu amado usou para o encantar. – Por favor, não vamos mais pensar muito e deixar o silêncio fazer essas coisas... Podemos ser mais confiantes um com o outro.

Olliver abraça o corpo do menino e o faz se encaixar ao seu corpo, como o encaixe perfeito. Ele sabe o que tem que fazer nesse exato momento, é o que ele deveria ter feito a bastante tempo.

— Eu estou com medo... – Olliver respira fundo e percebe que isso vai doer, mas tem consciência que irá aliviar seu coração. – Eu não sei ser corajoso agora e... as vezes... eu me pego lembrando de como minha mãe me acalmava quando tinha pesadelos, de como eu acreditava que quando eu estava assustado eu ia atrás dela, ou ela me achava e me protegia. Talvez seja por isso que... Estando aqui, nessa situação estranha com o Ollavo, sabendo que foi ela que fez tudo isso... Voltando a ter esses pesadelos...

Thalles sente a respiração pausar, ele sabe o que isso significa, mas ele não levantaria seu rosto para verificar, muito menos enxugaria as lágrimas que devem apenas cair.

— É por isso que eu estou muito chateado e confuso. Longe de todos os erros que eu cometi, ela escolheu você para me punir do pior jeito... E eu não vou voltar atrás só porque ela simplesmente quer e deixar você. Eu prefiro ficar longe dela do que fazer isso. – Olliver está triste e irritado pelas escolhas que faz sem realmente querer, mas ele tem que apenas ficar com isso e chorar. – Só que no fundo mesmo sem ter perdoado ela, sem ainda entender porque disso tudo... Me sentindo um injustiçado de várias maneiras... Eu tenho que assumir que eu sinto muita falta dela agora...

Olliver não pode mais esconder todas as confusões de pensamentos que andam maltratando sua mente esses dias. Apesar de relevar esses acontecimentos passados só para aliviar o presente, cada vez que encosta sua cabeça para descansar ou fecha seus olhos, essas mágoas ficam vívidas e intensas, tanto que chegam o assombrar até em seus sonhos.

— Mas ela tá logo ali... – Thalles sussurrou acariciando o peito de seu amado.

Não é por ele enxergar a solução tão facilmente assim, Thalles sabe que tem complicações reais para o que os dois estão passando, mas se pretendem levar isso adiante eles têm que começar a pensar em como resolver essa intriga, mesmo que seja doloroso e devagar.

— É... Mas você tá aqui. – Olliver o abraça com mais força em uma forma de auto afirmar sua escolha, que não é só pelo seu amor que está lutando, é por suas próprias escolhas. – E eu não vou deixar você para ir logo ali.

Para Olliver isso pode demandar mais tempo, ele realmente quer voltar a ter sua confiança de volta para depois enfrentar sua mãe.

— Eu posso ir ali com você, então. – Thalles sente coragem em suas veias para falar isso com plena convicção que pode enfrentar três caras amarradas se preciso for para Olliver se sentir mais protegido e amado.

Olliver sorri entre as lágrimas, seu amado está sendo persistentemente confiante, como ele poderia se sentir tão fraco?

— Podemos fazer isso depois, por enquanto, eu quero ficar aqui... Assim. – Olliver vai continuar chateado, mas vai tentar superar isso. – E temos que buscar suas roupas. Eu juro que...

— Shiiii. Como você disse: "Podemos fazer isso depois." – Thalles gostaria muito de ter suas roupas de volta, porém também não tem coragem de simplesmente ir sozinho, então prefere esperar o tempo de seu amado.

__________________

Alice olha para sua namorada do outro lado do quarto por cima do livro que estava lendo e não pode deixar de revirar os olhos ao notar que a atenção da outra jovem está duramente direcionada ao computador logo à frente. Respira fundo tentando interromper o silêncio entre as duas que já dura mais de duas horas, é notável que sua briga com a menina na escola não vai ser facilmente superada. Entretanto, pedir desculpa não está em seus planos, até porque quem está estranhamente tímida em sua presença é a outra – que se questionada sobre o assunto disfarça e finge que nada está acontecendo. Ela bufa irritada jogando o livro no outro lado da cama, mas não recebe nem um olhar em reação.

— Você está me deixando irritada ficando em silêncio. – Alice finalmente diz algo.

— Você também me irritou quando gritou comigo na frente de todo mundo como se fosse minha mãe. – Tati não tira sua concentração do que está fazendo para responder já que sempre prevê as birras de Alice e sempre premedita suas respostas.

— Se você não agisse como se eu fosse uma louca chamando sua atenção por nada, eu não faria isso. – Alice no fundo sabe que está errada, mas Tati também não assume que está a tratando diferente, então estão empatadas.

Tati vira a cadeira e olha sua namorada com indiferença, coisa que só faz quando sabe que tem toda a razão, pois se duvidasse apenas um pouco estaria pedindo desculpa agora pelo o que tivesse feito. Alice desmonta sua figura de irritada ao concluir que perdeu com essa postura dura de Tati. Alice, dessa vez, talvez esteja errada.

— Desculpa por ser irracional às vezes, mas você me tira do sério! – Alice sabe que esse não é o jeito certo de consertar as coisas, mas o que ela poderia fazer se ainda está irritada com Tati por motivos razoáveis.

— O que eu fiz para te tirar do sério, além do que eu sempre faço?! – Tati se altera um pouco, não suporta essa mania de Alice de sair das situações jogando a culpa nela indiretamente.

— Viu! Você não assume que está estranha comigo, você mudou a maneira que me trata! – Alice fala alto se esquecendo que Dona Neide pode escutar as duas brigando e isso é uma péssima ideia já que hoje a mulher parece estar de mau humor.

— Como eu to te tratando diferente se tô fazendo o que eu sempre faço?! – Tati questiona perplexa, pois não entende o real motivo de Alice estar chamando atenção dela desde o início.

— As coisas mudaram Tati! – Alice respira fundo e dá uma pausa para se acalmar, pois essa frase saiu mais alto do que deveria. – Desculpa se estou te cobrando, mas você continua tímida comigo como se eu fosse uma estranha para você, ou pior, como uma das suas colegas, sendo que você sempre me tratou com carinho. Eu tô me sentindo como uma namorada chata ou grudenta esses dias, pois a dona mocinha tá dando a mínima pra mim.

Tati vira a cadeira de volta para frente do computador. Ela não sabe discutir a relação com Alice, na verdade, ela nem sabe como isso está funcionando.

— Você não é grudenta e nem chata, é só que eu não achei que isso seria público... Quer dizer, não para todo mundo mesmo. – Tati está desconfortável e talvez com um pouco de receio.

— Eu não tenho nada a esconder, nunca tive, eu só falei para as pessoas que estamos namorando! – Alice fica perplexa com tal confissão, de tudo que poderia incomodar Tati e a fazer agir diferente este é o motivo.

— Mas até para os professores!? – Tati se vira para sua namorada mais uma vez com o rosto vermelho, por causa do misto diferente de vergonha e raiva, não pode parar de lembrar em como foi vergonhoso sua professora a questionando sobre a união das duas.

Foi aí que Alice fez seu pico de culpa em redenção, pois sabe que nisso ela exagerou... um pouco.

— É que...

— As tias da lanchonete sabe, as da limpeza, os bibliotecários e até o cara da vã! – Tati não pode esquecer como algumas pessoas estão vendo a relação das duas com preocupação por serem novas e serem duas meninas.

Claro que ela não os ouviu, mas os olhares... Tati teve o desprazer de descobrir que um olhar pode ser muito mais explícito do que palavras. Ela tinha uma maturidade da qual se arrepende, fruto de ter um irmão gay, sabe como é as coisas e os adultos são mais maldosos nesse quesito que os colegas de classe. "Hoje em dia é moda." "Cadê os pais dessas meninas?'' "Não se pode educar como antigamente." E Alice era fantasiosa demais para pisar de verdade no chão, quando está feliz voa muito longe da realidade.

— Nós não somos um segredo. – Alice diz cabisbaixa sabendo que dessa vez ela está razoavelmente errada.

— Mas não podemos simplesmente espalhar pra torcida do Flamengo inteira ficar sabendo, já pensou se seu pai fica sabendo. E se chamarem ele ou minha mãe para conversar? – Tati questiona diminuindo sua raiva, pois o medo que tem das consequências desse descuido podem ser altas.

E, assim... só assim... Alice se convenceu que está errada.

— A gente fala que é só brincadeira de criança. – mas é claro que ela não assumiria.

— Alice!

— Ta, ta! Desculpa. – Alice levanta da cama e se ajoelha na frente de Tati sentada na cadeira, só para olhar profundamente os olhos da sua namorada. – Eu só estava animada demais. Eu sei que não seria bom todo mundo saber, mas você sabe que eu sou meio "emocionada". Não me trate como se fosse qualquer uma das suas amigas, quero você me tratando como você sempre me trata.

Tati olha para o pico enorme da sua namorada e sorri, Alice acaba dissolvendo toda sua preocupação sobre o assunto.

— Me desculpa também por te tratar diferente, não deveria ter feito isso. – Tati se abaixa e beija a testa de sua namorada.

Alice sorri abertamente ao perceber que Tati voltou a tratá-la com carinho.

— Às vezes dá vontade de te morder de tão fofa que você é. – Tati confessa ao ver o rostinho alegre de sua namorada.

Alice faz careta e se senta na beira da cama logo atrás da cadeira de Tati colocando as mãos debaixo das coxas.

— Você ainda vai passar muito tempo ocupada com essa atividade? – Alice questiona abaixando a cabeça, se Tati continuar concentrada no trabalho as duas não vão poder aproveitar o tempo curto que tem hoje juntas.

— Esse trabalho que a professora me pediu ta me dando nos nervos. – Tati desabafa ainda com a cara no computador. – Eu gosto muito de Artes, mas agora a professora quer que a gente aprenda sobre a semana da arte_

— Cof! Cof! – Alice tosse em advertência, realmente quer um pouco de atenção.

— Okay, eu peço ajuda para o Erico para terminar isso depois. – Tati aproxima sua cadeira da cama ficando de frente para a menina sorrindo com o seu ato de obediência.

Elas têm que aproveitar agora, pois Ollavo proibiu Alice de dormir na casa de sua "amiga" durante o tempo das provas, justamente porque ela não estuda quando está em companhia da outra. Alice coloca seus braços no ombro de Tati e a dá um selinho demorado sentindo suas bochechas ficarem quentes.

— É sério que você não pode ficar aqui hoje? – Tati pergunta ainda de olhinhos fechados sentindo o rosto de Alice ainda bem próximo ao seu.

— Ele tá bravo comigo ainda por causa das minhas notas e eu acho melhor ficar em casa mesmo, o Olliver vai começar a fazer tratamento provavelmente e quero ajudar a cuidar dele. – Alice faz carinho na nuca de Tati e dá mais um selinho nela. – Eu estou muito feliz por ainda ter meu irmão morando comigo e poder ficar enchendo o saco dele.

Tati abre os olhos ao ouvir a palavra "irmão" ser dita com tanto carinho e vê um sorriso contagiante no rosto de sua namorada.

— E eu estou feliz por ver que você não vai mais se sentir sozinha em casa. – Tati faz a observação recordando que Alice constantemente dormia em sua casa para não dormir sozinha quando seu pai passava a noite trabalhando fora.

— É! Como a vizinha de baixo anda falando: Agora parece que a casa de vocês virou um galinheiro de tanto barulho. – Alice fala rindo, os vizinhos nunca reclamaram deles, mas agora que os meninos moram no apartamento não há uma noite que os outros inquilinos não liguem para pedirem para falarem baixo ou fazerem menos barulho. – E trocando de assunto. Porque sua mãe está brava?

Alice se afasta um pouco e vê Tati bufar com a pergunta.

— Acho que o Érico fez alguma coisa. – Tati se encosta na cadeira, odeia quando seu irmão provoca sua mãe, ela sempre desconta nos dois de alguma forma. – Para variar, acho que tem algo haver com a viagem.

— Mas não aconteceu nada demais na viagem. – Alice tenta se recordar de algo, mas tem certeza que o menino se comportou bem. – E cadê ele?!

— Sei lá, deve tá em mais uma entrevista de emprego, só pode! Não tem dinheiro para sair com as manas. – Tati volta para a frente do computador apenas para fechar as guias e desligá-lo.

Alice fica pensativa e toma a iniciativa de questionar Tati sobre um assunto do qual tem dúvida.

— Você acha estranho o Erico ter amizade com meu pai?

Tati se vira e olha desconfiadamente para Alice, ela não pode de maneira nenhuma demonstrar suas suspeitas, se é que não é coisa da cabeça dela, passa tanto tempo com a Alice que pode estar começando a imaginar coisas. E não pode animar sua namorada sobre esse assunto, não faz a mínima ideia de como ela reagiria a isso.

— Por que tá perguntando?

Alice curva sua cabeça para lado como um ato de auto se advertir a não falar o que está pensando, porém se não falar pode acabar ficando maluca.

— É só que eu não achei que algo assim aconteceria, sabe. – Alice gosta da ideia do seu pai ter amizade com Érico, mas não sabe se ele realmente levou a sério o dito de o menino ter realmente um espaço no seu coração. – Será que... Por ventura... Sendo hipotética até... Meu pai poderia se apaixonar pelo Érico?

— Alice, não viaja! – Tati volta para a cadeira no lugar, pois realmente não quer animar Alice sobre isso. – Seu pai ter apoiado os meninos numa boa e ter amizade com o meu irmão é uma coisa. Ele gostar de homens é outra coisa bem diferente.

— Tá, mas eu nunca vi meu pai com alguém... e nunca vi ele rir daquele jeito com alguém. – Alice sorri besta ao imaginar a loucura que seria se isso fosse possível, lembrando de como seu pai estava tão alegre ao lado de seu amigo na mesa de café da manhã na viagem.

Tati vê o sorriso ingênuo de Alice pelo reflexo do computador, sabe como Alice é sonhadora, mas se mais uma vez o universo realizar essa fantasia, tem medo dos próximos desejos da sua namorada. Então vai tentar colocar os pezinhos dela de volta no chão.

— Você ia gostar de ter a bicha louca do meu irmão como seu padrastro? – Tati pergunta vendo o rosto de Alice se contorcer em dúvida como se ela não tivesse parado para pensar nisso, porém...

— Tá maluca, claro que não! Ele seria o namorado do meu pai e continuaria sendo meu amigo! – Alice responde fazendo Tati rir com a resposta espontânea. – Tu tá é doida que vou chamar o Erico de padrasto, é bem capaz dele me dar uma surra se eu fizer isso! É xingamento pra ele eu chamar ele assim.

— Então como você apresentaria ele as pessoas?! – Tati entre risos pergunta, mesmo sendo uma situação hipotética sua imaginação não precisa de tanto esforço para criar essa cena.

— A mona maluca que namora meu pai. E se a situação precisar de um português mais fino, eu apresento como o companheiro ou parceiro do meu pai! – Alice ri também ao pensar sobre isso, só de imaginar como as pessoas reagiriam a isso acaba ficando mais animada.

— Mas e se eles casassem? – Tati continua instigando o assunto vendo que o propósito de desanimar Alice fora com sucesso frustrado.

— Aí eles teriam que me dar mais um irmão. Uma irmã de preferência. – Alice fala como se a situação já fosse prevista.

— Uma irmã! Tu realmente sonha alto demais! – Tati se surpreende com essa resposta, Alice acabou de ganhar dois irmãos e ainda está pensando em ter mais uma, além de imaginar a confusão de parentesco que essa criança enfrentaria. – Acho que você já tem irmãos demais.

— Foda-se, querida! Eles acham que só eles vão ser beneficiados com isso, eu tenho que ganhar os meus honorários por ter feito essa união possível. Eu quero uma irmã. – Alice fala com autoridade vendo sua namorada rir mais.

— Ela seria sua irmã e minha sobrinha. – Tati constata isso parando de rir.

— E o Érico seria padrasto da cunhada dele. – Alice sorri abertamente como se tivesse ganhado um prêmio. – Pensa na família brasileira mais linda!

E assim as duas voltam a rir alto, mas logo escutam a porta da sala bater. Saem do quarto para ver Erico com um sorriso de orelha a orelha no rosto tendo acabado de entrar em casa. Neide vem logo atrás das meninas fazendo o menino desmanchar completamente o sorriso.

— Como foi o passeio? – Neide questiona passando pelas meninas e indo para a cozinha.

— Foi bom... Quer dizer, não foi um passeio, a gente foi levar o celular dele para arrumar. – Erico realmente tem que omitir fatos, ainda mais por estar na frente de Alice. – Ah, Alice seu pai está te esperando lá embaixo.

— Meu pai!? – Alice olha para Érico meio surpresa e depois para Tati que mantém a mesma reação que ela, mas o que a impressiona é a expressão séria no rosto de Dona Neide. – Você estava com ele?

Erico se abstém de falar e só confirma com a cabeça, como se não quisesse reafirmar isso para sua mãe ouvir. Tati abre a boca perplexa e Alice sorri travesso.

— Vou pegar minha bolsa. – Alice volta para dentro do quarto e Tati vai logo atrás dela.

A menina mais nova coloca sua mochila nas costas confiante e olha sua namorada ainda com expressão surpresa em seu rosto.

— Alicia! – Alice exclama com convicção.

— Hum?! – Tati questiona ainda meio confusa com tudo.

— O nome dela será Alicia e seremos a dupla sertaneja perfeita.

Tati recebe um beijo em sua bochecha e vê sua namorada ir embora logo após isso. Ela sacode a cabeça como se quisesse espantar os pensamentos para longe de tão absurdos que são, mas se realmente Ollavo está até tirando um tempo em uma segunda à tarde para sair com seu irmão essa amizade está indo além do que qualquer um poderia imaginar.

___________________

Os dias passaram sem muita preocupação, apesar de não ser da mesma forma para os corações dos dois protagonistas. Thalles mesmo com todo o seu esforço para demonstrar firmeza e confiança para o seu namorado, não consegue esconder sua real preocupação em vê-los cada vez mais próximos do dia da realização da biópsia para a descoberta da real gravidade do tumor que assombra há anos a vida de seu amado sem sequer terem tido conhecimento. Em resposta, e contrapondo Thalles, Olliver sente cada vez mais sua confiança voltar ao receber a atenção de todos que o amam.

Davi, seu meio-irmão, depois de descobrir que já fora marcada a biópsia liga para Olliver todos os dias de chamada de vídeo e sempre insiste para ver Alice, que sempre o corresponde com toda a empolgação do mundo.

Daniel, mesmo que em lua de mel, liga para seu filho duas vezes ao dia, sempre para lhe dar "bom dia" e "boa noite", aproveitando para lhe encher de questionamentos sobre seu cuidado próprio. O que já fez Olliver decorar o checklist e as possíveis respostas, o que sempre faz Thalles rir, pois fica cada vez mais engraçado as carretas de Olliver a responder às mesmas perguntas todos os dias.

Ollavo, por mais que deixe o menino ter seu próprio espaço para se aproximar dele, em todos os momentos que é lhe dado oportunidade, cuida do menino como se fosse uma criança. Como as vezes que coloca a comida para seu filho sem notar. Quando reforça chamadas durante o dia só para saber se está tudo bem e faz questão de falar diretamente com Olliver. Quando assiste filmes que o menino gosta na TV da sala, mesmo não estando muito interessado, só para o fazer passar um tempo com ele sentado no sofá. Até deu novos telefones aos meninos, depois de colocar o seu número como "emergência" e os avisou que a qualquer momento podem o ligar. E principalmente, já alertou a base militar sobre o dia da cirurgia de seu filho, o qual não irá trabalhar para cuidar dele.

Alice assumiu o lugar de babá rebelde quando Thalles não está por perto, pois faz tudo que seu irmão pede e até coisas das quais não deveria. Os dois se divertem fazendo Thalles e Ollavo perder a paciência com suas teimosias atendidas por Alice "secretamente", às vezes ignorando totalmente o preparo para os exames pré operatórios, o que já fez os dois levarem broncas severas.

Fernanda, apesar de não conseguir ainda se comunicar assiduamente com seu filho, pelo menos já voltara a falar com ele pela linha telefônica nessa última semana de trégua. Olliver já entendeu que é melhor provar convicção para sua mãe do que a tratar como se não existisse e todas as chamadas faz questão de fazer com seu amado ao seu lado.

E Thalles, o que falar do menino que não o larga por nada, depois de saber sobre a data da biópsia ficou mais cuidadoso do que antes, lendo atentamente todos os preparos dos exames fazendo seu namorado cumprir a risca e providenciando tudo para que a imunidade de Olliver fique forte até a cirurgia.

Quanto mais tempo passa Olliver percebe que poderia passar seus dias assim, sentindo que realmente o mundo gira em torno dele e que é sortudo por todo esse amor ser demonstrado. Ele ri ao lembrar que já chorou muito por imaginar que não sabia o que era realmente ter o amor de uma família completa com ele e recebendo o carinho dessas pessoas percebe que tem tudo que uma família precisa ter. Se não fosse por essa doença e seus medos, além da briga com a sua mãe, diria que está em uns dos momentos mais felizes da sua vida.

E conclui que o lugar que odiava em sua adolescência é justamente o lugar que se sente em casa, o apartamento de Ollavo virou, sem dúvida nenhuma, o seu lar.

Alice tinha acabado de voltar da escola quando encontrou mais uma vez seu irmão entediado mexendo no catálogo de filmes no aplicativo da TV sentado no chão da sala com as costas apoiadas no sofá entre as pernas de Thalles que faz carinhos em sua cabeça. Thalles nem dá muita atenção para a chegada de sua prima, pois mexe em seu celular procurando algo realmente interessante para assistir pela crítica online. A menina toma seu banho e volta para sala vendo que os garotos já haviam começado a assistir um filme de ação ao qual ela não se importa em prestar atenção mesmo escolhendo estar com eles no cômodo.

Tem algo que quer pedir, porém não sabe como e tem receio de como vão reagir ao seu pedido. Mas mesmo assim, depois de alguns minutos ouvindo os sons altos da TV por causa do filme toma sua decisão.

— Meninos, eu preciso da ajuda de vocês... – a menina hesita, vendo que só Thalles corresponde a olhando, enquanto Olliver parece nem ter escutado por estar vidrado no filme. – Eu quero ter um encontro.

— O que?! – Thalles questiona acima do tom, o que faz Olliver começar a prestar atenção mesmo não tendo a mínima ideia do que a menina disse.

Alice sabia que eles não reagiriam de uma forma casual, claro que assustaria de início, mas confia que eles irão entender se explicar.

— Eu quero ter um encontro com a Tati. – Alice é confiante, porém seu gesto corporal demonstra estar insegura ao declarar isso.

E assim, Olliver entende o porquê de seu namorado ter se exaltado um pouco.

— Como!? – o sentado no chão questiona quase levantando.

Com os olhos dos dois meninos perplexos sobre si, Alice percebe que talvez vai ter que explicar tudo antes de fazer seu pedido real.

— Bem, eu na viagem que fizemos pedi para Tati ser minha namorada _

— QUE!? – Thalles exclama mais uma vez ao perceber que as coisas escalaram de maneiras muito rápido.

Alice se assusta com essa reação do menino, não achou que seria difícil lidar com eles nessa questão, porém...

— Tu pediu mesmo? – Olliver fala com um pouco de curiosidade no assunto.

— P-pedi. – a insegurança afeta sua resposta.

— Ala, ela é atacante! – Olliver fala sorrindo, o que surpreende os outros dois jovens. – E ela aceitou?

— Sim. – Alice responde sorrindo da reação do seu irmão, largando sua insegurança de segundos atrás.

— Como assim?! Vocês estão namorando?! – Thalles questiona ainda preocupado com a situação e repensando o pedido inicial de sua prima.

Alice abre a boca para explicar que não é realmente o que os meninos estão achando...

— Thalles, não leve tão a sério, okay!? – Olliver levanta sua cabeça para olhar seu namorado surpreso e pensa em acalmá-lo. – Acho que apesar de estarem namorando, elas estão indo devagar, né?

Olliver olha seriamente para sua irmã e ela abre um sorriso alegre confirmando com a cabeça em seguida. Thalles derrete suas preocupações quando olha para essa alegria genuína de Alice que chega a transparecer ingenuidade.

— Mas você quer ter um encontro com ela? – Thalles questiona dando corda ao assunto mesmo pensando que um encontro na idade de Alice não é nem um pouco ir devagar.

— É... Sabe, a gente sai junto, mas nunca fizemos algo em tom romântico, então eu queria dar de presente para ela isso... – Alice fala lembrando que em breve é o aniversário das duas, Tati faz aniversário um mês antes dela e seria legal dar além de um presente, um momento inesquecível para ela.

Os dois meninos se entreolham, pensam que não é uma tarefa difícil, porém Alice é a Alice. Um capricho performado em pessoa, e ainda tem que pensar que Ollavo nem sequer pode sonhar com isso, só a mera ideia desta relação poderia por nos ares essa "amizade de infancia".

— Mas o que você quer especificamente? – Olliver questiona, pois não podem aceitar sem saber o quão trabalhoso isso pode ser.

E assim Alice levanta do seu local toda animada para mostrar exatamente o que ela quer. A menina se senta no chão junto ao seu irmão e mostra pela tela do celular o local que quer levar a sua namorada.

— Quero levá-la no teatro municipal para assistirmos "O Quebra-Nozes" juntas, o prédio é lindo e ela adora clássicos. Tem um restaurante lindo lá dentro também, onde quero ter um jantar romântico com ela. E quando estivermos indo embora vou levá-la para passear no teatro e em umas das sacadas enormes do prédio eu vou dar o nosso par de colares de unicórnio para ela! – Alice conta a grandeza do seu pedido enquanto mostra imagens tanto do teatro quanto do restaurante para os dois.

Olliver e Thalles se impressionam em como Alice está levando isso a patamares bem altos, mas cumprindo todos os requisitos de encontro romântico.

— Você está pretendendo pedir ela em casamento?! Pra que disso tudo?! – Thalles exclama calculando o gasto.

Alice se acanha, ela realmente achou no começo que era exagero, mas ela realmente quer que o dia de Tati seja inesquecível.

— Não, é só que_

— Thalles, para de ser insensível! – Olliver bate na perna do namorado e pega o celular de Alice na mão nem se importando com a reclamação de seu namorado em reação ao ato violento.

Olliver está impressionado de como sua irmãzinha é emocional se tratando do seu primeiro amor. Não pode acreditar que eles dois possam ser parecidos nisso, o que o faz comprar completamente a ideia sem ainda ter ouvido todo o plano.

— Isso é lindo Alice. Como vamos te ajudar?

Alice fica de joelhos não controlando sua felicidade ao ver seu irmão concordar, enquanto Thalles passa a mão no local que seu namorado o bateu imaginando que esse encontro não será tarefa fácil.

— Bem, primeiro temos que convencer meu pai de que vou fazer uma festa surpresa para Tati na casa de uma amiga minha e pedir um valor consideravelmente alto para ele. Se ele tiver de bom humor ele dá o cartão, se não tiver vamos ter que estipular um valor... que sinceramente eu não faço a mínima ideia de quanto seria no total. – Alice fala como se estivesse pensando alto e para si mesma, mas se tudo der errado ela pode tirar dinheiro da caixa de emergência que fica no armário da sala e depois lidar com as consequências. – Depois temos que comprar os ingressos e o restaurante só funciona com reserva, então reservamos duas mesas, pois eu quero ficar em uma mesa sozinha com a Tati_

— Duas? Nós vai?! – Thalles exclama após todas as coisas que está ouvindo freneticamente sair da boca de sua prima como se tudo fosse fácil demais.

— Claro que vão. A sessão que iremos assistir é a das 20h00, não teria como fazermos nada sozinhas. E vocês serão nossos motoristas. – Alice responde como se fosse óbvio desde o início.

— Motorista!

— Cala boca, Thalles! – Olliver ordena irritado com todas as interrupções negativas do menor finalmente se afastando dele para ficar mais próximo de sua irmã ainda sentados no chão. – Continua.

E assim, Alice tagarelou o resto da tarde inteira sobre seu plano de "encontro inesquecível" com os meninos, enquanto Olliver transmite total animação para fazer o primeiro encontro de Alice e Tati ser realmente incrível Thalles não teve oportunidade nenhuma de se pronunciar ou negar participação no feito. Mas está feliz, pois Olliver pode perder tempo com outros objetivos além de se cuidar para a biópsia e se distrair seria uma boa coisa agora.

______________

Ollavo está saindo de sua sala para finalmente terminar seu dia de trabalho no Quartel quando a administradora Luisa para em sua frente o fazendo parar sua caminhada no meio do corredor.

— Senhor Major, a Patrícia ligou, disse que você não atende ao telefone. – Luisa diz simplesmente continuando sua caminhada para as salas posteriores a de Ollavo, mas antes que saísse do campo auditivo e visual do homem termina seu aviso. – Ela disse que é urgente.

Ollavo suspira e pega seu celular no bolso, tem o número gravado na memória, uns dos mais importantes por anos em sua vida. Ele continua sua caminhada até a saída do prédio sem muita preocupação, pois Patrícia intitula "urgente" coisas muitas vezes triviais.

"Alô?"

— Patrícia, é o Ollavo. – o homem se apresenta sem muita animação apesar de fazer meses que não fala com a mulher. – Meu celular antigo quebrou, estou com um novo número. Por favor, salve esse.

"Ah, imaginei... Está tudo bem com você, senhor major?"

Ollavo escuta o jeito que ela o está chamando e solta um sorriso de lado, enquanto sai pela porta principal em direção ao estacionamento.

— Estou bem, mas achei que você já tinha superado isso. – Ollavo diz procurando a chave do seu carro no bolso enquanto escuta a risada da mulher pela linha.

"Sabe, é muito bom te chamar assim." – pela tom de voz já se imagina o tamanho de seu sorriso e essa imaginação fez Ollavo sorrir também. – "Bem, eu estou atrás de você faz um tempo, pois precisamos marcar um dia para a gente resolver os últimos trâmites das isenções de pena do Thalles e do Olliver, apesar deles serem réu primário, fizeram muita merda de uma vez só... Além de nós termos que colocar a conversa em dia e você ainda me deve um almoço."

— Teve algum problema no processo? – Ollavo pergunta ficando apreensivo, tinha até esquecido desses assuntos pendentes sobre os meninos.

"Não fique preocupado, está tudo dando certo, apesar de estar me dando uma dor de cabeça enorme. Só preciso da confirmação de algumas coisas e sua assinatura, senhor responsável por dois marmanjos." – Patricia ri ao imaginar como Ollavo se mete nessas furadas por causa de uma ex que ele não se relaciona há anos. Comprometendo até sua credibilidade como Major, talvez seja por causa do cargo alto hierárquico que o faz atrair tanta confusão. – "Eles ainda estão com você?"

Ollavo escuta o tom de sarcasmo e franze a testa ao destrancar o carro, é claro que ele vai ser compreensivo com ela, pois a mesma não tem noção de como as coisas se complicaram depois que os meninos foram morar com ele. Só por isso engole a vontade de ser rude.

— Sim. – ele entra no carro e fecha a porta com força, quer encerrar a ligação para voltar para casa tranquilamente. – O assunto urgente era esse?

"Na verdade, eu lembrei de ligar por causa de outro assunto..." – Patrícia hesita, olha para os documentos antigos ao lado esquerdo na mesa de seu escritório pensando apropriadamente. – "Sua mãe ainda continua sendo a vilã desprezível de conto de fadas?"

Ollavo parou de girar a chave no contato quando ouve essa pergunta, meio duvidoso para onde essa ligação tomou rumo.

— Por que está perguntando isso?

"Sua mãe voltou a manter contato com a minha, Ollavo." – o tom de voz usado nesta frase foi firme como uma ordem.

Um silêncio se estabeleceu, o suspense crescente nesses pequenos segundos causa apreensão em ambos. Os dois sabem o porquê, as duas mais velhas juntas sempre fazem bagunças das quais não conseguem limpar sozinhas, se voltaram a se falar...

— A sua mãe não se aposentou ainda do cargo de desembargadora? – Ollavo pergunta com o tom de voz firme, apesar de falar baixo como se a resposta fosse um segredo.

"Ela nunca largaria o cargo facilmente, Ollavo. Ela morreria para mantê-lo."

Ele suspira alto como se tivesse que tirar algo muito pesado para fora.

— Então, faça dessa sua resposta a minha. – Ollavo responde a pergunta anterior de sua amiga apertando o volante. – Quando podemos nos ver?

Uma parte dentro dele se amaldiçoou por ter imaginando que essa ligação não era urgente e a outra parte que restou desejou de verdade que essa ligação fosse mais um assunto banal.

____________________

Quando Ollavo pisou seu pé em casa foi bombardeado pelas ideias falsas de Alice sobre a suposta festa surpresa de sua melhor amiga Tati. Olliver se juntou à sua irmã mostrando animação pelo assunto para tentar ganhar a confiança do Tirano para conseguirem patrocínio para a realização do encontro romântico. Mas o que nenhum deles esperava é que Ollavo prometeu que conversaria com Neide e os dois dariam o valor necessário, caso aceito, para realizar a festinha surpresa.

Era notável que Ollavo não estava de bom humor, mas havia algo entre seus gestos confusos e palavras jogadas com falta de atenção que fizeram Thalles achar que algo nesse comportamento estava beirando ao fora do normal. Analisando-o minuciosamente desde o momento de sua chegada, o homem tinha dado a volta na mesa de centro da sala só para no final sentar na ponta do sofá, ligou a TV e resolveu se levantar para por um caneco de água no fogo, para no final falar para Alice cozinhar arroz. Entretanto, foi no momento que Ollavo disse que iria ao banheiro e, na verdade, fora ao seu quarto se trancando lá que concluiu que havia algo atormentando a cabeça de seu tio.

Mesmo com esse comportamento estranho Thalles continuou como se não tivesse nada acontecendo, como os outros jovens nem haviam notado, achou que deveria deixar isso passar, até porque seu tio tem uma profissão da qual se excede às vezes a sua vida privada, e dessa vez poderia ser esse o caso.

E assim, se seguiu os próximos três dias antecedentes ao aniversário de Tati, após Neide aceitar de bom grado patrocinar parte da "festinha surpresa" para sua filha, os três patetas se sentiram realizando um tipo de missão impossível. Recrutaram Érico que se animou ao imaginar o tamanho da alegria de sua irmã ao ser presenteada dessa forma por Alice e seus amigos. Ele estava mais animado, pois poderia vestir sua irmã desajeitada de forma elegante para uma noite inesquecível fazendo questão de combinar com as vestimentas que Alice iria usar no encontro.

Tati por si só já havia imaginado pela movimentação estranha entre seu irmão e namorada que eles estavam aprontando algo para seu aniversário, porém dessa vez quis fingir que não estava vendo. Pois ela era muito boa em descobrir as coisas e Alice era péssima para esconder, se apenas se empenhar um pouco para descobrir do que se trata seu presente descobrirá muito fácil. Está torcendo para Alice ser cuidadosa desta vez, pois nos anos anteriores ela nem precisou de tanto para desfazer as surpresas de sua melhor amiga, sendo quase um ato acidental.

Mas Alice e Érico tem certeza que não dará errado essa surpresa, pois Tati nunca imaginaria algo desse tamanho para seu aniversário, sendo uma grande apreciadora de arte como seu irmão, ela não pensa que Alice iria a presentear exatamente com o que ela mais estima. Uma apresentação de ballet justamente dentro de umas das construções mais emblemáticas do Rio de Janeiro, o teatro municipal.

Chegado o grande dia, os quatro organizadores realmente sentiram como se o tempo tivesse voado contra eles. Thalles se sentiu feliz por ver Olliver cada vez mais alegre e disposto a fazer tarefas diárias começando a ignorar seu braço debilitado. Além das noites começarem a ficar cada vez mais tranquilas, não está mais ouvindo murmúrios de seus pesadelos durante a madrugada, o que é um alívio em meio a tantas guerras que já enfrentaram.

Neste momento, Olliver e Thalles estão estimando o tempo de chegada no teatro no Google maps e Alice ainda está se arrumando no quarto. A menina colocou seu presente dentro da caixa de veludo preto que está na mesa de centro da sala. Ollavo chega extremamente cansado, mas não esconde sua cara de espanto ao ver os dois meninos vestidos formalmente de preto como se fossem seguranças de alguma celebridade.

— Onde vão vestidos assim? – Ollavo pergunta jogando o molho de chaves na mesinha ao lado da caixinha do presente de Alice.

Os meninos o olham meio sem graça, pois foram pegos de surpresa. Ollavo chegou no horário habitual, o problema é que Alice está atrasada. Não era para o Tirano os encontrarem em casa, os dois iam projetar uma desculpa facilmente se Alice não tivesse saído tão animada tagarelando do quarto.

— Meninos, estamos atrasados! O Erico disse que a Tati não está entendendo porque tem que estar tão bem arrumada para me ver. Ela realmente não desconfia de nada _

Ollavo se surpreende mais do que sua filha que para de falar quando o encontra na sala. A menina está impecavelmente arrumada parecendo uma mini madame elegante com um vestido azul. E quando os três iam arrumar um bom argumento para tudo aquilo, o militar deu o maior sorriso que pode.

— Você está extremamente linda! – Ollavo elogiou sua filha orgulhoso por vê-la tão bem vestida e animada para festejar com sua amiga.

Os dois patetas soltaram o ar preso em seus pulmões, enquanto presenciavam a cena de Alice sorridente abraçando seu pai.

— Espero que a festa seja divertida. – Ollavo diz sorridente esquecendo até seu cansaço ao declarar isso e soltar sua filha só para vê-la mais uma vez tão lindamente arrumada.

— Eu espero que Tati realmente goste da surpresa. – Alice fala com um sorriso meio sem graça. – Meninos temos que ir agora se não quisermos nos atrasar mais.

A menina faz sinais desesperados para eles irem logo para o porta, os meninos se dirigem com presa para a porta atrás da menina até que...

— Esperem! – Ollavo os interrompem de saírem, indo até a mesinha de centro da sala e pegando o presente que Alice deixou. – Acho que isso é importante, certo?

Alice sorri sem graça ao ver seu presente ser estendido em sua frente por seu pai imaginando que está passando por um triz de ser descoberta.

— Ah, é! Como vou sem o presente dela né. – Alice pega o presente e se vira logo em seguida agradecendo a Deus por seu pai nem ter cogitado abrir a caixa.

Os três estavam prontos para saírem.

— As onze em casa, não se atrasem. Entendido? – Ollavo diz firme e com expressão séria.

— Certo! – os três disseram em uníssono e se adiantam em sair da casa fechando a porta apressadamente.

Ollavo se senta no sofá e sente o cheiro de perfume caro no ar, é claro que tinha algo errado na história dos três patetas sobre essa festa surpresa. Entretanto, sua cabeça andava tão perturbada que lidar com Alice e seus luxos era o menor de seus problemas agora. Se encosta no sofá e fecha seus olhos pensando no que de tão importante aconteceu para sua mãe voltar a falar com a desembargadora, as duas não eram amigas de fofocas, se não foi por algo ter acontecido sua mãe pode ter pedido um favor à mulher – o que torna as coisas piores ainda.

Patricia e Ollavo não teriam coragem de perguntar diretamente quais assuntos as mulheres estão tratando, mas pelo histórico dessa parceria, algo drástico em breve vai acontecer e o major odeia essas premonições que percorrem sua mente e afetam o sangue circulando em suas veias. Ele abre os olhos e levanta seu tronco dando de cara com seu armário trancado na sala. Já faz anos que não mexe em sua coleção, acha que essa noite é uma das quais será ótimo perder tempo relembrando suas manias já esquecidas.

Pega o molho de chaves deixado anteriormente em cima da mesa de centro, vai até o armário e o destranca olhando para sua coleção de discos, as garrafas de bebidas enfileiradas da mesma maneira da última vez e o caderno com a descrição de suas harmonizações favoritas entre comidas e drinks. Ele solta um sorriso divertido ao concluir que tem quatro horas para apreciar sua própria companhia.

_____________________

Érico está com sua irmã na frente do prédio esperando os meninos chegarem para buscar Tati para seu encontro surpresa. Apesar de ter sido difícil, o mais velho conseguiu convencer a menina a se arrumar elegantemente para a noite com Alice sem precisar falar o quê especificamente ela irá fazer.

Tati está vestida elegantemente com um vestido preto com detalhes azuis, ela realmente não gosta de vestidos, mas como Alice realmente gosta ela se esforça um pouco para agradar sua namorada. Ela não consegue esconder seu nervosismo em esperar tanto por esse presente, sabe que Alice é engenhosa, mas dessa vez parece que ela está levando as coisas a patamares maiores. Mas quando o carro chegou ela não esperava mesmo que seu irmão colocasse uma venda nela.

Tati fica apreensiva e insegura de estar sendo vendada, porém quando escuta a voz de Alice pedindo calmamente para ela confiar, pois isso faz parte da surpresa não teve como negar. Alice conduz sua namorada gentilmente até o carro e a acomoda no banco de trás já se despedindo de Erico que aplaude silenciosamente o êxito da menina nesse presente surpresa.

Durante todo o caminho Tati aperta a mão de Alice como se fosse seu único conforto, enquanto os meninos interagem exageradamente com a menina para a deixar tranquila não a deixando quieta por um segundo, arrancando até risadas dela. Alice por sua vez está animadíssima para tirar a venda de Tati e mostrar o grande presente que preparou para ela. Mas o coração genuíno da nossa sonhadora está mais feliz por ter pessoas ao seu lado que ajudaram com tanta dedicação e animação a realizar seus planos para a noite hoje.

Quando chegam ao local, Thalles para o carro na frente do teatro iluminado. Olliver fica perplexo com tamanho monumento histórico na sua frente, é bem mais bonito que nas fotos. Alice também se impressiona, mas desperta de seu deslumbre para ajudar sua namorada a sair do carro, pois a mesma ainda está vendada. A organizadora do encontro sai do carro, vai até a porta do passageiro e abre para a aniversariante sair segurando suas mãos.

— Está animada para ver seu presente? – Alice questiona olhando mais atentamente sua namorada que está muito bonita essa noite, enquanto a conduz até o meio exato da fachada do teatro.

— Alice, dessa vez, você realmente conseguiu me fazer ficar nervosa. Anda logo! – Tati confessa, pelo barulho das pessoas na rua, adivinha que a menina a trouxe em um lugar movimentado.

— Estou feliz que realmente você não desconfia o que eu preparei. Então deixa eu apreciar minha conquista. – Alice se vangloria passando seus braços pelo pescoço de Tati até sua nuca subindo até o laço da venda.

A mais velha sente arrepios severos em todo o seu corpo, estando de frente para sua namorada, pode sentir o nervosismo a afetar, mas além disso essa proximidade de Alice no meio de todos esses sentimentos de expectativa fazem o seu coração querer sair pela boca. Paralisada no seu lugar, apenas espera a causadora dos seus batimentos frenéticos puxar o laço da fita que tampa seus olhos.

— Feliz aniversário, Tati. – Alice pronunciou-se docemente bem próximo ao rosto de sua namorada, como havia imaginado em seus planos, se afastando para finalmente revelar seu presente.

Tati olha para o teatro à sua frente, uns dos lugares que mais desejou no último ano vir e olha surpresa para sua namorada que está perfeitamente arrumada nesta noite iluminada.

— Surpresa! – Alice diz gesticulando animada com as mãos.

Tati apenas fica em silêncio com seus olhos percorrendo o local, meio perplexa com o tamanho do que lhe fora dado. Ela realmente não faz a mínima ideia de que sentimento é esse que faz suas pernas bambearem e seu estômago esfriar, algo dentro dela quer urgentemente transbordar para fora. Alice realmente se esforçou ao máximo para dar exatamente o que ela queria e nem imaginava ganhar.

A organizadora da surpresa fica apreensiva com esses segundos de silêncio, até que vê os olhinhos de Tati ganharem um brilho que nunca tinha visto ao olhar para os seus novamente e vê o sorriso mais lindo do mundo ser dado por ela. Tati soltou duas risadas de felicidade genuína antes de abraçar Alice como se no mundo não houvesse ser humano capaz de a fazer soltar.

— Você é preciosa demais. – Tati confessa, sentindo que essa frase é a verdade mais genuína que já contou em sua vida inteira. – Eu te adoro.

Alice a abraça forte sentindo realização ao dar tamanha alegria a sua namorada. Algumas pessoas poderiam pensar que uma noite em uma apresentação no teatro não é grande coisa, mas para Tati é exatamente o que desejava e recebê-lo dessa forma tão especial é até mais do que um dia podia imaginar ganhar.

Thalles dá a chave do carro para a frentista vendo seu namorado admirar a cena protagonizada por sua irmã e recém cunhada na porta do teatro.

— A Alice está realmente de parabéns, não acha? – Thalles tira atenção do seu namorado da cena.

— Olha quem fala?! O insensível do contra. – Olliver revira os olhos andando em frente para alcançar as meninas.

— Em que momento eu fui do contra? Só fiquei preocupado com o trabalho que íamos ter. – Thalles adianta seus passos até seu namorado e o puxa devagar o fazendo parar. – Afinal, é um encontro para nós dois também.

E assim, Olliver sorriu como se Thalles tivesse dito algo realmente engraçado.

— Desde o momento que Alice sugeriu isso tudo, eu pensei que seria um encontro nosso. Conta outra, senhor anti romântico. – Olliver puxa a mão de Thalles e cruza seus dedos o fazendo dar um saltinho para frente, o que o faz rir.

— Ah é, preparou um presente para mim hoje também?! – o menor o olha desconfiado com um sorriso ladino, imaginando que Olliver não teve tempo para arrumar nada no meio dessa confusão de preparativos para a surpresa de Tati.

— Quem sabe!? – Olliver dá de ombros e segue o caminho até as meninas para finalmente entrarem no teatro, as duas meninas saltitantes de mãos dadas na frente e os dois "responsáveis" atrás.

________________________

Ollavo está em sua cozinha cortando pedaços de queijo, ao seu lado no balcão já estão todos os ingredientes disposto para o preparo do drink escolhido da noite. Com o caderno aberto em uma página gasta e amarelada dedilha as linhas indicando sua leitura de um texto manuscrito cujo ele mesmo escreveu, entretanto mesmo que se esforce não lembra em que momento decidiu anotá-la em meio às outras.

O militar quando mais novo tinha prazer de beber com o seu pai, o objetivo sempre era para comemoração ou para relaxar, nunca se exaltavam. Oscar o ensinou que a bebida bem degustada é aquela que não tira o homem dos seus devidos juízos, pois se chega a esse ponto ela se torna o pior dos venenos. Mas é claro que o tirano já havia provado o desgosto de uma ressaca e das consequências de umas doses a mais de bebida, ele ri ao recordar que só começara a escrever no caderno suas bebidas favoritas para lembrar o teor de álcool de cada uma e quais ele podia misturar na mesma noite.

Depois de um tempo, virou terapia visitar um bar qualquer e conversar sobre drinks, usando o critério de provar o que despertasse sua curiosidade e depois anotar o seu preparo. Como também virou hoppe caçar por discos dos artistas da época de seu pai e quando menos esperava ele começou a caçar os discos de sua juventude. Ele sorri satisfeito ao ver que sua coleção caminha desde Ray Charles, John Lennon, Bee Gees, Bon Jovi até Celine John e Michael Jackson, sendo complementada com alguns artistas e bandas que já nem lembra o nome. É notável que perdia muito tempo com seus prazeres próprios antes de Alice chegar ocupando todo o espaço vago de sua vida. Imagina que agora que sua filha está crescendo, talvez volte a fazer essas coisas minimas para paz pessoal.

Ele suspira alto quando termina o preparo de seus degustes, olha a garrafa de Gin e repensa se deveria trocar para um coquetel de Vodka. Nunca foi fã de coquetéis pois fica alegre muito rápido, porém não pode tirar a garrafa que ele realmente queria usar do armário. Whisky seria uma péssima ideia considerando o tempo que ele não bebe.

"Mas Gin só desce se for mistura doce." – pega a garrafa na mão e quando ia desistir dessa discussão interna sobre teor alcoólico de cada garrafa e pegar o Whisky para tomar, escuta barulhos em sua porta.

— Voltaram mais cedo. – murmura para si mesmo indo até a porta e a abrindo sem pensar muito, pois se o interfone não tocou significa que são os meninos.

Entretanto, se surpreende com o visitante. Erico sorri largo com uma caixa de pizza em mãos como se estivesse pronto para começar um happy hour com colegas de trabalho.

— Posso entrar? – Erico diz sem graça ao perceber o rosto estático do homem.

— Por que não avisou que vinha? – Ollavo fala quase em tom de briga, mesmo que não seja nem perto do seu objetivo, e dá as costas para o menino como se fosse casual demais ele estar ali. – E como você passou pelo porteiro sem ele me avisar?

Erico entra revirando os olhos, seus atos astutos não precisam ser do conhecimento do Tirano, ainda mais porque ele teve a sorte de alguém do andar de cima realmente ter pedido uma pizza, além do porteiro noturno ser um descuidado.

— Acho que você primeiro tem que me oferecer um lugar para sentar. – Érico fala em tom de ofensa. – É a primeira vez que eu venho na sua casa, Ollavo! Cadê a educação?!

Ollavo vira para o menino no meio da sala concluindo que sua paz pessoal já fora embora pela janela da varanda.

— Acabou no minuto que você veio para minha casa sem avisar. Visitas repentinas são tratadas assim.

Realmente parece uma briga, mas na verdade os dois sabem que nem vão chegar perto de uma.

— Então eu devia ter te escorraçado do meu quarto no hotel naquela noite. – Erico coloca a pizza na mesa de centro da sala só para cruzar os braços para o homem em performance ao diálogo que estão mantendo. – Você me acordou de madrugada para me pedir um favor. Porque o Senhor Educação em pessoa não podia esperar o dia seguinte. Isso sim é ser mais do que repentino!

Ollavo não teve que pensar muito para concluir que seria retrucado com recordações da viagem, mas o que o fez segurar a onda é lembrar que mais alguém errou.

— Perdão por isso, mas foi você que me chamou para entrar no quarto, ia ser muito rápido fazer o pedido. – Ollavo caminha até a cozinha passando pelo balcão e ficando atrás dele. – Ainda me ofereceu para ficar e conversar. Como foi que você disse mesmo: "Vem tomar chá gelado comigo, Ollavo."

Erico quase ri com o homem o imitando descaradamente, mas continua sua performance após respirar fundo. Dessa vez ele vai ganhar.

— É, porque eu sou um amigo legal e ainda te consolei. – Erico exalta um pouco a voz, quem estiver ouvindo isso realmente acharia que é uma discussão. – Sem falar nos conselhos que te dei. Parece até piada! O que você disse para mim mesmo?! Ah: "Muito obrigado por passar a madrugada consolando um velho que tem problemas com os filhos."

Ollavo abre a boca para continuar a retrucar o garoto, mas sem querer começa a rir desmontando toda a postura anterior. O menino tentando imitar a sua voz grave o atingiu em cheio.

— Você_

— Ganhei! – Érico fala caindo na gargalhada.

Neste momento dá para ver que desde do inicio não era uma briga. Os dois começaram a brincadeira de discutir aleatoriamente quando os assuntos por mensagens começaram a ficar genéricos, nunca tinham feito a "discussão" presencialmente e assumem que é divertido.

— Pela primeira vez. – Ollavo se gaba, pois por mensagem o menino nunca ganhou dele.

— Por mensagem você tem tempo de pensar nas respostas. – Erico sorri convicto.

É claro que o menino não veio simplesmente sem ser convidado, Ollavo já havia o chamado na semana passada para almoçarem todos juntos e trazer Tati, mas Erico realmente estava ocupado. Chamou também para a noite da pizza, porém ele tinha compromisso e quando ele finalmente teve tempo livre era Ollavo que não estava disponível.

Meu Militar

Quando tiver tempo e achar conveniente, simplesmente venha.

20h32

Foi essa mensagem tão bem escrita que fez Erico perder uma noite inteira de sono pensando o que realmente o homem quis dizer com "conveniente", além da euforia que sentiu durante toda a madrugada com a atitude descarada do militar ao deixar livre a sua visita. O que o fez concluir que podia fazer uma surpresa esta noite, mesmo sendo sua primeira vez, para visitar o militar já que os dois tem tempo livre e ele possui um motivo meramente conveniente para estar ali.

— Sério, por que não me avisou? – Ollavo pergunta indo à geladeira pegar mais frutas para fazer uma porção a mais do drink para sua visita.

— Porque queria te fazer uma surpresa e não quis esperar para te contar a novidade. – Erico confessa agora apertando uma mão na outra, pois está realmente feliz e ansioso.

Ollavo se vira para o menino para prestar mais atenção esperando que ele conte o que aconteceu de novo em sua vida e percebe pela postura do seu amigo que deve ser algo importante para o mesmo.

— Me chamaram para trabalhar na revista Bazaar, Ollavo. – Erico conta alegre e abre um sorriso enorme quando vê Ollavo abrir os lábios surpresos. – Vou finalmente trabalhar em uma equipe de direção de arte, mesmo que seja como estagiário.

Ollavo está realmente feliz pelo menino, nestas últimas semanas conversando com ele pode ver a frustração do mesmo com a demora ao encontrar um emprego e participou de sua euforia ao ser selecionado para entrevista na revista Bazaar. Sim, ele está orgulhoso, como se participasse assiduamente da vida de Erico a anos, mas ele nunca deixaria óbvio isso, porque ele tinha outro motivo para se alegrar.

— Então, você realmente vai pagar o celular! – Ollavo fala alto com a maior alegria só para ver Erico desmontar seu sorriso.

— É sério, seu palhaço! – Erico grita ao homem indo para mais perto do balcão onde o homem se encontra, se não fosse tão comum chamá-lo assim por mensagem não teria saído de forma tão natural. – Eu venho aqui querendo receber parabéns e você fica feliz pelo seu celular.

— Claro, o benefício do seu emprego para mim é a grana que eu não vou gastar com o celular. – Ollavo fala animado para o menino indignado e espantado na sua frente do outro lado do balcão. – Acho que temos um bom motivo para comemorar hoje.

Ollavo joga uma laranja para o menino que a pega com facilidade, vendo a felicidade do homem rindo abertamente para ele. "Não, ele não está feliz só por isso." Erico conclui após olhar atentamente o sorriso estampado no rosto do militar e pensa que o mais velho poderia ser um pouco mais gentil com ele. Também queria lembrar que a partir de hoje eles terão todo mês um encontro marcado, proposta feita pelo próprio militar... Porém...

— Vamos tirar um dia em cada mês para beber em comemoração nos próximos 10 meses das parcelas do telefone. – Ollavo diz casualmente fazendo Erico rir em como o homem faz questão de lembrar da dívida ao mesmo tempo que fica feliz, pois não precisou lembrar o homem do acordo que fizeram.

Mas o que nem passou pela sua cabeça é que o Tirano está transbordando alegria ao ver o menino realizar uns dos objetivos de vida, sendo tão gratificante quanto seria ver ele mesmo realizar um feito desses. Trabalhar na edição de uma revista mundialmente conhecida era um sonho para Érico e Ollavo está realmente feliz que foi o escolhido para comemorar a conquista.

__________________________

Sandra após o jantar se levanta da mesa com desânimo, já faz uns dias que caminha com desenterre sobre os assuntos que perseguem tanto a vida de sua mãe quanto a vida de sua amiga. Vai ao seu quarto antigo lembrando que em breve terá seu próprio espaço de volta, os inquilinos que estavam em sua casa saíram hoje de manhã. Suspira aliviada conferindo novamente como anda o transporte de suas coisas pelo aplicativo, a previsão de chegada é para amanhã cedo.

Ela realmente vai precisar de ajuda para colocar tudo em seu devido lugar e deveria chamar seu filho para entrarem juntos em sua antiga casa, porém tem noção que para Thalles aquele imovel causa um misto diferente de sentimentos. Thalles foi majoritariamente criado por ela, com o pai longe desde da primeira infância, fez ele reproduzir alguns de seus comportamentos que não se orgulha. Seu filho foi uma criança medrosa e acanhada, o que perdurou para juventude onde sofreu bullying calado e se agarrou a todo tipo de afeto que tinha, às vezes se tornando altamente dependente. Nessa época tomou a iniciativa de mandá-lo para casa de Anderson, o que não deu certo pois pai e filho não se entendiam. Talvez fosse nisso que errou tanto... Talvez foi isso que o fez ser tão rebelde... Talvez...

Quando se dá conta que está novamente pensando em seu filho e o que se passa na cabeça dele para estar tão confiante assim estando longe dela conclui que vai ser mais uma noite mal dormida. Os pensamentos em Thalles a fazem se jogar na cama exausta de estar passando por essa situação nunca prevista. Ollavo já lhe informou que seu filho voltou a ter seu telefone e que pode simplesmente ligar para ele... Pega o celular em mãos...

"Mas o que eu falaria primeiro?" – Pensa em como está sendo difícil assistir a relutância dos meninos para voltarem para suas vidas antigas.

Olliver quer ficar na responsabilidade de Ollavo (certo, é o pai dele) e Thalles quer ficar ao lado de Olliver (okay, eles sempre foram dois carrapatos), resultado estão indo muito bem sozinhos. Ela suspira jogando o celular na cama e conclui que queria seu Thalles de sete aninhos de volta, ele arrumava um escândalo para não se separar do outro menino, mas naquela época sua palavra prevalecia e sempre voltava com ele debaixo do seu braço para casa.

Ela tem noção que se não fosse o apoio inconsequente de Ollavo os dois já teriam de alguma forma desmanchado o relacionamento. Ela quer realmente seu filho de volta morando com ela e fazendo ela perder a paciência por causa dos atos terroristas que resolve fazer do nada com o seu primo... É! Com o seu primo!

— Como eu concerto isso? – ela murmura para si mesma não se levando a sério.

Seus pensamentos param quando escuta seu celular tocar e quando olha para a tela se surpreende com o nome na tela. Em um sobressalto se senta na cama e atende a ligação.

"Alô."

Essa voz, só o tom a irrita.

— Porque tá me ligando a essa hora Anderson?! – ela realmente está com disposição para brigar.

"Será que dá para pelo menos me atender como um ser humano normal?" – Anderson reclama do outro lado da linha.

— Você não é normal, me questiono até se você é um ser humano. Então é assim que vou te atender. – Sandra não tem paciência para lidar com o pai do seu filho, quando tá brigada com Thalles é aí que a situação piora. – Fala logo!

"ESQUECEU QUE É VOCÊ QUE TÁ PRECISANDO DA MINHA AJUDA?!" – grita do outro lado do telefone, ele pensou seriamente antes de ligar para sua ex mulher depois de tudo que ficou sabendo no casamento. Porém, ele tem uma mania incurável de toda vez que a mulher pede por socorro ele vai correndo ajudar. – É eu que te pergunto: O que você quer?!

— Ah, é mesmo... – Sandra lembra que mandou mensagem para o homem perguntando se o podia ligar, ela quase ri alto ao perceber que o homem foi tão eficiente ao ponto de ligar assim que viu a mensagem. – É sobre a casa, preciso que vá no cartório receber os documentos, sua advogada já falou com você, certo?! Concordamos que mesmo que arranjássemos outro casamento ou filhos, a casa da infância de Thalles permanecia com ele. Lembra?

"Hum, sim... Mas tá sendo generosa com o seu filho porque? Vocês não estão brigados?" – Anderson já tem noção de tudo que está acontecendo, ele anda mantendo um diálogo assíduo com Thalles esses dias, sabe que a mulher ainda não voltou a falar com ele.

— Deve ser porque ele é meu filho! E desde quando eu estar brigada com o Thalles muda nossos acordos, o seu filho vive para fazer besteira e me irritar, nem por isso deixo de ser mãe dele. Já você! – Sandra realmente não gosta de receber sermão de seus posicionamentos como mãe, mas vindo de Anderson é algo simplesmente inaceitável.

Anderson suspira alto, conclui que realmente mereceu essa.

"Tá bom, você tá com as pedras na mão, não posso fazer nada, né?!" – Anderson sabe que apesar de tudo não pode de maneira alguma corrigir Sandra, ele não tem esse direito depois de passar alguns anos mantendo contato superficial com o menino. – "Mas porque quer fazer isso agora?"

Ele tem que perguntar, não é como se ela tivesse arrumado alguém e nem ele pretende se casar, nenhum dos dois tem mais filhos além de Thalles para o assunto da casa voltar à tona. Porém para Sandra é diferente, tem algo no seu coração que a fez lembrar que seu filho tem que ter segurança no futuro. Estar tão perto de sua mãe e de seus posicionamentos odiosos a fez pensar que não quer que Thalles seja obrigado a abaixar a cabeça para alguém um dia. Apesar de querer absurdamente que ele abaixe a cabeça para ela, mas é apenas para mãe dele, certo?!

— Eu não vou continuar essa guerra para sempre com o Thalles. – Sandra assume que talvez esse é o melhor caminho. – E não se ache o super pai por ter apoiado essa união indo contra mim. Nós dois sabemos o quanto isso pode machucar ele.

"E é por isso que temos ficar do lado dele..." – Anderson sabe o que vai acontecer, já dá até para prever. – "Lembra que você sempre odiou a sua mãe por ela fazer você simplesmente obedecer ela sem motivo nenhum, só porque ela queria... Você tá fazendo a mesma coisa com ele... E nem percebeu..."

— Anderson nem tente me dar um sermão_

"Longe de mim te dar um sermão. Acho que eu tô tentando colocar juízo nessa sua cabeça... Deixa os dois namorarem, não vai mudar nada em nossas vidas. Thalles só vai se machucar se ele deixar e se você continuar do lado de quem só quer o mal dos outros!" – Anderson é sincero, sabe que Sandra não ficaria tanto tempo longe do filho se não for pela desgraçada da Dulce, ele realmente nutre ódio pela mulher. – "Você sabe que a única pessoa em potencial suficiente para machucar nosso filho é você mesma, né?!"

Sandra suspira mais uma vez tentando acalmar seus pensamentos, se Anderson falou isso dessa forma é porque...

— Ele tá bem, né? – Sandra pergunta inutilmente, sabe que qualquer resposta não vai a acalmar de verdade.

"Não, ele não está! Por incrível que parece, ele sente sua falta!" – Anderson fala revoltado, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e perde a paciência para continuar mantendo esse diálogo sem propósito com a mulher, pois ela é teimosa feito uma mula. – "Amanhã eu te ligo de novo e a gente resolve o que tem que resolver, aproveita e liga para o seu filho!"

Sandra escuta a linha muda, tira o telefone da orelha e olha para a tela perplexa, pela primeira vez Anderson teve a coragem de desligar na sua cara sem se despedir ainda por cima. Pensa que as coisas realmente se voltaram contra ela, o homem nunca fez isso antes. Ela realmente achou que Anderson só aceitou a relação de Thalles com Olliver pois queria uma trégua fácil com o seu filho e para ter um bom motivo para arrumar uma richa com ela. As motivações eram claras: Obter perdão e a infernizar. Mas nesta ligação percebeu que o homem está verdadeiramente do lado deles e quanto mais apoio tiverem mais confiantes serão. Ela não quer aceitar, mas dessa vez ela não vai simplesmente perder. Desta vez, ela pode perder Thalles.


Notas Finais


Voltamos!!!!!!!!

E é isso, sem muita explicação....

Queremos fingir que nunca abandonamos vocês, se é que é possivel fazer isso!

Que tal, a gente fingir que fomos comprar cigarro e voltamos pq esquecemos a carteira. rsrsrsrsrsrssrsrs

Brincadeiras a parte. Se tiver alguém ai ainda, por favor, sejam pacientes e calmos. PLEASE!!!!

A vida é uma confusão e nós três também, mas ainda estamos aqui e esperamos que ainda estejam ai...

Com muito carinho da Equipe Nerd

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