1. Spirit Fanfics >
  2. Bubble >
  3. Dentro do seu abraço

História Bubble - Dentro do seu abraço


Escrita por: Almaro

Capítulo 41 - Dentro do seu abraço


Como encantar o mundo e encenar o amor, se meu amor está sofrendo? Não quero que o mundo me ame, só necessito que “ele” me ame e terei o mundo que preciso... O único que quero encantar com meu amor, está longe, infeliz e pagando um preço alto por conta “desse encantamento”, mas por quê? Não quero mais patinar quanto mais competir... mas sei que o Yakov tem razão, que o Yurio tem razão e a Mila também, se deixar me levar pelos sentimentos ruins que sinto, a situação pode piorar e o Yuuri pode sofrer mais... mas quer saber a verdade?!  Foda-se a razão.

Barcelona, duas semanas depois que descobri sobre a foto e os vídeos que estavam na internet, minha vida não mudou quase nada, mas a de quem amo, não posso dizer a mesma coisa. Consegui tirar do ar às malditas imagens, mas como o meu técnico disse, o estrago estava feito e Yuuri estava colhendo os frutos podres dessa merda toda... e como sinto por isso. 

Quando liguei para ele e o Celestino me atendeu, meu mundo caiu, naquele instante não tinha real noção do mal que poderia ser se apaixonar por mim, se soubesse o teria afastado na primeira oportunidade. Só que o japonês, meu homem, teve sua vida revirada do avesso, seu passado veio à tona e as pessoas o distorceram, o dilaceraram e dissecaram. O abandono sofrido na infância virou motivo de acusação e de valores invertidos, a vida dentro do orfanato, virou explicação para suas atitudes e estilo de vida, ele foi taxado de tudo um pouco... gay, retardado, tarado, puto, coitado, aproveitador... o medo do escuro deixou de ser uma fobia sua e se transformou em chacota e piadas para os outros, seu QI acima da média era merecedor de ser estudado e analisado como se fosse igual a um bichinho de laboratório e sofresse de alguma síndrome que tivesse como explicar sua conduta, seu jeito, sua escolha... apertei o maxilar ao me lembrar das palavras do homem no telefone... “os pesadelos voltaram com tudo, Victor... ele tem medo de dormir e sonhar. O levei no psiquiatra e foi diagnosticado com transtorno de pesadelos ou ansiedade do sono, está tomando remédios para controlar e amenizar os sintomas... mas é um longo caminho a se percorrer”. 

Olhei com raiva para o jovem americano, causador de toda a injustiça que o moreno sofria, ele me encarava com um sorriso nada inocente no rosto. - Você é culpado de tudo isso!!! - Caminhei em sua direção, mas fui barrado pelo loiro que me agarrou pelo braço. 

- Não faça isso... sei que quer quebrar a cara desse pirralho e ele merece cada um dos seus socos, mas não pode fazer isso agora. 

- Eu não ligo... não me importo de ser banido do esporte. - Mila se juntou ao jovem patinador e fez coro. 

- Vic, me escuta... o ginásio está cheio de fãs seus, eles estão aqui para vê-lo ganhar e dar um show, mas no gelo... dentro do ringue de patinação em uma competição justa e não aqui no backstage ou no banheiro. 

De novo essa merda de razão!!! Porque tenho que pensar e agir conforme as regras impostas, se os outros fazem o que querem, destroem tudo e não ligam se parado lá do outro lado tem um ser humano com sentimentos que é feito de carne e osso, que pode sofrer e chorar? Não sou de ferro, nunca quis ser!!! Mas descobri nesses últimos dias que posso ser maior... por ele, que posso ser feroz... por ele, e quem sabe fazer o certo uma vez nessa vida. 

Passei dando um encontrão no ombro do outro patinador que é mais baixo que eu e vi o mesmo reclamar, me olhar torto, mas vi mais... vi aquele lampejo de ser superior, de quem poderia me derrotar. Fui para o vestiário calado e sem olhar para os lados, estava cansado de tudo e principalmente dos últimos dias. 

Minha aura estava negra e pesada, em virtude disso, percebia as pessoas simplesmente desviarem do meu caminho, me dando passagem. E quando adentrei o banheiro e vestiário, todas as conversas morreram, o silêncio dominou o lugar e um há um, os donos das palavras não ditas e dos olhares de pena e piedade, saíram. Fiquei sozinho... melhor assim ou talvez, nem tanto. 

Joguei minha mochila no banco e desabei com ela. - Se controla Victor... se controla... você não é disso e agora precisa ser forte... - Mas me sentia derrotado mesmo antes de calçar os patins. O fedelho americano conseguiu acabar comigo e nem precisou entrar no gelo para fazer isso, simplesmente atingiu onde doeria mais, acertou meu coração. 

Coração? Um tempo atrás, achei que não tivesse mais um, no sentido amoroso da palavra achei que estivesse morto e que era somente mais um órgão do meu corpo perfeito que me fazia andar, respirar e patinar. Um músculo pulsante que me fazia viver e reviver todo santo dia para enxergar a minha insignificância na vida de alguém... só que o japonês chegou de mansinho, fez morada no meu peito e é por ele que o meu coração bate agora. E foi por ele que vim para competir na grande final, Yakov me fez enxergar que abandonar a competição às vésperas da prova, não iria beneficiar ninguém e daria mais motivos para toda a falação envolvendo meu nome, Yuuri e o cretino do Christophe. 

Soltei o ar dos pulmões com tudo ao me lembrar do bastardo do suíço... na minha cabeça ele poderia ir para o inferno e morrer por lá, não ligava a mínima para todas as suas tentativas de se explicar, como não ligava para tudo que estava passando... - Ainda é pouco. - Queria vê-lo na sarjeta rastejando, mendigando de comida a afeto, tendo que aprender pela dor o que nunca enxergou com amor... - Tenho que me concentrar, isso não vai me levar a lugar nenhum... - Soquei a porta de um reservado precisando me achar novamente, precisava com urgência me reencontrar, me acalmar, mas... só queria sentar e chorar. 

Encostei as costas na porta e escorreguei até o chão, sorri por entre as lágrimas amargas que descia e não me importei de olhar na direção da porta e nem de secar meu rosto, quando escutei o barulho do ferrolho ser trancado. Continuei como estava, com a cabeça enterrada nas mãos e olhando para os meus próprios pés. Resumindo um fiapo de pessoa e o reflexo do que sentia por dentro. 

 

Yuuri e Otabek desceram do táxi na frente do ginásio onde aconteceriam as finais do Grand Prix. Ainda estavam com as malas, pois não deu tempo de passar no hotel antes, o voo atrasou para decolar e chegaram em cima da hora. A ideia inicial era um encontro no hotel dos atletas e longe da mídia, mas não deu certo  

De longe, avistaram o técnico Yavok andando de um lado para o outro em frente à uma entrada lateral. Parecia nervoso e até mesmo ansioso. 

- Você está preparado para isso K? Não vai ser fácil. - O cazaque se preocupava com o estado debilitado do amigo. Era fato que Yuuri havia emagrecido muito nas duas últimas semanas e sua fisionomia revela o quão abatido estava por dentro e por fora. 

- Estou Ota. Ele precisa de mim... - O japonês saiu andando em direção ao senhor russo com toda a pouca confiança que o fez subir no avião e se deslocar até a Espanha. 

Ele e o Victor, pouco tinham conversado sobre o ocorrido ou sobre qualquer outra coisa que fosse durante as duas semanas passadas, e isso foi por culpa do barman que depois da discussão com a moça dentro da Bubble e de tudo que leu nas redes sociais e internet sobre sua pessoa, entrou em colapso e se afastou de tudo, mas principalmente do patinador russo. Com o passar dos dias e com muito zelo, Celestino o fez enxergar suas atitudes, até um pouco, egoístas e individualistas em relação ao russo e foi por isso que entrou em contato com o técnico dele. Os dois mais velhos tentavam ser os alicerces de sustentação que eles precisavam e necessitavam. 

Conforme Yuuri se aproximava do senhor, seus passos se tornavam mais vacilantes e inconscientemente buscou apoio no cazaque que caminhava ao seu lado, seu melhor amigo. Vários repórteres que estavam do lado de fora, presenciaram o encontro deles e a partir desse ponto, Georgi, Yakov e Otabek formaram um escudo protetor que o japonês precisava e entraram sem maiores problemas. 

 

Entrei no vestiário e por orientação do velho técnico tranquei a porta por dentro para não ser incomodado. Precisava de alguns minutos a sós com o russo e não queria uma plateia indesejada ou espectadores intrometidos. 

Demorei mais que o normal para girar no meu eixo e ficar de frente para o restante do ambiente, estava procurando pela bravura das palavras para começar a falar e a coragem para encarar os olhos azuis do platinado, nunca considerei que seria tão difícil... 

O silêncio incomodava e me mantive calado quando virei e vi a cena do meu amor devastado e jogado no chão, ele estava chorando sozinho e não sentia ou percebia minha presença. Pela primeira vez senti medo por estar ali, medo que ele não quisesse me ver, que não quisesse me escutar, de me responsabilizar por tudo de errado que aconteceu... mordia o canto da boca, talvez não tenha sido uma boa ideia no fim...

- Yuuri?! - Sua voz chegou até mim em forma de sussurro e nossos olhos se conectaram. Ele se colocou de pé enquanto enxugava o rosto com o dorso da mão, parecia repetir o movimento de uma criança, enquanto eu não me movi um centímetro, estava paralisado. - Yuuri?! - Apenas confirmei com um pequeno aceno de cabeça. - O que... ??? Como você... ??? - Ele fechou os olhos e respirou fundo, imagino que tentava colocar seus pensamentos em ordem. - O que faz aqui?

- Vim ver você...

- Por que? - A pergunta escapou dos lábios do platinado. 

- Porque eu te amo, porque queria dizer que fiquei com medo, porque quero e preciso de você em minha vida, porque juntos podemos passar pela tormenta, porque quero seu perdão... pode escolher qualquer um, são todos verdadeiros. - Minha voz falhou em alguns pontos e já não conseguia ver o russo direto, ele era apenas um borrão através das minhas lágrimas não derramadas. Fechei meus olhos. 

Fiquei assim até sentir as pontas dos dedos gelados do platinado no meu rosto, eles tremiam levemente e pareciam tatear uma joia rara, minha face. Os dígitos deslizavam e faziam carinho por onde passavam e tracejaram meus lábios, na sequência, um beijo casto foi repousado, só um leve encostar de bocas. E o abracei com toda a minha força. - Me desculpe por ser fraco... - Finalmente confessei o que ruminei durante dias. 

Ele me apertou dentro dos seus braços e liberei meu pranto com a cara afundada no seu peito. Me encontrava no lugar certo, estava protegido, estava inteiro novamente e conseguia ver um futuro para nós no final do túnel. 

Victor se afastou o mínimo possível e puxou meu rosto para cima, secou algumas gotinhas que ainda escapavam dos meus olhos e sorriu. - Eu te amo... - Beijou minha boca mais uma vez. - Não preciso de outro porquê ou razão.


Notas Finais


* O transtorno de pesadelo, antigamente chamado de transtorno de ansiedade do sono, é um problema de origem psiquiátrica que surge quando os pesadelos tornam-se tão rotineiros, que influenciam negativamente a qualidade de vida do paciente.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...