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História Bubbline - A Vida Como Ela É - Capítulo 2 - Mudanças


Escrita por: TheBlanc

Notas do Autor


Lamento o atraso para o segundo capítulo, mas aqui está, feito de coração e fresquinho pra vocês :)
Eu não poderia estar mais feliz com o desempenho não só da história como os favoritos e comentários, isso tudo em um só capítulo me deixou estasiada e muito animada para escrever, obrigada por todo o suporte! Vocês são um máximo!

Capítulo 2 - Capítulo 2 - Mudanças


[ 5 Anos Depois ]

Bonniebel suspirou exausta, os dedos traçando pequenos círculos sobre as têmporas na esperança de aliviar um pouco sua dor de cabeça. As esferas azuis sonolentas vagaram lentamente até sua caneca a muito esquecida, o café frio lhe fazendo hesitar por um momento. Ela suspirou novamente e encolheu os ombros antes de levar o líquido aos lábios. Continuava sendo cafeína e Deus sabe quanto ela precisava disso agora para encarar mais cinco horas de estudo.

Bonniebel não tinha mais tanta certeza do horário desde que havia sentado ali, seu corpo estava rígido e o estômago em silêncio após ser ignorado várias vezes, mas devido à harmonia de grilos e corujas dedicando suas serenatas através das paredes e a falta de qualquer sinal de vida em seu celular a algum tempo, podia deduzir ser por volta da madrugada. Bom, tinha o fato também do sol estar nascendo por trás do vidro da janela.

A mandíbula da garota despencou, os olhos arregalados encarando incrédulos o astro rei surgindo por de trás dos prédios antes de voltarem-se desesperados ao relógio.

Eram seis da manhã.

Eram seis da manhã e ela não estava nem na metade do seu projeto de ciências para a apresentação de hoje. A garota gemeu e enterrou o rosto sobre as mãos, notando enfim como havia calculado extremamente errado o tempo. Não havia mais o que fazer, nunca terminaria todos os cálculos e testes em uma hora e, mesmo que tivesse alguma chance de conclusão faltando as primeiras aulas do dia a fim de tentar terminá-lo, Bonnie sabia que nunca realmente faria isso. Seu histórico perfeito de presença não valia a pena ser sacrificado, mesmo que isso significasse um zero em sua matéria preferida.

Bonniebel bufou e arrastou ruidosamente os pés da cadeira sobre o carpete, não podendo se importar menos com os protesto de seu corpo aos movimentos bruscos após várias horas sentada ou com seu estômago animado por finalmente tirar os olhos do caderno. Ela levantou e marchou em direção ao chuveiro por trás da porta ao lado, tão frustrada com sua falta de responsabilidade para com o projeto que sequer notou quando já estava pondo o uniforme em seu corpo úmido, avaliando sua pessoa em frente ao espelho.

A figura refletida a sua frente parecia tão irritada por fora como se sentia por dentro. Seus olhos estavam envoltos de manchas escuras devido a falta de sono e sua cor uma vez saudável aparentava quase um pálido doente, provavelmente por não sentir os raios solares em sua pele a tanto tempo. Bonnie suspirou e abriu o kit de maquiagem, ultimamente ela escondia tudo por baixo de uma máscara pintada em seu rosto.

Após terminar o último traço delineado entorno dos olhos, ela avaliou seu corpo sob as roupas da universidade. Desde que havia se apresentado como alfa, seu corpo crescera de forma quase surreal e a garota uma vez com a estatura abaixo da média, tinha agora bons 1,75. Nada anormal para uma mulher alfa na verdade, mas ainda não deixava de impressioná-la o que cinco anos de diferença podiam fazer com sua anatomia. Seu corpo havia desenvolvido curvas sutis e modestas, mas, novamente, nada fora do normal pra uma mulher alfa. O que tinha crescido mais em seu corpo não estava a amostra para avaliação de olhos curiosos de qualquer forma e apenas uma pessoa o via com frequência.

Bonniebel sorriu com carinho ao pensar no pequeno beta loiro. Era quase certo de que ele já estivesse sentado nos degraus do lado de fora de sua casa, apenas aguardando o som de sua voz para que caminhassem juntos para a universidade, como sempre faziam.

A garota suspirou e terminou habilmente suas dobras envolta da gravata azul antes de abotoar o paletó cinza por cima da camisa branca e afagar quaisquer rugas em suas calças escuras. Bonnie passou os dedos sobre as mechas rosa uma última vez antes acenar satisfeita para sua aparência e jogar a mochila marrom por cima dos ombros.

Porém, antes que pudesse fechar a porta do quarto, seus olhos a traíram e fitaram novamente a pilha de folhas escritas deixadas sobre a mesa de estudos e ela franziu o cenho em derrota para todos os livros de ciências que pegara emprestado na biblioteca. Tanto trabalho e noites em claro pra nada. Ela suspirou e largou hesitante a maçaneta dourada, caminhando em direção as dezenas de folhas e analisando todo o trabalho incompleto. Seu pai ia matá-la se entregasse um trabalho meia boca, mas provavelmente iria arrancar seu fígado e depois matá-la um pouco mais se não entregasse nada. Bonnie fez uma careta para suas opções.

Ambas ela terminava morta.

A garota gemeu em derrota antes de fazer um malabarismo com as pilhas de folhas e livros que quase ultrapassavam sua cabeça e desceu as escadas usando todas as suas habilidades de equilíbrio. Ou seja, nenhuma, e foi com isso que ela caiu bons cinco degraus numa mistura de membros e obras científicas, rosnando para a risada feminina que ouviu da cozinha. Sua mãe era o tipo de pessoa que quando via seu filho cair a primeira vez da bicicleta e ralar o joelho, rolava no chão de rir.

Seu pai era o tipo que pegava um desinfetante e a encorajava a tentar de novo.

A porta da frente de sua casa foi aberta e um garoto com o rosto coberto por preocupação e óculos escuros passou por ela, sua cabeça girando para todos os lados no meio de sua sala de estar. Um grande cachorro de pelos dourados entrou logo depois, a língua pendendo no canto da boca enquanto o rabo balançava incansavelmente.

- Bonnie?! – O garoto gritou um tanto aflito. – Você está bem? – Ele perguntou para uma poltrona.

- Estou a sua direita, Finn. – Ela bufou enquanto levantava, ignorando as risadas de fundo e empilhando novamente os livros e folhas nos braços, logo depois arrastando o loiro desorientado para fora da casa junto de si e depositando um pequeno beijo em sua bochecha. – Estou bem, não se preocupe.

- Porra, você me assustou. Meu corpo parece ter um sensor para quando você está em perigo, sabe? Preciso te proteger. – Ele sorriu de lado e ela não pode evitar sorrir carinhosamente junto, o garoto era quase uma cabeça e meia mais baixa que ela e sequer enxergava, mas ainda tinha a confiança de um alfa atleta repleto de testosterona num final de jogo.

Bonnie se ajoelhou e equilibrou os livros na coxa para poder passar os dedos sobre o pelo dourado do cachorro obediente a sua frente, a coleira vermelha que comprara tinha ficado muito bem nele, ela notou. O animal lambeu sua mão e sentou-se nas patas traseiras, mais do que contente com a atenção que recebia.

- Bom dia, Jake. – A garota riu para o golden retriever antes de levantar-se e caminhar ao lado do loiro, este que deixou o cão passar a frente para guiá-lo, o sorriso nunca saindo de seu rosto.

Finn Mertens era muitas coisas na vida de Bonniebel. Seu vizinho, seu melhor amigo, seu namorado. Era um rapaz loiro e baixo, olhos azuis puros e ingênuos que, apesar de a muitos anos terem perdido sua função, não deixavam de transmitir toda a bondade que ele carregava sempre consigo. Ele cursava Direito na mesma faculdade em que ela cursava Ciências, ele sempre sonhando acordado em como ajudar pessoas e fazer a verdadeira justiça. Bonnie tinha um pouco de inveja da sua força de vontade e positivismo sobre a vida, mas era o que fazia do garoto tão especial, ela acreditava.

Finn era um beta, o que equivalia a mais da metade da população, e apesar de todo o esforço que ele exercia para tentar ajudá-la em seus cios, ambos sabiam que nunca funcionava realmente como queriam; no fim do primeiro dia o pobre rapaz já estava dolorido e exausto demais e Bonnie entendia, apesar de ser sempre o inferno na terra quando ele dava aquele sorriso triste e saía pela porta de seu quarto, extremamente cansado para ajudá-la com qualquer coisa mais. E era ai que ela passava o resto do cio com seus brinquedos de plástico ou masturbações alucinantes que só a faziam se sentir mais frustrada e raivosa no fim do dia. Afinal, alfas e betas não eram para estar sexualmente juntos, mas com a falta de ômegas tornou-se uma opção bastante comum e, se tantas pessoas conseguiam fazer funcionar, eles também conseguiriam.

Bonnie e Finn haviam feito amizade desde o Ensino Médio, onde antes o garoto tinha só seu cachorro como companhia e vivia sentado sozinho nos intervalos, ela a nerd que sempre fora, não estava muito longe disso. Olhos perdidos e dedos acariciando Jake era sempre a imagem que ela via quando passava pelo garoto nos corredores do colégio, sempre ele e seu golden retriever, sozinhos. Até que um dia Bonniebel decidiu cumprimentá-lo e viraram melhores amigos desde então, ambos haviam suas dores e mágoas do passado e sentiram-se o pilar de sustento um do outro, onde podiam derramar suas lágrimas e frustrações, pois eles se entendiam e  sentiam elas como ninguém jamais pôde.

 Mais tarde Finn veio a confessar sua paixão por Bonniebel, o que quase estragou a amizade deles por ela não corresponder seus sentimentos. Por quase 4 meses eles passaram a se evitar devido o clima estranho, sendo Finn o primeiro a desculpar-se e prometer sufocar seus sentimentos pelo bem do que eles tinham. Bonnie se viu culpada pelas lágrimas desesperadas do garoto e aceitou um encontro como primeira tentativa, desde então estavam quase dois anos romanticamente juntos e ela estava bem com isso, tinha um afeto enorme pelo garoto e ele nunca pareceu tão feliz em sua vida depois que ela disse sim ao pedido de namoro.

- Preciso passar na biblioteca antes das aulas começarem, tenho pelo menos treze livros para devolver. – Ela suspirou.

- Alerta nerd! Aposto que seu trabalho está incrível como sempre. – Finn disse calmamente, as mãos segurando firme a coleira-guia, os ombros relaxados em plena confiança nos movimentos de Jake.

- Eu não consegui terminar.

Finn a olhou surpreso, quase travando seus passos com a notícia incomum.

- Você não terminou um trabalho de ciências? Quem é você e o que fez com minha namorada?

Bonnie riu e bateu seu ombro no dele, logo franzindo o cenho para a pilha de livros que tremeu em aviso pelo movimento brusco.

- Isso tudo é culpa sua, você sabe.

- O que? Como isso pode ser culpa minha? – A voz do garoto saiu incrédula, o bico se formando a fez rir baixinho.

- Hm, se me lembro bem, foi um garoto pequeno e loiro que me inscreveu para representante do corpo discente me deixando lotada de responsabilidades.

- E se me lembro bem... – Ele cutucou seu ombro em julgamento, fazendo-a mirá-lo divertida por baixo dos longos cílios. – Você me agradeceu muito aquele dia. – Ele se aproximou e sussurrou roucamente em seu ouvido. – De todas as formas.

Às vezes ela esquecia como aquele pequeno garoto podia ser um pervertido de repente.

- Ta mais pra você ter ficado de todas as formas. – Bonnie não conseguiu segurar o riso quando o pobre beta ficou vermelho da cabeça aos pés.

- Um dia eu vou ficar realmente bravo com você, e então vamos ver quem manda na cama.

Bonnie realmente tentou ficar séria sobre a afirmação quase convincente. Quase. Por pouco seus joelhos não cederam com a falta de ar quando ela explodiu em gargalhadas, mesmo quando sentiu Finn desferir um tapa em seu braço, o cenho franzido deixando claro que ele queria ser levado a sério.

- Querido, eu nunca nem precisei pedir para você estar por baixo, é simplesmente o que você gosta e prefere. – Bonnie sorriu divertida, seus olhos deixando de fitar a entrada do instituto para voltar-se ao garoto pimenta e depositar um beijo em sua testa. – E eu simplesmente amo quando você está de quatro pra mim. – Ela sussurrou em seu ouvido antes de afastar-se dele e se direcionar a biblioteca, ouvindo ele resmungar algo como “malditos alfas” ou coisa assim.

A universidade de Ooo era a mais prestigiada de todo o país, acolhendo os melhores universitários de todos os cantos em um só lugar. Era uma instituição exclusiva para alfas, apesar de abrir algumas exceções para poucos betas, aqueles que poderiam ser considerados verdadeiros gênios. Bonniebel ainda se lembrava de como ficou atônita com o próprio convite da orgulhosa escola superior solicitando sua inscrição e oferecendo uma bolsa de 100%. Ela sabia que tinha um dedo de seu pai nisso, talvez uma recomendação, mas Bonnie não esperava realmente ser aceita, ser solicitada, a estudar lá. Eles recebiam recomendações todo o tempo afinal e grande parte das vezes provava não ser suficiente para acolher os pobres estudantes que tinham seus sonhos esmagados. Finn conseguiu entrar dois anos depois, quando suas esperanças estavam quase sumindo em conseguir uma vaga no renomado centro de sabedoria. A única vez que ela viu o loiro mais feliz do que aquele dia foi quando ela aceitou seu pedido de namoro.

Bonnie caminhou lentamente pelas estruturas exageradas do campos. Aquele lugar era realmente impressionante em todos os sentidos da palavra. Seus olhos ergueram-se para as enormes torres envolta, eram construções divididas por cursos, com intuito de deixar os ensinamentos mais práticos e organizados. A Torre A, representada por uma lontra orgulhosa sentada em um trono perolado, a coroa, manto e cetro deixavam claro sua nobreza, ali se lecionava a maioria dos cursos mais conhecidos e voltados para exatas – onde Bonniebel estudava - enquanto a Torre B, com a maior parte dos estudos de humanas, era representada por uma sereia brilhante e majestosa, águas selvagens bordadas no fundo davam a impressão de saltar para fora do emblema a qualquer momento - e se ela focasse um pouco mais a visão, poderia enxergar Finn e Jake atravessando suas portas naquele exato momento - . Havia também a Torre C, sua grande bandeira bordada com uma pantera negra feroz e louros tão dourados quanto os olhos do felino, esta voltada para os estudantes de artes e seu conceitos.

A garota voltou os olhos para a entrada de vidro, a sua frente estava o local onde mais costumava ficar quando queria paz e conhecimento. A biblioteca era um lugar que Bonnie poderia facilmente passar o dia inteiro, havia tantos livros diferentes e raros que mesmo a mulher dona de tudo isso a vinte e oito anos, gastando o seu tempo por completo em um sofá velho lendo toda semana uma obra diferente, disse uma vez não conseguir terminar sequer uma estante de tudo que tinha lá.

Betty, a bibliotecária, era uma mulher um tanto solitária, não tinha habilidades sociais para interagir com outros professores ou mesmo alunos, e sua noção sobre a realidade era certamente duvidosa, ela não parecia ter muita consciência das coisas que falava ou pensava, Bonnie suspeitava que era por isso que a mulher preferia a companhia de livros empoeirados e vivia grande parte do dia, se não toda, naquele assento em tons pastéis próximo ao canto, onde um pequeno e tímido filete do raio de sol encostava-se sob o tecido desbotado. A mulher não tentava ser gentil ou receptiva e, em pouco tempo, Bonnie notou como era fácil confundi-la com a mobília.

Ambos pareciam fazer apenas parte do cenário.

A garota entrou silenciosamente, as mãos quase em um movimento rotineiro e automático puxaram do bolso traseiro seu cartão de estudante da universidade. Em poucos segundos a máquina lhe mostrou o histórico de livros emprestados e as datas devidas para devolvê-los. Ela passou o código de cada livro sobre o leitor e deixou-os no balcão de devoluções quando descansou a última obra no topo da pilha.

Olhos azuis varreram cuidadosamente o local pouco movimentado e Bonnie decidiu que poderia pegar alguns livros novos emprestados para o próximo trabalho de Química, faltava pouco mais de dez minutos para a primeira lição, ela tinha algum tempo desde que não se perdesse nas questões literárias.

Seus pés, de forma inconsciente, a guiaram através das estantes e divisões, a mente da garota mais do que familiarizada com o caminho para a sessão de interesse através da vasta biblioteca.  Ela suspirou audivelmente, mesmo após um ano e meio, ainda arrepiava pequenos pelos em seus braços toda vez que via os milhares de livros sobre ciências exatas, tecnológicas, humanas, aeronáuticas e todo tipo de coisa que faria uma nerd saltar de emoção em sua própria pele.

 A ponta dos dedos traçaram delicadamente as capas duras, sua mente rapidamente analisando e catalogando quaisquer obras de interesse em frente aos seus olhos, descartando ou adiando a maioria dos que seu indicador gentilmente tocava. Bonnie franziu o cenho para um livro que nunca havia notado em qualquer uma de suas inúmeras visitas aquela sessão. Ciências Musicais. Era mesmo possível juntar ensinamentos tão distintos como o título dava a entender? Mas então, ela conhecia muito bem a lei de Coulomb. Os opostos se atraem. E de repente as mãos de Bonniebel coçaram de curiosidade sobre o pequeno livro quase escondido atrás dos outros mais chamativos. Não seja tímido. Ela sorriu, seus dedos agarrando o pequenino ao mesmo tempo que outra força o puxava para o lado oposto, as peles se encostando no encontro inesperado.

Bonnie assustou-se por um momento e largou o livro, este que foi teimosamente arrastado para a posição contrária a dela na prateleira, olhos azuis fitando mãos anormalmente mais pálidas que as suas levarem a obra embora.

O toque foi tão gelado.

A alfa inclinou-se sobre o pequeno buraco que o livro antes ocupara, tentando fitar qualquer um que pudesse estar por perto e tenha disputado com ela uma obra tão... subestimada, talvez. Mas não havia ninguém e ela franziu o cenho, sua pele por alguma razão ainda formigava ao toque gélido de um estranho. Bonnie sacudiu a cabeça e fitou o grande relógio de parede próximo ao caixa. Ela suspirou ao perceber que, novamente, havia calculado errado o tempo que lhe restava e estava atrasada.

 

(...)

 

- Bonnie, você está dormindo de novo. – Uma voz risonha sussurrou em seu ouvido.

A garota de cabelos rosados apertou fortemente os olhos e enterrou mais o rosto entre os braços, ignorando a mão que sacudia levemente seu ombro.

- Vamos, Bonnie, você me fez prometer não deixá-la dormir no meio da aula.

- Esqueça a maldita promessa. – Murmurou, a voz embargada pelo sono.

A quietude prolongou-se e Bonniebel suspirou contente, deixando sua mente voar e desprender-se da realidade outra vez. Isso se não fosse pela mão cutucando-a novamente a fazendo gemer aborrecida. Honestamente, ela ia bater em Íris.

- Você precisa acordar, essa matéria é importante.

- Nada que eu já não saiba, Íris, me deixe dormir.

Ela ouviu o suspiro em derrota de sua amiga e comemorou internamente, permitindo que seus músculos tensos finalmente relaxassem. Era um silêncio reconfortante, lápis se arrastando sutilmente pelas folhas dos alunos, o leve zumbido de fundo causado pelo ar condicionado, alguns pássaros felizes assobiando ao lado de fora. O calor do sol que atravessava os finos vidros da janela ao lado acariciavam tão gentilmente sua pele que a universitária podia sentir-se sorrir em meio ao sono que timidamente se aproximava. Ela só precisava dessa paz para descans-

- Senhorita Miller, minha aula está sendo tediosa para você?

Bonniebel rapidamente abriu os olhos e ergueu a cabeça para a voz grossa e muito familiar ao seu lado. O professor a encarava friamente através dos óculos e ela sentiu-se engolir uma bola de ansiedade pela garganta, rapidamente ajeitando a postura e voltando os olhos para seu caderno vergonhosamente em branco.

- Acha que é superior demais aos seus colegas a ponto de não precisar estar devidamente disposta aos meus ensinamentos? – O homem perguntou, a voz limpa e clara sob seus ouvidos fez com que vários pares de olhos pousassem sobre a garota que se encolhia na cadeira.

- N-não senhor. – Ela quase sussurrou, erguendo cautelosamente os olhos para os castanhos mais sábios e experientes acima. – Eu apenas fiquei muitas hor-

- Eu não tenho nenhuma curiosidade sobre a vida de meus alunos fora destas paredes, senhorita Miller. – O beta a interrompeu prontamente, dando as costas para a garota e caminhando lentamente em direção ao grande quadro branco, as mãos para trás e os passos firmes sob seus sapatos sociais.

A aparência perfeita do homem envolto do terno negro e músculos acentuados por baixo dos ombros largos o faziam parecer ainda mais intimidante. Olhos castanhos frios a mirando agora de longe para qualquer reação questionadora no corpo de Bonniebel a fez congelar em seu assento e prender a respiração.

- Quero a senhorita bem acordada e disposta em minhas palestras, entendido? – Ela sabia que não era realmente uma pergunta.

- Sim, senhor Miller. – Bonniebel afirmou rapidamente, a ponta dos dedos tornando-se brancas ao apertar ansiosamente as laterais da cadeira.

- Bom. – Ele respondeu com um último aviso direcionado a ela antes de permiti-la desviar o olhar.

E foi o que ela fez, logo depois pegando uma caneta nas mãos trêmulas e copiando rapidamente a matéria e anotações do caderno de Íris. A garota coreana a olhou um tanto preocupada enquanto empurrava o dever para mais perto da rosada. Ela não disse nada e Bonnie agradeceu por isso, ambas assistiram silenciosamente o resto da aula.

- Favor deixarem seus projetos solicitados na semana passada em cima da minha mesa antes de saírem. Não se esqueçam de estudar os conceitos de espécie para a próxima aula, estarei fazendo perguntas que certamente afetarão suas notas futuras dependendo das respostas. – O professor respondeu categoricamente antes de sentar-se na cadeira, cruzando os braços e pernas, inspecionando a pequena pilha de folhas que os alunos colocavam a sua mesa antes de se dirigirem a grande porta dourada.

Bonnie engoliu em seco ao deixar seu projeto incompleto na mesa de seu pai, o homem mirando-a silenciosamente com olhos calculistas por baixo dos óculos antes de descerem aos papéis organizados dentro de uma pequena pasta cinza. Céus, ele a mataria quando percebesse quanta coisa foi deixada de lado, inclusive a conclusão de sua pesquisa.

Ela suspirou e caminhou em direção a garota de cabelos coloridos que a esperava com um leve sorriso no corredor movimentado.

- Eu tenho certeza que ele vai entender, não se preocupe.

- Não, ele não vai. – A alfa respondeu desanimada, observando por cima dos ombros seu professor franzir o cenho para os papéis dela enquanto os folheava. Felizmente ela sabia que o homem guardaria para si qualquer comentário até que chegassem em casa. – Talvez até me impeça de ver Finn por algum tempo.

A coreana riu baixinho antes de ambas caminharem lentamente pelos corredores.

- Seu pai ama aquele garoto, eu duvido que faça qualquer coisa a fim de prejudicar a relação de vocês.

- Eu espero que você esteja certa, mas eu não vejo como ele possa me prejudicar de outra forma. Passar meu tempo com Finn é a única coisa que faço além de estudar, e ele nunca tentaria me impedir de estudar. – Ela revirou os olhos.

- Seu trabalho não deve estar tão ruim assim, e mesmo que esteja, você é tão inteligente que pode facilmente passar em Ciências Biológicas com um zero ou dois.

Íris estava certa, como sempre. Mas um zero no seu histórico estudantil não seria bem visto pelo conselho ou qualquer profissional que estivesse interessado em contratá-la. Além de que uma nota vermelha em seu boletim significava a expulsão imediata como representante do corpo discente da universidade, o que significa perder todo o bônus e benefícios que a posição lhe proporcionava perante os outros apenas porque não soube administrar devidamente seus horários e deveres uma vez. Bonniebel não era uma pessoa religiosa, mas nesse momento rezava para qualquer deus salvar sua cadeira no conselho.

- Está ouvindo isso? - A garota coreana perguntou, seus passos lentamente parando.

Mas Bonnie estava muito ocupada encarando preocupadamente sua braçadeira de representante estudantil, tentando imaginar como seria não tê-la mais envolta do braço direito depois de passar por tanta coisa para conquistá-la. Até que de repente ela ouviu, um tanto distante, o coro de alunos gritando animadamente palavras que ela nunca esperaria ouvir em uma instituição tão prestigiada.

BRIGA! BRIGA! BRIGA!

Os olhos da rosada se abriram em descrença, as mãos afundando no rosto antes de gemer em aborrecimento. Só pode ser brincadeira. 

- Porra, tem como esse dia ficar pior?! – Ela reclamou, pegando o pulso da alfa mais alta e correndo em direção as vozes dos vários estudantes que gritavam, assobiavam e batiam palmas mais a frente.

- Mas nós temos aula agora! – íris resmungou um tanto hesitante, mesmo que seus pés ainda seguissem a mais baixa pelos corredores.

- É meu dever como representante do corpo discente impedir qualquer inflação das regras. – Bonniebel gritou por cima dos ombros, a respiração ofegante conforme sua velocidade aumentava. – Você é minha melhor amiga, então pare de reclamar e me ajude a colocar uns malditos valentões em seu devido lugar!

Íris gemeu em desânimo e deixou-se ser puxada pelo resto do caminho. Parece que sua vida ficou muito mais difícil depois de conhecer Bonniebel Miller. Pensou com um leve sorriso.

Bonnie cruzou o saguão às pressas, a boca se abrindo em surpresa com a quantidade de estudantes aglomerados num pequeno círculo ao centro. Íris murmurou algo ao seu lado com o mesmo espanto, mas a gritaria era tão alta que a rosada não conseguia sequer ouvir seus próprios pensamentos. Isso tinha que acabar agora.

A representante espremeu-se entre os universitários afoitos, empurrando corpos e abrindo espaço com seus braços e força. Alguns lhe enviavam carrancas ao senti-la afastando-os, logo se calando quando viam o conhecido rosto da garota do conselho. Claro que nenhum deles era estúpido o suficiente para comprar briga com alguém que tinha o poder de influenciar e muito sua expulsão da melhor universidade do país.

Bonnie suspirou em alívio ao passar pela grande onda de corpos e estar finalmente a frente do problema principal, as mãos apoiaram-se nos joelhos por um momento para recuperar o fôlego e a alfa aproveitou para inspecionar a situação e escolher a melhor abordagem. Esferas azuis miraram primeiro o chão a sua frente em espanto, respingos e gotas de sangue estavam pelo piso branco, deixando-a imediatamente tensa e fazendo o estômago de Bonnie revirar ao erguer um pouco mais a visão para as duas figuras responsáveis por tudo aquilo.

Seus olhos pousaram primeiramente no veterano alfa da universidade, reconhecendo-o rapidamente como Josh Russo. Ele cursava Medicina – o que era um tanto irônico já que estava machucando uma pessoa – e em geral era apenas um idiota egocêntrico. Ela não ficou nada surpresa ao vê-lo metido nesse tipo de problema, na verdade, se tivesse parado pra pensar em quem poderia estar envolvido antes de chegar ali, Russo com certeza seria um de seus primeiros palpites.

O homem em questão rosnou para a outra figura, limpando o sangue no nariz com o braço e avançando rapidamente, o punho ensanguentado erguido, mirando claramente seu rosto. O outro indivíduo de repente abaixou no último momento antes que os ossos se colidissem como era esperado, as juntas de Josh encontrando a parede de forma tão bruta que Bonnie ofegou em choque ao ver a mão do homem ser triturada contra o concreto e, se todos não tivessem gritado em excitação naquele exato momento, ela tinha certeza ser possível ouvir o som doentio de ossos quebrando um por um.

Russo gritou de dor, lágrimas formando-se rapidamente em seu rosto desesperado, as costas dele apoiadas na parede agora suja de sangue enquanto berrava em angústia. Mas isso não parou a outra pessoa e Bonnie viu, letárgica, quando o vulto de longos cabelos negros depositou um forte soco no maxilar do homem encolhido, o impacto causando a inconsciência quase imediata do alfa no mesmo instante em que seu corpo caía mole contra o chão pintado em vermelho.

O sangue de Bonniebel congelou em suas veias quando os azuis encontraram os inconfundíveis negros. A outra garota não pareceu sequer reconhecê-la em meio a sua fúria, sentando nos quadris do homem e desferindo soco após soco no queixo do alfa desmaiado, rosnados e respirações rápidas vindas dela foram a única coisa que os ouvidos de Bonniebel poderiam captar naquele momento, o resto dos gritos parecia estar submerso em uma água fria no mais fundo oceano, inundando sua mente enquanto os olhos incrédulos estavam fixos na figura pálida a sua frente.

Marceline.

 

 

 

 

 

 

  

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    

 


Notas Finais


Bom, é isso, eu gostei bastante do rumo que as coisas estão indo e acho que consegui desenvolver bem isso respeitando os sentimentos e personalidade dos personagens. Por favor, não esqueçam de favoritar e comentar, é o que me anima a continuar :)


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