História But I Always Will Remember - Season 2 - Capítulo 55 - Apaixonada.

Capítulo 55 – Apaixonada.

 

_Eu finalmente tive as ideias certas para os desenhos do festival – Helena falou.

Estávamos em um dos elevadores do hospital, toda vez que eu entrava naqueles elevadores eu não me sentia muito bem. Eles eram de metal, mas eram foscos e sempre me pareciam frios. Eu ficava imaginando como as crianças em tratamento se sentiam ali dentro.

_Ótimo – respondi – Como você decidiu?

_Eu tinha chegado da faculdade, e tudo o que eu queria era deitar um pouco. Joguei minha bolsa perto da porta, me joguei no tapete da sala e liguei a televisão. Não demorou nem cinco minutos e as ideias surgiram na minha cabeça.

_Ah, muito bem Helena Mortary, a senhorita seguiu o meu conselho – falei e abri um sorriso convencido – Eu não disse?

_É, você tinha razão – ela sorriu.

_Mas então, o que vai ser?

_O Harry e o Zayn.

_Sério? – minha voz saiu alta e ao mesmo tempo que as portas se abriram, mas ainda não era nosso andar.

Entrou um homem com um pesado sobretudo marrom e um chapéu preto. Parecia bem sério, uma daquelas pessoas de poucas palavras, apesar de ter um olhar simpático. Nos cumprimentou com um aceno de cabeça antes de apertar o número de seu andar no painel do elevador.

_Sério – Helena deu continuidade ao assunto.

_Estou louca para ver os desenhos prontos.

_Ah, não fique – ela soltou uma risadinha nervosa – O rosto do Zayn é perfeito para fotos e desenhos e, justamente por ser perfeito é muito difícil de fazer. Um errinho mínimo e já estraga tudo.

_Mas não vai dar nada errado, os dois vão ficar perfeitos igual todos os outros.

_Com licença? – os olhos simpáticos do homem revesavam entre nós duas – Desculpe, eu não pude deixar de ouvir a conversa... Você desenha?

_Eu... São só rabiscos – Helena disse envergonhada.

_Na verdade, são maravilhosos! – entrei na conversa sem ser chamada.

_São, é? – ele pareceu interessado.

_Não é isso tudo, ela que é exagerada – ela beliscou sutilmente meu pulso.

_É isso tudo sim, ela que é modesta – insisti – Os desenhos dela são incríveis, eu juro, o senhor dificilmente vai achar uma artista como ela.

_E por acaso você tem como me mostrar algum desses incríveis desenhos agora?

_Ahn, infelizmente eu apaguei as fotos do meu celular ontem. Helena?

_Meu celular descarregou – ela disse parecendo aliviada pelo fim da possibilidade de um estranho analisar seus desenhos.

_É uma pena – o homem disse.

_Eu sinto muito não poder te mostrar nada agora, mas eu te dou minha palavra de que os desenhos dela são impressionantes. São alguns dos melhores que eu já vi – eu disse. Por algum motivo eu queria muito convencer aquele homem de que ela era ótima em desenho.

_Bom, pelo visto você tem muita certeza do que está falando – ele sorriu para mim e depois olhou para a Helena – E confiando na certeza da sua amiga, eu quero que fique com isso – ele enfiou a mão no bolso interno de seu casaco e tirou de lá um cartão que entregou para ela – Esse é o endereço da minha galeria, se algum dia se sentir confiante em mostrar seus desenhos, me ligue. Se forem realmente bons como ouvi dizer, terei prazer em providenciar uma pequena exposição para você.

_Ela vai te ligar, eu garanto – me entrometi de novo.

_Eu confio em você – ele riu para mim.

As portas se abriram e, novamente, com um aceno de cabeça ele se despediu enquanto saía do elevador. Ficamos em silêncio observando ele andar pelo corredor enquanto as portas se fechavam.

_Você, ficou, louca? – Helena perguntou pausadamente e muito séria.

_Não, você é que ficou louca se acha que eu vou deixar você não aproveitar uma chance dessa – senti meu celular vibrar no bolso de trás da calça.

_Você não imagina o quanto eu quero te dar um murro!

_Aham, tá... Olha só, fica brava o quanto quiser, mais cedo ou mais tarde você vai ligar para esse homem sim – falei antes de encarar a tela do meu celular – Ah, mensagem do Niall. Hoje até que ele demorou.

_Deixa eu adivinhar, ele está te chamando para almoçar – ela falou no exato momento em que o elevador parava em nosso andar.

_Não, hoje não... – respondi seguindo ela para fora sem realmente olhar para onde eu estava pisando. Estava concentrada em responder a mensagem – Ele vai trabalhar o dia todo, sem hora para voltar. Por isso, eu vou passar o dia aqui também, é ruim ficar o dia todo em casa sem ele.

_E os outros?

_Todos trabalhando – suspirei e guardei o celular de volta no bolso – Eles vão ficar bastante ocupados assim até começar a turnê. Não vejo a hora de começarem as aulas da faculdade, assim eu finalmente vou ter também o que fazer.

_Você conseguiu se inscrever na faculdade e nem me contou? – ela pareceu surpresa e fingidamente ofendida.

_Eu não me inscrevi. Niall conseguiu transferir minha bolsa – sorri.

_Como? Eu achei que isso fosse impossível – ela franziu a testa.

_Eu também, mas ele usou algum superpoder dele e conseguiu. Eu nem questionei ele sobre isso porque ele tem feito tanto por mim... Niall é a melhor pessoa que eu tenho na minha vida.

_Eu imagino – ela sorriu para mim – E como foi na premiere? Você ainda não me contou.

_Foi maravilhoso! Você não vai acreditar no quanto o Godfrey e o Jamie estavam lindos! Eu conheci a Lilly, ela é muito simpática e o filme é muito bom, claro que algumas partes ficaram horríveis comparadas ao livro, mas no geral ficou bom – falei me iluminando só de lembrar.

_Os filmes nunca se comparam com o livro – ela balançou a cabeça de um lado para o outro – E o Jamie, ele não estava lindo, ele é lindo! – nós rimos – Vocês conversaram?

_Claro! Em que mundo você vive para achar que eu não aproveitaria todas as chances de falar com o Jamie?

_É claro que você falou – ela rolou os olhos e riu – Tem alguma coisa que eu deva saber?

_Nós vamos sair para jantar.

_Quando? – ela parou de andar no mesmo segundo. E não foi só porque já tínhamos chegado na porta da sala de quimioterapia infantil – O Niall já sabe disso?

_Não sei quando, ele vai me ligar. E o que o Niall tem a ver com isso?

_Olha, se você quer sair com o Jamie, tudo bem, ele parece ser um cara bem legal, mas... Não fica com ele.

_Helena, o que deu em você? Por que você está falando isso?

_Eu sei que você tem uma queda por ele, ok? Nem tente negar. Mas eu não acho que seja uma boa ideia ficar com ele, falo sério.

_Por que? – eu não estava entendendo nada.

_Não vai ser legal, confia em mim – ela falava sério – Você tem que me prometer.

_Helena...

_Por favor. Promete.

 

[…]

 

Depois de me ocupar ao máximo, saí do hospital quando o sol já estava se pondo no horizonte. Na calçada, meu celular começou a vibrar no bolso de trás do meu jeans.

_Oi Niall – sorri ao atender a ligação.

_Oi, onde você está?

_Na rua, indo para o metrô. Acabei de sair do hospital.

_Muito trabalho hoje? – eu ouvia vozes de outras pessoas ao fundo.

_Eu tentei me manter bastante ocupada.

_Cuidado para não se sobrecarregar – ele falou naquele tom preocupado típico dele – Eu preciso te falar uma coisa.

_Pode falar – eu tinha chegado na entrada da estação e fiquei parada na calçada. O sinal do celular nem sempre era bom lá em baixo, preferi não arriscar e terminar a conversa antes de descer.

_Eu não vou para casa jantar com você hoje. Preciso ficar aqui e terminar logo essas músicas para poder focar nos preparativos da nova turnê.

Ele estava trabalhando com o Tom Fletcher e o Danny Jones, do McFly. Eles estavam ajudando Niall a pegar as partes de músicas que ele tinha escrito e transformá-las em algo que pudesse ser usado no novo cd da banda.

_Ah... ok – fiquei meio chateada.

_Você sabe que eu odeio te deixar sozinha, mas eu juro que é importante e vai ser só dessa vez.

_Tudo bem Niall, eu sei. Não tem problema.

_Não fica chateada, por favor – ele pediu em uma voz suave.

_Não estou chateada, eu entendo.

Mas eu estavas sim um pouco chateada, e começando a me sentir culpada por isso. Me mantive ocupada o dia todo para não ver a hora passar, para o dia acabar logo, para eu poder ir para casa e passar um tempo com o Niall. E aquele era o trabalho dele, o que ele mais ama na vida, eu não deveria ficar chateada. Não tinha esse direito. Porém, eu queria mesmo passar um tempo como ele.

_Você vai ficar bem? – eu ainda ouvia a preocupação em sua voz.

_Vou Niall, fica tranquilo – soltei uma pequena risada.

_Não ria de mim – ele fingiu estar indignado – Me liga quando chegar em casa, ok?

_Ok – suspirei – Diz para o Tom e o Danny que eu mandei um beijo.

_Mando. Bom, a gente se fala então.

_Niall – falei rápido antes dele desligar.

_Oi?

_Vou sentir sua falta.

_Eu já estou sentindo a sua.

 

[…]

 

Cheguei em casa, tudo escuro e silencioso. Incontestavelmente aquela casa ganhava vida quando Niall estava lá, e quando não estava tudo parecia vazio e triste. Provavelmente eu morreria de tédio um dia se não fosse o Stark fazendo bagunça toda vez que eu abria a porta de casa. Peguei ele do chão e enquanto ele se remexia e latia feliz nos meus braços, joguei minha bolsa no sofá e liguei para o Niall como ele tinha me pedido. Fui até a cozinha, abri a geladeira e fiquei encarando o que tinha dentro por algum tempo. De repente a minha fome tinha sumido. Tomei banho, coloquei um pijama e deitei na sala para assistir televisão. Com sorte eu ainda estaria acordada quando Niall chegasse.

Depois de quatro episódios de uma série de comédia e muitas mensagens no Whatsapp, eu estava cochilando levemente e acordei com o celular vibrando sobre a minha barriga.

_Fala Niall – atendi automaticamente sem olhar quem estava me ligando.

Eu tinha certeza absoluta de que seria o Niall ligando para dizer que iria demorar mais um pouco. Na verdade eu até já estava esperando ele ligar.

_Não é o Niall – uma voz divertida soou do outro lado da linha.

Olhei a tela do celular e me sentei rápido depois de ver quem era.

_Jamie! Oi! Desculpa, eu pensei que fosse o Niall – disse, em uma mistura de vergonha e animação.

_Percebi – ele riu baixo – Eu quero te fazer um convite, espero que não seja muito tarde.

_Nunca é tarde para me convidar para qualquer coisa – sorri.

_Hm, bom saber. É que realmente está bem em cima da hora. Daqui há duas horas eu e minha banda vamos tocar no pub de um amigo, nada muito especial. Seria legal se você fosse, nós podemos jantar depois.

Levei alguns segundos para pensar sobre aquilo. Niall não gostaria nem um pouco de saber que eu saí com o Jamie e eu não queria que ele ficasse chateado por minha causa, mas por outro lado eu estava sozinha em casa e sem nada para fazer. Ele não poderia me culpar por querer me divertir um pouco... Ou poderia?

_Eu adoraria Jamie.

Passei meu o endereço da casa e fui me arrumar. Eu teria que ser rápida, Jamie não morava muito longe da casa do Niall mas morava longe do tal pub. Então nós teríamos que sair logo senão chegaríamos atrasados. Assim que abri o meu guarda roupa tive meu minuto de pânico. Não sabia o que vestir. Olhei todos os vestidos, nenhum parecia o certo para aquele dia. Era melhor pegar uma calça jeans, porque jeans nunca falha. E salto. Salto e jeans. Depois uma t-shirt e um casaquinho para completar. Mais meia hora pra eu terminar de me arrumar, e voltei para a sala. Lembrei que era melhor avisar o Niall.

 

Niall's POV

 

Por mais que eu ame o meu trabalho, tudo o que eu queria naquele momento era que aquele longo dia acabasse logo e eu pudesse ir para casa. Tínhamos feito uma pausa, Tom tinha pedido pizza e todos nós, eu, Tom, Giovanna, Buzz e o Danny, sentamos no chão da sala para comer.

_Só mais essas duas músicas e nós acabamos por hoje – Tom falou.

_Eu acho que elas estão boas, mas ainda falta alguma coisa – Danny comentou antes de dar uma mordida na sua fatia.

_Um pouco de emoção talvez? – perguntei me preparando para dar uma mordida na minha pizza, quando meu celular tocou.

Era a Gabi. Estranhei. Ela raramente me ligava quando eu estava trabalhando, ela sempre achava que poderia me atrapalhar e só ligava se fosse algo muito importante ou urgente.

_Aconteceu alguma coisa? – atendi.

_Sim, mas calma – ela riu – Não é nada ruim.

_O que foi então?

_Eu vou sair para jantar.

_Ótimo, Liam ou Harry?

_Jamie.

_Oi? – se eu tivesse com comida na boca, teria engasgado. Queria saber em que mundo exatamente isso não é “nada ruim”.

_Jamie – ela riu – Lembra?

_É claro – revirei os olhos. Infelizmente, eu me lembrava – Mas como assim você vai sair com ele?

_Bom, ele me ligou me chamando para ver a banda dele tocar no pub de um amigo e depois vamos comer. Eu estava te esperando para jantar, mas já que você não vem...

_Sim, mas eu não vou não é porque não quero, eu estou trabalhando!

_Eu sei Niall, calma. Eu não estou fazendo chantagem, nem reclamando. Eu só... Só achei que você não queria que eu ficasse sozinha.

_E eu não quero, mas...

_Então, ele me convidou e eu aceitei. O que tem de mal nisso?

_O que tem de... O que tem de mal? – aumentei um pouco o tom de voz e percebi que todos tinham parado de comer e me observavam. Só então me dei conta de que eu ainda estava na casa do Tom – Você mal conhece ele!

_Ele é amigo do Harry, Niall! Não é só porque você tem ciúme dele que ele é uma má pessoa.

_Eu não tenho ciúme dele – bufei.

_Sim, você tem – ela riu – Preciso desligar, o Jamie chegou.

_Gabriela, por favor... Me ouve, só dessa vez!

_Niall, eu vou ficar bem, ok? Se divirta no trabalho, e só volte para casa quando tiver uma música incrível pronta!

Ela riu antes de desligar.

_Merda! Mas que inferno! – eu queria jogar o celular na parede.

_O que ela fez agora? – a Giovanna pergunto.

Todo mundo ali estava a par da situação toda.

_Não é exatamente ela, é.. ele. Jamie. Vai sair com ela para jantar – falei irritado.

_Uh, isso não é bom – Tom comentou.

_Bom, acho que agora já temos emoção o suficiente para terminar aquelas músicas – Danny disse.

 

Gabriela's POV

 

Saí de casa com o estômago na garganta. A ideia de sair a sós com o Jamie me deixava nervosa e animada ao mesmo tempo. Eu admirava muito ele, como pessoa e profissionalmente também, e não podia evitar ter uma (enorme) queda por ele. Como não ter?

Ele estava me esperando casualmente encostado no carro, com os braços cruzados e aquele sorriso que me desconcerta toda.

_Boa noite – falei chegando perto.

Ele abriu a porta do carro e fez sinal para que eu entrasse.

_Ótima noite – ele piscou e sorriu antes de fechar a minha porta.

Eu sentia meu nervosismo se espalhando pelo meu corpo e só rezava para que tudo desse certo. O carro dele estava impregnado com o cheiro do perfume do Jamie, era muito bom mas o do Niall ainda era melhor.

_Seu namorado te liberou numa boa? – ele perguntou depois de sair com o carro.

_Eu não tenho namorado – falei e ele riu.

_É brincadeira – ele me olhou de canto de olho – O que você tem feito desde a ultima vez que nós nos vimos?

_O mesmo que eu fazia antes. E você me deve uma visita ao hospital.

_Eu vou cumprir, pode deixar.

_Que bom, porque eu já investiguei e achei duas fãs suas.

_Ei, eu vou tá? Eu cumpro minhas promessas.

_ Acho bom mesmo – disse sorrindo.

_“Acho bom mesmo” – ele repetiu – Mandona você né? Cuidado viu, senão eu acabo apaixonando.

Eu ri. Não porque achei engraçado. Mas porque foi só o que consegui fazer.

Certo tempo depois chegamos no tal pub, que não era tão diferente dos pubs onde o Niall me levava. A diferença é que eu sentia um certo ar de amizade no lugar. Mais tarde eu percebi que era porque todos que estavam lá naquela noite eram amigos.

_Eu preciso passar o som e tal, você pode se sentar em qualquer lugar enquanto isso – ele me deu um beijo no pescoço – Volto mais tarde.

Enquanto eu me arrepiava ele saiu em direção ao pequeno palco no fundo do pub. Eu precisava mesmo procurar um lugar para sentar antes que eu caísse dura no chão. Andei pelo espaço considerando minhas opções e achei um canto onde a mesa ficava escondida atrás de um pilar de madeira. Eu ficaria fora de vista mas sem deixar de enxergar o palco, era perfeito. Assim que me sentei, peguei meu celular e mandei mensagem para minhas amigas no nosso grupo do Whatsapp.

“Socorro, alguém me ajuda. Jamie me chamou pra sair, to morrendo”

Não demorei muito para receber respostas.

“Quem?” - era a Bia.

“O Jamie, Jamie? Aquele Jamie?” - Marien perguntou.

“Eu só conheço um Jamie, vocês sabem” - falei.

“Aff, de quem vocês estão falando?” - a Bia, sempre perdida.

“Do Jamie Campbell Bower, caralho” - falei.

“O do filme, lerda”- Marien complementou. “e ai, o que você falou?”

“Eu já saí, to aqui na verdade. Ele vai cantar, vim assistir”

“Você não vai ficar com ele né?” - Bia quis saber.

“Não sei” - respondi.

“Puta que pariu ein Gabriela, ninguém gosta tanto de loiros que cantam igual você gosta” - Marien mandou, e eu tive que rir.

“Ou vai ver eles que gostam de mim. Mas espera, o Jamie é o único loiro que canta que eu gosto”

“Deixa o Niall saber disso” - Bia disse.

“Ah, claro, o Niall... É, eu gosto mesmo de loiros que cantam”

“Mas você gosta mais do Niall do que do Jamie né? Né? Né?” - eu quase podia ouvir a voz da Marien quando li aquilo.

“Ahn... Não sei. É diferente, não dá para comparar os dois” - falei.

“Não enrola, gosta ou não gosta?” - Marien rebateu.

Mas eu não pude responder porque ouvi a voz do Jamie soar pelo lugar. Ele estava no palco, falando no microfone. Aparentemente estava tudo pronto e ele começou a cantar. Gostei da primeira música e não prestei atenção na segunda. Entrei no modo observadora. Todos ali pareciam íntimos uns dos outros, todos felizes rindo ou cantando com suas cervejas na mão, e o Jamie sentado em um banquinho no pequeno palco, seus olhos brilhavam e ele estava com calças rasgadas no joelho que são tão a cara dele. Estava tudo muito agradável e apesar de estar cercada de estranhos eu não estava me sentindo deslocada. Mas tinha uma coisa. Eu não conseguia parar de pensar que o Jamie não é tão bom cantor, sem sombra de dúvidas Niall era melhor do que ele. E graças a Deus Jamie é um ótimo ator e modelo, porque se ele dependesse da música para viver... Não sei se daria tão certo. Não foi um show muito comprido, uma hora depois ele já estava sentado na minha frente pedindo que trouxessem um pouco de batata fritas, uma garrafa de cerveja e um copo de suco.

Nós começamos a conversar, primeiro sobre a cantoria dele e depois passamos a falar sobre coisas das nossas vidas.

_Você vai ficar aqui em Londres até quando? – ele perguntou.

_Pelo resto da vida, eu espero – respondi sendo sincera.

_É claro, você não aguentaria morar longe de mim – ele sorriu.

_Nem me vem com essa, está mais do que na cara que você é que não conseguiria ficar longe de mim – brinquei.

_Talvez seja verdade – ele soltou uma risada rouca que me deu um frio na barriga.

_Nossa, mas você é muito conquistador barato mesmo – falei e ele riu alto.

_Pode até ser, mas funciona para mim – ele disse convencido

_Ah meu querido, não dessa vez – debrucei por cima da mesa a fim de chegar bem perto dele e sussurrei – Não sei se você sabe, mas caçadores de sombras não se envolvem com mundanos, me desculpa.

_Eu não acredito – ele riu alto e depois resolveu entrar na brincadeira – Então você é caçadora?

Acenei com a cabeça, sorrindo.

_Certo, e onde estão suas runas?

_Elas estão aqui, mas você não pode ver – rebati.

_Ou você me mostra alguma, ou eu não vou acreditar – ele cruzou os braços.

_Certo, mas é só uma olhadinha rápida – fiz sinal para ele se debruçar sobre a mesa – É melhor você chegar mais perto.

_Oh, isso com certeza vai ser melhor do que eu pensei – ele sussurrou quando me viu mexer no botão da minha calça.

Abri o botão, desci o zíper e abaixei um pouco a calça para mostrar a runa do poder angelical que eu tinha tatuado há poucos dias no osso do quadril.

_Pronto, satisfeito mundano? – perguntei, cinco segundos depois, subindo a calça e fechando o zíper.

_Caramba, você tem mesmo uma runa! – ele disse surpreso.

_Eu te disse que sou uma caçadora de sombras – dei de ombros.

_Você tem mais alguma tatuagem?

_Mais duas. Mas eu teria que abaixar a calça de novo e subir minha blusa.

_Isso sim seria interessante – ele falou.

_E as suas? Sei que você tem um monte – desconversei.

_Se sabe tanto, deve saber que eu teria que tirar por completo a calça e a minha blusa.

_Eu sei – falei.

_“Se queria que eu tirasse minhas roupas era só pedir” – ele falou sorrindo de um jeito único e direto.

_Não use as falas do Jace comigo, é covardia! – eu ri – Além do mais, você não pode ficar sem roupas aqui.

_Mas nada me impede de te levar para outro lugar.

 

[…]

 

Eu cheguei em casa bem tarde. Eu tinha certeza que Niall já tinha chegado e embora o quarto dele fosse bem longe da sala, abri a porta com o maior cuidado para não fazer barulho. Se eu acordasse o Niall, ele faria um interrogatório. Se eu acordasse o Stark, ele começaria a latir e acordaria o Niall também. Mas, para a minha total surpresa, assim que abri a porta ouvi uma musica vindo de algum lugar. Niall estava na sala com muito praticamente nada de iluminação e com um dos seus violões cantando uma música meio depressiva.

 

Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo
Só sente falta do sol quando começa a nevar
Só sabe que a ama quando a deixa ir
Só sabe que estava bem quando se sente mal
Só odeia a estrada quando sente saudade de casa
Só sabe que a ama quando a deixa ir
E você a deixou ir

Olhando para o fundo do seu copo
Esperando que um dia você faça um sonho durar
Porque sonhos chegam devagar e se vão muito rápido
Você a vê quando fecha seus olhos
Talvez um dia você entenda o porquê
De que tudo o que você toca seguramente, morre

Mas, você só precisa da luz quando está escurecendo
Só sente falta do sol quando começa a nevar
Só sabe que a ama quando a deixa ir
Só sabe que estava bem quando se sente mal
Só odeia a estrada quando sente saudade de casa
Só sabe que a ama quando a deixa ir

Olhando para o teto no escuro
O mesmo velho sentimento de vazio em seu coração
Porque o amor vem devagar e se vai muito rápido
Bem, você a vê quando adormece
Mas para nunca tocar e nunca manter
Porque você a amava muito
E você mergulhou fundo demais

Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo
Só sente falta do sol quando começa a nevar
Só sabe que a ama quando a deixa ir
Só sabe que estava bem quando se sente mal
Só odeia a estrada quando sente saudade de casa
Só sabe que a ama quando a deixa ir
E você a deixou ir

Oh, oh, oh, oh
E você a deixou ir
Oh, oh, oh, oh
Bem, você a deixou ir

 

_Meus Deus Niall, que dor de cotovelo é essa? – interrompi a musica dele e ele se assustou – Tudo isso é só porque eu saí?

_Agora você vê o que acontece quando você me deixa sozinho – ele disse colocando o violão de lado.

_Tadinho – eu ri e abracei ele forte.

Ele me abraçou forte também e eu não precisava de mais nada na vida. Eu poderia morrer daquele jeito, nos braços dele, e morreria feliz.

_Sem interrogatório? – perguntei sem me mover.

_Prefiro não saber – ele disse.

_Ok – sorri – Fez o que eu te pedi?

_Sim, duas musicas incríveis prontas.

_Ah, que ótimo... Você é tão dedicado – beijei o rosto dele sem sair de seu abraço – É uma das coisas que eu mais amo sobre você.

_Você o que? – ele perguntou baixinho.

_Te odeio, surdo – brinquei.

_Eu também te amo – ele me apertou mais um pouco.

_Mas sério... – eu falei depois de um tempo de silêncio – Você deveria mesmo ter perguntado como foi meu jantar, porque foi incrível!

_Ah, cala a boca, vai... – ele resmungou me soltando e eu ri.

 

Quando eu me deitei na minha cama, por mais que eu estivesse completamente cansada, quase esgotada, eu ainda demorei para dormir. Primeiro eu comecei a repassar meu dia, depois repassar minha vida e entrei no campo dos sentimentos. Comecei a avaliar tudo o que eu vinha sentindo ultimamente e me negava a dar atenção. Foi um longo caminho até eu aceitar o que estava acontecendo. Só que não dava mais. Eu poderia me esconder de qualquer pessoa, menos de mim mesma. Eu estava apaixonada, e eu não tinha mais como negar. Aquilo estava alí, na cara e eu não conseguia mais mentir para mim mesma. Mas isso me deixava apavorada, porque eu não sabia o que fazer. Eu não sabia se eu deveria guardar para sempre, se eu deveria contar, se eu deveria arriscar, se eu deveria insistir.

Eu estava irrevogavelmente apaixonada e perdida.