História But I Always Will Remember - Season 2 - Capítulo 62 - Broken Hearts

Capitulo 62 – Broken Hearts.

Eu tinha acabado de desligar o celular quando meu táxi estacionou na frente da casa do Niall. Estava falando com a Helena, avisando que eu estava indo ficar com ela. O dia já estava claro, passava um pouco das sete da manhã. Eu preferia pegar o metrô, mas seria impossível com todas aquelas malas e um cachorro. Tive um pouco de dificuldade em convencer o motorista a deixar o Stark entrar no carro, ele já estava bem crescido, mas no fim das contas ofereci um pouco mais de dinheiro a ele e problema resolvido.

Durante o caminho tentei não pensar no que eu tinha feito e o que eu teria que fazer dali pra frente. Seria uma grande mudança. Mais uma das muitas grandes mudanças que vinham acontecendo na minha vida.

Helena morava na residência estudantil da faculdade em que ela estudava. Ela estava me esperando na calçada. Abri a porta do carro e Stark desceu correndo.

_O que ele está fazendo aqui? – foi a primeira pergunta dela, e depois ficou espantada ao ver o motorista tirando as malas – Espera... O que... O que é tudo isso?

_Eu te explico, mas não aqui.

Coitada, ela não fazia idéia de onde estava se metendo quando me ofereceu seu dormitório. Paguei o taxista e ela me ajudou a subir com as coisas. Foram seis belos lances de escada. Quando finalmente chegamos, meus músculos da perna estavam ardendo.

_Você deu sorte – ela falou enquanto abria a porta – Minha colega de quarto se formou semana passada.

Entrei arrastando minhas coisas com os pés e assim que Stark passou por mim, eu fechei a porta. Era um quarto simples, paredes brancas e carpete marrom claro. Uma janela grande no meio da parede de fundo, duas camas, uma em cada parede e dois guarda roupas de duas portas, uma escrivaninha em baixo da janela com alguns livros e um pote de lápis e uma porta no canto, que deveria ser um banheiro. Tinham luzes na parede sobre a cama, que obviamente era ocupada pela Helena, e alguns desenhos na parede ao lado.

_Legal – comentei me sentando na cama dela.

_Obrigada – ela se sentou ao meu lado – E então, pode começar a falar.

_Certo, mas antes eu preciso saber – respirei fundo antes de perguntar – Você sabia do meu acidente? Sabia que eu tinha perdido a memória?

Ela ficou quieta, primeiro me encarando e depois olhando para o colchão.

_Sim ou não? – insisti.

_Sabia – ela disse por fim, parecendo constrangida.

_Ótimo. Então todo mundo mesmo sabe. Desde quando você sabe?

_Bem, desde quando aconteceu. Quero dizer, foi noticiado em todos os lugares – ela torcia as mãos – Eu nunca falei nada porque achei que seria muito constrangedor, e também, todos nós do hospital fomos advertidos para nunca te falar nada.

_Quem te deu essa ordem?

_Os superiores do nosso setor.

_E você sabe por que? – perguntei sentindo uma pontinha de raiva crescer dentro de mim – Não foi por bondade deles, ou para me preservar. Eles foram pagos. Você sabia que depois que eu retomei o trabalho com as crianças, o setor de câncer do hospital começou a receber generosas doações todos os meses?

_Não – ela respondeu, franzindo a testa.

_Adivinha quem fez as doações?

_Não faço idéia, pode ser qualquer um – ela disse, mas eu continuei a encarando – Ahn... O Niall?

_Ele pagou pelo silêncio de vocês.

_Disso eu não sabia.

_Mas eu sabia – sorri. Não era um sorriso de felicidade – Eu sabia, é por isso que eu estou aqui, agora. E não na casa do Niall.

_Vocês brigaram?

_Eu destruí o castelo de conto de fadas dele.

Comecei a contar para ela todas as coisas, desde o comecinho. Falei sobre a traição, sobre o modo injusto como ele me deu a notícia, disse sobre o acidente e os dias no hospital. Expliquei como Niall agiu, e sobre o plano de vida perfeita dele. Contei sobre todos os problemas que as atitudes dele causaram, minha faculdade, minha vida, a saúde mental dele, como ele não soube lidar com a culpa e o medo dele.

_Eu nunca conseguiria imaginar isso – ela parecia perplexa – Vocês pareciam tão felizes...

_Fazia parte do plano. Era o que o Niall queria, um casal perfeito e feliz – suspirei – Até poderia ter sido assim.. Já foi uma vez.

_Como você conseguiu fazer isso? Todos esses meses... Eu teria explodido, sei lá.

_Eu não sei – respondi.

_E você? Como você conseguiu fazer tudo isso? – ela se levantou e começou a andar pelo quarto – Você muito ruim não estiver sentindo nem um pingo de culpa ou arrependimento.

_Eu não me arrependo, sinceramente. E isso não é uma questão de ser boa ou má. Eu apenas destruí a ilusão dele, joguei ele pra fora da bolha de conforto dele.

_Me desculpa discordar de você, mas tinha outras maneiras de fazer isso – ela estava de braços cruzados.

_Não Helena, tinha que ser assim. Ele tinha que se sentir traído, enganado, como eu me senti. Experimenta acordar um dia e perceber que todas as pessoas que você confiava mentiram pra você. Seu namorado, seus amigos, até sua família. Todo mundo.

_Mesmo assim, não consigo entender – ela falou baixo.

_Olha, ninguém queria mais do que eu que isso não tivesse acontecido dessa forma. Mesmo morrendo de raiva, eu ainda amo ele, ok? – suspirei e senti um aperto no coração – Eu amo o Niall, eu juro. Mesmo depois disso tudo, eu não consegui deixar de amar. Eu esperei todo esse tempo, porque cada dia foi uma nova oportunidade pra ele me contar tudo. Mas ele nunca contou. Todas as noites eu fui dormir chateada por ele ter sido desonesto comigo mais uma vez. Ele nunca iria me contar, Helena. Nunca. Então eu cansei. Decidi que se até o aniversário dele as coisas não fossem resolvidas, eu iria colocar tudo a baixo. Você não pode esperar que depois de tudo o que aconteceu eu dissesse “ok Niall, você é um mentiroso egoísta mas está tudo bem, vou fingir que nada aconteceu.

Ela se sentou no chão, com as costas apoiadas na cama, em silêncio. Stark estava deitado perto da porta, me olhando.

_Eu sei que ninguém vai entender – disse em um tom baixo – Mas eu fiz o que eu tinha que fazer.

_Ok então. E o que você vai fazer agora?

_Eu não sei – soltei um longo suspiro – Eu realmente não sei como vai ser daqui pra frente.

_Acho que nós precisamos dormir. Eu não dormi quase nada e com certeza você muito menos – ela se levantou – Vamos esquecer isso tudo por enquanto.

Concordei com um aceno e atravessei o quarto até a outra cama duvidando que eu pudesse dormir. Minha cabeça estava mais cheia do que nunca. Toda ação tem sua reação, e destruindo o mundo que Niall construiu eu estava destruindo parte do que eu tinha. Eu perdi meu namorado, a casa que me abrigava e provavelmente perderia mais uma vez a minha vaga na faculdade. Irônico como as coisas vem e vão facilmente, num piscar de olhos. Eu não queria ter que pensar sobre aquilo tudo naquele momento, e fiquei muito agradecida quando minha vista começou a escurecer e meu corpo venceu pelo cansaço.

Niall’s POV

Sabe quando é verão e faz um dia tão bonito, quando você tem certeza que é o dia mais bonito do ano, mas de repente tudo fica cinza, o tempo fecha, uma nuvem aparece do nada, começa a chover e destrói seu dia perfeito? Gabriela era a enorme tempestade destruindo tudo ao redor. Na verdade, era mais que uma mera tempestade. Ela parecia mais como um tornado, que aparece as vezes e derruba tudo. Desde quando nos conhecemos, em algum momento, quando tudo parece calmo, ela surge jogando tudo terra abaixo.

Depois que ela saiu, eu peguei o abajur e joguei na parede, quebrei o espelho, chutei e esmurrei o guarda roupa até fazer buracos, arremessei no chão tudo o que eu achei naquele quarto, cada pequena coisa que me lembrava ela e gritei até ficar sem voz. Me sentei no chão com o corpo tremendo, as mãos machucadas e vidro espalhado por todo o chão, achando que me sentira melhor. Mas não estava nada bem. Se alguém me perguntasse, numa escala de um à dez, como eu classificaria aquela dor esmagando meu peito, eu não saberia dizer. Apenas que estava muito além do dez. Não importa o quanto eu chorasse, gritasse ou respirava fundo, eu não conseguia me acalmar. Tinha que sair daquele quarto.

Andei de um lado paro o outro pela casa, e vinte minutos depois ainda queria socar as paredes. Eu precisava falar com alguém.

_Oi filho! – meu pai atendeu todo animado – Como foi seu aniversário?

_Péssimo! Pior dia da minha vida.

_O que aconteceu, Niall? – a voz dele se carregou de preocupação.

_A Gabriela aconteceu. Sempre ela, sempre! Por que ela faz isso, pai? Eu não entendo, eu faço tudo certo, eu sempre me esforço e dou o meu melhor, o no fim ela sempre me fode! – comecei a chorar de novo – Eu não agüento mais viver assim.

_Oh Niall... Se acalma, está bem? Respira fundo, e com calma, me explica o que foi dessa vez.

_Ela simplesmente recobrou a memória dela há meses e ficou se fazendo de vítima esse tempo todo, enganando todo mundo e hoje ela jogou tudo na minha cara. Me tratou como se eu fosse um nada, como se eu fosse lixo, falou eu mereci ser enganado desse jeito e quando eu comecei a gritar com ela, ela nem se abalou. Agiu como se fosse nada e saiu sem reclamar. Eu estou com tanta raiva... – minhas mãos voltaram a tremer – Eu nunca mais quero ver essa piranha na minha vida.

_Ai meu filho... Eu sinto muito.

_Não, pai. Eu que sinto muito. Sinto muito por eu ter sido tão idiota, tão burro. É claro, quem eu estava tentando enganar? Eu estraguei tudo há muito tempo. Eu sempre estrago tudo.

_Isso não é verdade, Niall. Errar faz parte da vida, pare com isso.

_Mas ser feito de otário não faz parte, pai. Isso... Eu estou me sentindo péssimo. Eu não me lembro de ter me sentido tão mal assim antes. Eu quebrei um monte de coisas, minhas mãos estão sangrando, meu corpo está doendo e ainda não é o suficiente. Parece que essa dor não vai passar nunca – suspirei – Eu não consigo entender.

_Sabe meu filho, as vezes as pessoas fazem as coisas erradas pelos motivos certos. Você fez isso, mentindo pra encobrir sua insegurança e o seu medo, e ela fez o mesmo. Com o tempo você vai entender.

_Não tem como entender, pai! Eu nunca vou perdoar ela por tudo isso. Eu achei... Eu achei que ela me amasse – eu estava completamente frustrado – Eu pensei... Eu parecia ser uma das coisas mais importantes na vida dela, porque ela era na minha. Eu fiz tudo por ela, fiz tudo o que ela me pediu e até mais. Eu me esforcei, me senti mal por todo esse tempo, carreguei todos os dias o peso da culpa, e pensei que agora finalmente as coisas poderiam melhorar, que tudo pudesse voltar a ser como antes...

_Eu sinto muito por isso meu filho, mas nada jamais vai voltar a ser como antes. Há muito tempo que as coisas mudaram para você, e você sabia – a voz dele me acalma. Tudo o que eu queria naquele momento era um abraço do meu pai.

De fato, eu sabia. Eu mudei tudo. Eu tentei consertar, e eu fracassei. Fracassei de todos os modos e do pior jeito. No fundo eu sabia que tinha minha parcela de culpa, mas isso não amenizava a dor de ver tudo se acabar.

_Sabe o que é o pior? O que me deixa com mais raiva e faz eu me sentir cada vez pior? É saber que eu sou idiota o suficiente para ainda amar ela. Mesmo depois de hoje, mesmo depois dela ter acabado comigo, eu ainda amo ela.

_Eu sei. Eu tinha certeza disso, Niall. E sabe, ainda há uma chance. Nunca é tarde para recomeçar, e dessa vez do jeito certo. Você pode se desculpar, se explicar. Eu tenho certeza absoluta que ela vai se arrepender depois. Vocês se amam tanto meu filho, não deixe isso morrer por orgulho.

_Não, eu não quero recomeçar. Do jeito certo ou errado, eu não quero ter que passar por tudo de novo. Eu amo ela sim, mas eu odeio também. O que ela fez, não tem perdão. Eu disse que eu nunca mais quero ver ela e eu nunca falei tão sério na minha vida toda.