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História By Arrangement - Confiança


Escrita por: UCNAMJOUT e RainbowTU

Notas do Autor


Voltei :3

Capítulo 8 - Confiança


Fanfic / Fanfiction By Arrangement - Confiança

Em seu quarto, sentado na beira de sua cama, vendo Jimin arrumar o ambiente com velas para todos os lados, Seokjin pensava se tinha tomado a decisão certa. Já estava casado havia um bom tempo, e o decurso deste tempo lhe indicava que Namjoon era especial, na melhor acepção da palavra. As conversas eram fluidas, os sorrisos vinham sinceros, e tinha notado o tamanho do interesse que seu esposo tinha em si. Se fosse uma pessoa menos complicada, se não fosse tão envolvido em si próprio e nas problemáticas de sua posição, já teria removido todos os entraves que impediam a total implementação daquele casamento. Era o que se esperava de um alfa feito ele, e certamente era o que Namjoon também esperava.

Seokjin, entretanto, era um tipo difícil que seguia peculiares modos de entender a vida, e isso se refletia em qualquer situação que enfrentasse. Respeitava as convenções, entendia suas responsabilidades, mas agia de acordo com preceitos específicos, criados em sua própria mente. Não era de seu feitio dar vislumbres concretos do que se passava em sua cabeça, de modo que não lhe fazia surpresa notar Namjoon tão chateado por se ver relegado ao escuro. Contava que isto não acontecesse, esperava que para seu ômega certas circunstâncias não fizessem a menor diferença. Não contava com a possibilidade de ter como consorte alguém que também não se encaixava plenamente em padrões. E isso o encantava, por certo que o arrebatava, mas o levara a um extremo que nunca imaginou enfrentar no matrimônio. E por conta disso teria que reinventar os métodos e tomar decisões que não imaginara antes.

— Alteza. — Jimin praticamente sussurrou, curvado sobre si mesmo, ganhando a atenção de seu futuro líder. — Iluminei todos os recantos de teu aposento, como ordenaste. Parece-te bom?

— Hum... — Seokjin olhou para cada canto, aprovando mentalmente a luz que fazia o tremular das chamas refletirem nas paredes. — Fechaste bem as janelas? Não posso correr o risco de iniciar um fogaréu com a queda de uma destas velas.

— Todas elas, Alteza.

— Se fizeste tudo, nada mais há que queira pedir de ti. Retira-se e avisa ao servo do Príncipe Consorte que logo irei buscá-lo.

— Neste exato segundo, Alteza. — O jovem ômega se curvou ainda mais, e Seokjin pensou que apenas um pouco além e ele seria capaz de beijar o chão. — Com tua licença.

Ante a anuência do príncipe, Jimin partiu. Seokjin seguiu olhando para o próprio quarto, pensativo, à espera do aviso de que Namjoon já estava pronto. Não soube precisar quanto se passara até ter o servo em regresso, lhe informando que o Príncipe Consorte já o aguardava. Levantou-se, torcendo para que seus julgamentos estivessem corretos e que os passos a serem dados naquela noite não fossem equivocados.

Houve certo espanto quando Seokjin encontrou Namjoon em plenitude de beleza, vestido como da primeira vez em que dividiram um quarto, no que deveria ter sido a tradicional noite de núpcias. Notoriamente seu esposo era belo, mas vê-lo daquela maneira, em camisola fina e com joias, fez os pelos de seu corpo se arrepiarem. Inspirou fundo antes de oferecer o braço ao marido e ser obedecido ao solicitar que o seguisse. Durante a breve caminhada que separava os quartos, Seokjin não pôde deixar de notar o quanto Namjoon tentava disfarçar que ainda se sentia contrariado.

— Tu primeiro, Príncipe.

Seokjin abriu espaço para que Namjoon estrasse nos seus aposentos, tão logo Jimin escancarou a grande porta. Namjoon lhe fez uma reverência e assentiu, adentrando à frente do marido, dando dois passos para dentro e então parando, o aguardando. Após dar ordens para que Jimin trancasse a porta e saísse, Seokjin adentrou também, conferindo o acatamento da ordem dada ao rapaz. Constatando que estavam cerrados no quarto e a sós, Seokjin se aproximou de Namjoon, ficando quase ao seu lado, apenas um pouco atrás.

— Era assim que imaginavas meu quarto? — Questionou um tanto suave, numa tentativa de iniciar um diálogo.

— Não o imaginava, Príncipe. — Namjoon respondeu no mesmo tom, as feições tranquilas, mas delineadas com leve apatia.

— É pena que não o podes ver tão bem, posto que é noite. Muito embora o tenha mandado iluminar, ainda prepondera a penumbra. — Pôs-se bem ao lado do ômega, lhe dando a mão. — Ainda assim me faria gosto mostrar a ti um pouco dos meus aposentos. Queres ver?

— Se desejas que eu veja, por certo que sim.

Seokjin sentiu a mão de Namjoon na sua um tanto relutante. Esperou um entrelaçar de dedos, como vinha sendo hábito entre eles desde a viagem ao litoral, mas isto não aconteceu. Namjoon buscava se mostrar solícito, mas estava arisco e Seokjin percebia bem, tanto o seu estado de espírito quanto o momento em que ele tinha ficado dessa maneira. A atual constatação o fizera desejar, por alguns segundos, que seu ômega fosse como idealizara: frio e distante, alheio a tudo, sem a menor inclinação para bons diálogos ou sequer para possíveis interesses em comum. Se assim fosse, suas ações poderiam passar impunes, e ilesos também passariam seus sentimentos. Namjoon, porém, era encantador em todos os sentidos, e não havia como ser imune a ele. Isso enchia Seokjin de inseguranças e medos, e de tristezas e alguns arrependimentos.

Sem soltar a mão do esposo, Seokjin o encaminhou para cada ponto de seu quarto. Mostrou a ele sua mesa de estudos, repleta de papéis, penas e tintas, livros e sinetes. A esta parte do cômodo Namjoon dedicou alguma atenção, deixando transparecer genuína curiosidade quanto aos títulos que Seokjin lia quando estudava, e ver aquela faísca de interesse nos olhos de seu marido fez Seokjin se sentir um pouco melhor e mais leve em relação ao passo que pretendia dar naquela noite. Mostrou a ele também algumas partes que não despertaram chama similar em Namjoon, como a área onde colocavam a banheira de banhos, o divã sob a janela onde, por vezes, Seokjin costumava tomar sol, e a vista de suas janelas, que podia ser bonita de dia, porém pela noite nada mais mostrava a não ser um intenso breu. 

No fim da pequena ronda de apresentação, Seokjin convidou Namjoon a se sentar em sua cama, e, como não poderia deixar de ser, foi obedecido.

— Como vês, é um quarto bastante sem atrativos o que tenho. E se pudesses admirar a vista que tenho, entenderias por que prefiro a do teu — comentou ainda de pé, diante do marido.

— A mim pareceu um quarto muito aprazível, Príncipe. — Namjoon deu um pequeno sorriso, sentado bem na beira da cama, com as mãos cruzadas sobre as coxas. Os olhos repousavam no próprio colo. — Tua mesa de estudos é deveras organizada.

— Foi a parte que mais gostaste, não?

Namjoon anuiu, sem olhar para o esposo, e Seokjin soltou o ar devagar ao observá-lo. O homem que desposara estava incrivelmente bonito. A transparência de suas vestes ficava evidente conforme a luz das velas refletia nelas. O perfume de amêndoas, naturalmente intensificado pelos períodos, estava potencializado pelo o que Seokjin julgava ser um tônico para tal fim. A gargantilha cintilante no pescoço dava ao ômega um ar contrastante e atraente de inocência e sensualidade. 

Seokjin fechou os olhos, mordiscando os lábios ao fazê-lo. Quando enfim decidiu seu próximo movimento os abriu e, outra vez, expirou lentamente, sem ruído. Decidido, mas ainda receoso, se sentou ao lado do esposo, a uma distância curta, porém confortável.

— É uma falha que somente depois de tantos dias de casados eu tenha te trazido a meu quarto, pois não? — Iniciou, buscando demonstrar convicção em suas palavras.

— Tomaste o tempo que julgaste correto. — Namjoon não se movera; apenas a rapidez com que deu resposta demonstrava que estava atento.

— Confias em meus julgamentos?

— És meu marido. Suposto que confio em ti.

— À parte de nosso acerto, confias em mim?

Em silêncio, Namjoon se virou para o encarar, muito breve. Baixou a cabeça e então acenou em positivo, voltando a fitar as mãos sobre as pernas.

— Sei que não, Príncipe. Aprecio tua tentativa de ser o mais agradável que podes, todavia, quando fiz a pergunta já conhecia a resposta. Por tal razão me sinto no dever de te pedir perdão. Perdoa-me por não ser um bom alfa para ti.

Seokjin pausou, dando margem para que Namjoon dissesse algo, ao mesmo tempo em que realimentava o espírito para seguir adiante naquilo que tinha tomado por decisão fazer. Como ficar silente e não se mover foi a resposta de Namjoon, Seokjin retomou a palavra.

— Desde a infância, quando ainda não podia saber qual seria a minha obrigação neste mundo, imaginava que um alfa tinha que ser bom para o seu ômega, se queria que este lhe desse os melhores dias de sua vida. Sempre acreditei que a força de uma relação vinha da confiança e da cumplicidade, e não de uma imposição. Depois de me descobrir não apenas alfa, mas lúpus, esta impressão para mim se tornou ainda mais forte. Não foi algo que me foi ensinado, vejas bem, mas uma convicção que eu sempre tive. É uma das incontáveis ideias que fazem de mim, segundo alguns, um alfa lúpus fora de padrão.

Nova pausa. Seokjin não via seu esposo se mexer, mas sabia que ele o escutava com atenção. Namjoon sempre estava prestando atenção. Era mais esperto do que gostava de transparecer. Sabendo que era ouvido e entendido, prosseguiu.

— Não sei como eu teria levado a vida caso tivesse me mostrado um ômega e seguisse pensando assim, contudo, sendo um alfa, te confesso que manter meus princípios é curiosamente fácil. Há discordâncias, decerto, porém, ainda sou um alfa lúpus, único herdeiro do trono. A obediência dos demais é um atributo que conquistei não por merecimento, mas por força de meus hormônios e de minha linhagem. Há pouca honra numa conquista desta monta, penso eu, todavia, não tenho como simplesmente abdicar dela. Sou quem sou, e acato o que vem com minha biologia e meu título. Tenho minhas opiniões e tomo minhas decisões, tendo apenas a Rainha para a mim afrontar e refutar, nem a Rainha Consorte se atreve a tanto. Minha visão de mundo acaba por se tornar uma espécie de lei para mim e para quem me rodeia.

Suspirou. Era um pouco mais difícil do que imaginara, especialmente porque Namjoon não demonstrava reação.

— Quando soube que me estavam a procurar um consorte não me alarmei com quem poderia ser. Confiei os detalhes às Rainhas, certo de que fariam a melhor escolha, e decidi, sozinho como sempre, que ao me casar trataria de primeiro deixar meu consorte confortável com minha presença, para que então pudéssemos construir uma relação em que eu seria para ele ou para ela o melhor alfa que conseguisse ser. Em minha mente havia um plano de atuação cristalino, sob o qual eu agiria e tudo daria certo, ao fim. Quando tu chegaste, segui o planejamento que fiz, crente de que estava tomando o melhor rumo para que tivéssemos, tu e eu, um desenrolar saudável em que tua estima por mim seria conquistada não por afirmações feitas diante de uma autoridade, mas pela convivência que, aos poucos, te mostraria que eu era bom para ti, te mostraria que eu era digno da tua confiança. Suponho que, até poucos dias atrás, eu estava conseguindo. Diz-me, eu estava?

— Sim — respondeu timidamente.

— Pensava certo, pois não. — Fez uma breve pausa. — Em minha mente, meu modo de arrumar nossa convivência era mais do que suficiente. Vi resultados e julguei que nosso relacionamento seguiria seu curso como eu imaginava que deveria ser. Preocupei-me tanto em ser um bom alfa dentro de meus próprios parâmetros que esqueci-me de que meus meios e meus pensamentos apenas a mim pertencem. Por tanto tempo precisei ocupar-me somente de mim mesmo, sem sofrer maiores refutações, que esqueci-me de ponderar a questão óbvia de que uma relação precisa de duas partes em sintonia para existir com a tranquilidade que almejo. Tomar a dianteira por nós dois, decidir e concluir sem que tu opines é impor-me a ti, por melhor intencionado que eu acredite ser. Não te abrir espaço para que decidas comigo e adentre em minha vida ainda é me colocar acima de ti. Não é assim que penso que deve ser, no entanto, não ter o costume da convivência e do contraditório me impediu de perceber mais cedo que, talvez, ao tentar acertar eu estava agindo errado. Perdoa-me, Príncipe, por tamanha desatenção e insensibilidade.

Novamente Seokjin esperou por uma resposta, mas Namjoon não a deu de forma verbalizada, a princípio. Ele deixou de olhar para as mãos, levantando o rosto para encarar o esposo. Ao se perceber encarado de antemão sentiu urgência em cortar o contato visual, porém o manteve por alguns segundos. Arfou, baixinho, passando a língua rapidamente pelos lábios.

— Não deves te desculpar tanto, Príncipe. Alegra-me o conhecimento de que tu pensaste tanto em meios de fazer nossa convivência harmônica. — Tentou sorrir, se esforçando para parecer absolutamente sincero. — Deste-me mais do que se era esperado, e por isto sinto-me grato.

— Todavia, não foi o bastante, foi? Quiçá tenha sido em algum momento, porém algo te fez afastar de mim. — Deu um sorriso pequeno, quase entristecido. — Suponho que sei exatamente o que te deixou assim. Tu és mais transparente do que gostarias, compreendes? — Aproximou-se do marido, se sentando bem ao seu lado, virado de frente para ele. — Hoseok, pois não?

O ômega baixou a cabeça outra vez, estremecendo sem querer diante do nome que tinha lhe feito perder a paz nos últimos dias.

— Sinto muito, Príncipe. Não pretendia te afligir com meu estado de espírito. — Namjoon sussurrou quase inaudível, sem mudar de posição. — São apenas coisas de ômegas, entendes? Os períodos mexem conosco de forma impossível de explicar para um alfa. Não há nada além disto acontecendo.

— Não tentes mentir para mim. Tua mudança foi cristalina depois de conheceres Hoseok no riacho.

— Príncipe... Não sei o que possa te dizer.

— Sê honesto comigo.

Namjoon fechou os olhos, arfando. Havia um conflito ocorrendo em sua mente. Todas as lições que tinha tomado ao longo da vida estavam em batalha com o que seu coração dizia e seus lábios precisavam proferir. Seus sentimentos eram intensos e confusos, e não saber o que de fato deveria fazer tornava a sensação mais pesada. Não percebia, mas seu corpo tremia de leve diante de tanta pressão.

— Não és obrigado a dizer nada no momento. — Seokjin interviu. — Novamente estou aqui a decidir por nós dois o que creio ser o melhor para nossa relação, entretanto, não me parece que concordas. Perdoa-me outra vez — falou o mais suave que conseguiu. — Haverá tempo para que façamos tudo isto, para que te sintas confortável em abrir teus sentimentos e ideias para mim, não há razão para que seja esta noite. De qualquer maneira, Namjoon... — Pausou por um instante, inspirando devagar. — Hoseok não é quem tu talvez estejas a imaginar.

— Não estou a imaginar nada. — Apressou-se em assegurar.

— Não mesmo? Pois eu em teu lugar era possível que estivesse. — Tentou rir, mas acabou falhando. — Não é tua culpa, percebes? As circunstâncias não são das mais favoráveis para que vejas a situação de forma positiva, suponho. Esta é a razão pela qual te pedi que viesses até meus aposentos. Se quero tua confiança, preciso primeiro demonstrar que confio em ti, pois não? Se desejo que tu te mostres a mim na plenitude de quem realmente és, é pressuposto que antes eu me mostre a ti, que eu te permita adentrar minha mente e entender a pessoa que sou. Só assim tu poderias te sentir seguro o suficiente para que eu possa desvendar tuas verdadeiras cores. — Nesse momento acabou soltando a breve risada que pretendia antes. — É uma regra simples, porém demorei-me demasiado para compreender. Cabe a mim te mostrar o caminho a seguir, posto que sou teu alfa, e a melhor forma de fazê-lo é te mostrando, em prática, como. De mim deve vir o primeiro passo. Usarei esta noite para o tomar.

Seokjin se levantou, quase abrupto, fazendo Namjoon se sobressaltar e pôr os olhos sobre ele. Assim, o ômega pôde acompanhar, pelo o que devia ter sido o decurso de cerca de três minutos, o esposo caminhar de um lado para o outro, com as mãos para trás, um tanto encurvado, como se estivesse carregando um peso mediano nos ombros. De súbito o loiro parou, assumindo uma postura ereta, própria de herdeiros do trono, levando as mãos para a frente, cruzando os braços sobre o peito levianamente. A despeito da constituição austera o seu semblante, tanto quanto as chamas das velas permitiam entrever, parecia brando.

— Há muito o que devo abrir a ti, Namjoon. Tenho ideias que seriam de importância para que me conhecesses bem, aprendizados que tive na puberdade, filosofias nas quais acredito e detalhes mil sobre o reino que um dia tu vais me ajudar a governar. Há de um tudo que eu deva te dizer, porém, suponho que urge te esclarecer um ponto que, inevitavelmente, te levará a outro. Precisas saber quem é Hoseok, não estou certo?

Sentado na cama de Seokjin, um tanto tonto e nervoso com o andamento daquela conversa, Namjoon não conseguiu se dominar e acabou concordando. A anuência veio em forma de um movimento delicado da cabeça, mas o desejo que tinha era o de perguntar, de uma vez por todas, se Seokjin acaso sentia por aquele alfa o que deveria sentir por ele, Namjoon, que era seu marido. Esta parte da questão, para seu contentamento, pôde manter para si. Não era de bom tom se mostrar um ômega afrontoso, em especial se suas suposições estivessem corretas.

— Pois bem, Príncipe. Antes que te diga, devo te lembrar da necessidade de manter sobre isto o mais absoluto segredo. Não tenho razões para desconfiar de tua discrição, mas te solicito o silêncio posto que o que vou te falar agora não diz respeito a mim, apenas. Em verdade, fala muito mais sobre outras pessoas que sobre mim. Conto com teu sigilo?

— Decerto que sim.

— Sei disto, queria tão somente que me afirmasses em boa voz.

Voltou a se sentar ao lado do marido, muito próximo, sem deixar espaço entre os corpos, olhando para a frente.

— Quando Hoseok apresentou-se a ti, ele te disse que nos conhecemos na Escola de Armas, pois não? — Questionou baixinho, não esperando uma resposta de verdade. — Ele não te mentiu. De fato, conhecemo-nos lá, formamo-nos na mesma turma. Tinha catorze anos de idade e ele tinha dezoito, porém a diferença de idade não foi um empecilho para que nos entendêssemos como amigos. — Passou a olhar para Namjoon, que tinha passado a encarar as mãos, como antes. — Foi curiosa a maneira como afeiçoei-me a ele quase de imediato. Por algum motivo a presença de Hoseok, para mim, era confortadora. Ele me tratava com cuidado e afeto, e muito embora eu tenha sido um infante muito bem tratado, aquele tipo específico de cuidado era para mim novidade. Havia uma afeição diferenciada no trato que recebia de Hoseok, e querer estar perto dele foi natural. Havia uma conexão, compreendes?

Calou-se um segundo, observando as feições de Namjoon enquanto tomava fôlego para continuar.

— Poupar-te-ei dos detalhes e partirei para a explicação que justifica o jeito com que Hoseok me tratava. Sabes que ele é Senhor de Gwangsan, não sabes? Gwangsan fica no reino natal de minha mãe, a Rainha Consorte. Quando Hoseok veio para Gwacheon tinha propósitos definidos em mente. Tais propósitos o fizeram ingressar na mesma Escola de Armas que eu, na mesma turma que eu faria parte. O que Hoseok almejava era ter contato com a parte de sua linhagem que a ele foi negada ao nascer. Consegues ver onde isto leva?

Namjoon moveu o rosto num gesto negativo, não por não suspeitar do rumo daquela confissão, mas por supor que algo daquela monta tinha um ar fantástico demais para que estivesse correto.

— Há um laço fraterno entre Hoseok e eu, Namjoon. É a isto que esta pequena história que te conto leva.

— Estás me dizendo que... — Namjoon apertou uma mão na outra, encarando o mover de seus dedos ao se calar.

— Eu sou o filho primogênito deste Reino, porém não sou o primeiro filho concebido no ventre da Rainha Consorte. Compreendes o que afirmo?

— Suponho que sim. — Nesse momento foi impossível a Namjoon não encarar o marido. — Ele e tu são... Irmãos?

— Precisamente. Percebes a delicadeza desta situação?

— Eu... — Namjoon fitou Seokjin, calado, pensando no que escutava e fazendo conexões. — São laços fraternos ilegítimos, é isto?

— Hoseok é filho apenas da Rainha Consorte. Ela ainda não tinha tido contato com a Rainha de Gwacheon quando lhe deu à luz.

— Oh... — Namjoon moveu a cabeça lentamente, entendendo a complexidade daquela trama. — Percebo.

— Imagines o choque que recebi ao ter a confirmação de que tenho um irmão, e que tal irmão veio do sangue da Rainha Consorte e não da Rainha de Gwacheon. Não teria sido tão estranho se fosse o contrário, seria bastante esperado, contudo, nesta arrumação, torna-se um assunto melindroso.

— Pois sim.

— Hoseok e eu tornamo-nos muito próximos, e descobrir o motivo pelo qual sua presença me dava alento aproximou-me ainda mais dele. Hoseok é a pessoa na qual mais confio. Tu sempre tiveste um irmão mais velho que tu, Namjoon. Diga-me, é assim que tu te sentes em relação a ele?

O Príncipe Consorte ponderou, pensando a respeito. Tinha com Yoongi, seu irmão mais velho, um elo de confiança mútua a ponto de afirmar que confiava em Yoongi mais do que em qualquer pessoa? Não sabia dizer com precisão. Confiava demais em seu irmão, possivelmente mais do que em outras pessoas, porém, não era do tipo de pessoa que abria tudo o que pensava. Sequer a si mesmo tinha coragem de falar certos pensamentos. Era a este tipo de relação que Seokjin se referia? Caso fosse, não lhe poderia dar uma boa resposta. Todavia, se a questão se desse de modo amplo e não estrito, concluía que havia como responder.

— Quando criança, Yoongi era a pessoa a quem eu sempre recorria, fosse para o que fosse. Para me elucidar dúvidas, para me proteger do escuro, para me contar histórias fantásticas de reinos distantes. Quando crescemos isto se perdeu um pouco. Meu irmão e eu temos pontos de vistas discordantes, e mesmo nos dando tão bem, tal disparidade nos deixou um tanto distantes. Contudo, suponho compreender o que dizes.

— Deve ter sido incrível crescer com um irmão mais velho, pois não? — Seokjin sorriu, e Namjoon não conseguiu entender com toda a certeza o que se escondia naquele sorriso. — Não tive tamanha sorte, conheci meu irmão já na puberdade. Diferente de tu e teu irmão, porém, Hoseok e eu temos pensamentos deveras alinhados. Sinto-me livre para ter com ele e falar sobre tudo, porque nele encontro compreensão e pouco julgamento. Talvez o sangue tenha algo com isto, entretanto, creio que nele confiaria mesmo que não fôssemos quem somos. — Ainda sorrindo, fitou Namjoon bem nos olhos. — Entendes, agora, quem é Hoseok?

Pela enésima vez, Namjoon pensou a respeito do que escutava. Ainda tinha muitas questões em sua mente, e a resposta que recebeu para uma delas, longe de o tranquilizar, lhe deixava ainda mais confuso. No fundo, havia algum ciúme da forma como Seokjin falava da ligação com Hoseok, muito embora, sendo tudo aquilo verdade, não tivesse uma razão forte para tanto.

— Não sei te dizer o que é ou não de conhecimento da Rainha de Gwacheon, jamais falei com ela ou com a Rainha Consorte a respeito. Tudo o que sei é que Hoseok não é bem-vindo aqui, e Sua Alteza não suporta a ideia de minha amizade com ele. Encontramo-nos escondido pelas áreas de mata para que possamos caçar juntos e conversar. Não tenho a inocência de pensar que isto não é do conhecimento de Sua Alteza, porém, o que ela sabe em verdade não sei te afirmar. Isto posto, Príncipe... — Ousou tomar uma das mãos de Namjoon entre as suas, suavemente. Não encontrou resistência. — Peço-te perdão por não ter contado logo a ti sobre ele, e peço-te, igualmente, compreensão por não tê-lo feito. Sinto imenso por ter-te feito divagar sobre o que havia entre ele e eu, e por teus pensamentos terem sido tão intensos ao ponto de te deixarem indisposto.

Seokjin encarou Namjoon ao terminar o que dizia, iluminado pela luz das velas. As mãos seguravam a de seu esposo com carinho, e foi necessário, outra vez, respirar fundo para não tomar avanços ainda inapropriados. Namjoon tinha um cheiro convidativo, e estava vestido para uma finalidade diferente de conversas noturnas.

— A partir de hoje, nada mais vai ser escondido de ti. — Retomou a palavra. — Tudo o que quiseres saber, pergunta a mim, o que desejares, o que imaginares, podes falar para mim, sem censura. Tudo que me acontecer no dia, contarei a ti. Quero fazer de ti alguém como meu irmão, alguém em quem possa confiar cegamente, e quero representar o mesmo para ti. Sou teu alfa, e quero ser para ti a primeira pessoa em que pensas para o que for. Prometo-te jamais te deixar no escuro novamente, e peço-te, por obséquio, que faças o mesmo. Acertamo-nos assim?

Timidamente, se permitindo entrelaçar os dedos nos do esposo, Namjoon assinalou que sim, e sentiu sua mão ser ainda mais apertada após a resposta. Estava confuso, sem saber ao certo no que deveria ou não acreditar. Ainda se via desconfiado, e por certo a chateação dos dias anteriores não tinha simplesmente passado com aquela breve conversa. No entanto, Seokjin queria que ele, Namjoon, se permitisse conquistar no aspecto da confiança, e era claro que o permitiria. Não tinha dúvidas que Seokjin já tinha conquistado sua afeição, seus pensamentos, seus instintos e seu coração. Daria a ele a oportunidade de tentar ser o alfa que sonhava representar neste novo aspecto, da mesma forma.

— Grato pelo teu voto de confiança. Não o tomarei por nada, crê em mim nisto. — Seokjin ergueu a mão de Namjoon à altura de seus lábios, beijando seus dedos. — Esclarecida esta questão, há tanto que gostaria de te dizer... — Soltou a mão do marido, se afastando minimamente. — Tens sono?

— Ainda não — respondeu com honestidade. Sono era a última coisa que abateria Namjoon naquela noite.

— Nem eu. — Sorriu breve. — No que mais terias tu interesse de descobrir sobre mim?

— Eu? — Arfou baixinho, engolindo em seco. — Sobre o que queres falar?

— De preferência sobre algo que tu queiras saber. — Riu ligeiro. — Contudo, se passas a escolha para mim, creio que deixarei o momento decidir.

Sorrindo, Seokjin tomou um pouco mais de distância e começou a falar o que lhe vinha na mente. Falou sobre histórias de infância, questionamentos de adolescência, os tipos de atividades que costumava praticar com Hoseok e a importância que o irmão passou a adquirir ao longo do tempo. Conversou, também, sobre assuntos menos subjetivos, sobre grupos que tinham como objetivo tomar o trono para si, as conspirações e boatos que ameaçavam a permanência de sua linhagem no poder, e como tais linhas de ação eram alimentadas pelos gastos desnecessários da Rainha em detrimento de melhorias à população. Falou sobre a relação que tinha com as mães, de como era ótimo lidar com elas em termos familiares, mas péssimo em termos governamentais, e sobre como as dificuldades de diálogo com a Rainha o deixavam preocupado, de forma que fugir por horas do palácio lhe parecia uma boa alternativa para não surtar. 

Namjoon escutou com bastante atenção o que era dito, e em dado instante da conversa arriscou tecer comentários sobre o que ouvia, dando pequenas opiniões que pareciam ser bem aceitas por seu esposo. A conversa terminou quando, já deitados um de frente para o outro na cama de Seokjin, o Príncipe de Gwacheon percebeu que seu esposo já não o ouvia, ressonando na santa paz de seu sono. 

Admirou-o por incontáveis minutos, se embebedando na sua beleza, sentindo o coração esquentar a cada respiração tranquila dada por seu ômega. Sentiu o ímpeto de o tomar nos braços e o abraçar contra o peito, para sentir contra a pele a suavidade daquela respiração, para inalar melhor o perfume dos cabelos de Namjoon, para se deixar inebriar pela atração que o aroma de amêndoas doces exercia sobre seu corpo. Em vez disso, passou de leve os dedos pela bochecha do marido, experimentando a maciez de seu rosto, deslizando devagar os dedos por ali até atingir a área do pescoço, onde pôde sentir a rigidez das pedras preciosas que ornamentavam a joia que seu ômega usava.

Resignado, se levantou da cama e foi até o local onde Jimin tinha acendido as velas, apagando uma a uma, devagar, tomando seu tempo até chegar na última. Seu quarto ficou iluminado somente pelo luar, e Seokjin abriu um pouco a janela, olhando para fora, sentindo o frio do lado de fora em sua pele. Deixando aquela pequena fresta aberta se virou para a cama, observando o esposo adormecido, de costas para onde ele, Seokjin, estava. Sorriu sem se dar conta, sentindo, outra vez, aquele calor apaziguador dentro do peito, um calor que somente a presença de Namjoon lhe causava. Por dois segundos pensou se não deveria dormir no divã, deixando a cama para Namjoon, mas decidiu que não havia justificativa para que não se deitasse ao lado do marido. Tomado por certa felicidade regressou ao seu lado do móvel, se deitando com cuidado para não provocar muitos movimentos no colchão, a fim de que nada despertasse Namjoon.

Bem acomodado, se posicionou de forma a poder ficar olhando para seu ômega. Muitos eram os desejos de o abraçar e beijar, de finalmente ir além, de consumar o casamento naquela mesma noite, porque, mais do que uma obrigação, era o que ele mais queria. Contendo-se, como sempre fazia, fechou os olhos pensando que iria fazer por onde merecer estar com Namjoon, para muito além das responsabilidades de ambos naquele acerto matrimonial; nada aconteceria antes disso.

Demorou bastante para que, enfim, fosse tomado pela força do sono, e durante o período em que esperou por isso, ficou contente por constatar que não importava o quanto a vida pudesse ser difícil, se o mundo do lado de fora estava desabando. Estar ao lado de Namjoon o fazia se esquecer de todos os problemas que o cercavam.

Adormeceu pensando que tentaria a todo custo fazer com que Namjoon se sentisse da mesma forma, porque em toda a sua vida, nada tinha sido tão bom quanto aquela sensação.


Notas Finais


Então, os 2Seok são meio irmãos. Alguém tinha acertado nos comentários a natureza da relação deles =D
Não sei se gosto muito desse capítulo. Acho que foi meio corrido, mas espero que essa facilidade com que a situação do Hoseok foi mostrada/"resolvida" não tenha sido tão ruim. Eu tive que escolher no que focar e nessa fic o romance venceu, ela foi toda concebida dessa forma. Enfim, é isto. Espero que a leitura tenha sido agradável e que gostem mais dele do que eu =|

Obrigada a quem chegou aqui, e até o próximo! Já estamos bem pertinho do final! <3


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