História Cabe a cada um prender sua felicidade. Kookmin - O primeiro fim e também o primeiro começo.

Mundo Colgar, Reino de Thomorrah 352 d.R

Narrador.

O lugar onde Jin queria os levar era perigoso. Não apenas pelas criaturas que viviam ali, mas por que o próprio espaço queria a morte de quem vivia por lá. Jimin ouvia todos discutindo planos e maneiras de manterem-se protegidos, mas quanto mais ouvia menos interessante parecia a ideia. Se sentia inquieto, olhava para todos os lado a procura de algo estranho enquanto o pequeno em seu colo já cochilava.

- Jungkook, vocês não podem terminar essa conversa em outro lugar?

- Ele não pode te ouvir.

O baixinho virou no mesmo instante na direção da voz sentindo um calafrio percorrer sua espinha.

- Você não estava morto? - Apertou o filho em seus braços.

- Estou. - Purah olhou para o próprio corpo no chão. - Mas as vezes nos é concedido um último desejo antes de perdermos nossa existência. - Riu. - Não achei que ganharia o meu.

- Qual era o seu desejo?

O Anjo se aproximou dos dois.

- A minha última carta na manga. - Olhou o pequeno bebê. - Já que perdi sua confiança e não pude te amar direito, vou dar um presente a você. - Aproximou a mão de vagar do rosto do baixinho e ele se afasto. - Não precisa ter medo, eu já estou morto, lembra? - Purah encostou em Jimin fazendo um leve carinho. - Eu realmente te amei.

- Mas não foi da forma certa.

- Mesmo que eu tivesse feito da forma certa, você não iria me amar como ama aquele Lobo. - Suspirou. - Simplesmente não era para acontecer. - Os dois olharam os outros que ainda conversavam. - Não pode proteger todos os seus amigos.

- Eu sei e tenho medo disso.

Passou-se um tempo olhando a conversa do grupo até que alguém tomou coragem para falar.

- Aquela casa no meio da neve ainda está lá no mesmo lugar e agora você é o único que consegue chegar até ela. - Purah falou sem o olhar.

- Não seria aquele um lugar fácil de me encontrar?

- Qualquer um que for aquela casa uma vez nunca mais vai a encontrar. Para sua sorte todos os Anjos que existem já estiveram lá ao menos uma vez.

- Eles não podem a encontrar mais? - O baixinho perguntou surpreso.

- Fiz com que eles fossem até lá para que eu pudesse dar ela a você, só não imaginei que o seu bebê nascesse antes.

- Por que está fazendo isso?

- Eu já disse. Se existe alguém que pode destruir esse mundo, eu vou fazer de tudo para que eles não o encontrem. - Olhou Jimin. - Não confia em mim?

- Eu deveria?

- Quando eu apaguei suas memórias, foi por um desejo egoísta eu admito, mas eu nunca tive más intensões. - O baixinho ficou calado. - Me desculpe por tudo o que eu fiz. - Sorriu triste. - Agora você pode usar meu poder de roubar memórias, mas é apenas uma vez. Use ele para protege-los, se eles não souberem de você não vão correr perigo.

- Eu não... - O Anjo o interrompeu.

- Não precisa me dizer o que vai fazer, eu apenas dei uma opção. - Deixou um selar na testa de Jimin. - Pisque uma vez e todos vão esquecer o que aconteceu hoje. Pisque duas e eles vão esquecer de tudo sobre você, mas você tem que querer para que dê certo.

Purah se afastou começando a desaparecer e o baixinho mentiria se disse que não sentiu o coração apertar.

- Você devia ter encontrado alguém que lhe amasse de verdade.

- Eu usei métodos ruins para prender a minha felicidade. - E assim, com um sorriso a última gota da existência do antigo Anjo se extinguiu, seu corpo desmanchou-se em penas e o vento fez seu trabalho de as espalhar.

Não ter a quem amar ou até mesmo um alguém para ser feliz era como uma ferida aberta que nunca se cura e o Anjo sabia como era viver com uma dor assim. Realmente nem todos tem o seu final feliz e muitos ainda caem no esquecimento como se nunca tivessem se quer existido.

Mais um Anjo havia dado sua vida para o proteger, cabia a ele agora saber utilizar de todas as vantagens que recebia. Jimin tinha apenas uma certeza, não podia mais envolver ninguém em seus problemas.

- Jungkook. - Chamou seu alfa e ele o respondeu no mesmo instante.

- O que foi? Dói em algum lugar? - Veio preocupado com o companheiro, os outros pouco deram importância a ele ter saído e continuaram a conversa.

- Não. - Suspirou sorrindo. - Mas queria falar com você.

- Pode falar, pequeno.

- Você ainda viveria comigo se tivesse que desistir dos seus amigos?

- Eu faria qualquer coisa para que todos pudessem ficar em segurança. - Jungkook ficou sério. - E não tem nada que me faça deixar você ir, eu já te prendi a mim.

Aquela foi a resposta que Jimin queria ouvir e mesmo se culpando por querer roubar o companheiro da vida que ele já tinha, não desistiu do próprio egoísmo.

- Ainda bem, porque eu não conseguiria achar alguém melhor para dividir a minha vida. - Deu um selinho em Jungkook que o envolveu em um abraço.

- Eu não deixaria você encontrar outro.

No fim, talvez os dois tivessem sido pegos em uma armadilha de amor, quem sabe foi acaso ou quem sabe foi o destino. Depois de como se conheceram, Jimin não conseguia acreditar que havia acabado se apaixonando por aquele Lobo. Primeiro o encontrou machucado em uma pequena vila, depois quis o matar por jogar suas roupas no rio e então Jungkook o marcou quando perdeu a calma vendo o melhor amigo Elfo ser morto a sua frente. Tudo aconteceu muito rápido, logo os dois estavam viajando juntos e ainda mais rápido ele quis Jungkook para si, como estava fazendo agora. O tempo foi curto, mas nem um se arrependia de nada. Queriam estar juntos, presos em um amor que poderia virar eterno.

- Vou fazer eles esquecerem quem sou eu, assim não vão se preocupar conosco.

- Como vai fazer isso?

O baixinho se ajeitou mais nos braços do companheiro.

- Talvez... Talvez Purah não fosse tão mau. - Se afastou um pouco e chamou todos para se aproximarem. Não tinha porque continuar prolongando a decisão que tomaram. Assim que teve a atenção do grupo ele falou. - Obrigado por tudo o que fizeram até hoje, mas não vou deixar que se envolvam mais. - Uma discussão sem fim se iniciou sobre os motivos que os impediam de ficarem juntos, ignoravam completamente a ameaça dos Anjos, mas logo se calaram ao ver que ele ainda tinha algo a dizer. - Sinto muito por nos despedirmos assim, mas vai ser melhor desse jeito.

Jimin piscou duas vezes e todos começaram a cair desacordados. Jin era o último em pé, vendo um a um os amigos caírem.

- Por que? - Perguntou, vendo o que acontecia.

- Porque quero proteger vocês. - Foi a última coisa que ouviu Jimin dizer antes do ômega cair inconsciente.

Aquela não foi a despedida ideal, muito pelo contrário, foi algo muito precipitado, mas essa era a vantagem que eles conseguiriam para proteger a todos. Agora eles estavam livres, podiam viver suas próprias vidas e não teriam que lidar com nenhuma grande ameaça. Simples assim, toda e qualquer memória sobre Jimin desapareceu, não apenas dos que estavam ali naquele dia, mas todos que o conheceram não lembrariam de nada, nem mesmo suas irmãs.

Todos seguiram seu próprio caminho, Beymin se casou com o Dragão, Xaumin viajou junto para conhecer o novo continente e quem sabe talvez tenha encontrado um amor. Kwinza e Haeyon continuavam juntos investigando mais sobre profecias e velhas histórias, tornaram-se em muito pouco tempo conhecidos pela grande sabedoria que não paravam de adquirir. O irmão da Elfo, Hobi, junto a seu companheiro Taehyung, continuavam a ajudar em investigações para qualquer reino e mesmo deixando muitos curiosos, ninguém consegui descobrir como eles faziam para conseguir informações. Contudo, Jungkook ainda era o filho legitimo do Rei Lobo e depois de algum tempo sem notícias, iniciaram uma busca para encontrar o alfa. Pequenas recompensas eram oferecidas para qualquer um que pudesse dar alguma informação sobre ele, mas nem mesmo o casal Beta-Elfo foi capaz de os encontrar. Foi como se ele tivesse simplesmente sumido, mas tinha alguém que sabia a verdade, sabia que era ele que não queria ser encontrado.

16 anos depois.

Enquanto todos esqueceram Jimin, tinha uma pessoa que ainda lembrava claramente dele. Pelo simples acaso de ele ser filho de um Anjo, Jin não pode o esquecer, pois como já havia dito “Um demônio nunca esquece a cara de um Anjo.”

Contudo, em todos aqueles anos ele não falou nada. Mesmo que não concordasse essa era a decisão deles e o ômega a respeitou, afinal, agora ele tinha um filhote já adolescente, que não parava quieto  e muito curioso para cuidar.

Depois de todos aqueles anos procurando Jungkook, finalmente os grupos de busca estavam desistindo. Jin não os culpava, mas tinha curiosidade de saber como estavam. Aquela era a última vila onde iriam procurar, na verdade até já haviam passado por ela, mas decidiram voltar depois que o filho insistiu tanto.

- Baek! volte aqui agora. Eu já falei que não quero você correndo sozinho. - Jin chamava pelo filho olhando as barraquinhas ao longo da rua mais à frente.

- Então vem logo, vocês demoram de mais.

- Por que a pressa criança? - Namjoon caminhava de vagar ao ritmo do companheiro.

- Eu quero encontrar alguém.

Baekhyun vivia correndo, desde de pequeno dava trabalho por não sossegar um segundo e Namjoon não mentiria que adorava isso no filho. Apesar de ser ômega, ele aprendeu a lutar e se defender e mesmo ainda com dezesseis anos não faltava muito para superar as habilidades do pai.

- Isso não foi só um sonho filho? Essa pessoa nem existe. - O ômega suspirava já cansado de caminhar. - Meu pés doem.

- Eu disse que podia te carregar, mas você não quis. - Namjoon falou por falar.

- Eu não sou mais um adolescente Nam. - Os dois riram.

- Mas eu sou ainda mais forte do que quando éramos mais jovens e você fica a cada dia mais bonito. - Sorriu largo.

- Eu amo você. - Falou ao roubar um selinho do alfa.

- Eu amo você também.

- Vocês vão caminhar mais rápido ou vão continuar a agir como adolescentes? - Baek gritou lá da frente.

- Isso se chama inveja filhote. - O alfa respondeu o filho.

- Que seja, mas andem mais rápido. - O garoto sorria de orelha a orelha, a cada passo que dava sentia que estava mais perto de encontrar aquele com quem vinha sonhando.

O tempo estava nublado e o ar gélido dava arrepios, mas ainda era o clima perfeito, a paisagem estava toda cinza e branco, porem ganhava vida com as roupas coloridas dos moradores da vila.

Baek olhava em volta como se procurasse algo e assim que chegou a pequena praça sentiu que alguém o chamava.

- É ele. - Falou baixo para si mesmo.

...

- Me segura, Jungkook.

Ouviam-se três risadas no meio da neve. Jimin tentava atravessar um lago congelado com a superfície muito lisa enquanto os dois alfas riam descaradamente das patinadas desajeitadas do baixinho.

- Eu estou segurando, não precisa ficar com medo. - O alfa segurava uma das mãos do companheiro que dava passos curtos tentando sair do lago.

- Porque mesmo que temos que passar por aqui? - Perguntou rindo de quase ter caído mais uma vez.

- Por que é um atalho para chegarmos a vila mais rápido. - Respondeu o alfa mais novo já do outro lado.

- Eu ainda não acredito que estou fazendo isso por você, filhote. Nunca mais vamos pegar ata-Ah! - Desequilibrou de novo. - Atalhos. - Terminou a frase ajoelhando no chão do outro lado do lago. - Eu espero que você encontre esse garoto, Chanyeol.

- Eu vou encontra-lo. - O garoto sorriu ajudando o pai a levantar.

- Lembra que nós só temos alguns minutos e vamos ter que voltar. - O alfa mais velho advertiu o filho e o mais novo assentiu sabendo que era importante voltar o quanto antes para casa.

Não demorou para chegarem a vila, a neve se acumulava nas beiradas das pequenas ruas e o ar muito gelado deixavam as orelhas e nariz de todos vermelho. Chanyeol esbanjava um sorriso enorme olhando para todos os lados sentindo os sons de um lugar habitado. Pequenas carruagens passavam, pessoas caminhavam, galhos balançavam, os sinos nas portas de pequenas lojas e barraquinhas tilintavam. Era sempre maravilhoso ver as pessoas vivendo. Principalmente quando ele passava a maior parte do tempo em casa, no meio da neve, onde não havia ninguém além dele e dos pais (as vezes alguns esquilos). Fechou os olhos saboreando as sensações de andar na vila e seu coração deu um pulo quando sentiu que estava perto do garoto que estava procurando. Chamou por ele ainda de olhos fechados, teve medo de abrir e descobrir que ele não era real e que mais uma vez tudo não passava de um sonho.

...

Baek começou a correr atravessando a pracinha, parou do outro lado olhando o final da rua. Lá estava ele. De olhos fechados, sentia a tudo como se quisesse fazer parte da paisagem e ao mesmo tempo como se estivesse com receio.

O primeiro floco de neve caiu ao mesmo tempo que o outro garoto abria os olhos e virava o rosto lentamente na direção do ômega, era como se acompanhasse a caída da pequena bolinha branca. Outras tantas começavam a flutuar no ar dando boas-vindas a primeira neve do dia em uma paisagem que ficava ainda mais bonita. Algumas mais pesadas iam direto ao chão, outras brincavam flutuando para todos os lados com o vento fraco de fim de tarde.

Os dois se encaravam de uma forma tão intensa, que nem mesmo os floquinhos ousavam passar entre eles e se prendiam aos fios de cabelo enquanto pintavam a paisagem.

Os dois se aproximavam de vagar até estarem tão próximos que bastava apenas levantar o braço para encostar um no outro e o alfa não se conteve ao pegar a mão coberta por luva do ômega.

- Prazer em conhece-lo Baekhyun. - Sorriu tirando a luva do garoto e deixando um beijo sobre a mão branquinha.

- O prazer é meu, Chanyeol. - Escondeu o sorriso tímido com a outra mão.

O primeiro encontro.

O primeiro olhar.

O primeiro sorriso.

O primeiro inverno.

O primeiro amor.

O primeiro fim e também o primeiro começo...