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História Caçada - O Plano


Escrita por: Mrscurly

Notas do Autor


Hey, tigers!
Estão prontas para o capítulo de Fevereiro para animar um pouquinho esse Carnaval?
Agradeço a todos os comentários lindos que deixaram no capítulo anterior e pelos vários favoritos, vocês dizerem o meu mês!
Espero que todos gostem desse capítulo.
Boa leitura.

Capítulo 46 - O Plano


Fanfic / Fanfiction Caçada - O Plano

O balanço do colchão, sob meu corpo, fez meinhas pálpebras tremerem e um bocejo indesejado escapou de meus lábios quando finalmente comecei a acordar. Os músculos do braço foram os primeiros a se movimentaram, içando-me até encontrar uma nova posição confortável na cama.

Minha mente estava confusa e meu corpo ainda respondia ao torpor de passar horas em um sono profundo, o qual eu pretendia permanecer.

Virada de lado, remexi-me no travesseiro e tentei limpar a mente de qualquer pensamento que me impedisse que pegar no sono novamente, contudo, uma respiração quente bateu em meu rosto.

Forcei os olhos a ficarem fechados, mas outra vez a lufada de ar quente me chamou a atenção, e uma risada grossa e baixa deixou meu corpo em alerta.

− Pare de ficar me encarando enquanto durmo – resmunguei, deitando-me de barriga para baixo, apenas para esconder o rosto no travesseiro. – Isso é assustador.

Toques molhados percorriam minha nuca, e rapidamente meu cabelo embaraçado foi jogado sobre meus ombros. Quis segurar um sorriso, mas os beijos de Kishan em minha pele, logo de manhã, causavam as mais diversas sensações em mim.

− Gosto de vê-la dormir. – A voz que eu tanto amava sussurrava aquelas palavras contra meu ouvido, fazendo todos os pelos de meu corpo eriçarem. – É revigorante ver você relaxada.

Solto um grunhido de protesto, ainda com o rosto enfiado contra o travesseiro. Minha vontade era agarrar o príncipe, contudo, meu corpo ainda gritava por horas de sono e descanso. Infelizmente, Kishan sabia ser bem persistente quando queria.

− Sabe o que seria revigorante? – perguntei retoricamente, tentando ignorar o beijos que agora desciam pelo minha coluna. – Mais algumas horas de sono.

Um ronronar baixinho começou a sair dos lábios inquietos de Kishan, e eu tive que abafar um ofego, pois agora mãos firmes passeavam pelas curvas de meu corpo, causando uma familiar sensação prazerosa.

− Não era isso o que eu tinha em mente – Kishan respondeu, mas sua voz não passava se um sussurro.

Todos os meus músculos relaxavam com o toque do tigre, e percebi que ele era capaz de causar sensações e sentimentos completamente novos em mim com um simples toque ou uma palavra apaixonada.

Kishan era viciante.

Dando-me por vencida, voltei para a posição em que estava antes de acordar, com a barriga para cima e os braços sobre o peito, entretanto, fiquei de olhos fechados, ainda relutante em sair da cama.

− Então espero que seus planos incluam um longo banho para nós dois, porque é isso que precisamos – disse, ouvindo sua risada musical perto de meus ouvidos, ao mesmo momento que seus lábios beijaram o canto de minha boca, provocante.

Eu tinha noção da sujeira que meu corpo exalava, e os nós de meus cabelos eram a prova da noite conturbada que passamos, deixando-me cansada demais para qualquer tipo de higiene pessoal.

−Diga isso para si mesma, porquinha – Kishan provocou, tocando carinhosamente minha barriga coberta pela blusa cinza masculina. – Eu tomei banho enquanto você dormia.

Suas palavras pareceram um interruptor para meus sentimentos, e rapidamente capitei seu perfume amadeirado misturado com o forte cheiro de sabonete. Abri os olhos e encarei o teto por alguns segundos antes de virar-me para o lado e encontrar duas órbitas douradas me estudando com divertimento.

Segurei um gemido de prazer ao encarar o homem em minha frente. Os cabelos negros estavam úmidos e baixos e seus olhos brilhavam com malícia, ao mesmo momento em que um sorriso de lado formou-se em seu rosto anguloso.

Kishan vestia nada mais do que uma calça de flanela desgastada, e eu conseguia ver gotículas de água em seu peito definido. Um halo esculpia seu corpo deitado, e deixava a pele oliva maravilhosa.

Bufei ao perceber eu estava descabelada, um tanto suja e com o rosto inchado depois de horas dormindo. Talvez eu precisasse mesmo de um banho.

Enquanto eu divagava sobre levantar ou não da cama, Kishan içou o próprio corpo até estar em cima do meu, com as pernas dando-lhe equilíbrio, o príncipe entrelaçou nossas mãos e as apoiou uma de cada lado do meu rosto.

Olhei para os olhos de pirata que brilhavam e mordi o lábio inferior; Kishan deitou-se sobre mim, deixando que todas as partes de nossos corpos se toquem, fazendo com que eu soltasse um ofego. Aquilo só o fez sorri ainda mais.

Os lábios de Kishan buscaram os meus, mordendo-os em uma provocação deliciosa ao mesmo tempo em que o ronronar baixinho voltava a sair de seu peito, fazendo-me remexer de excitação.

Sem aguentar mais, roubei os lábios do tigre para mim, iniciando um beijo quase desesperado, enquanto nossas línguas brigavam por controle. Um gemido escapou dos lábios de Kishan, e de forma irracional, meu quadril foi de encontro ao dele, fazendo-me tremer.

Nossos corpos estavam quentes e pareciam conectados, pois podia jurar que nossos movimentos eram sincronizados e os batimentos cardíacos, rítmicos. Sugando o lábio inferior de Kishan, fiz minhas pernas se enrolarem contra a cintura do príncipe, e rapidamente, uma das mãos grandes e fortes soltaram a minha e voaram diretamente para minha perna nua.

− Kishan, eu preciso tomar banho – murmurei ofegante, quando os lábios do homem viciante soltaram os meus, e agora percorriam um caminho do queixo até meu pescoço.

− Acho que posso ajudar com isso. – Por alguns segundos, Kishan parou de fazer qualquer movimento e apenas encarou-me com os olhos dourados, os quais brilhavam de forma marota.

Beijando minha testa e logo em seguida, a ponta de meu nariz, o tigre negro levou as duas mãos até minhas cochas, traçando um caminho de carinhos prazerosos e levando a blusa que cobria meu corpo junto.

O tecido cinza havia se amontoado em meu peito, mas Kishan ainda parecia muito entretido em deixar beijos molhados na pele sensível da minha barriga. Quando os olhos de pirata voltaram a estudar meu rosto eu estava a ponto de explodir. Elevei meu tronco o mínimo necessário para que a blusa pudesse ser tirada, e quando ela foi jogada no chão, esqueci completamente de tudo.

Tudo o que eu queria era ser tomada por completo por aquele homem.

Fechei os olhos e esperei o próximo toque de Kishan, mas fui surpreendida com braços indo até minha cintura, e quando percebi, meu corpo foi jogado sobre o ombro do tigre, que gargalhava alto.

− Kishan! – gritei, sentindo-me enjoada por estar de ponta-cabeça, olhando para os pés do homem que agora me carregava até o banheiro.

Usando apenas roupas íntimas, comecei a me debater contra o corpo firme de Kishan, mas ele simplesmente ignorou minha luta e colocou-me no piso frio do banheiro, encarando-me com um ar maroto enquanto tomava meu rosto em suas mãos, selando nossos lábios rapidamente.

− É hora do banho, porquinha – ele sussurrou de forma um tanto desafiadora, com a boca carnuda esbarrando na minha.

Bufando frustrada, empurrei Kishan com toda a força que tinha, o que o fez rir com ainda mais força enquanto se afastava. Cruzei os braços contra o peito e apontei para a porta com o queixo, pedindo silenciosamente para que ele saísse.

− Vou estar esperando você lá em baixo, bilauta – ele disse, dando de ombro e se virando, não antes de encarar meu corpo seminu por alguns segundos, fazendo-me corar levemente. Antes mesmo de chegar até a porta, o homem deu lugar ao tigre negro, que rugiu alto e balançou a cauda, deixando-me sozinha no bainheiro.

Quando o jato de água tocou meu corpo, todos os músculos pareceram relaxar, e por alguns minutos, apenas fiquei estática, deixando que aquela sensação de paz me tomasse por inteira. O banheiro de Kishan era espaçoso e em tons escuros, deixando tudo muito acolhedor, além de exalar o perfume amadeirado do príncipe, como se ele mesmo estivesse ali.

Permiti-me ficar ali até minha pele começar a ficar enrugada, e enrolando-me em uma toalha chumbo, coloquei a cabeça para fora do banheiro, apenas ter certeza que Kishan não estava no quarto. Fiz o mesmo procedimento para ir ao corredor, xingando-me mentalmente por não ter ido buscar uma troca de roupa antes de banho.

Adentrei ao quarto com cautela, olhando uma única vez para onde Kelsey dormia, com alguns travesseiros jogados ao chão e completamente descoberta. Não precisei olhar para a sacada para saber que Ren dormia em sua forma de tigre, deitado em uma espreguiçadeira.

Trancando a porta do closet, deixei a toalha cair aos meus pés e vesti roupas íntimas limpas, antes de encarar a enorme variedade de roupas que brilhavam nos cabides, entretanto, meus olhos capturaram um amontoado de tecidos que eu conhecia tão bem.

− Acho que estou me sentindo nostálgica. – Acariciei o tecido da camisa xadrez toda remendada e suspirei pesadamente, escolhendo minhas antigas roupas para usar; com um sorriso no rosto, calcei o coturno surrado.

Assim que adentrei ao quarto novamente, um par de olhos castanhos me encararam e eu sorri para Kelsey, cujos braços se apoiavam na cama para que ela levantasse. Com o canto dos olhos consegui ver o tigre branco espreguiçando-se de forma manhosa, focando os olhos azuis na menina; com um balanço na cauda, Ren nos deixou a sós.

− Desculpe ter acordado você – disse brincando com a barro de minha camisa xadrez, enquanto me acomodava na beira da cama.

− Eu já estava acordada – ela respondeu, passando as mãos nos cabelos e desfazendo o que restava de uma trança. – Apenas fiquei pensando em tudo o que aconteceu.

Por alguns segundos o quarto ficou em silêncio, e eu esperava que Kelsey levantasse e saísse correndo, contudo, a menina me surpreendeu abrindo um sorriso um tanto sem jeito, enquanto puxava o cabelo para o lado e refazia sua trança.

− Imagino que isso signifique que vai ficar conosco. – Não sabia o motivo, mas uma pequena onda de euforia tomou meu corpo, e comecei a enrolar as pontas do meu cabelo ondulado.

− Eu ainda acho que tudo seja um pouco de loucura – Kelsey confessou, afastando o resto das cobertas que estavam em seus pés. – Mas eu não tenho mais ninguém e vocês me ajudaram, além confiarem a mim essa história.

− Bem, ainda há muito o que contar. – Minha voz era séria e firme, mas minhas mãos buscaram o amuleto em meu peito. – E saiba que você pode sair por aquela porta a hora que desejar.

− Obrigada. – Sua resposta era sincera, o que me fez sorrir. – Confesso que a maldição e todo o resto me deixaram um pouco curiosa e fiquei formulando algumas teorias quando acordei.

Soltei um riso alto, imaginando como ela conseguia estar assimilando tudo aquilo tão bem, quando tudo o que eu fiz foi querer gritar e sair correndo. Não sabia o quê, mas algo nos olhos de Kelsey transmitiam força e coragem.

− Ouvirei tudo com prazer, mas acho que primeiro você poderia tomar banho. – Naquele momento, o cheiro de bacon frito invadiu o quarto, e tanto eu quanto Kelsey fechamos os olhos, apreciam aquele aroma. – E talvez comer alguma coisa. A comida de Nilima é sensacional, e acredito que você esteja com fome.

− Você não faz ideia! – O sarcasmo estava de volta em sua voz, e percebi que aquilo era uma característica da menina de olhos castanhos, e suspirei aliviada por Kelsey estar bem.

Ela jogou as pernas para fora da cama, levantando-se e espreguiçando o corpo como um gato. Suas roupas ainda eram as de ontem, e o vestido brando já tinha mudado de cor, além de conter alguns rasgos.

− Use meu banheiro e se sinta à vontade para pegar algumas roupas minhas, muitas ainda nem usei – confessei, sorrindo para ela de forma arteira.

Levantei e fui surpreendida com os braços de Kelsey puxando-me para um abraço, e ainda sem jeito, abracei-a de volta por alguns minutos, antes de me afastar e passar as mãos pelos cabelos.

− Estarei na cozinha, é só seguir o cheiro da comida – disse, piscando para ela antes de sair do quarto, descendo as escadas com pulinhos e correndo o curto caminho até a cozinha, onde Kadam estava sentado no seu lugar de sempre, lendo um jornal em híndi.

Nilima colocava ovos mexidos em um prato em que já estavam acumulados uma pilha da mesma comida, mais sabia que com dois tigres, aquilo não era nem começo. Olhei em volta até encontrar Ren e Kishan, ainda em suas formas felinas, deitados no chão da cozinha onde o Sol batia com mais intensidade.

− Bom dia, seus preguiçosos – disse para os tigres, vendo Kishan ser o primeiro a levantar a cabeça e balançar as orelhas. Seus olhos de pirata estudaram minhas roupas e percebi o reconhecimento, fazendo-o rugir baixinho.

Ren tombou a cabeça para o lado de forma questionadora, mas eu apenas sorri, tentando passar o máximo de tranquilidade para o animal agitado.

− Kelsey está tomando banho, logo descerá – anunciei, indo até Kadam e o abraçando rapidamente, antes de beijar as bochechas de Nilima e me servir com um prato generoso de ovos mexidos com bacon.

Sentada à mesa, gemi de prazer ao colocar na boca a comida quentinha e sorri ao perceber que parecia não comer a séculos. Senti o corpo quente e peludo do tigre negro se acomodando sobre meus pés, e um ronrono baixinho me fez sorrir, enquanto o tigre branco se postava ao meu lado, observando a porta da cozinha com euforia.

− Imagino que senhorita tenha conseguido convencer a garota – disse Kadam, levantando os olhos do jornal e sorrindo para mim, antes de levar a xícara de café aos lábios.

− Contei o necessário, mas ela ainda precisa saber muito – confessei, tomando um gole de suco enquanto ponderava sobre o que contar à Kelsey.

− Acredito que esse seja o menor dos nossos problemas. – Kadam cruza os braços sobre a mesa e percebo seus olhos escorregarem. – Ainda temos que lidar com o convite inesperado de Lokesh.

Fechei os olhos e senti Kishan ficar tenso aos meus pés, entretanto, não consegui dizer mais nenhuma palavra, pois a porta da cozinha foi aberta de forma cautelosa, e Kelsey adentrou ao cômodo, com os cabelos úmidos soltos, usando jeans e uma camisa branca lisa.

− Meu estômago está literalmente roncando – ela diz, um tanto acanhada com todos os olhos a encarando. – Essa comida está muito cheirosa.

Se uma agulha caísse no chão lustroso da cozinha, acredito que qualquer animal na floresta conseguiria ouvir, tamanho o silêncio que tomou conta das sete pessoas naquele cômodo. Nilima deixou cair sua espátula no balcão, e o bacon fritando chiou no óleo.

− Bom dia, senhorita Kelsey. – Agradeci mentalmente ao senhor Kadam por ter acabado com os minutos de constrangimento. – É bom ver que está melhor, sirva-se do que quiser, Nilima está fazendo comida para um pelotão.

Percebi pelo jeito como Kelsey apertava a barra da blusa entre dedos o quanto ela estava nervosa. Seus olhos estavam fixos no tigre branco ao meu lado, que a estudava com os olhos cobaltos brilhantes e as orelhas felpudas remexendo como um gatinho pidão.

− É melhor aproveitarmos enquanto o bacon está fresquinho – disse, levantando-me da cadeira com o prato vazio em mãos e um sorriso torto no rosto. – Antes que nossos dois amiguinhos gulosos acabem com tudo.

Quebrando o contato visual entre Kelsey e Ren, levei a menina até o balcão, entregando um prato branco para ela, cuja fome parecia enorme, pois uma montanha de comida surgiu no fundo da louça em um piscar de olhos.

Um sorriso alegre estampava o rosto da menina, contudo isso durou poucos segundos, pois no momento em que ela se virou para ir até a mesa, os dois tigres vieram em nossa direção de forma preguiçosa, nos estudando com cautela. Arregalei os olhos e tentei balançar a cabeça em negação, contudo, só entendi o que eles estavam prestes a fazer muito tarde.

Como mágica, os dois tigres deram lugar aos príncipes, usando suas roupas de algodão e estampando sorrisos iluminados. O barulho de um prato caindo no chão ecoou pela cozinha, e ninguém conseguiu impedir da comida se espalhar pelo chão branco e limpo.

Apoiada na bancada, Kelsey olhava para os dois irmãos com a boca aberta e os olhos arregalados. Pude jurar que as pernas da menina tremiam, e Ren deu um passo em sua direção, para acudi-la, contudo, isso apenas fez com que ela se encolhesse ainda mais.

Encarei os dois irmãos de forma carrancuda, desferindo xingamentos silenciosos para ambos, que pareciam perdidos. Dando um pequeno tapinha em minha testa fui até o lado de Kelsey, que ainda parecia em estado de choque.

− Eu ainda estou sonhando, não é mesmo? – ela murmurou para mim, contudo não consegui dizer nada, pois Kishan se apressou.

− Eu disse que não era para nos transformarmos ao mesmo tempo – resmungou Kishan, cutucando o irmão nas costelas. – Ela se assustou com nossa beleza.

Kadam soltou uma tosse seca, reprimindo uma risada e tudo parecia tenso demais em nossa volta. Kelsey levantou a cabeça, soltando-se de mim e encarando o tigre preto com os olhos em chama.

− Porque ver dois tigres se transformando em homens é algo muito comum para mim. – Sua voz era carregada de ironia e sarcasmo, e eu tapei a boca, olhando para meu príncipe que parecia atônito. – Então é claro que sua beleza ofuscou meus sentidos.

Ren parecia um pai orgulhoso, e dava tapinhas nos ombros do irmão com um sorriso bobo no rosto, o qual tinha as sobrancelhas cerradas. Sua postura desconcertada não durou muito, e abrindo um sorriso de lado, Kishan passou as mãos pelos cabelos negros, olhando para o irmão de forma brincalhona.

− Gostei dela – disse de forma sucinta, passando por mim e deixando um beijo em minha bochecha antes de começar a encher um prato com ovos mexidos.

O príncipe de olhos azuis, contudo, ainda parecia um tanto quanto desnorteado, e levando uma das mãos até a nuca, ele se aproximou com cautela de Kelsey, a qual parecia esperar pela próxima brincadeirinha.

− Você está bem? – ele perguntou. Sua voz estava rouca e foi uma das únicas vezes que o vi gaguejar, pois mesmo nos momentos difíceis, Ren agia como o rei que fora criado para ser.

− Na medida do possível, obrigada. – Kelsey parecia desconcertada com a atenção do homem, e apenas abaixou a cabeça, olhando pela primeira vez para a bagunça que o chão se encontrava: uma mistura de comida com pedaços do prato estilhaçado. – Desculpem-me por essa bagunça, posso limpar tudo rapidinho.

− Não se incomode com isso – Nilima abriu um sorriso simpático, tirando as luvas térmicas das mãos e soltando o coque firme de seus cabelos.

− Acho melhor terminarmos nossa conversa de ontem de uma vez por todas, já que esses dois acabaram com a surpresa – resmunguei, tentando sorrir para Kelsey sem muito sucesso. – Pegue a comida que quiser e vamos para a biblioteca, lá você pode fazer todas as perguntas que quiser.

Com um sorriso de lado, cutuquei Kelsey na barriga como se esse ato fosse algo muito comum entre nós, e meu coração se encheu um pouquinho quando a menina revirou os olhos e abriu um sorriso sem jeito.

− Estou me sentindo a Mary Jane no filme do Homem Aranha – ela resmungou, pegando um bolinho de chocolate solitário ao lado das frituras e abocanhando de uma vez, ao mesmo tempo em que me seguia para fora da cozinha.

Sentir o cheiro dos livros antigos e ver as páginas amareladas em capas de couro fez meu corpo relaxar, e eu apontei uma poltrona para Kelsey, que jogou seu corpo ali enquanto me olhava sentar na mesma cadeira de sempre, ao lado da mesa bagunçada de Kadam.

− Eu pretendia explicar tudo com detalhes antes de lhes mostrar os irmãos, mas eles acabaram com meus planos – disse, tentando quebrar um pouco o gelo daquele momento, pegando um livro de capa duro verde e abrindo em uma página qualquer.

− Ainda estou tentando assimilar o que vi, mas foi uma maneira bem convincente de me fazer acreditar em suas palavras. – Kelsey olhava para mim, mas suas mãos estavam inquietas, brincando com as roupas e com o cabelo trançado. – Muitas coisas ainda não fazem sentindo, e eu me sinto dentro de um livro.

− Vou lhe contar tudo o que sei com detalhes, e talvez isso possa ajudar. – Dando de ombros, olhei para minha pulseira de tigre uma única vez antes de tomar fôlego e começar a história de tudo o que eu sabia, começando pela chegada de Kishan ao circo.

Reviver tudo aquilo, desde a viajem, até a descoberta sobre a magia dos amuletos fez com que minha voz ficasse cheia de sentimentos, e muitas vezes me peguei apertando entre os dedos o Amuleto de Damon. Mostrei a Kelsey o livro da mitologia indiana no qual eu havia descoberto sobre a maldição, expliquei para a menina sobre o Pergaminho do Tigre e em muitos momentos ela riu baixinho com a história de Phet.

A menina de cabelos castanhos se remexeu na poltrona quando lhe contei dos desafios no templo de fogo, e quando narrava com cautela o resgate de Ren das garras de Lokesh, Kelsey sentou-se ereta, apoiando os cotovelos nas pernas e mordendo os lábios.

− Posso fazer uma pergunta? – ela sussurra, olhando para os lado como se tivesse medo de alguém poder nos ouvir.

− Claro que sim, Kelsey – respondi, abrindo um pequeno sorriso encorajador para a menina, enquanto bebericava da xícara de chá, a qual Nilima havia trazido há pouco.

− Por que Ren está sempre me observando? – Sua pergunta me pegou de surpresa, mas tentei manter a expressão neutra. – As poucas vezes em que ficamos de frente um para o outro ele sempre parecia querer dizer alguma coisa, e sua postura é tão angustiada.

Olhei para as janelas amplas da biblioteca, tentando formular alguma resposta para a menina, mas nunca imaginei que ela seria tão observadora. Minha mente voou para além da floresta que nos cercava, e me questionei se os tigres estariam caçando naquele instante, deixando que a parte animal tomasse conta de todo eles.

Estudei a pergunta de Kelsey por longos minutos, sabendo que a maior parte da minha mente gritava para que eu lhe contasse a verdade, e talvez, conseguisse acabar com o sofrimento que o tigre branco voltara a viver. Contudo, meu coração sabia que contar para a menina em minha frente sobre Kalika, e a forma como ela parecia ter reencarnado seria loucura.

Era pedir demais que Kelsey aceitasse a história da maldição que eu lhe contava juntamente com a suposição de ela se parecer tanto com o antigo amor de Ren. Além de tudo, aquilo não cabia a mim, apenas para ela e o tigre branco.

− Ren passou muitos anos se culpando demais por erros que não foram culpa dele – disse por fim, respirando profundamente antes de continuar. – Como lhe disse, os dois irmãos passaram séculos se odiando, jogando a culpa de mortes e perdas de um para o outro, quando na verdade tudo não passa de um jogo de Lokesh. Acredito que depois do ataque de ontem no festival, Ren só está nervoso com o seu envolvimento, pois ele é muito protetor, não quer ver mais ninguém machado.

Não recebi nenhuma resposta verbal, pois Kelsey apenas balançou a cabeça e pareceu se perder em pensamentos. Por alguns segundos, quis ter a habilidade de saber o que ela pensava daquilo tudo.

Sem mais nenhuma pergunta, prossegui falando sobre o resgate de Ren, as manipulações de Lokesh com todos nós e a batalha no templo da água. Kelsey pareceu fascinada com a história de como matamos a hidra, perguntando sobre como eu havia aprendido a lutar tão bem.

O sol estava batia forte dentro da biblioteca, o que me fez pensar que já era próximo da hora do almoço. As horas voaram enquanto eu tentava contar o máximo possível para Kelsey, ao mesmo tempo em que tentava lhe responder as perguntas da forma mais esclarecedora.

− Tudo para muito mais claro agora, a medida do possível. – Kelsey disse por fim, quando lhe contei o que havia acontecido enquanto ela estava desmaiada, na noite do festival. – Mas ainda tem uma coisa que não entendo.

− O que é? – perguntei, tombando a cabeça para o lado e abrindo um sorriso amigável para Kelsey. Com ela, tudo parecia bem simples.

− Por que você fez tudo o que fez? – Sua pergunta martelou em minha cabeça, contudo meu coração já tinha a resposta, que saiu em um piscar de olhos.

− Porque eu amo Kishan, e quero fazer tudo ao meu alcance para vê-lo feliz – disse rapidamente, sem ao mesmo parar para respirar, afinal, eu sabia que cada uma daquelas palavras eram verdadeiras.

Kelsey abriu um enorme sorriso, e estava pronta para falar alguma coisa quando a porta da biblioteca foi aberta com força, batendo na parede e fazendo um barulho altíssimo. Kishan entrou no cômodo parecendo um animal enfurecido, atrás dele Ren e Kadam tentavam acalmá-lo com palavras. Longe do furacão que era o príncipe de olhos dourado, Nilima andava trêmula, carregando uma enorme caixa cinza, com arabescos desenhados em tom de ouro.

− Não tem discussão! Ela não vai a lugar nenhum! – berrou Kishan, afastando a mão de Ren de seu ombro de forma violenta.

Assistindo aquela cena desconcertada, levantei da poltrona com um salto e fui até Kishan, tocando suas costas contraídas, que subiam e desciam acompanhando a respiração descontrolada.

− O que está acontecendo? – perguntei, vendo Kadam apertar o espaço entre os olhos e caminhar até sua mesa, sentando na cadeira como se tivesse corrido uma maratona.

Kishan focou os belos olhos em mim, e neles transpareciam uma mistura de fúria e medo, por causa disse, envolvi a cintura larga do tigre com os braços, puxando-o para um abraço ao mesmo tempo em que olhava para Ren, perguntando silenciosamente o que havia deixado Kishan daquela forma.

Fora Nilima quem respondeu.

− Esse pacote foi deixado na porta da casa, e junto há uma carta com seu nome, Mia – sussurrou a garota de pele oliva, estendendo a caixa bonita em minha direção, com os braços trêmulos.

Com o olhar de todos em mim abri o presente misterioso com rapidez, encontrando um tecido vermelho brilhante todo dobrado. Entregando a caixa vazia para Nilima, estendi em minha frente o que se revelou ser um vestido de festa muito parecido com o que a personagem Jessica Rabbit usava.

O busto tinha um enorme decote coração profundo e o tecido carmim parecia colar na pele como elástico. A cintura do vestido era tão pequena que imaginei ser para uma manequim. Balançando a extravagância rubra, encontrei um rasgo lateral que provavelmente deixaria toda uma perna exposta.

Meus olhos e boca estavam escancarados, e procurei em Kadam a resposta para aquilo, sem entender como aquele vestido tinha sido deixado na porta da casa sem nenhuma explicação. Kishan não deixou que o homem de cabelos brancos falasse, apontando para o tecido em minhas mãos como se fosse um monstro.

Ele deixou isso para você. – A forma como o príncipe cuspiu as palavras me fez arrepiar, e senti um enjoo passageiro por estar segurando um presente de Lokesh.

Lokesh tinha enviado em presente para mim.

− A carta contém um convite formal para a festa que ele dará amanhã em Toophaan – explica Kadam, enquanto Ren tentava conter o irmão enfurecido; Kelsey olhava para mim confusa, mas eu apenas retribuía o olhar. – Além disso, ele pede que a senhorita use o presente.

− Você não vai, Mia! Está me ouvindo? – Kishan desferiu as palavras para mim com descontrole, passando as mãos pelos cabelos negros bagunçados. – Não vou deixar aquele homem asqueroso colocar as mãos em você.

Balancei a cabeça, sabendo que aquela era a hora de reagir. Joguei o vestido em cima de um poltrona vazia, olhando para o tecido brilhante uma única vez, o que me fez estremecer. Saber que Lokesh sabia nossa localização, e já declarava vitória ao me presentear com o modelo vulgar fazia meu sangue ferver.

− Não tenho escolha, Kishan! – gritei, perdendo o controle por alguns segundos. Minhas mãos estavam fechadas em punho, e toda a biblioteca ficou silenciosa por alguns segundos. – Se eu não for a esse baile, não sabemos o que ele poderá fazer conosco. Ele quase matou você ontem, Kishan.

Os olhos de pirata do homem em minha frente tranquilizaram frente as minhas palavras e ele suspirou pesadamente, deixando os ombros caírem. Dei um passo em sua direção, tomando sua mão nas minhas e beijando os nós de seus dedos.

Um misto de frustração e agonia passava por seus olhos, mas eu mesma tinha esses sentimentos e muitos outros me bombardeando naquele momento.

− Deve haver outra forma – resmungou Ren, dando alguns passos indecisos até Kelsey, a qual tinha nas mãos a carta com meu nome escrito de forma elegante. – Podemos encontrar uma forma de lutar.

− Lokesh tem o poder dos amuletos do ar e da terra – explicou Kadam, subindo os óculos de leitura com um dedo. – Vocês viram como ele controla os elementos a seu favor, lutar com ele é quase impossível.

Todos ouvimos a verdade saindo dos lábios de Kadam em silêncio. Não tínhamos a magia de Lokesh, não éramos páreo para aquele homem, que sempre conseguia manipular tudo a sua vontade.

Respirei fundo e apertei a mão de Kishan, sabendo que aquela luta estava perdida.

− Talvez não precisemos lutar – disse Kelsey de forma baixinha, quebrando o silêncio e fazendo com que todos olhassem para ela.

− O que quer dizer? – perguntou Ren gentilmente, sendo encarado pela menina de olhos castanhos bom longos segundos.

− Podemos usar a arma mais poderosa dele para nos favorecer. – Kadam ouvia a menina com atenção, e as mãos de Kelsey estavam nervosas, pois a menina remexia na carta com rapidez. – Usaremos a chantagem para engana-lo e o fazer pensar que nos entregamos. Se tivermos sorte, podemos ainda conseguir os amuletos na posse de Lokesh.

Kadam já se levantava, indo até onde um computador portátil estava, junto com outros dois de mesa, os quais possuíam grandes monitores. Nilima pegou o vestido vermelho nas mãos dobrando-o perfeitamente antes de sair da sala, provavelmente indo buscar chá e café como sempre fazia.

Ren olhava para menina com certa admiração, enquanto Kishan me encarava como se buscasse a resposta para o que Kelsey tinha em mente.

Eu sorri, organizando os pensamentos com a linha de raciocínio da menina de olhos castanhos, indo em sua direção e tocando o ombro de forma firme e decidida.

− Isso quer dizer que... – Comecei a falar, mas fui interrompida por Kelsey, que olhou para mim com um misto de coragem e determinação.

− Eu quero ajudar.

Continua...


Notas Finais


Esse foi o capítulo de Fevereiro, sei que não ficou muito bom, pois estava muito nervosa com o resultado do vestibular quando o escrevi, mas tenho uma novidade: Consegui passar na faculdade e acho que talvez poste mais um capítulo esse mês para comemorar, o que acham da ideia?
Espero que todas tenham gostado!!
Xoxo, Gabi G.


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