História Caçada - A Fuga do Tigre

Enquanto eu corria para a tenda de Kishan, comecei a pensar naquela ideia maluca. Fugir com um tigre era insano. Para onde eu levaria ele? E quando ele ficasse com fome? Eu ofereceria o meu braço para ele comer? Passar minha vida vagando por ai com um tigre não foi o que eu pensei para mim.

Mas eu não poderia deixar Kishan nas mãos daquele homem sinistro, e talvez eu deveria olhar para isso como uma oportunidade, afinal eu estaria livre desse lugar e das malvadezas do Benzini.

Mas e o Matt? Bem, uma coisa de cada vez...

Eu estava pronta para entrar na tenda de Kishan, quando uma voz masculina baixa me fez recuar. Prendi a respiração e tentei me esconder enquanto forçava meu ouvido a ouvir alguma coisa.

- Sua garotinha não conseguirá te salvar, meu caro príncipe. – A voz de Lokesh era vingativa. – Daqui a pouco, você se reunirá com seu irmão. Lembra de Dhiren?

Kishan deu um rugido alto, e ele parecia furioso. Perguntas confundiam minha cabeça e eu tentava entender, sem sucesso, o que estava acontecendo ali.

- Ele não está morto, mas eu estou me certificando para ele seja torturado todos os dias pelos meus melhores homens, e quando eu finalmente tiver vocês dois, meu plano começará a dar certo.

Consegui ouvir uma risada baixa e o som das garras de Kishan passando nas grades da jaula. Minha respiração já estava descompassada e minhas mãos tremiam. Tentei dar meia volta e sair dali, mas acabei esbarrando em umas caixas.

Meu coração disparou e eu comecei a suar. Eu tentava fazer minha pernas se moveram, mas o medo me consumiu e bem nessa hora Lokesh saiu da tenda, focando seu olhar de predador em mim.

- Ah! Senhorita Mia, está aqui fora muito tempo? - Sua voz aveludada estava rígida.

- N-não, senhor. Eu estava passado e pensei em dar uma olhadinha em Kishan...

Tentei fazer minha voz sair normal, mas o pavor consumia cada célula do meu corpo e tudo o que eu consegui foi torcer minhas mãos escondidas nas costas.

- Entendo... – Seu olhos me encararam, como se soubessem da verdade.

- Eu... Preciso ir cuidar dos cães, ou o senhor Benzini vai me despedir. – Dou um sorriso amarelo e começo a me afastar.

- Bem, a gente se vê por ai, Mia. – Seu sorriso mortal me fez estremecer.

“Acho que não! Pois essa noite, eu vou levar Kishan para bem longe de você!”

Passei o resto da tarde no meu trailer, tentando montar um plano de fuga, enquanto guardava minhas poucas coisas dentro da mochila velha de lona que achei nas coisas de Cadence.

Mesmo sendo uma adepta a filmes de ação e fuga, não consegui bolar nenhum plano descente, então resolvi improvisar e rezar para que desse certo e que eu não fosse pega.

Depois de vestir minha calça jeans mais quente, um suéter preto e o casaco que Matt tinha me emprestado no dia em que fomos no cinema, fiz uma rabo de cavalo em meus cabelos e calcei minhas botas de couro.

Peguei meu caderninho de desenho e guardei-o dentro da mochila antes de sair do trailer. Já era de noite e todos estavam no refeitório jantando, então era a hora perfeita para eu fugir com Kishan.

Fechei o casaco de Matt para que aquele vento gelado não entrasse e comecei a caminhar em direção a tenda de Kishan. Olhei para traz e vi as pessoas conversando animadamente enquanto comiam a sopa de carne que estava sendo servida.

Dou um suspiro e sinto meus ombros curvarem ao perceber que eu nunca poderia pertencer aquele lugar, eu simplesmente não me encaixava ali.

Tiro aquilo da cabeça e entro na tenda de Kishan, encontrando o tigre andando de um lado para o outro, inquieto. Seus olhos varriam todo o lugar e quando me perceberam ali, o animal rugiu baixinho e balançou a calda peluda.

- Oi, Kishan! – Estendo minha mão para dentro da jaula e sinto a língua molhada de Kishan me lambendo.

- Olha, nós não temos muito tempo, então eu vou resumir tudo! – Kishan me encarou sem entender.

- Nós vamos fugir! – O tigre em minha frente ficou impaciente. – É isso mesmo! Eu não vou deixar você ficar nas mãos daquele homem estranho! Ele me assusta de um jeito horrível e depois que eu ouvi aquela conversa maluca dele com você hoje de tarde, eu cheguei à conclusão de que não confio nem um pouco nele.

Enquanto tagarelava, fui até um canto da tenda e peguei uma corda grande que o Jordan usava como “guia” para Kishan.

- Eu realmente não sei para onde levar você, mas eu sei que aqui você não fica.

Minha determinação aumentava a cada palavra que eu dizia. Kishan estava estático, me encarando com seus olhos dourados. Andei até a porta da jaula e a abri, entrando naquele lugar apertado.

- Eu não vou deixar você, Kishan. – Minha voz saiu como um sussurro, mas aquela era a frase mais sincera que eu já tinha dito.

Kishan ronronou e afagou sua grande cabeça no meu braço, me fazendo sorrir.

- Ok, agora nós precisamos ir.

Enrolo o pescoço de Kishan com a corda e tento não apertar muito. Saio da jaula, sendo seguida por um tigre negro eufórico.

- Pronto? - Recebo um rugido como resposta.

- Vamos lá!

Sai da tenda junto com Kishan e tentei nos esconder nas sombras, mas a lua resolveu estar brilhante bem no dia em que eu tentava fugir com meu tigre. Kishan estava atento atrás de mim, suas orelhas giravam para todos os lados e sua posição era que ataque, pronto para qualquer coisa.

Já estávamos perto dos trailers e agora faltava pouco para sairmos do circo e chegarmos a auto estrada. Eu já estava pronta para dar meus pulinhos de alegria.

- Eu já vi pessoas fugindo do circo por muitos motivos e com muitas coisas estranhas, mas fugir com um tigre é realmente uma novidade para mim.

A voz baixa e feminina me fez congelar onde eu estava. Kishan rosnou de um jeito hostil ao meu lado.

“Droga! Fui descoberta”

Me virei para olhar quem era a pessoa. Encostada em um dos trailers, escondida pelas sombras da noite estava uma garota alta, com cabelos curtinhos e negros, que podiam se confundir com a escuridão. Vestindo hot pants pretas com meia sete oitavos cinza, camiseta rasgada de uma banda de rock, com casaco e botas de couro militar, com uma mochila marrom jogada perto dos seus pés, Lavander Schindler, a assistente do mágico do circo, nos encarava com seus olhos castanhos claros e um sorriso no rosto.

Lavander era uma garoto diferente, eu nunca conversei com ela, mas sempre observava a menina quando estávamos comendo. Ela sempre se sentava em uma mesa afastada e sem ninguém, tirava alguma coisa estranha de dentro da mochila e ficava brincando com o objeto.

Sempre me perguntei onde Lavander conseguia aquelas coisas, mas nunca cheguei em uma conclusão, então acabei me conformando de que ela era realmente uma mágica muito boa.

- Lavander, eu...  

Tentei explicar, mas a garota apenas levantou a mão e veio até minha direção.

- Não precisa explicar, Mia. Pode parecer maluquice, mas eu te entendo. - Seu sotaque russo era evidente.

“Como ela sabia meu nome?”

- Então...? - Mais uma vez ela me cortou.

- Eu estou aqui para te ajudar, Mia.

- Você vai me ajudar? - Perguntei incrédula, afinal, porque uma pessoa que mal me conhecia iria me ajudar?

Continua...