História Café Com Leite - Você está sendo grosso de novo, e você não foi trocado...

• Sábado. • 
  08h00

Ouço a voz da minha irmã me chamar desesperadamente, seu tom é baixo e isso gera uma confusão em minha mente, pois ainda não sei se é real. Por via das dúvidas, rolo meu corpo para o lado, afim de dormir mais um pouco. Quando sinto seus dedos gélidos tatearem minha pele quente, isso me impulsiona a chacoalhar, uma vez que viro e abro meus olhos com dificuldade, já que meu sono foi cortado. 

— Acorda, anda. - Ela exige sussurrando. Então dou uma passada de olho pelo quarto e vejo meu amigo deitado na cama ao lado, isso me assusta, pois Laís e Bia deveriam estar ali. 

— Porque o Vicente ta aqui? - Pergunto rápido, e me sento para tomar coragem e levantar, visto que não tenho outra alternativa. 

— Rodrigo dormiu lá no quarto com as meninas, seu amigo bebeu demais e o Vicente ficou com medo de ser abusado por ele a noite. - Ela dizia abafando o riso com as mãos, e solto uma risada pela narina, balançando a cabeça negativamente.  

— E o pai? 

— Ta dormindo ainda, anda logo. - Ela me apressa, então coloco meus pés no chão, dou mais um espreguiçada afim de despertar melhor, porém sei que só o banho me fará isso.

Sigo em direção ao banheiro, e elimino meu pijama, entrando logo em seguida debaixo da água perfeitamente morna. 

Me enxugo passando a toalha pela minha pele, e logo em seguida visto uma roupa simples. Vicente ainda dorme, e não me vê saindo do quarto, uma vez que procurei não fazer tanto barulho.

— Aí Isa, ainda bem. - Flávia diz soltando um suspiro de alívio, ainda estou prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo, descendo o último degrau da escada. — Precisa ir buscar algumas coisas no mercado, mas a Isabela ta terminando de preparar a comida, e estou ajudando, você poderia ir? 

— Claro. - Digo rápido. — O que precisa? 

— Vai precisar dos petiscos que esqueci de comprar, mussarela, presunto, azeitona e salame. - Assinto com a cabeça, virando para me sair. — Calma, aqui o dinheiro. - Ela corre na cozinha pegar sua bolsa, mas dou de ombros e não paro meus passos.

Bato a porta, e aciono o elevador. 

{Luan.}

Acabo de descer do palco, realizei um show aqui na cidade de Bauru, interior de São Paulo. Já se passam das 18h00. É um festival patrocinado pela rádio da cidade onde se reúnem vários artistas. 

— As coisas já estão dentro da vã. - Wel diz acompanhando meus passos pelo corredor do camarim. Ele me entrega uma toalha, da qual enxugo o suor que persiste em escorrer da minha pele. 

— Então bora. 

Vamos voltar para São Paulo. Antigamente eu cometia a loucura de fazer dois shows no mesmo dia. Hoje eu tenho uma estabilidade maior, e permito dar-me esse luxo. 

Me acomodo na vã depois de acenar para umas fãs que gritam na grade atrás do palco. Pego o celular, e mando uma mensagem no grupo da banda. 

— Pessoal tudo certo para hoje a noite? 

(...)
 

Desço do jatinho, e vejo o carro do meu pai há três metros. Ele vem de encontro, enquanto ajudo Wel e Rober com nossas bagagens. 

— E aí boi como cê vai fazer? - Pergunto a meu segurança.

— Meu irmão ta aí, vou com ele. - Ele responde olhando pro relógio em seu pulso. — Tem certeza que não quer que te acompanhe hoje a noite? 

— Não vai ter necessidade. - Digo certo. — Mas qualquer coisa eu te dou um alo, só que fica tranquilo. - Dou a mão para ele me despedindo. 

— Falou Leo, bom descanso pra você, até amanhã. - Aceno pro meu piloto, e abaixo pegando minhas malas seguindo ao carro. 

Rober me segue, junto com meu pai. Abrimos o porta mala, e jogamos as mesmas ali. Sento no banco traseiro, enquanto meu amigo se acomoda no lado direito do meu pai, do qual da a partida, e não demora a sair. 

— Vão sair hoje? - Meu velho pergunta, e tem a confirmação com Rober assentindo. 

— Tamo querendo. - Respondo. 

— Marquei sua viagem para Londres semana que vem, Joana vai estar livre e vai junto, o Fábio vai também. 

— Firmeza. - Me animo, pois há algum tempo quero retornar a feira de exposição da tecnologia que ocorre nessa época por lá, sendo que minha intenção é trazer alguma novidade pro meu novo DVD.

— A Bruna ta em Londrina ainda? - Rober pergunta. 

— Diz que volta essa semana. - Meu pai responde, sua atenção está voltada ao trânsito que ele corta na tentativa de chegar mais rápido em casa. 

(...)

Sem esperá-los, corro para minha casa, deixando-os pegar as bagagens, a verdade é que a saudade que estou da minha mãe é sem tamanho. 

— Filho. - Ela diz com um sorriso no rosto, típico de todas as vezes que me vê chegar em casa, uma vez que seu alívio é grande. — Como você está? - Seus braços estão em volta do meu pescoço, e sua mão afaga meus cabelos cobertos pela uma toca. 

— Cansado. - É o que sempre digo. — Mas realizado. - Ela ri, passando seu braço por minha cintura, e andando ao meu lado. 

— Graças a Deus. - Ela ri. — Está com fome? 

— Não, eu comi umas coisas antes de sair do hotel. 

Ela me abraça mais uma vez, e sobe as escadas comigo. 

Abro a porta do meu quarto e puxo todo o ar de comodidade, é muito bom voltar pra casa, depois da semana corrida que tive. 

— Quer uma massagem? - Ela pergunta se sentando na minha cama, enquanto retiro meu coturno. 

— Não, vou tirar uma soneca porque vamos sair hoje a noite. 

— Ah filho, sério? - Sei que ela não gosta muito disso, sendo que quer aproveitar cada segundo ao meu lado, porém entende que preciso de momentos assim. 

— Achamos uma brecha pra sair todo mundo da banda antes do dvd, não fizemos isso esse ano. - Explico.  

— Aonde vocês vão? 

— Cafe de la musique. - Ela assente levantando as sobrancelhas. — Não volto tarde. 

— O Weliton vai com você? 

— Não vai ser necessário. - Ela curva a boca, sei que ela sente mais segurança quando ele está comigo, e de fato. — Ah mãe, ele não gosta de balada né. 

— Mas você não acha muito arriscado? - Seu tom é preocupado.

— Não. Lá é de boa. - Mesmo que não conheça o lugar, as informações que tive foram essas.

— E outra, eu não volto tarde. - Tento tranqüiliza-lá. 

Rober entra no cômodo abraçando minha mãe. 

— Tudo bem mãe? - Ele pergunta, enquanto ela beija sua testa. Forço meus olhos, e ele gargalha. 

— Tudo, meu anjo. 

Ele sempre fica em casa quando está em São Paulo, já que é como um irmão que nunca tive, e minha família o trata exatamente dessa forma. 

{Isadora.}

— Flávia passa essa camiseta pra mim, por favor? - Ouço Rodrigo falar com Flávia assim que saio do banheiro, e veio Laís pronta, enquanto Bia acaba de colocar sua roupa. 

— Anda logo Isadora. - Laís me apressa, uma vez que, como sempre estou atrasada. 

Flávia ri, saindo do quarto com a camiseta de Rodrigo. Enquanto ele passa base por seu rosto. 

— Você pode fazer isso no banheiro? É que quero me trocar. - Peço. Ele rola seus olhos para cima, pega seus pertences e sai. 

— Você já sabe a roupa que vai né? - Bia pergunta, assinto positivamente com a cabeça. 

A verdade é que não queria sair hoje, estou desanimada. Luan visualizou minha mensagem, não respondeu. Saiu do grupo sem mais nem menos. Não tive oportunidade de conversar com a Bruna sobre isso, e parece que não será dessa vez, sendo que ela está em Londrina na casa dos parentes. Não acredito que ele tenha ficado tão chateado comigo, a ponto de cortar totalmente a amizade. Até entendo, caso ele não queira mais nada comigo, porém entretanto, não vejo motivo para se afastar assim, já que prometeu nunca deixar isso acontecer. 

De qualquer forma isso está me deixando intrigada demais, principalmente por não saber o que ele está pensando. Vi umas fotos do show que ele havia feito hoje a tarde, e sei que ele seguiu alguns fã clubes porque percebi a movimentação de alguns fãs no Twitter. Não mandei mais nada, eu não pretendo incomodar, e nem pressionar para saber o motivo desse sumiço, - desnecessário. 

— Rober ama essa cor de blusa. - Bia diz olhando pro espelho, ela está com uma blusa de cor azul. — Comprei pensando nele. - Seu olho brilha ao falar nele, e rio vendo Laís fazer uma cara de nojo. 

— Deus é mais. - Ela diz fazendo sinal da cruz. — Aliás, já vou avisar que a hora que viermos embora se você ficar fazendo graça, vai ficar e depois da um jeito dele te trazer. 

— Larga a mão de ser chata em. 

— Não sou obrigada a nada. - Ela da de ombros pegando sua bolsa, saindo quarto. 

Elas sabem a situação em que estou com o Luan, e por isso evita o assunto. Amo esse espaço em que elas me dão, sempre foi assim, em todos os assuntos. Faço o mesmo, o respeito presente na nossa amizade sempre foi uma coisa muito forte que faz ela se fortalecer cada dia mais. Eu também não estou afim de me preocupar mais com isso, já que pra mim envolve bem mais do que um simples cara que fico, ou ficava. 

— Amiga não demora. - Bia pede saindo do quarto, ela está pronta. Não me falta muita coisa, já que está tudo em minha mente.

Antes de sair, verifico meu celular e abro a janela de conversa do Luan, visto que o vejo

digitando... 

— Não estou em São Paulo. 

Ele responde a mensagem que mandei, e que o mesmo visualizou ontem. A forma como ele mandou, mostra claramente a grosseria. Isso me faz ficar na dúvida, em que lugar ele possa estar, pois Rober está aqui. 

— Que pena, estou com sdd :( 

Engulo o orgulho, e tento mais uma vez manter um bom clima. 

—  Pois é, o tempo que tem cmg não aproveita. 

Sei exatamente o motivo da sua mensagem, meu coração aperta, porém ainda não sei se é de raiva pela sua infantilidade, ou arrependimento por ter feito. 

— Desculpa? 

— Agora? 

— Não sei porque você está fazendo tudo isso de novo, sendo que já tínhamos resolvido. 

— Odeio ser trocado, acho que deveria saber disso. 

— Você está sendo grosso de novo, e você não foi trocado... 

Eu não sei mais o que falar, não vejo a necessidade dele estar tratando o assunto dessa maneira, eu não o troquei, mas naquele momento senti no coração de ir ver minha amiga, tudo bem que ele trocou o feriado para ficar comigo, e vendo por esse lado fico chateada, mas já havíamos encerrado esse assunto, eu pelo menos. 

Ele visualizou e não respondeu mais, me pergunto até quando ele irá ficar assim?!

• Cafe de La Musique. • 

O barulho estrondeante da música que o DJ remixa apossa meus ouvidos, fazendo meus ossos começaram a querer se movimentar. 

— Quanta gente linda. - Vicente diz com a mão na boca. 

— Me permita concordar. - Respondo com um pouco de dificuldade, já que forço a voz o suficiente para que o moreno consiga escutar. 

— Vou dar uma volta pois não pretendo ficar aqui em cima vendo o bicho pegar lá embaixo. - Rodrigo ri, vejo Bia grudar em seus braços. 

Os dois descem, e ficamos só eu, Laís e Vicente. 

"Baby, quando a noite começar a se afastar.  Quando a noite começa a ir embora. Garoto, você tem meu coração palpitando, quando você me toca, apesar disso... O tempo está passando. Apenas me diga que não acabou e nós nunca vamos chegar ao fim, mas quando a noite começar a ir embora ... Salve o dia." - (Save the Day - Selena Gomez)