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História Caleidoscópio de Retalhos - Embate


Escrita por: itscalisto

Capítulo 11 - Embate


Capítulo X - Embate

"Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais."
Efésios 6:11-12

 

Não demoraram a sair do escritório de Gadrel depois da torrente de informações a que foram atirados.

Tanto Peixes quanto Sagitário se sentiam desnorteados, e tinham como saldo mais perguntas do que respostas. Qual era o plano dos Caídos? Qual o conteúdo do livro? Qual a relação entre Scorpio e Yekun?

Peixes sentia como se mãos invisíveis lhe apertassem a garganta.

Fechou os olhos por um momento, deixando-se levar pela enxurrada de pensamentos.

Além disso,  precisava descobrir como Scorpio tinha perdido a asa que lhe restara.

Sagitário e Peixes seguiram o corredor que estava indicado como saída e fizeram check out no Albergue, deixando uma gorjeta generosa para a recepcionista. Foram ao quarto para recolherem as poucas coisas que não tinham sido violadas, e devolveram a chave no balcão. Sagitário sorria de canto de boca. Tinham feito progresso, afinal. Olhou para Peixes, que agora ajustava as alças da mochila que carregava, e ergueu a mão para bagunçar-lhe os cabelos, ao que este protestou, rindo baixinho.

Atravessaram o arco de madeira da porta pelo que seria a última vez, e puseram-se a caminhar na neve branca, em direção ao portal que os levaria de volta para o Primeiro Reino. De volta para casa.

“Hey! Onde estão indo?”

Os dois se viraram na direção do som. Rashid, o humano com quem tinham conversado nas primeiras noites no Albergue, vinha em sua direção acompanhado de dois homens uma cabeça e meia mais altos. Peixes avaliou-os discretamente.

Um deles era alvo como a luz da lua, e tinha no peito uma tatuagem com uma escrita oriental. “Liberdade”, pode traduzir. O outro tinha uma pele escura que contrastava com a neve pálida que caia revestindo os cabelos negros e crespos trançados para trás. Mas os olhos eram o que mais chamavam atenção, de um azul tão intenso que beirava o violeta.

“Estes são Abbadon e Yekun”, disse. “Ei, esses são os viajantes de quem falei”, finalizou, agora voltando-se para os acompanhantes.

Peixes estremeceu ao ouvir aquele nome.

O líder dos caídos.

Sagitário tinha os ombros rijos, em nervosismo. Lançou um sorriso amarelo.

“Ouvimos falar de vocês”, disse o que fora identificado como Yekun. Tinha um sorriso torto no rosto, e uma expressão de genuína curiosidade envolvendo seus olhos. “Espero que tenham gostado do que viram”.

Peixes apertou os lábios.

“Gostamos”, respondeu. “Voltaremos algum dia, não é?”, lançou para Sagitário, sem tirar os olhos dos caídos.

“Claro. É lindo aqui”, devolveu o equino.

“É… é sim”, Abbadon concordou. “Foi uma pena não termos podido conversar mais”.

“Uma grande pena”, assentiu Yekun. “Bom, de qualquer forma, foi um prazer conhecê-los”, disse, estreitando os olhos púrpura. Então, como quem não queria nada, estendeu a mão para Peixes.

O azulado engoliu em seco.

A tensão no ar era tão sólida que podia ser fatiada com um punhal. Olhou para a mão estendida e respirou fundo antes de erguer a sua para apertá-la. As mãos dele eram frias como gelo, conseguiu constatar, antes que se iniciasse o segundo mais longo de sua vida.

Tudo aconteceu num piscar de olhos.

Sentiu um enlace fino na mão estendida ao caído, e depois de um rápido puxão, assistiu seu pingente escorrer pelo cordão e espatifar-se no chão, destruindo na hora a ilusão da asa esmaecida.

“Ops”, disse Yekun, com uma risada fraca.

Sagitário soltou um palavrão e agiu rápido. Puxou Peixes enquanto Yekun tirava uma lâmina em forma de crescente das costas e fatiava o lugar onde o azulado estava um segundo antes. 

Os dois correram pela colina, o equino preparou uma flecha e mandou na direção do grupo, acertando Rashid no peito, que caiu imediatamente. Abbadon se esquivou e os perseguiu com uma cimitarra na mão, usando a lâmina para bloquear a saraivada de flechas que Sagitário lançava.

Peixes vislumbrou Yekun do alto da colina, falando ao rádio. O caído estava calmo. Sabia que estava em vantagem.

“Ele está pedindo reforços”, gritou Peixes ao moreno, que bufou audivelmente.

“Claro que está”

Abbadon finalmente os alcançou, pulando e erguendo a lâmina. Peixes lançou neve em seus olhos, obrigando-o a fechá-los por um momento que foi o suficiente pra que conseguisse circundar seu corpo, estirar seu braço e fraturá-lo. Abbadon urrou em agonia.

“Vamos, Peixes!”, gritou Sagitário.

Viraram-se para partir, mas foram interrompidos por um brado vindo… do céu?

Ergueram as cabeças e perderam o fôlego com a visão. A besta que tinham visto no galpão poderia preencher todo o firmamento com as asas envergadas. Ahmed o montava, segurando seu maxilar com tiras de couro negro. Tinha nas mãos uma balestra, e do alto, tinha visão privilegiada do que havia se tornado um campo de batalha.

“Cuidado!”, gritou Peixes, se atirando sobre Sagitário quando um virote descia e atingia o chão onde ele tinha estado.

Abbadon agora se erguia, massageando o braço.

“Achei que tivesse quebrado o braço dele”, protestou Sagitário, virando-se para Peixes.

“Também achei”, devolveu o pisciano. “Aparentemente ele… sarou

Abbadon lançou um meio sorriso, antes de se atirar contra o pisciano, que se esquivou, atingindo-o na costela com o cotovelo. O maior acertou-o no estômago, ao que este perdeu o ar. Abaixou-se quando o caído tentou acertar o tornozelo em seu rosto.

Ao seu redor, a luta continuava, e Sagitário preparava outro tiro para tentar derrubar Ahmed. Lançou a flecha, ao que este bloqueou com um escudo pequeno e redondo. Ahmed aterrissou com a fera que montava e saltou do animal, pondo-se a correr na direção deles, esquivando-se da saraivada que o equino lançava.

Àquela altura, Peixes sabia que deviam a vida ao terreno. Tinham corrido para o lugar mais alto para se defender, e essa era a única vantagem que tinham.

Puxou o punhal que Libra tinha lhe dado da bainha, ao que Abbadon sorriu.

“Você é cheio de truques, não é?”, zombou.

“Você não tem ideia”, devolveu Peixes, lançando-se para o ataque. Abbadon puxou a cimitarra da cintura e bloqueou o pisciano, depois descendo a lâmina para um golpe que teria lhe cortado o pescoço se ele estivesse lá para recebê-lo. Peixes torceu o corpo e atacou, e o golpe que deveria tê-lo pego diretamente na espinha foi desviado para fora pela guarda da sua arma.

Vislumbrou Sagitário, que tinha apenas uma flecha na aljava, e o moreno tambem começara a perceber isso. Ergueu-se num pulo, cercando Abbadon e desferindo-lhe uma pancada na costela que o fez perder a consciencia.

Sagitário olhou nos olhos de Peixes. Tinha os lábios comprimidos numa linha fina e a testa franzida. Estavam condenados.

“Peixes…”, ele começou.

“Não”, interrompeu o azulado, quase numa súplica.

Sabia o que viria a seguir.

“Volte para o Primeiro Reino, você tem mais chance se nos separarmos”

“Sagi, não”, o pequeno se adiantou, os olhos marejados.

Sagitário manteve-se firme.

“Isso é uma ordem”, disse, na voz grave. “Vou tentar acertar Yekun daqui e desestabilizar a liderança. É o mínimo que posso fazer. Vá. Agora!”, disse, preparando o arco e abaixando-se para tê-lo na mira. Ahmed já estava chegando perto, mas isso não desconcentrou o moreno.

Peixes se concentrou no ambiente  ao seu redor. Abbadon estava caído sem consciência no chão, e do alto da colina em que estavam, Ahmed vinha com a fúria de mil quasares contida nos olhos negros; a fera que tinham visto no galpão urrava e se agitava quando pequenas quantidades de neve caiam do espinhaço acima dela, motivados pelo ardor da batalha. Yekun observava tudo tranquilamente da base da colina.

Bingo. Tinha um plano.

Sagitário agora estava abaixado, a arma retesada pronta para ser recepcionada pela garganta do caído.

Sagitário contava baixinho.

“Três… dois…”

NÃO!”, gritou Peixes, se atirando sobre o equino enquanto a flecha subia 50 metros a mais que o necessário, atingindo o monte de neve acima do espinhaço, que começara a se verter do alto.

Sagitário empurrou Peixes com violência.

QUE DROGA ESTÁ FAZENDO? EU O TINHA NA MIRA E EU DISSE PRA VOCÊ IR EMBORA”, gritou. Os olhos negros eram a pura ira. Peixes abriu a boca para explicar, mas não foi necessário. Quando ouviu o urro característico da besta, sorriu internamente. Tinha atingido seu objetivo.

A besta agora se erguia entre duas patas, e apoiou as dianteiras na parede da montanha, fazendo cair mais neve, ao que ela urrou em resposta. Abriu as asas e voou para a base da colina, ao que Ahmed se enfureceu.

“Volte para lá!”, gritou para a criatura, que agora encolhia os ombros com os berros do caído. Mais um pouco de neve caiu.

Isso, falta pouco agora, pensou Peixes.

“Me ajude com isso”, pediu a Sagitário, que o encarava com raiva e confusão. Peixes agora erguia Abbadon pelos braços. Sagitário o interpelou, erguendo com facilidade a montanha de músculos por baixo da pele alva do caído e o colocando por sobre os ombros.

Ahmed estava distraído com a fera. Peixes viu naquilo a oportunidade.

“Vamos!”, gritou, se adiantando para correr para a base da colina onde o monstro de encontrava, ao que foi seguido por Sagitário.

O rosto do moreno clareou, numa súbita compreensão.

“Peixes, isso é maluco até pra mim! Você tem certeza de que vai dar certo?”, perguntou.

“Não!”, confessou o azulado, mas continuaram correndo. Aproximaram-se com cautela da besta, Sagitário com Abbadon nos ombros. Peixes tocou a pelagem branca e acariciou-lhe de leve, preparando-a para o que fariam a seguir. Ao ver a falta de resistência do animal, fez sinal para que Sagitário subisse em seu dorso, o que ele fez, se esquivando dos virotes que Ahmed continuava lançando.

Peixes preparava-se para subir quando foi impedido por Yekun, que se posicionou entre ele e a criatura.

“Já vai nos deixar tão cedo? Estávamos nos divertindo tanto”, disse, na voz rouca. Girava nas mãos a lâmina falciforme e estava prestes a desferir-lhe um golpe quando um som avassalador tirou a concentração de todos.

Do alto do espinhaço, vertiam-se montes de neve, avançando numa velocidade que Sagitário calculara ser pelo menos de 100 quilometros por hora.

"NÃO!", gritara Ahmed ao longe.

Peixes aproveitou o momento de distração para correr para o alto da criatura. Ouviu a lâmina de Yekun cantar, mas não se importou. Subiu no dorso da besta e deu a ordem de partida, ao que ela respondeu imediatamente, envergando as asas e ascendendo aos céus, deixando para trás o solo onde a avalanche recém começada atingiria. Ouviu os protestos dos caídos e a tentativa balda de Ahmed de atingí-los com a balestra.

Estavam seguros.

Peixes riu, agora finalmente relaxado. Acariciou a criatura na cabeça. Estava feliz por terem conquistado juntos a liberdade. Sagitário gargalhava atrás de si.

“Você é GENIAL! GENIAL!”, gritou, afagando-lhe os cabelos. “Espere até Virgo ouvir sobre isso”. Peixes sorriu.

Abriu os braços, sentindo o vento frio das alturas.

Não tinha medo.

Era um anjo, e seu lugar era o céu.

 


Notas Finais


E aqui estamos, na primeira luta da história!
A cena que me apavorou tanto pra escrever que foi por temer a aproximação dela que parei a fic, quatro anos atrás. Estou satisfeita com o resultado, e espero que satisfaça vocês também. Agora a historia vai começar a se desenrolar.
Obrigada demais por ler e acompanhar!!


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