Apesar de agora ter sido condecorado o guarda-costas do Kazekage, Kankuro ainda não tinha conseguido abrir mão de ser Sensei. Com a aproximação da terceira fase dos exames Chunnins, o ninja se dirigia quase todos os dias para o campo de treinamento com seus pupilos, dentre os quais, um era neto de um dos conselheiros de Suna, e seguindo os avisos de Gaara, sua relação com o aprendiz havia mudado drasticamente. Não que ele realmente nunca gostara de exercer o cargo de Sensei, pelo contrario, achava até bem honroso ser chamado de Kankuro-Sensei, só não queria mostrar ser íntimo dos alunos, e mantinha apenas uma relação mais profissional.
– Kankuro-Sensei, vovô me disse que você é o novo guarda-costas do Kazekage, é verdade isso?
– É sim, Hiroshi, e a Temari-Sensei é a diplomata.
– Nossa, que legal.
– Eu tenho é inveja da Matsuri, ela treina com o Kazekage, é claro que vai ficar muito mais forte que a gente, é injusto isso – diz uma garotinha da equipe cruzando os braços e fazendo um bico. Kankuro se sente levemente ofendido e não deixa se expressar que não era porque seu irmão é Kazekage que a pupila dele exercia as mesmas habilidades, muito pelo contrário, Matsuri nem ao menos tinha um Kekkei Genkai, todo o seu treinamento ser resumia em técnica com armas e taijutsus, coisa que seus alunos conseguiriam alcançar se treinassem o suficiente.
O quarteto passava por entre as construções peculiares da aldeia, as casas não eram acimentadas, pintadas ou feitas de madeira como em Konoha, pelo contrário, a maioria das construções seguia a arquitetura do Kasbah, feitas a partir de tijolo, argila e palha. Ao virar a esquina, Kankuro nota uma movimentação estranha, dois guardas haviam deixado seus postos e estavam de frente para alguma figura que o ninja não conseguia distinguir quem era. Mas após uma olhada mais direcionada, ele reconhece aquela vestimenta.
“O que o Naruto ta fazendo aqui?”
O moreno se afasta de seus Gennins, que soltam exclamações, e se junta àquela aglomeração. Assim que seu olhar foca na figura percebe que não era Naruto e sim uma pessoa a qual ele havia conhecido há pouco tempo e estava quase irreconhecível.
– Naomi? – ele olha chocado para a garota que bebia uma garrafa de água oferecida pelos guardas – o que você tá fazendo aqui? – ele faz um sinal para os guardas voltarem aos seus postos e que assumiria a situação dali para frente – o que aconteceu com você?
– Oi Kankuro, que bom te ver. Nossa, eu to tão cansada. Acho que dormiria por uns dois dias seguidos.
– Você é louca? Não vai me dizer que atravessou o deserto sozinha.
– Talvez eu tenha – a garota desvia o olhar como uma criança que sabia que havia feito algo errado e estava tentando disfarçar.
– Eu não acredito – ele ri e coloca a mão na testa – olha tua boca, tá mais ressecada que o agreste. A gente falou que ia te buscar.
– Você não teria um pouco de água ai, não? É que eu ainda to com um pouquinho de sede – por ter convivido algum tempo com Naruto, Naomi havia sido influenciada por alguns costumes, dentre esses, a maneira de tentar disfarçar algo abrindo um sorriso nervoso e coçar a cabeça em situações embaraçosas.
– Jura? – ele ri e retira uma garrafa de água que estava levando para o treinamento e entrega para ela.
– Para de rir da minha desgraça, Kankuro – ela fala e acaba rindo no meio de suas palavras, como se estivesse indignada com a própria irresponsabilidade e descontava em uma gargalhada sem jeito.
– Você tá meio cinza. Olha o teu cabelo, boa sorte pra desembaraçar isso ai.
– Gostou do meu protetor solar? É fator -5.
– Ai, eu ainda não to acreditando nisso, você parece o Naruto. Vem, vou te levar pra casa, ai você pode descansar lá. Tá com fome?
– Sabe, nem tanta. Os lagartos do deserto ficam uma delícia no espeto, e o melhor, não precisa nem de fogo pra fritar um ovo – diz irônica, não conseguindo controlar a risada e contagia o ninja.
– Você é louca – ela se levanta soltando tomando folego para andar mais algumas quadras – não fica bebendo muita água senão vai acabar com os poucos sais que te restam. Vem, vamos pra casa que eu te faço um soro caseiro – como Kankuro morava no deserto, não era a primeira vez que via pessoas em situações semelhantes. E como a garota não parecia estar delirando ou a ponto de perder a consciência, ele julga não necessário leva-la ao hospital para ser medicada e hidratada por via venosa.
– Louca não né, eu ia fazer o que? Pedir entrega de comida via sinal de fumaça? Mas na verdade, não sei como eu não morro fazendo essas coisas.
– Você que se cuide, já gastou uma das suas 7 vidas.
Kankuro avisa para seus alunos que iria ajudar uma amiga e que eles deviam ir se aquecendo e iniciando o treinamento. Os garotos até pensaram em argumentar contra, mas quando olharam para a tal “amiga” não conseguiram evitar de arregalarem os olhos e concordaram em dar início ao treinamento sem o auxilio do Sensei.
Naomi andava lentamente, já não lhe restara mais energia o suficiente para acompanhar os passos rápidos de Kankuro, ele, por outro lado, por mais que estivesse rindo de algumas situações regadas de ironia que a garota contou, sabia que o risco de vida que a amiga assumiu fora extremamente alto e bastante irresponsável. Ainda, não conseguiu deixar de notar que a sua aparência era um tanto quanto fraca e que o osso da sua clavícula apontava mais que o de costume. Certamente ela havia perdido, no mínimo, uns cinco quilos e suas olheiras estavam tão profundas quanto as de Gaara. Era inacreditável que conseguia se manter sã.
Ao adentrarem o prédio do Kazekage, Kankuro a guia por algumas escadas e finalmente chega em sua casa. Ele coloca a mochila que se oferecera para carregar no chão e vai em direção à cozinha a fim de preparar o soro caseiro e alguma coisa para ela comer. A garota se atira no sofá com um gemido e coloca a mão sobre o peito, sentindo o coração acelerado.
Em minutos, Kankuro caminha em sua direção lhe oferecendo o soro caseiro e pede para que espere alguns minutos antes de ingerir o alimento, caso contrário iria passar mal. Mas Naomi ignora, estava com fome demais para se preocupar com o que aquela mistura poderia causar no futuro.
O ninja pega a bolsa dela e guia a até o quarto de hóspedes. A menina fica maravilhada ao saber que eles tinham o luxo de possuírem um quarto apenas para receber visitas. Em sua vida, nunca havia tido conhecimento do que era um quarto de hospedes.
Ele mostra onde era o banheiro e a aconselha de tomar banho com água mais gelada para esfriar o corpo. Kankuro coloca a mão na testa da garota, mas não percebe a temperatura alta, ela provavelmente não estava em um estado de insolação preocupante.
- Que estranho, você não tá muito quente – diz um pouco chocado – era pra estar muito mais quente do que esta agora, mas isso é bom.
- Acho que meu protetor vegano deu certo – ela ri deitada na cama.
Vendo que a amiga estava bem, Kankuro anuncia que precisava voltar para suas atividades e sob os agradecimentos da mesma, sai do quarto, mas sem antes deixar um aviso.
– Se prepara, Gaara e Temari vão brigar com você.
Naomi nem se preocupa com tal fato, se não os dois não a agredissem já estava de bom tamanho. Ela volta o seu olhar para o banheiro e até repensa se deveria lavar o corpo para abaixar sua temperatura, mas estava tão cansada que a opção mais natural foi deixar com que seu corpo se entregasse a um sono profundo e sem sonhos.
Kankuro sobe as escadas e caminha até a sala de Gaara. Estava ansioso para contar para algum de seus irmãos, principalmente o mais novo, que haviam recebido uma visita inesperada, mas ao adentrar a sala repara em sua irmã sentada em frente à mesa do Kazekage, lendo alguns papeis.
– Temari? Cadê o Gaara?
– Foi treinar a Matsuri. Daqui a pouco ele volta.
– Ah, obrigado Temari. Inclusive, sabe quem apareceu? – a irmã o olha como se quisesse que fosse direto, pois havia mais coisas para serem feitas – a Naomi.
– O que? Eu não enviei ninguém para a folha para busca-la. Não me diga que ela veio sozinha.
– Pois é – Temari cerra o olhar no irmão e ele sente o sermão que Naomi iria ouvir assim que a noite caísse e os ninjas retornassem para casa.
– Tá bem. Kankuro, você vai encontrar com os seus alunos no campo de treinamento, não? – Temari muda totalmente de assunto, não queria discutir a imprudência da colega naquele momento, sabia que não ia adiantar de nada pronunciar as palavras que tanto desejava ao irmão, afinal, não era ele o seu receptor final – Gaara está lá, diga para ele não enrolar muito para voltar porque tem um papel importante aqui que ele precisa assinar hoje.
– Está bem – Kankuro se retira, sem deixar de fazer uma careta. Por mais que não gostasse das broncas de Temari, sentia que a que estava por vir seria uma linha tênue entre ser engraçada ou completamente aterrorizante.
O ninja caminha rapidamente até o campo de treinamento. Seus alunos já deviam ter terminado o aquecimento e agora poderiam estar tanto melhorando suas habilidades ou iniciando uma discussão por algo banal e prestes a se agredirem. Ao chegar à grande área plana e sem contruções, o moreno avista seu irmão. A fim de provoca-lo, Kankuro solta um grito alto o suficiente para que até seus alunos, localizados há muitos metros do ruivo, o escutassem.
– Kazekage-Sama! – Gaara para de treinar luta corpo-a-corpo com Matsuri e espera o irmão se aproximar o suficiente para que não fosse necessário aumentar seu tom de voz.
– Me chame de Gaara, já lhe disse isso. O que houve, Kankuro?
– Kankuro-Sensei! – grita Matsuri se colocando ao lado do quinto Kazekage
– E ae Matsuri, treinando bastante né?
– Gaara sansei virou o Kazekage-Sama, isso é muito demais né! Ele é muito legal...
– O que foi Kankuro? – disfarçadamente, Gaara da um passo para o lado, a fim de aumentar a distância entre Matsuri e mantem o olhar focado no irmão, que sente vontade rir com a cena.
– Temari disse para você voltar logo para sua sala porque tem um papel importante lá. E...
– Estou indo. Matsuri, você está indo bem, treine mais um pouco que ficara bom. Eu preciso ir – a garota sorri e afirma com a cabeça. Gaara já ia se retirar quando seu irmão bloqueia o caminho – Kankuro?
– Ah, tem mais uma coisa. Adivinha quem apareceu, irmãozinho – o irmão solta um sorriso malicioso e o ruivo o olha com seriedade. Já conhecia aquele olhar e não estava com tempo disponível para aturar as brincadeiras de Kankuro.
– Kankuro, estou meio ocupado para isso.
– A Naomi – o moreno cruza os braços, mantendo o sorriso no rosto e se sentindo completo ao ver a expressão de surpresa estampada na face do irmão – você lembra dela, né Gaara? Eu lembro que conversavam bastante... – , mas logo é interrompido pela voz séria do ruivo.
– Ela veio andando sozinha ou o Naruto a trouxe?
– O que você acha? – Gaara vira os olhos, não estava com tempo para ficar brincando de adivinha com Kankuro e este parecia não notar que queria o máximo de informação o mais rápido possível, para que pudesse voltar as suas obrigações – parece que nunca conversou com ela.
– Nós falamos, mais de uma vez, não se arriscar sozinha no deserto. Espero que você a tenha deixado no hospital, pois no mínimo deve ter sofrido insolação.
– Errrr – ao perceber que Gaara não reagira da maneira que imaginou, Kankuro se sente intimidado pela pergunta voltada a si. Por mais que tivesse mudado, ainda havia certos momentos que o ruivo o assustava como no passado, ainda mais por proferir as palavras de maneira séria e com semblante nervoso. Coçando a cabeça, o moreno pensa como responder sem ser repreendido pelo irmão – ela não parecia ter sofrido insolação, não estava muito quente e nem delirando, na verdade, ela tava até gargalhando e... – Gaara o olha sério mais uma vez. Parecia que o irmão mais velho nem morava na aldeia da areia. o primeiro procedimento ensinado a eles era como se localizar e o que fazer caso encontrasse alguém perdido no deserto. E, neste caso, a ação correta que deveria ter tomado era leva-la direto ao hospital.
Gaara ainda reflete sobre o fato dela ter gargalhado ao encontrar Kankuro e estar tratando a situação como brincadeira, aquilo poderia ter sido a sua maneira de reagir a confusão mental causada pelo longo período de exposição solar. Afinal, não fazia sentido a garota ter atravessado o deserto, sem as vestes apropriadas, e não apresentar sintomas de insolação.
Ao sentir que ele mesmo tomaria uma bronca tão grande quanto Naomi, Kankuro já vai se desculpando e argumentando que havia feito os procedimentos básicos, mas Gaara ainda o encarava desconfiado.
– Se ela não está no hospital, onde você a deixou?
– Em casa. Falei pra tomar um banho pra esfriar o corpo e descansar. Para de me olhar com essa cara, ela nem quente estava, eu sabia o que eu tava fazendo.
Gaara desvia o olhar, como se dissesse “não tenho tanta certeza” e se retira para retornar às suas atividades como Kazekage.
Ao encontrar Temari se de em frente a um documento com mais de 50 páginas e é informado que aquela tese de doutorado parecia ser importante. A loira diz que não havia lido tudo, pois não era o seu trabalho, mas parecia se tratar de um acordo com o País do Rio. Gaara agradece a irmã e essa retoma às suas atividades.
O documento era uma proposta de aliança, sob a qual o País do Rio estava disposto a não custear a água que propunha fornecer à Suna, em troca de proteção militar. Após lê-lo pela segunda vez, Gaara compreende definitivamente e não via malícia nem entrelinhas que pudesse prejudicar sua aldeia.
Como Suna se localizava no meio do deserto, dependiam de um rio que atravessava o sul da região, mas como este era intermitente, no período de estiagem a aldeia passava por necessidades. Logo, esse acordo era algo que Gaara desejava muito, pois um dos grandes problemas da aldeia estaria resolvido, só ficaria a seu custo a construção do encanamento que ligasse os dois países.
***
O Kazekage estava tão focado com os documentos que só percebe o anoitecer por conta da falta de luminosidade em sua escrivaninha. Ao olhar para o relógio, nota que estava atrasado para o jantar. Sendo a noite de Temari cozinhar, era considerado um crime chegar atrasado, pois a irmã não tinha paciência em reaquecer a refeição e os fazia comer mesmo estando gelado.
O ruivo coloca os documentos já assinados em uma pasta e os move para a pilha de envios. Em seguida se retira de sua sala apagando a luz atrás de si e desce os vários lances de escada até chegar em sua casa.
Ele retira os sapatos e abre a porta. Ao atravessar a sala nota Temari ainda preparando o jantar e se pergunta se seu relógio estava certo.
– Estou atrasada, eu sei. Mas vai montando a mesa que está quase pronto.
– Olá Temari – o ruivo se move até a pia e lava as mãos antes de tocar nos pratos e tigelas – Kankuro te falou que temos visita?
– Estou só esperando ela atravessar esse corredor... – diz séria e Gaara se cala. Não parecia que sua irmã estava a fim de conversar e ele não tinha o fetiche, diferente de Kankuro, de provoca-la quando estava em tal estado emocional. Afinal, quando nervosa, a loira chegava a ser tão assustadora quanto ele nos anos sombrios de sua vida.
O ruivo não sabia muito bem como agir em decorrência daquela visita inesperada. Enquanto colocava a porcelana na mesa, pensava no que iria dizer a amiga por ter agido de maneira tão descuidada. Mas ao mesmo tempo não se via em posição hierárquica de poder brigar com a mesma, até porque Naomi era uma amiga, não um subordinado que ele pudesse ditar ordens e força-la a obeder, mas também não iria deixar o ocorrido passar em branco.
Por ter crescido poupada dos ensinamentos dos pais, era esperado que a garota agisse por conta própria e julgasse as suas escolhas como certas, sem medir as consequências. Pelo menos essa era a teoria de Gaara. E de certa forma a conseguia entender, afinal, sua infância e pré-adolescência fora tão solitária que encontrou a ação por meio do impulso e irracionalismo como o jeito certo de sobreviver no mundo que o cercava. Mas ao ter lutado com Naruto e sentir empatia pela primeira vez em anos, estava em um processo de mudar sua forma de lidar com as situações, procurando resolve-las por meio da conversa e de modo mais diplomático.
Alguns minutos depois Kankuro aparece no corredor ao lado de Naomi. Ela havia se lavado e estava vestindo uma roupa preta do mesmo. Ela já havia sido avisada pelo ninja que não provocasse Temari e se preparasse para o sermão, desta forma, ao notar os outros dois ninjas na cozinha, a garota sorri de nervosa e encolhendo os ombros solta um “Olá” inocente em meio a um aceno tímido.
– Olá? – Temari caminha em sua direção enquanto Gaara a observava com os braços cruzados. Ele não deixou de notar que a menina estava muito mais magra do que no dia em que se conheceram, e naquela época já a achava minimamente desnutrida, mas agora era possível ver alguns ossos apontando e a roupa de Kankuro estava tão larga que era possível fazer duas camisetas com o tecido.
Com olhar de mãe raivosa, Temari puxa a orelha da menina, que se inclina para o lado e geme de dor.
– A gente não disse que era perigoso andar no deserto? Tava pensando o que? – grita em seu ouvido.
– Calma, Temari – dizem Kankuro e Gaara em uníssono, tudo bem que os dois esperavam que a irmã desse uma bronca na amiga, mas não imaginaram que ela a iria agredir. Temari a solta e a garota faz uma cara feia, levando a mão até a orelha que agora não só estava vermelha por causa do sol, mas também pelo puxão.
– Você podia ter morrido. Sabe o quão fácil é se perder no deserto? Na verdade, nem sei como não se perdeu!
– Está bem, está bem, senhora, já entendi. Desculpa – a garota a olha assustada e seu coração acelera. Temari ergue a mão, mas não para agredi-la novamente, fora apenas para apontar o indicador no rosto da colega, e Naomi reage fechando os olhos e encolhendo os ombros, como se esperasse uma bofetada – e não vem com ironia pro meu lado não. Que é isso de “senhora”?!
– Temari, não precisa bater nela – diz Gaara sério e se aproximando dos irmãos – afinal, ela não é sua filha ou um de nós, você não pode fazer isso.
– Eu nem bati nela. Para de drama, Naomi. Por que não avisou a gente? Você podia ter morrido no deserto – Gaara abaixa a mão de Temari, que ainda apontava o indicador para a amiga.
– Temari, você está se comportando como se ela fosse um de seus alunos. É nossa amiga e nós a convidamos para vir para cá – Gaara volta o olhar para a menina, que coçava a cabeça e olhava para o chão, ainda um pouco nervosa. Por mais que Kankuro a tivesse avisado que iria ouvir um sermão, e por mais que conhecesse Temari e soubesse de sua maneira mais agressiva de ser, não esperava que fosse recebida a quase tapas – ela sabe que se colocou em risco, é visível que passou mais de um dia se arriscando. Você não deve agredir uma pessoa que já esta debilitada.
– Calma, também não é assim. Eu não to à beira da morte, não. Já estive? Talvez. Mas to bem agora. Meu anjo da guarda é bom, acho que vou até dar uma promoção para ele, anda trabalhando demais – Kankuro não consegue se conter e gargalha com o argumento, levando a mão até a testa e não acreditando que a morena teve a audácia de pronunciar tais palavras na frente de uma Temari furiosa e contestar uma pessoa que a estava defendendo.
– Po, Naomi, não provoca – diz Kankuro entre as gargalhadas e passa a mão na cabeça da garota, bagunçando seus cabelos – nem sei como conseguiu arrumar aquele ninho que estava seu cabelo. Ah... - ele coloca o dedo dentro da orelha da menina, que afasta o corpo rápido, sem deixar de questionar em indignação o que ele estava fazendo – ainda tem terra na sua orelha.
Os três se juntam a mesa para jantar, e lá, com todos já calmos, Naomi é fuzilada de perguntas. Ela contava alguns fatos que havia enfrentado durante a viagem que, após passado o medo, ria da situação. Um dos acontecimentos que deixara os três chocados fora o seu encontro com uma cobra. Normalmente as cobras daquela região tinham índice alto de veneno, alguns até eram usados para colocar nas marionetes, a fim de deixa-las mais mortais.
– Não sei por que está dando risada disso, você correu um risco atrás do outro – diz Gaara colocando uma porção de arroz na boca – não é engraçado.
– Ah, na hora deu um desespero, mas não foi uma experiência traumática. Acho que com isso eu posso fazer piada, eu fui patética em optar por vir para cá sozinha mesmo – por mais que tivesse surtado no deserto e enfrentado a situação por meio de berros, não via como um episódio que fosse assombrar sua vida até o fim. O que a assombrava realmente, e não queria revelar aos amigos, era sobre Kabuto e as agressões que sofrera ao longo de sua trajetória. As ameaças da natureza não a traumatizavam tanto quanto as palavras e as ações proferidas por Kabuto e outras pessoas que marcaram sua vida, tanto psicologicamente, quanto fisicamente. Se houvesse um motivo para que precisasse dormir com as luzes acessas, esse motivo não era o deserto.
– Mas por que não avisou a gente? – pergunta Temari, já mais calma. Naomi não podia falar que o seu objetivo não era visita-los, mas fora forçada por conta de uma ameça de um acordo mal pensado. Ela não queria lembrar de Kabuto naquele momento e nem do que seria o hospedeiro dessa tal besta que ela deveria atrair até o local no meio da mata. Um pouco nervosa, a garota passa a mão no pescoço e o arranha de modo imperceptível.
– Não sei, é que eu já passei por tanta coisa que acabei subestimando o deserto.
– Você ficou perdida quantos dias? – pergunta Gaara.
– Eu não fiquei perdida. Me disseram que era a aldeia ficava ao Norte, então segui o Norte. Demorei quatro dias pra conseguir ver a aldeia de vocês.
– Norte? – Kankuro tenta segurar a risada, Temari a olha sem graça e Gaara deixa os hashi de lado, apoiando a mão na testa em descontentamento. Ao perceber que havia dito algo errado, Naomi questiona “o que foi?” e Kankuro responde rindo – você tá ligada que pegou o caminho mais longo, né?
– O que?! – Naomi grita e até mesmo Gaara deixa escapar um sorriso de indignação. Naomi xinga baixo a pessoa que lhe dera a localização. Após explicarem que sempre tomavam o caminho Sul, seguindo o rio principal e não o seu afluente, a garota olha desacreditada e cobre os olhos com a mão – alguém me mata, puta merda.
– Nem precisa alguém te matar, você ainda vai fazer isso sozinha – diz Kankuro e Temari concorda.
Os ninjas se põem a conversar por mais algumas horas, mesmo após a refeição ter terminado. Sob pressão dos irmãos, Gaara diz que se tornara o Kazekage e após Naomi ter entendido o que era tal título, quase engasga com um copo de água. Afinal, ele era mais novo que ela para ter recebido tal pressão, mas ao perceber que era algo que o garoto almejava, o parabenizou. Kankuro ainda ressalta que ela finalmente havia aprendido a comer com os hashi, e a garota comenta que fora o resultado das várias vezes que fez apostas de Rámen com Naruto.
A energia da mesa já havia mudado drasticamente, os ninjas não estavam mais bravos com a amiga ter se arriscado pelo deserto e contavam algumas histórias de situações complicadas, mas que agora achavam engraçadas. Este era o quarto lugar, dentro todos os que já passou, que Naomi se sentiu acolhida. Nem ao menos conseguiu pensar em problemas como Kabuto e a missão que devia realizar, só queria aproveitar aquele momento com os amigos antes que lhe fosse podada a oportunidade de vivencia-la novamente.
– Eu vou dormir – diz Kankuro se levantando da mesa e espreguiçando o corpo – boa noite pra vocês.
– Eu também – diz Temari e seu olhar foca para Gaara – e você irmãozinho, seu dia de lavar a louça. Pode ter se tornado Kazekage, mas vai lavar a louça como se ainda fosse um Chunnin.
– Eu nunca deixei de lavar. Devia dizer isso ao Kankuro – Gaara levanta da mesa e se põe a recolher as porcelanas.
– Boa noite para vocês dois. Ou melhor, só pra você – Temari sorri para Naomi – Gaara não dorme. Ah, desculpe o puxão de orelha, mas você mereceu – a garota ri e respondi também deseja boa noite a loira.
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