História Can we always be this close? - Eruri - Started bringing up the past

Uma distância silenciosa se forma. Levi passa por dias bons e dias especialmente ruins após o episódio do bar e a proximidade frágil que estavam criando parece estremecer.

Erwin respeita seu silêncio, o conhecendo bem o suficiente para saber que Levi gosta de pensar sozinho antes de compartilhar seus pensamentos, mas ele sempre pega os olhos azuis o observando com alguma expectativa e hesitação. Não é como se o maior precise que ele lhe diga o que está em sua mente, pois ele sabe que aquela cena também está na cabeça de Erwin.

Eles não conversam sobre aquilo e Levi fica grato, pois ele ainda não conseguiu digerir tudo o que sente. Uma parte sua diz que ele deveria ir embora. Uma parte sua que ele não quer ouvir e que acha que é estúpida, mas, ao mesmo tempo, e se essa parte estiver certa? Ele sabe que gosta - muito - de Erwin, e, se for sincero consigo mesmo, ele sabe que está se apaixonando e que eventualmente vai amá-lo. Ele percebia aquelas sensações se formando dentro de si conforme as semanas passavam.

Entretanto, após as palavras de Ava, aquele parte sua lhe diz, repetidas vezes, que talvez ele nunca volte a amar Erwin como ele merece e que isso nunca será justo. Erwin se contentaria com um amor que não é completo? Aquela parte também acredita que sim e que o outro provavelmente seria infeliz com um amor insuficiente, mas o aceitaria de qualquer forma, apenas por ele vem de Levi.

Os dias que aqueles pensamentos ganham são os piores. Levi teve pelo menos um ataque de pânico no trabalho, ao qual ele ordenou que Armin não contasse a ninguém. E no final daqueles dias tudo o que ele conseguia fazer era tomar um banho e deitar-se na cama em silêncio, no quarto escuro e vazio.

Algumas vezes a intensidade dos pensamentos fazia com que ele tivesse dores de cabeça tão terríveis quanto as que tinha no começo ou até mesmo vomitasse. Erwin sentava-se ao seu lado na cama e acariciava seus cabelos negros, sua testa - como se verificasse se ele estava com febre - e por fim, quando Levi o convencia que apenas precisava descansar, o deixava sozinho com uma xícara de chá na mesa de cabeceira.

Então não é exatamente uma surpresa quando Erwin lhe pergunta sobre fazerem terapia de casal. Hannah já falou consigo sobre o assunto algumas vezes e voltou a citá-lo na última sessão, lhe dizendo que também conversou com o maior sobre o assunto. Erwin tinha iniciado suas sessões logo após o episódio do bar e aparentemente Hannah tinha lhe sugerido a terapia desde o ínicio.

E é por isso que os dois aguardam juntos na sala de espera. Levi se sente ansioso de uma maneira inesperada, a ponto de nem mesmo reparar quando Erwin estende a mão para segurar a sua. O maior aperta sua perna de leve, fazendo Levi acordar do seu transe e ver sua mão estendida. Ele a segura, entrelaçando os dedos, enquanto Erwin acaricia as costas da sua mão, o carinho o deixando mais calmo de alguma forma.

Levi está prestes a fazer uma pergunta quando Hannah abre a porta e dá um sorriso para os dois, os chamando para entrar na sala ampla e bem iluminada. Os dois sentam-se no sofá confortável enquanto Hannah ocupa a poltrona do lado oposto, separada deles pela mesa de centro. Quase de imediato o moreno se serve de água para ter algo com que se ocupar. Ele escuta Hannah e Erwin conversarem antes de tudo.

É claro que ele e Erwin debateram os motivos de uma terapia de casal fazer sentido para eles naquele momento. Existe todo o trauma que ambos estão passando em decorrência do acidente e como a perda de memória de Levi fez com que eles mudassem a dinâmica como um casal. Existe Ava e a ideia clara de que o casamento deles não é tão perfeito assim, com conflitos antigos que não foram solucionados e que agora se mostram de novo.

E é dali que eles começam: Ava e como saber sobre a elo entre eles, ela e o trabalho de Erwin estremeceu a relação que eles vinham formando novamente. Além do fato de que, bem, Levi finalmente começou a pensar o quão louco é ele estar criando sentimentos por alguém que ele está junto há tanto tempo, enquanto essa pessoa ainda tem ciência de todos os sentimentos e história deles.

"A questão é que ao longo do último ano eu escolhi meu trabalho muitas vezes e talvez isso tenha ficado associado a Ava porque ela fazia parte do trabalho, entende? Mas não é isso, Levi. Nunca foi", Erwin diz em determinado ponto. Ele está sentado de lado, olhando para o marido. Sua voz é firme e sincera, assim como sua expressão.

"Ainda assim, você se aproveitou da situação em determinados momentos, não? Aproveitou que ela poderia te apresentar pessoas importantes, trazer benefícios para o escritório e consequentemente te levar a uma posição mais favorável no trabalho", Levi observa Erwin concordar com um pequeno aceno, um aceno que parece lhe custar muito, porque significa admitir que ele usou alguém e que isso o beneficia em seu trabalho, mas também traz conflitos para seu casamento, "Quantas vezes eu te pedi para a afastar? Para apenas deixar claro com todas as letras que a relação de vocês era profissional e apenas isso?", ele não sabe explicar de onde a raiva que sente vem, mas de repente é como se todo sentimento acumulado de todos aqueles meses dos quais ele não se recorda estivesse bem ali para ser encarado.

"Levi, respire", a voz de Hannah é calma e o faz sair do seu transe, faz com o que ele a encare e a escute, "O que você está sentindo agora?".

Ele respira fundo, a respiração um tanto trêmula, então se estica até a mesa de centro e se serve de mais um pouco de água, tomando um longo gole enquanto avalia as próprias sensações, observando o objeto seguro em sua mão.

"Eu queria dizer que estou com raiva, mas... Eu estou decepcionado", sua voz volta ao seu tom normal, as palavras saem de maneira calma, mas parecem pesar no ar. Ele toma mais um gole de água, "Eu estou decepcionado pela imagem que criei de Erwin e acho que estou decepcionado porque eu acreditava que nossa relação estaria acima deste tipo de coisa, mas não estava".

"Você acha que foi isso que você sentiu na época também?", Hannah continua e ele a encara de novo.

O silêncio se estabelece enquanto Levi pensa, "Sim. Mas acho que tinha outras coisas e eu não sei quais são", ele diz finalmente, numa espécie de veredicto final. De alguma maneira, ele sente uma mistura de sensações dentro do seu peito, porém não consegue chegar até elas. Ele apenas se sente decepcionado e..., "Eu estou magoado e acho que estive por muito tempo, porque eu confiei em Erwin de uma forma que nunca confiei em ninguém e eu acho que ele quebrou essa confiança ao fazer tal escolha".

"Você acha que Ava é o problema? Ou ela é a personificação do espaço que o trabalho de Erwin tomou na vida de vocês?".

"Eu não sei".

Hannah acena com a cabeça e serve mais um pouco de água para Levi, que toma o líquido em um gole. Ele não quer encarar Erwin, então olha para os próprios pés sobre o tapete claro com padrões geométricos desenhados em linhas pretas. Ele sente a mão de Erwin sobre a sua no sofá.

"Eu sinto muito. Eu errei muito, Levi, e tenho realmente tentado compensar nos últimos tempos. Eu sei que você merece mais e que eu posso ser melhor do que fui no último ano", a voz de Erwin é emotiva, mas Levi consegue dizer que ele não está chorando. Pelo menos não ainda, "Eu falei com a Ava... Depois do episódio no bar. Eu fiz o que eu deveria ter feito desde o começo e eu sinto muito que eu tenha demorado tanto".

Levi olha para as mãos deles, a aliança dourada no dedo de Erwin e pensa em todas as outras coisas que eles devem ter passado sem que ele lembre. Os olhos dos dois se encontram e ele observa algumas lágrimas escorrerem pelo rosto do maior, observa o sorriso triste no cantos dos lábios de Erwin e o quanto tudo parece o machucar também, o quanto as próprias escolhas parecem pesar sobre ele.

"Eu tenho tentando ser o marido que eu prometi ser quando nos casamos, mas eu preciso saber se você quer isso. Se você me permite que eu te traga para perto de mim de novo, com memória ou sem memória. Eu preciso saber se eu sou o que você quer", ele complementa, "Eu sei o quanto o que Ava disse mexeu com você... Porque mexeu comigo também. E acho que nunca falamos se deveríamos continuar ou não".

Levi engole em seco. Ele acabou de beber quase meio litro de água na última hora e ainda assim sente como se sua boca estivesse seca.

"Acho que o que ela disse colocou em perspectiva que talvez, além de não lembrar, eu nunca volte a te amar da maneira que eu te amava e que isso não é justo com você... Talvez eu nunca mais volte a ser o Levi com quem você se casou, entende?", ele observa Erwin concordar com a cabeça antes de o responder.

"Eu sou a pessoa que precisa decidir se isso é justo ou não, não acha?", Erwin passa a mão livre pelos cabelos, desalinhando os fios, "Eu também pensei muito nisso e a verdade é que eu também mudei nesse processo e a forma que te amo também vai mudar de alguma maneira, então eu não preciso que você me ame da maneira que costumava ser e acho que o contrário também é válido, não? Em todos esses anos juntos isso mudou várias vezes, então... Bem, é uma nova fase para nós dois".

Levi morde o lábio de leve e então sorri pequeno, "Acho que você está certo... Eu realmente gosto de você e quero fazer nossa relação funcionar. Eu quero você e quero nosso casamento, Erwin. E cada vez que lembro de algo, ainda que seja algo simples ou pequeno, eu tenho a reafirmação disso de algum modo".

Erwin sorri de volta e eles escutam Hannah limpando a garganta do outro lado da sala. Ambos viram-se para ela e a encontram sorrindo, "Bem, acho que tivemos algum progresso aqui, não? E eu gostaria de propor uma atividade para vocês até nosso próximo encontro em conjunto. Vocês deveriam ter um encontro, só os dois. Acredito que seja uma ótima maneira de vocês se reaproximarem, fora da rotina do dia-a-dia".

Levi ergue as sobrancelhas, mas não diz nada. Erwin ri fraco e diz que parece ser uma boa ideia. Eles se levantam e se despedem, Erwin envolvendo seus ombros com um dos braços enquanto eles caminham para a fora do prédio até o carro. Apenas quando ambos estão acomodados no automóvel, o menor dos dois começa a falar.

"Por que você não me contou que tinha falado com Ava?", ele observa Erwin franzir a testa de leve e então suspirar.

"Acho que foi algo meio automático. Nos últimos tempos, quando você ficava silencioso como nas últimas semanas, você não queria conversar de maneira alguma... Você literalmente se afastava e se fechava. Acho que assimilei isso de tal forma que simplesmente não pensei que não é mais a mesma coisa".

Levi resmunga, se movendo de maneira desconfortável no próprio lugar. Ele lembra de se fechar dessa forma quando era mais novo, antes de Erwin. Ele solenemente ignorava qualquer pessoa que tentasse falar com ele, não importava o que a outra pessoa lhe dissesse, porém ele era realmente novo nessa época e, No geral, o gatilho para que ele agisse de tal forma era Kenny... Algo em si o fazia acreditar que se ele se fechasse por completo, então nada o atingiria. Entretanto, ele não conseguia se visualizar fazendo o mesmo quando adulto. Eles tinham chegado ao ponto onde Levi considerava Ava uma ameaça tão grande que ele tinha até mesmo se fechado para seu próprio marido?

"Eu achei que você estava me traindo?", Levi tem noção que a própria expressão é confusa, pois mesmo após saber todos aqueles detalhes sobre Ava, ele ainda considerava que Erwin não o trairia. Ainda assim, aquela parece a única explicação plausível para ele ter se reagido de tal maneira.

"No fim... Sim, você cogitou isso", Erwin fica sério, uma expressão de desgosto passa por seu rosto, mas ele rapidamente a neutraliza, mantendo-se sério. Levi repara como o outro segura o volante com um pouco mais de força e senta-se mais ereto, "E acho que é compreensível, se pensarmos que você realmente passou meses me pedindo para cortar Ava, mas não deixa de... Eu nunca te trairia, Levi".

"Eu sei", Levi coloca a mão sobre a perna de Erwin, a acariciando, "Por nenhum instante cogitei essa possibilidade". Levi é sincero sobre aquilo, além dele realmente não imaginar Erwin o traindo - assim como ele não se imagina traindo o maior - ele acha até mesmo um tanto difícil pensar como a situação chegou ao ponto dele considerar tal ideia como plausível, "O que importa, de verdade, é que você falou com ela", ele observa o maior relaxar, a expressão suavizando um pouco, "Como foi?".

"Eu meio que tive que fazer isso na frente da Mikasa, para a Ava não me acusar de assédio ou algo assim. Então foi bastante desconfortável e agora ela não olha mais para mim, mas bem... Não é como se eu tivesse que interagir muito com ela no momento", ele dá de ombros, "Ao mesmo tempo, eu me sinto tão mais leve que eu realmente não acredito que levei isso por tanto tempo. Acho que a questão é que você sempre esteve certo e nossa relação é muito mais importante do que um cargo, mas eu realmente me convenci de que um cargo era essencial para manter um estilo de vida que eu escolhi para nós".

"E que eu concordei em ter", Levi aperta sua perna e se inclina, beijando seu rosto, "Não aja como se você fosse o culpado de tudo, muitas escolhas foram nossas e muitos erros também", ele observa o marido suspirar, "Obrigado por ter falado com ela".

Erwin sorri pequeno, ainda parecendo um pouco contrariado e culpado com a situação toda, mas se vira e o beija demorado, aproveitando que estão parados no semáforo. Quando chegam em casa, Levi basicamente ordena que Erwin vá tomar banho primeiro, enquanto ele mesmo vai até a cozinha e começa a preparar o jantar, preso em uma lembrança repentina. Enquanto a travessa está no forno, ele toma um banho rápido, mais uma vez mandando Erwin não mexer em nada.

"Mac'n'Cheesse?", Erwin pergunta assim que vê o marido de volta à cozinha.

"Foi uma das primeiras coisas que fiz para você, não?", Levi sorri grande, tirando a travessa de forno, "E é sua comfort food".

"Sim, você fez na segunda vez que fui até sua casa, acho...", Erwin sorri de volta, enquanto os dois se servem e decidem comer na sala, o que é bastante incomum, mas de repente ambos querem estar próximos e confortáveis enquanto comem.

"Então... Eu meio que te conquistei pelo estômago?", o moreno ergue as sobrancelhas, divertido.

"Bem... Sim e não. Claro que você sempre cozinhou bem, mas não posso fingir que eu não estava muito atraído por você... Fisicamente falando", Erwin dá um sorriso safado e ganha um soquinho no braço em resposta, caindo na risada, "Hey! É a mais pura verdade".

"Eu não acredito que está me dizendo que só me quis pelo meu corpo extremamente sexy", Levi diz para implicar, rindo também.

"Ah, claro. Por que você só estava atraído pela minha inteligência, não é?", Erwin diz, em tom de desafio.

"Bem...", o menor inclina a cabeça, olhando para Erwin de cima a baixo.

"Com isso, eu encerro meu caso, meritíssimo", ele pisca para o menor, "A verdade é que acho que nós nos atraímos de todas as maneiras possíveis e às vezes ainda fico surpreso que seja assim tanto tempo depois. Que ainda exista toda essa paixão e desejo, mesmo que de uma maneira mais madura".

Levi acena com a cabeça, deixando o pote de porcelana colorida em que comia em cima da mesa de centro. Ele descansa a cabeça no encosto do sofá, observando o outro, "Sim, eu entendo o que você quer dizer. Eu me sinto estupidamente atraído por você de várias formas e tenho essa impressão de que me sentia assim antes também".

Erwin copia seus movimentos, encostando a cabeça no sofá de maneira que seus rostos estão próximos e ele pode acariciar o rosto de Levi, observando quando ele fecha os olhos cinzas, ficando relaxado contra seu toque. Ele morde o próprio lábio, contendo a vontade de agradecer Levi de lhe dar aquele chance, guardando dentro de si todas as outras coisas que aconteceram ao longo do último ano e que deixaram a relação deles por um fio, porque, bem lá no fundo, ele ainda tem receio que Levi lembre-se de tudo e decida que o melhor para os dois seja ele ir embora.