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História Candor Lunar: Livro 1 - Capítulo 12 - Sob um Leve Desespero


Escrita por: Earendil

Capítulo 12 - Capítulo 12 - Sob um Leve Desespero


Capítulo 12 - Sob um Leve Desespero


Renesmee ressonava tranqüila em meu colo, o rítimo lento e constante de seu coração parecia-me uma sinfonia magistral de rara beleza; Bella olhava distraída para a janela enquanto a chuva tamborilava ruidosa contra o vidro como uma onda de lágrimas incontidas pelo céu cinzento. O dia recém nascera e uma escuridão monótona ainda se estendia pelo quarto, eu me perdi em pensamentos durante parte da noite procurando não lembrar de tudo o que estava acontecendo... Bella estava preocupada e eu sabia disso, ela mantinha um olhar angustiado como se estivesse pensando em uma decisão difícil a ser tomada. Desde que nos conhecemos ela é assim... demora muito para tomar uma decisão mas quando toma ninguém no mundo é capaz de mudar seu pensamento... nem mesmo eu.

Mas no instante em que eu decidi falar com ela, Nessie começou a se mexer na cama provavelmente sonhando com alguma coisa, eu não me incomodei com isso e voltei a prestar atenção em Bella para perguntar em que ela estava pensando. Eu não conseguia ler os pensamentos de minha esposa devido ao escudo que ela tinha em sua mente, Bella aprendeu a baixar sua guarda mas isto a cansava demais e eu preferia perguntar... eu sabia que ela sempre responderia.
Infelizmente, eu não tive a chance pois neste instante Renesmee se mexeu com mais força e eu percebi que seu rosto estava angustiado, instintivamente invadi seus pensamentos para ver o que estava assustando minha filha.
Em seus sonhos eu a vi sozinha... e ela estava sobre um campo seco onde um capim amarelado e baixo corria estéril pela planície afora, havia uma floresta em volta mas estava distante e Nessie não tentou correr para lá... algo a segurava com força como uma mão invisível a impedindo de se mover. Ela olhou para o lado oposto onde estava e lá, ao longe, os lobos a encaravam mudos com seus olhos lupinos brilhando sob um sol sangrento... havia fogo e fumaça e Renesmee lutava para se manter em pé mas uma dor absurda a impedia de se levantar e então ela o viu... um vulto enorme empunhando uma lança longa e correndo em sua direção... a arma arguta faiscou no sol e sua ponta brilhante transpassou o peito de Nessie...
Neste momento ela acordou gritando.

- Renesmee – eu falei enquanto a segurava forte pelos ombros tentando fazer com que ela despertasse totalmente.
- Querida – reforçou Bella a abraçando – Tudo bem, foi só um sonho.
Renesmee sentou-se na cama entre eu e Bella e olhou fixamente para a parede do quarto à sua frente, seus olhos castanhos e brilhantes perturbados pela visão que acabara de ter... seu peito arfava em busca de ar como se ela tivesse corrido centenas de quilômetros. Bella passou o braço em volta dela.
- Filha... foi apenas um sonho.
- Mas... – fraquejou Nessie pressionando com a mão a parte mais alta do peito quase na altura do ombro – Foi tão real, eu senti a lâmina atravessando meu corpo.
- Nessie – eu disse – Querida... foi apenas um sonho ruim. Você está aqui e bem, não se preocupe.
- Com o que você sonhou? - perguntou Bella aflita.
- Amor, eu te conto depois... deixe Nessie se recuperar.
- Eu estou bem – disse ela se levantando da cama – Já passou, acho que foi apenas o susto... eu, bem... acho que vou tomar um banho e me arrumar para a escola, daqui a pouco eu tenho que ir mesmo e... você me leva até lá, mãe?
- Claro que sim, filha...
- Ok... eu não demoro.
- O que foi que ela sonhou? - Bella me perguntou assim que Renesmee deixou nosso quarto.
Eu contei-lhe sobre o sonho até o momento em que o homem cravou a lança no peito de Nessie, mas quando terminei de narrar o fato já havia me arrependido de ter contado a Bella... instantaneamente seu olhar preocupado apenas piorou. Ela se levantou da cama e caminhou até janela ficando de costas para mim, o dia já havia nascido por completo apesar de que as nuvens densas filtravam quase toda a luz solar... a penumbra ainda persistia em nosso quarto e eu me levantei indo abraçá-la.
- Foi apenas um sonho, Bella.
- Eu costumava ter sonhos assim antes... sonhos que no fim das contas sempre tinham algum significado real.
- Nessie está apenas impressionada com tudo o que viu nas lembranças de Kaori e com o que foi dito no jantar de ontem... foi apenas um sonho e nada mais. Por favor, não fique remoendo mais isso agora.
- Não é assim, Edward... – ela me olhou magoada e seus olhos dourados brilharam para mim – Desde que eu me tornei uma vampira eu não durmo mais e não sonho... fico pensando se Nessie herdou isto de mim... esta espécie de pressentimento com algo que pode vir a acontecer no futuro. Se for o caso, alguma coisa ruim pode acontecer com nossa filha...
- Não vai acontecer nada com ela... nem conosco.
Mas Bella não me ouviu desta vez... ela apenas passou a mão por meus cabelos e saiu do quarto... eu ouvi a porta da entrada da casa se abrir e fechar e seus passos leves andando pela trilha até a casa de Carlisle. Então percebi que eu subestimei o medo de Bella e que seu sentimento era muito mais profundo do que eu imaginava... mas havia algo a mais agora e eu não pude identificar o que era, havia uma angustia latente em seu olhar como se algo a estivesse corroendo por dentro... parecia até... culpa. Mas pelo quê?

A chuva caía lateralmente e estava tão fina que parecia apenas uma névoa liquefeita... eu permaneci algum tempo imóvel olhando essa fina neblina rodopiando etérea por entre os galhos das árvores até que Nessie veio me despertar de meus devaneios. Ela parecia normal e nem mesmo se deu ao trabalho de comentar o sonho ruim que acabara de ter, acho que talvez Bella estivesse se precipitando... Renesmee pareceu tratar seu sonho como um pesadelo comum que nos assalta a noite mas que não nos incomoda durante o dia.
Em pouco tempo já estávamos no quintal de Carlisle e entramos pela porta da cozinha, a casa estava estranhamente silenciosa e só chegando à sala encontramos Alice no sofá com Bella deitada com a cabeça em seu colo, eu sondei os pensamentos de Alice na tentativa de saber se Bella tinha dito algo mas ela entrara na casa totalmente muda e se manteve assim.
- Onde estão todos? - perguntei.
- Carlisle, Emett e Jasper então lá na frente no jardim, acho que um quileute está aqui, Esme, Rosalie e Kaori estão lá em cima conversando...
- Como você está? - eu perguntei agora para Bella me ajoelhando ao lado do sofá.
- Estou bem, não se preocupe... apenas pensando.
- Nós conversaremos depois... Nessie, você prefere ir já?
- Pode ser, é um pouco cedo ainda... mas até prefiro chegar antes.
Renesmee me lembrava Bella em alguns aspectos, ela detestava chamar atenção em demasia, sempre preferindo manter-se distante o quanto podia para não por em risco todos nós. Nessie pensava que era um peso para nós ficarmos enclausurados na mansão apenas para ela poder ir à escola... mas isso era uma completa bobagem da parte dela, nós não nos importávamos e até ficávamos felizes de ela poder ter um crescimento saudável nesta primeira etapa de sua vida.

Acompanhei Bella e Renesmee até o jardim onde elas se dirigiram até a garagem... uma das poucas coisas que eu nunca compreendi em Nessie é o seu pavor de dirigir um carro, por si só ela se move mais rápido que qualquer veículo mas tem medo de guiar um, isso só me mostra que por mais que eu leia pensamentos eu jamais vou compreender completamente minha filha.
Carlisle, Emett e Jasper estavam mais afastados da casa, onde o jardim tocava numa ponta da floresta, junto deles estava um representante da matilha de lobos de Sam chamado Jeremy Moonstar... um rapaz jovem e alto com cabelos estilo moicano e sobrancelhas fartas e ariscas, ele havia se transformado pouco antes do quarto aniversário de Renesmee. Era um bom rapaz mas não nutria uma simpatia tão aguda assim pelos vampiros, ele nos culpava por tê-lo arrancado de uma vida tranqüila.
- Jeremy – eu cumprimentei.
- Edward – ele respondeu em uma voz profunda.
- Aconteceu alguma coisa?
- Na realidade, nada do que já não sabíamos – disse Carlisle – Sam enviou Jeremy para nos conduzir até o local mais recente aonde eles encontraram alguns sinais estranhos ontem à noite. Parece que havia rastros onde a Reserva faz fronteira com a estrada secundária de Forks... Jeremy acredita que eles cruzaram a estrada para dar uma olhada no território dentro da cidade.
- Ou seja, dentro de Forks...
- Sim – concluiu Jasper – Eles perceberam que é muito complicado obter qualquer informação de nós a partir das florestas uma vez que a Reserva está recheada de lobisomens...
- É, mas sinceramente não é isso que me incomoda... – continuou Carlisle – Fico em dúvida sobre as intenções que levaram estes vampiros a estarem nos vigiando tanto.
- Achei que já havíamos concordado que é por causa de Kaori ter ouvido o que não devia – disse Emett.
- Oh, não... – retornou Carlisle – Eu não me referi a isso, mas me parece que eles têm interesse em nos manter presos dentro de nosso próprio espaço... como se o interesse deles fosse não permitir que saíssemos, tanto que quando Jasper e Alice se afastaram demais eles foram seguidos.
- O que vocês encontraram, Jeremy? - Perguntei.
- A mesma coisa de sempre, rastros estranhos que são muito recentes mas com quase nenhum cheiro de vampiro neles, ontem durante o turno de Embry e Quill eles juram ter ouvido sussurros na escuridão e movimentos nas florestas mas não enxergaram ninguém.
- Deve ser alguém muito habilidoso a ponto de conseguir enganar até os sentidos dos lobos – concluiu Emett.
- Então, o que vamos fazer? Nos embrenhar na floresta com as matilhas? - quis sabe Jasper.
- Acho que vamos nos dividir – ponderou Carlisle – Eu e Edward vamos dar uma olhada pela cidade já que sabemos que eles estão rondando por lá enquanto Emett e Jasper acompanham Jeremy para ver o que os lobos descobriram.
- Bem, vamos nessa então, moçada – disse Emett feliz por fazer algo emocionante, era uma pena que eu não partilhava de sua empolgação.

Entramos na cidade de carro, Carlisle seria facilmente reconhecido pela população mais idosa de Forks uma vez que ele desempenhara um papel tão bom no hospital municipal; Carlisle sentia falta de sua profissão mas seu amor por Nessie não o deixava se queixar. Na realidade ele tivera uma idéia pessoal há pouco tempo, ele propôs a Nessie cursar medicina em uma Universidade britânica em Essex onde o tempo é muito semelhante ao de Forks e assim ele poderia voltar a atuar em algum hospital por lá e ainda ajudar Nessie com o curso.
A garoa continuava a cair muito levemente, Carlisle abriu os vidros do carro um pouco para que pudéssemos identificar algum odor suspeito mas isso não adiantaria muito uma vez que os estranhos pareciam não deixar vestígios de sua passagem. A cidade continuava a mesma que há dez anos atrás, Forks era tranqüila, pequena e quase sempre sob uma chuva torrencial que dava a ela um aspecto um pouco sombrio e desolado; as ruas encharcadas do pequeno centro iluminavam-se com o desfile de guarda-chuvas e sombrinhas coloridas. Paramos o carro na frente da praça principal e aguardamos um pouco para “sentir” o lugar.
- Você acha que eles passariam pelo centro? - perguntei a Carlisle.
- Talvez, eles poderiam caminhar por aqui se estivessem atrás de... alimento.
- Eles entrariam em Forks para isso?
- Eu disse talvez.
- Porque estamos parados aqui, Carlisle?
- Bem, estamos parados aqui por que o fluxo de pessoas é maior e, apesar de ser ainda cedo, daqui a pouco as lojas vão abrir e o comercio movimentar e você poderá observar a mente das pessoas para tentar pescar alguma informação.
- Isso é uma boa idéia? Ficar parado aqui o dia todo?
Carlisle me lançou um olhar maroto, seu rosto jovem e tranqüilo analisando minha expressão interrogativa.
- Melhor do que ficarmos dando voltas pela cidade sem qualquer pista.
- Preferia estar na floresta rastreando as pistas que os lobos encontraram.
- Cada um faz sua parte Edward, de nada adiantará lotarmos as florestas de vampiros e lobos se os estranhos não estão lá.
- Provavelmente você tem razão.

Eu fiquei em silêncio e me encostei-se ao banco do carro, fechei meus olhos e passei a explorar a mente das pessoas que passavam na rua. O movimento aumentou algumas horas depois, o comércio já estava funcionando em plena atividade; padarias estavam lotadas de pessoas tomando café, as lojas de ferragens com homens preocupados em concertar o telhado ou as cercas de suas casas, um salão de beleza já tinha três clientes fofocando sobre uma quarta que chegaria dali a alguns instantes, na praça um jovem casal de namorados gazeava aula e na esquina um velho pedinte cantava uma musica triste em seu violão gasto.
Mas nada de notícias assustadores sobre monstros sugadores de sangue. Eu me mexi desconfortável e acho que Carlisle notou minha apreensão.
- Sabe- começou ele – Você geralmente tem facilidade para se concentrar... o que está havendo?
- Bella – eu suspirei por fim.
- O que há de errado com ela?
- Basicamente? Eu não faço a menor idéia... – eu respondi lacônico – Bella ficou muito mal desde que vimos as lembranças de Kaori e tudo isso que está acontecendo está mexendo demais com a cabeça dela.
- Bem, é perfeitamente normal, filho.
- Como poderia ser normal, Carlisle?
- Bella passou por vários traumas desde que vocês se conheceram e ela decidiu entrar para nossa família. Primeiro, James a rastreou e a teria matado se não fosse você; segundo, ela quase viu você se entregar aos Volturi num ato de suicídio mal pensando; terceiro, ela quase morreu ao dar a luz a Nessie e, por último, nossos amigos italianos vieram nos caçar ameaçando a vida de todos. Acho que é trauma o suficiente para que ela se sinta aterrorizada de ter que passar por tudo isso novamente.
- E o que eu faço?
- Deveria deixar ela superar este medo por si só, Bella sabe que nós estamos ao lado dela e jamais deixaríamos algo de ruim acontecer a Renesmee; ela vai ruminar isso por um tempo mas como sempre encontrará uma solução plausível para ela mesma.
- Não sei, você não acha que desta vez há algo de diferente?
- Diferente?
- Sinto alguma coisa ruim por aqui, Carlisle. Como se algo se aproximasse furtivamente de nós...
- Até você? Eu esperava isso de Esme ou Alice, mas você que sempre foi tão racional e ponderado...
- Eu sei, acho que a paternidade me deixou mais sensível com tudo...
- Bem, agora sabe como me sinto sempre que coisas assim acontecem... afinal, eu tenho cinco filhos. Alguma coisa?
- Não, tudo normal. Não aconteceu nada de errado em Forks na última noite... sabe de uma coisa, deveríamos ir até a delegacia para falar com Charlie, talvez ele tenha alguma novidade.

A delegacia ficava na área central no lado leste da cidade, era um prédio antigo e tradicional de tijolos a vista com janelas amplas e persianas empoeiradas; havia três viaturas de patrulha estacionadas nas vagas dos policiais e um jipe de trilhas para quando os oficiais de Forks precisavam se embrenhar nas florestas que cercavam a cidade. Entrando na Delegacia paramos defronte a um balcão marrom de aspecto velho e encardido de onde um oficial magro nos olhou curioso.
- Bom dia... gostaríamos de falar com o Chefe Swan, por favor.
- Edward – gritou Charlie, ele estava parado na frente de sua sala e fez um gesto para que entrássemos – Tudo bem, Brody... é meu genro.
Depois de tantos anos, Charlie parou de fazer uma careta toda vez que me chamava de genro, mas não foi fácil para ele aceitar fazer de conta que não sabia de nada sobre nós... foi um esforço descomunal da parte de Charlie. Se bem que depois do nascimento de Nessie ele ficou muito mais receptível conosco e acabou aceitando melhor que a família de seu genro era diferente.
Ele segurava uma grande caneca de café fumegante e nos ofereceu também, claro que mais por educação porque Charlie sabia que não aceitaríamos; ele nos convidou a sentar em duas poltronas baixas feitas de couro preto que estavam dispostas na frente de sua mesa e acomodou-se em seu lugar. A sala era ampla e as fotos de Bella e Nessie descansavam num lugar de destaque sobre a mesa de Charlie... ele nos olhou curiosos, perguntando:
- Bem, é raro vê-los na cidade... aconteceu alguma coisa?
- Charlie... – começou Carlisle cuidadosamente, ele sabia que meu sogro era um homem bem desconfiado – Nós passamos aqui para saber se você tem notícias de alguma movimentação suspeita na cidade...
- Movimentação suspeita? - perguntou Charlie estranhando e depositando a caneca de café sobre a mesa.
- Sim, algo anormal... qualquer coisa que os cidadãos de Forks tenham achado diferente...
- Por quê estão perguntando isso?
Eu sabia que Charlie ficaria na defensiva, não era culpa dele... Charlie era o Chefe de Polícia de Forks e era a obrigação dele fazer as perguntas e não respondê-las. Obviamente li os pensamentos de Charlie e descobri que um dos oficiais do Dp havia interceptado um bando de vagabundos junto à estrada secundária; eu toquei levemente o braço de Carlisle para que ele me deixasse falar, eu teria que ser muito sutil para que Charlie não ficasse imaginando como eu sabia dos homens e, além disso, se meu sogro suspeitasse que eu podia ler pensamentos... desconfio que levaria mais alguns anos para ele voltar a me chamar de “meu genro”.
- Charlie, nas últimas noites... Sam e os lob... – Mas eu parei a frase no meio devido a um olhar reprovador de Charlie, ele sabia das matilhas mas fazia de conta que elas não existiam e detestava que o lembrassem disso – Desculpe... Sam e os amigos dele encontraram rastros de invasores na Reserva, eles não sabem quantos são e o que querem e nem de onde vieram, mas isso os está incomodando. Você sabe que os quileutes não gostam de estranhos em seu território...
- E porque vocês e não Sam vieram falar comigo? - perguntou Charlie desconfiado.
- Porque suspeitamos que este grupo de estranhos está rondando nossa casa também.
Com isso a expressão de Charlie mudou... estranhos rondando a casa onde a filha e a neta moravam era algo que o interessava profundamente.
- Hoje bem cedo, Perkins estava patrulhando as estradas secundárias quando deu de cara com um grupo de vagabundos... quatro estranhos maltrapilhos que perambulavam por ali; ele parou e interrogou os homens e eles responderam que estavam de passagem e que não tinham interesse de entrar em Forks.
- E o patrulheiro notou algo de diferente neles?
- A principio pareciam apenas quatro andarilhos comuns como estes que estamos acostumados a ver pelas estradas indo de cidade em cidade arrecadando esmolas e roupas quando podem. Mas Perkins não gostou do jeito deles... ele comentou que havia algo estranhos nestes vagabundos, algo perturbador.
- Que seria...? - disse Carlisle interrompendo o suspense de Charlie.
- Todos tinham os olhos vermelhos como o sangue... e pouco antes de Perkins os abordar ele jurava que havia um quinto membro no grupo, um sujeito alto que parecia ter se embrenhado no mato um segundo depois dele olhar. Perkins questionou o grupo mas eles afirmaram que não tinham visto ninguém além deles quatro.

Charlie quis saber mais sobre o que nos preocupava, mas Carlisle apenas respondeu que nós sabíamos tanto quanto ele e que provavelmente não passava de um bando de andarilhos. Sei que meu sogro não acreditou muito esta história, Charlie é um ser desconfiado por natureza e me pergunto se ele logo entraria em contato com Bella para saber mais sobre o caso... mesmo sabendo que Bella não diria nada a ele justamente para mantê-lo em segurança.
Despedindo-se de Charlie e saindo da delegacia, Carlisle conduziu o carro pelas ruas mais distantes do centro a fim de verificar algo incomum até que constatamos estar tudo em ordem, o relógio do carro já marcava cinco horas da tarde e achei interessante darmos uma passada na oficina do Tom onde Jacob trabalha para conferir se ele sabe de alguma coisa a mais... ou escutou de algum cliente algum relato estranho.
A oficina do Tom ficava próxima ao centro da cidade e chegamos lá em pouco tempo, a chuva havia aumentado um pouco de intensidade e o vento gelado fazia com que os pedestres se agarrassem em suas capas de chuva com mais força ainda... havia muitos carros no pátio em frente à oficina, alguns concertados e outros que serviam apenas para ferro velho. Um jovem rapaz franzino veio nos receber limpando as mãos em um pano encardido.
- Boa tarde... vocês vão desculpar mas nós não consertamos Mercedes do modelo Compressor... não temos como identificar os problemas e...
- Não se incomode com isso – disse Carlisle gentilmente – Nós não temos problemas com o carro, viemos aqui para falar com nosso amigo... Jacob Black.
- Ah... me desculpe. Jacob – berrou o rapaz – Jacob... tem gente aqui que quer você.
O rapaz entrou novamente na penumbra da oficina e em pouco tempo Jacob saiu de lá, ele também limpava as mãos em um pano encardido, tinha no rosto uma expressão carregada indicando que ele também estava preocupado com tudo o que estava acontecendo. Seu pensamento imediato foi sobre o grupo de estranhos que tinha cruzado a estrada e ele deduziu corretamente quando imaginou que estávamos ali para isso.
- Sim... – eu disse o cumprimentando – É justamente por isso que estamos aqui.
- Jacob – cumprimentou-o Carlisle.
- Digam, Sam já mandou informá-los das novidades? – disse ele nos olhando.
- Já sim... e você soube de mais alguma coisa? Algum cliente aqui da oficina comentou sobre algo estranho acontecendo por Forks?
- Apenas algo que o Robb, filho do policial Perkins, comentou mais cedo sobre um bando de andarilhos na estrada secundária... mas, tirando isso, não há mais nada....
- Sim, estivemos com Charlie agora e isso não deixou mais dúvidas de que os andarilhos que o patrulheiro abordou são os vampiros que estão rondando por aqui... – Carlisle disse.
- E vocês acham que eles querem alguma coisa daqui ou só estão vigiando? - perguntou Jacob mais baixo nos conduzindo em direção ao pátio para evitar que alguém nos ouvisse.
- Não sabemos também – eu respondi impaciente – Aliás nós basicamente não sabemos nada sobre estes estranhos ou o que eles planejam aqui.
- Bem, eu vou sair agora... vou até a fazenda do velho Will para buscar a pick-up dele que deu problema, ele mora bem próximo à estrada secundária aonde os lobos encontraram os sinais dos vampiros... vou perguntar se ele viu algo suspeito por lá.
- Está bem, nós vamos indo para não te atrapalhar... só me diga uma coisa, em que altura da estrada os lobos encontraram os rastros dos estranhos?
- Perto do quilometro doze, um pouco antes do trevo de acesso para o interior do estado...
- Ótimo, obrigado pelo seu tempo, Jacob. – Despediu-se Carlisle.
- Não se preocupe Dr. Cullen... o prazer é meu. Á noite eu passo por lá para ver como estão todos...
- Até depois, Jake... – eu disse enquanto seguia Carlisle até o carro.

As estradas secundárias de Forks poderiam ser chamadas de qualquer coisa... menos de estradas; havia trechos em que o asfalto estava intacto e trechos onde a cobertura de concreto era simplesmente inexistente, muitos quilômetros já haviam sido reduzidos a estradas de terra e as poças de água acumulavam-se em toda a extensão da via como um imenso e plano queijo suíço. A floresta escura fechava os dois lados da estrada como um muro de proteção natural, não havia posto de combustível pelos próximos 30 ou 40 quilômetros... se o carro enguiçar por aqui o pobre motorista terá de andar muito até encontrar a oficina do Tom.
Seguíamos num ritmo uniforme pela estrada enquanto Carlisle desviava magistralmente pelos buracos que nos cercava, em determinados momentos ele teve que guiar o carro pelo acostamento que parecia mais incólume do que a estrada propriamente dita. Já fazia alguns minutos que estávamos viajando nela e até agora não havíamos encontrado mais nenhum carro... o movimento nesta via era baixíssimo e qualquer pessoa poderia viajar por ela sem ser incomodada ou avistada.
Eu não tinha certeza se os estranhos ainda estavam por ali e era mais certo que eles tenham se afastado da estrada, entretanto, não tendo encontrado nada na cidade nós resolvemos dar uma olhada nas marcas estranhas que estes invasores deixavam. Carlisle parou o carro no acostamento justamente em frente a uma placa gasta onde mal se lia “Km 12”, dali seguimos a pé rumo ao trevo de acesso às estradas que levavam mais para o interior do estado procurando qualquer vestígio dos estranhos.
Havia um odor adocicado típico dos vampiros mas era praticamente inodoro, e levando em conta que o patrulheiro conversou com os estranhos pela manhã, o cheiro deles deveria estar bem mais nítido; Carlisle cruzou a estrada para verificar o outro lado e eu continuei seguindo o meu caminho com os olhos grudados na floresta e a mente tentando identificar qualquer pensamento que estivesse por perto.
Finalmente, Carlisle voltou para o meio da pista e parou analisando o chão...
- Filho... vem cá!
Chegando perto ele apontou com o a mão para uma poça rasa onde um bocado de lama se formou no fundo e lá, impressa como uma digital, estava a marca de um solado. Era uma marca grande e pesada e provavelmente pertencia a um homem igualmente grande e pesado... alguém que calçava entre 44 e 46...
- Pelo tamanho da pegada... o vampiro deve ter mais ou menos a estatura de Jacob.
- Sim, e não restam dúvidas de que foi um vampiro... o cheiro é muito fraco mas é certeza de que pelo menos um esteve por aqui.
- O interessante é que parece um sapato social, não é? Veja, tem a sola lisa e com um leve salto.
- É – respondi estranhando – Não parece o sapato que um andarilho usaria para caminhar pela estrada cruzando cidades..
- Talvez pertença ao vampiro bem vestido das lembranças de Kaori.
- Talvez... – eu disse me abaixando para olhar melhor aquela pegada, não tinha quase nenhum cheiro e era impossível identificar se pertencia ou não aos vampiros que rondavam a Reserva – Mas não gosto disso... parece a pegada de um fantasma...e o pior é que pelo sentido da marca ele estava indo em direção à Forks.

Carlisle não me respondeu porque neste instante meu celular tocou, eu continuava encarando aquele estranho rastro quando desviei o olhar para o aparelho, a pequena tela de LCD piscava com o nome de Alice.
- O que foi, Alice? - eu perguntei distraidamente.
- Edward? - era a voz de Bella e eu notei, com uma ponta de preocupação, o pânico em sua voz.
- O que foi, amor?
- Edward... Renesmee não estava na escola quando Alice foi buscá-la, ela não chegou em casa ainda e o celular está desligado.
- Bella, acalme-se... você já telefonou para as amigas dela?
- Já... para todas, ela não está na casa de ninguém... Jacob disse que ela também não passou na oficina... Edward... onde está nossa filha?

Então eu senti o desespero me invadir, Carlisle me olhou indagante mas eu apenas balancei a cabeça e as palavras morreram antes mesmo de deixarem minha boca; eu olhei para aquela marca na poça de lama e minha mente deu um solavanco nem ousando pensar na possibilidade... mesmo assim eu pensei.

Travei os dentes num ódio súbito... os vampiros não estavam rondando Forks procurando nos vigiar, talvez eles apenas quisessem a única de nós que freqüentava diariamente a cidade e que era a mais vulnerável: Renesmee.


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