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História Candor Lunar: Livro 1 - Capítulo 26 - A Canção de Morte Quileute


Escrita por: Earendil

Notas do Autor


Mais um capítulo... quase no fim...

Capítulo 26 - Capítulo 26 - A Canção de Morte Quileute


Capítulo 26 – A Canção de Morte Quileute


Durante a noite toda e o restante da madrugada, todos nós discutimos e rediscutimos nossa situação, esporadicamente, um vácuo mórbido de silêncio tomava a todos e nos recolhíamos dentro de nossas próprias tristezas. Eu não podia deixar de imaginar em que situação minha filha se encontrava e como seu coração reagiria em uma ocasião destas, mas Renesmee era uma garota forte... forte como Bella sempre fora, decidida... apenas o seu atual estado de impaciência que a fazia agir sem pensar me preocupava; ela quase fora morta na floresta depois que se desentendeu com Kaori. A sorte foi que nossa convidada é uma mulher sensata e madura o suficiente para não se deixar atingir pelos disparates de uma adolescente em crise... minha briga com Nessie parece tão distante e sem importância diante dos fatos que agora se apresentaram a nós.

E por mais que eu tente, por mais que me esforce... este gosto amargo de culpa não deixa o meu paladar... há anos atrás, se eu não tivesse deixado Bella uma série de eventos catastróficos teria sido evitado. Quando pensei que Bella havia morrido depois de se atirar de um penhasco eu fugi para a Itália em busca de minha própria morte pelas mãos dos Volturi; este meu ato impensado expôs toda a minha família e inclusive Alice que até então não era um alvo de Aro... Pergunto-me se tudo isso que acontece agora não é única e exclusivamente uma culpa minha.
Neste instante senti uma mão pousar em meu ombro e um instante depois Carlisle se sentou ao meu lado.
- Nós daremos um jeito nisso – ele disse com um sorriso amarelo nos lábios.
- Eu não quero que nenhum de vocês se machuque... – respondi pesadamente.
- Da mesma forma que não permitirei que você ou Bella aceitem o convite de Aro para nos salvar...
- Mas nós morreremos todos se isso não for feito, Carlisle.
- Filho – ele disse num suspiro – Não se trata apenas de nossa salvação ou morte, se trata de fazer o que é certo... não podemos permitir que um indivíduo ou um grupo se aproveite de nossa família e de nosso desejo de viver em paz. Aos tiranos como os Volturi só servem aqueles que estão dispostos a oprimir os outros de sua própria espécie, servi-los é assinar uma sentença perpétua de escravidão e servidão onde jamais haverá saída...
- Por que eles se tornaram o que são hoje? - eu perguntei impaciente – Até onde eu sabia eram eles quem mantinham nossa espécie em segredo e sobre controle, mas, ultimamente, o que eles desejam é poder e mais poder... nada além disso; nossa ordem e nossas leis foram deturpadas por Aro, Caius e Marcus e eu não confio mais neles. Não depois de tudo isso...
- Acho que eles não se acostumam com a idéia de que vampiros se unam em famílias como a nossa... entenda, Edward, os Volturi não são uma família, Aro não tem apreço ou amor por seus servos, nem mesmo por Jane ou Alec... ele os mantém porque são poderosos demais e representam uma força vital para os Volturi. Mas eles não compreendem o intrincado senso de família e dos laços que unem vampiros numa mesma casa sem a pretensão de um aproveitamento de outra ordem... eles não compreendem a nossa família e por isso nos consideram uma ameaça para seu governo, ante os olhos deles... nós somos uma força rival.
- Tudo o que eu queria era viver em paz com minha esposa e minha filha...
- Ah – disse ele rindo abertamente agora – Então você finalmente conseguiu entender o que eu sempre desejei...
- Sim... é verdade, agora eu o compreendo. Mas é uma pena que o destino não nos ajude...
- Bem, filho, a verdade é que o destino nunca ajuda no momento em que mais precisamos dele... e é neste momento que nossa integridade é posta a prova e nós somos forçados a comprovar a nós mesmo que somos bons e que nosso coração é puro.
- Mesmo que a recompensa seja a morte? - eu perguntei taciturno.
- Mesmo assim. Muitos homens de honra e coragem lutaram para que a humanidade encontrasse um grau mais elevado de tolerância e paz, Edward, e a única coisa que receberam em troca foi a morte e o sofrimento... agora, pense, se eles tivessem se calado ou se acovardado... teríamos o modelo e o senso de honra e dever?

Carlisle deu um tapinha paternal em minhas costas e se levantou me deixando sozinho no sofá, eu compreendi seu ponto de vista e percebi a suave crítica imbuída em suas sábias palavras: de nada adiantaria eu e Bella aceitarmos nos tornar escravos de Volterra para deixar que Nessie ficasse livre, isso apenas tornaria os Volturi duas vezes mais poderosos para que continuassem a provocar injustiças pelo mundo.
Além disso, eu pensei em todas as lutas, guerras e batalhas travadas pela humanidade em sua curta história de existência... pensei em grandes líderes que lutaram contra a injustiça e a opressão e que foram aprisionados, mortos ou crucificados por causa de sua atitude. Com certeza eles sentiam medo e com certeza tinham algo a perder... mas, ainda assim, continuaram e fizeram a diferença no mundo mesmo recebendo apenas a morte como recompensa.

Às vezes você tem a oportunidade de fazer o que é certo... e muitas vezes o medo nos paralisa e impede que cumpramos o que realmente temos de fazer, eu não recuarei e não permitirei que os Volturi, por mais poderosos que sejam, digam o que eu devo e o que não devo fazer... mesmo que eu receba apenas a morte mérito.

Neste mesmo instante em que eu decidia pelo meu destino, a porta da frente se abriu e Sam, Jacob e Seth entraram por ela com seus olhos austeros e ferozes... nenhum deles havia dormido durante a noite mas nenhuma sombra de cansaço era visível em seus rostos de expressões duras... os lobos ansiavam por uma batalha.
Depois que nos reunimos novamente e todos foram apresentados – Ahmed ficou impressionado com o tamanho dos Quileutes e principalmente depois que viu alguns deles se mostrarem no jardim enquanto vigiavam a casa – chegara a hora de contarmos a nossos amigos lobos a gravidade da situação.
Carlisle falou durante muito tempo e nenhum dos três lobos presentes esboçou qualquer reação enquanto ele falava, entretanto, a expressão em seus rostos foi ficando cada vez mais sombria e uma luminosidade de ódio queimava muda em seus olhares... depois que Carlisle terminou de falar, foi Sam quem se manifestou primeiro.
- Então, um exército esta rumando para cá? - ele perguntou taciturno.
- Ao que tudo indica... – respondeu Carlisle.
- E o informante de vocês é confiável?
- Sim, ele é velho e serve os Volturi há séculos... mas não os suporta.
- E qual é a nossa situação? O que faremos? - perguntou Seth.
- Bem, não sabemos ainda quais são as atuais intenções dos Volturi apesar de que elas se mostram claras... não sabemos se haverá uma luta e pessoalmente eu preferiria evitar isso ao máximo... se lutarmos, saibam, teremos baixas consideráveis.
- Carlisle – chamou Jacob – Da ultima vez nós tínhamos certas vantagens e agora o amigo de Benjamin também nos proporcionará uma proteção extra de muita utilidade... então, porque estamos apreensivos?
- Ora, Jake... os Volturi estão com a vantagem numérica e com Nessie e Alice além de preservarem um outro fator fundamental: o desconhecido. Eles nem sonham que sabemos que Flávius Aurélius está com eles, este foi um fator positivo a nosso favor pois agora sabemos mais ou menos o que enfrentaremos... o que me preocupa é o que não conhecemos. O que mais os Volturi estão tramando? Quem mais eles recrutaram? Tivemos conhecimento do vampiro camuflador e desconfiamos que Alice estava sendo o tempo todo neutralizada por um poder desconhecido... se lutarmos, Jacob, lutaremos contra todas as chances de nos salvarmos. A questão, é que não ousamos pedir que morram conosco.
- Pensei que já havíamos deixado clara a nossa posição quanto á isso, Carlisle – disse Sam.
- Sim, e já foi dito que você tem responsabilidades com o seu bando, Sam, e que nem todos estarão dispostos a morrer por vampiros.
- Nessie quase morreu defendendo um lobo, Carlisle, Leah não perdeu Quilan porque Renesmee se colocou na frente... isso contou muito quando as matilhas foram informadas de seu seqüestro.
- Além do mais... – continuou Sam – Jacob participará desta luta e eu jamais o abandonaria... desta forma, os lobos estarão ao lado de vocês seja lá qual for o perigo que isso represente.
- O perigo é o máximo possível, Sam – eu disse – Vocês todos correm o sério risco de jamais retornarem para seus lares.
- Não permitiremos que lutem sozinhos... – disse Jacob decidido – Os lobos existem para controlar a ameaça de vampiros... existimos para proteger a inocência do mal, é para isso que nos transformamos em lobos. Que utilidade teríamos se permanecêssemos apenas embrenhados nas florestas vigiando nosso próprio quintal? Não, Edward, não funciona deste modo, os espíritos deram-nos a força para que nos transformássemos em lobo para que protegêssemos aqueles que nos são caros... não permitiremos que esta família seja desintegrada pela ambição de um bando de loucos, se morrermos... morremos juntos.

Eu sabia que não havia margem de discussão e que os lobos iriam conosco rumo à tempestade... apesar de sentir por tê-los colocado em perigo, meu coração se tornou mais leve sabendo que teríamos a ajuda das matilhas. Mas é claro que Jacob jamais permitira que Nessie fosse levada pelos Volturi e jamais desistiria ou descansaria até tê-la novamente, por muito tempo eu subestimei o amor entre Jake e Nessie... agora vejo que cometi um erro. Jacob ama minha filha na mesma intensidade com que eu amo Bella.
E minha apreensão apenas aumentou assim que meus olhos pousaram sobre a minha esposa, Bella olhava pela janela enquanto lá fora o dia tomava o lugar da noite e seus olhos se perdiam nas distâncias do horizonte aguardando pela tempestade que se aproximava. Eu me retorcia por dentro, afinal, boa parte do tempo desde que a conheci eu sempre procurei manter Bella afastada dos problemas e agora estou prestes a atira-la bem no olho do furacão, Bella seria extremamente visada no meio de uma luta... mas o alívio desta vez vinha de Ahmed e seu dom de escudo físico que poderia nos dar alguma vantagem caso Bella fosse neutralizada.
Levantei-me de onde estava e fui até ela abraçando-a. O sol já fulgurava no horizonte e o dia lançava seus dedos luminosos desmembrando a escuridão que tudo oprimia, mas nem mesmo a visão clara do dia e a ausência da chuva permitiram que meus temores se dissipassem.
- Pensado em quê? - eu perguntei a Bella.
- Renesmee – ela respondeu num suspiro.
- Ela ficará bem, nós a traremos de volta...
- Fico pensando aonde erramos...
- Bella, nós apenas desejamos viver em paz e não cometemos erro algum...
- Que Deus me perdoe mas eu os amaldiçôo todos... – ela disse num rompante de raiva.
- Eu também...
- Edward? O que acha que vai acontecer agora?
Mas eu não precisei responder, um uivo possante rasgou o ar e Sam, Jacob e Seth pularam do sofá neste mesmo instante... antes de Jake sair pela porta eu gritei para ele.
- O que foi?
- Foi o uivo de Quill na fronteira norte... um intruso foi avistado. – ele disse um segundo antes de se transformar e sumir pelas árvores da floresta.
Obviamente, todos nos atiramos para fora e seguimos correndo de perto os lobos que agora se dirigiram em uma única direção, eu ouvia seus pesados e ágeis corpos se deslocando tão rápido quanto o vento entre as árvores da floresta, havia um brilho fulguroso que se espalhava pela mata a medida que o sol refletia em nossas peles de cristal... a floresta se silenciou ante a nossa passagem desabalada, afinal, dezenas de lobos imensos e dez vampiros brilhantes assustariam qualquer coisa em nosso caminho.
Havia ainda fiapos de névoa úmida pairando no ar e o frio da manhã recém nascida agitava-se como uma onda cintilante de gelo, corríamos como jamais havíamos corrido em nossas vidas na esperança de captar qualquer informação que nos fosse útil para encontrar Renesmee.
Um intruso atocaiado na fronteira surgiu como uma esperança... uma réstia de informação sobre o paradeiro de minha filha, os pensamentos de todos turbilhonavam-se em minha mente e eu escutava a apreensão geral fervendo de ansiedade. Jacob rumava na frente como um cometa enfurecido e quando os quilômetros foram facilmente transpostos por nossa ira, nós surgimos por entre a bruma sobre uma elevação no solo e vimos, poucos metros abaixo, uma grande reunião de lobos e, no centro dela, um vampiro totalmente desconhecido.
As árvores pareciam se inclinar sobre nós como se estivessem curiosas com uma reunião tão peculiar, nós paramos por um momento encarando com estranheza o vampiro que nos olhava indiferente; era baixo e parecia ser pouco mais que um menino, os cabelos cacheados e negros caiam-lhe pelos ombros, as sobrancelhas espessas escondiam um par de olhos ígneos de um vermelho faiscante... era forte e entroncado mas não parecia apresentar nenhuma ameaça no olhar.
À nossa volta os lobos rondavam e rugiam, Jacob se pôs em toda a sua altura de Alfa na frente do vampiro mas ele pareceu não se importar, quando descemos todos ele nos olhou de um em um e parou momentaneamente quando observou Benjamin, Ahamed e Kaori.
- Eu vim em nome de Aro, Caius e Marcus Volturi – disse o vampiro numa voz apática.
Antes que qualquer coisa viesse a acontecer, Emett rugiu e disparou para cima do intruso... mas o vampiro não se moveu, eu me atirei em cima dele fazendo-o parar mas Emett era muito mais forte que eu e Jasper teve de me auxiliar.
- Me soltem, maldição... ele é um verme a mando daqueles cretinos malditos...
- Não Emett – eu falei alto para que todos escutassem um segundo após ler os pensamentos do vampiro – Ele é apenas um mensageiro...
- O que você deseja? - perguntou Carlisle polidamente
- Venho apenas trazer-lhes um convite.
- Ele diz a verdade? - Perguntou Jasper para mim no momento em Emett se acalmou o suficiente para o soltarmos.
- Sim, ele é um nômade que viajava pela região quando deu de cara com os Volturi acampados em algum lugar... Aro, educadamente, pediu que ele viesse até aqui nos enviar uma mensagem.
- Por que aceitou este serviço? - perguntou Carlisle
- Sou um viajante e não tenho residência fixa, costumo viajar sozinho e não crio raízes – respondeu o estranho – Mas não sou um ignorante e conheço a reputação dos Volturi, eles me pediram este favor em troca de eu poder seguir o meu caminho em paz. Vim lhes trazer este convite e fiquei de levar uma resposta... e assim que tiver cumprido minha tarefa poderei partir.
- Como você se chama? - perguntou Carlisle.
- Sou Jean Batiste... – respondeu o vampiro.
- E que mensagem você nos trás?
- Aro, Caius e Marcus Volturi mantém sua filha e neta como convidadas. Eles estão dispostos a fazer-lhes um pedido pessoal e para isso lhes convidam a encontrá-los ao extremo norte daqui, num campo extenso e vazio propicio para que a reunião não seja interrompida por ninguém.
- Para que ninguém nos veja ser massacrados – rosnou Emett.
- Que lugar é esse onde teremos de encontrá-los?
- Fui instruído a mostrar em lembranças para ele – disse Jean Batiste apontando para mim.
- Canadá – eu disse após ler os pensamentos e as lembranças do mensageiro – Além do Lago do Escravo, ao norte de Pine Point onde impera uma grande pradaria verde com muitas léguas de solidão e silêncio.
- De onde um exército de vampiros poderia marchar sem problema algum – sugeriu Jasper.
- Exato – disse Carlisle com pesar.
- Eu não sei o porquê dos Volturi terem se dado ao trabalho de virem até aqui para incomodá-los – disse o mensageiro – Mas sinto muito... vocês deverão estar lá assim que o sol começar a cair no horizonte.
- Você cumpriu a sua tarefa mensageiro – eu disse para ele – Agora parta e avise Aro que nós estaremos lá.
Jean Batiste nos olhou com pesar e acenou uma única vez com a cabeça consentindo seu entendimento com nossa resposta, ele encarou os lobos à sua volta e sem se despedir deu as costas para nós e partiu velozmente pela floresta escura. Os lobos o acompanharam com o olhar até que ele sumiu completamente deixando para trás o eco de sua mensagem, agora não havia mais como postergar o fim, estávamos prestes a adentrar a tempestade para enfrentar novamente os Volturi e tentar salvar Renesmee e Alice.

- O sol nasceu a pouco – comentou Esme – Não devemos nos demorar muito se quisermos estar lá.
- Sam, Jacob – eu os chamei – Chegou o momento, é agora que devem decidir seus destinos e o destino de suas matilhas.
Assim, Jacob Black, Alfa por direito de herança sanguínea, levantou-se em toda a sua majestade e subiu novamente na elevação que havíamos descido para encarar as matilhas, nós todos esperávamos as palavras de Jacob e da reação dos lobos em saber que uma ameaça sem igual se aproximava no distante norte.
“Irmãos” – começou Jacob – “Ao norte daqui encontraremos nosso destino pois lá uma sombra nos aguarda, minha Renesmee e Alice foram seqüestradas por tiranos que trouxeram para perto de nós um grande exército de vampiros. Durante meses eles espreitaram das sombras o nosso território buscando uma brecha em nossas defesas para atacar os Cullen, eu sei que eles são nossos inimigos naturais mas há muito tempo nosso pacto com eles é honrado e no futuro eu me unirei com uma filha dos Cullen e os lobos Quileutes e os vampiros da família Cullen estarão unidos por um estreito laço. Agora eu pergunto a vocês, irmãos, nós permitiremos que o mal impere neste mundo e que uma injustiça seja feita· Permitiremos que esta família seja massacrada ou escravizada por um inimigo· Saibam que eles não gostam de nós e nos vêem como uma ameaça... nossa existência é baseada na idéia de protegermos o mundo de maldades cometidas por vampiros, de nos proteger, de proteger os que nos são caros. Eu irei à batalha e defenderei os inocentes... e vocês, irmãos, irão comigo?”

A resposta dos lobos veio na forma de uma sinfonia uníssona de uivos e rosnados altos que encheu a floresta e os céus, esta foi a decisão de todos os lobos quileutes... eles seguiriam seu líder para o norte a fim de enfrentar a ameaça dos Volturi. Os lobos iriam para a guerra.
Nós nos olhamos ante a aceitação das matilhas em participar de nosso embate com os Volturi, mas, agora, restavam acertar algumas coisas, Jacob e Sam liberaram os lobos... eles deveriam voltar para casa e para seus familiares porque, talvez, jamais tornariam a revê-los e nós permaneceríamos neste mesmo lugar porque nossa família já estava aqui. Um a um, os lobos se dispersaram e antes que Jacob partisse para se despedir de Billy, Leah e Quilan se aproximaram dele... eu pude ouvir seus pensamentos.
“Jake...”- pediu Leah – “Eu acompanharei você pois tenho uma dívida para com Nessie... mas por favor... você poderia... bem... meu filho?”
Jacob então baixou sua grande cabeça para o chão a fim de encarar o pequeno Quilan e todos ouvimos quando um suspiro longo e triste surgiu de seu peito...
“Quilan” – ele falou gentilmente – “Você não irá conosco para o norte, permaneça aqui até sua mãe voltar.”
“Mas, Jacob – disse Quilan com sua vozinha infantil – “Eu posso ajudar, Nessie é minha amiga... eu não sou um inútil.”
“Não... é claro que não é um inútil, Quilan, mas batalhas não são para crianças” – Disse Jake gentilmente mas, então, quando voltou a falar sua voz saiu duplicada e poderosa ecoando em minha mente, a voz do Alfa ordenando – “Quilan, você ficará junto de seu pai e não nos seguirá ao norte”.
O pequeno Quilan se encolheu ante a ordem do Alfa de sua matilha, seus ombros caíram e seu rabo roçava o chão da floresta, mas ele não questionou as ordens de Jake, era melhor assim, Quilan tinha um coração corajoso mas ainda era apenas uma criança e de jeito algum nós permitiríamos que uma criança se ferisse nesta batalha insana que se aproximava de nós.
“Obrigada, Jacob” – agradeceu Leah se afastando.
“Você também não precisa ir, Leah...” – falou Jacob em voz baixa e triste.
“Eu não permitirei que lutem sozinhos...”
E ela se enfunou na floresta seguida pelo seu filhote. Jacob acenou para mim e foi se despedir de Billy.

- Eles não deveriam sofrer por algo que não diz respeito a eles – disse Carlisle amargurado.
- Mas Jacob tem razão, Carlisle – retrucou Emett – Os Volturi também têm interesse nos lobos, você lembra que Edward leu a mente de Caius e Aro e eles pensaram em uma utilidade para os lobos como cães de guarda. Se eles não forem parados agora... a onda de morte virá até eles algum dia.
- Sim, o destino deles foi selado junto do nosso há dez anos atrás – completou Rosalie.
- Alguma estratégia a ser traçada? - perguntou Benjamin.
- Proteger nossos escudos – disse Jasper – Principalmente Bella. Ahmed é um escudo físico então ele consegue dar conta do recado, aliás, você conseguirá proteger a todos com o seu escudo?
- Não tantos – respondeu Ahamed – Mas boa parte das matilhas.
- Eu também nunca testei o meu escudo para tantos... antigamente, os lobos eram num número menor – preocupo-se Bella.
- Bem, vocês terão um tempo para tentar se adaptar enquanto nós nos dirigimos para norte. – eu falei.
- Tirando isso, temos que esperar para ver o que os Volturi estão aprontando, nossas estratégias só poderão ser traçadas lá mesmo. – revelou Jasper.
Então, todos caímos em uma empatia forçada, estávamos a um passo de nos embater com os Volturi e desta vez dificilmente haveria alguma saída pacifica baseada na diplomacia. Um a um, os casais se afastaram um pouco para ter privacidade, Jasper se largou sobre um amontoado de folhagens verdes e ficou sozinho fitando o céu pensando em Alice, Kaori, Benjamin e Ahmed se sentaram pela relva e permaneceram em silêncio... Bella me puxou para longe em direção ao grande tronco de um velho carvalho.
- Eu preciso que me prometa uma coisa... – ela me pediu encarando-me com aqueles olhos dourados e brilhantes.
- O que é? - perguntei.
- Não quero que você se preocupe comigo durante a um possível luta contra eles...
- Bella, como eu poderia não me preocupar com você?
- Quero que se concentre em permanecer vivo... Edward, você é minha vida, não quero vê-lo morto.
- Ninguém irá morrer, Bella... e eu não conseguiria ficar longe de você mesmo que pudesse, é meu trabalho há muito tempo mantê-la em segurança e não é agora que eu conseguiria mudar isso – eu disse simulando um humor que eu não tinha.
- Você não entende, quando e se surgir uma oportunidade para salvar Renesmee, eu quero que me deixe e vá salvar nossa filha... você é rápido e tem a capacidade de ler pensamentos e anteceder os ataques a você, dentre nós, ninguém tem mais chance do que você de chegar até Nessie.
- Eu não a abandonarei... – eu disse teimando.
- Meu amor... – Bella falou baixinho segurando meu rosto em suas mãos – Eu o amo mais que a mim mesma, amo tanto quanto jamais imaginei que amaria alguém e eu serei sua mesmo que meu corpo não esteja mais aqui. Mas, agora, a prioridade é nossa filha.
- Eu nunca permitirei que algo de ruim aconteça a qualquer uma de vocês. Eu morrei para isso se for necessário... – eu disse seriamente mas Bella me calou com um beijo.
- Ninguém vai morrer... – ela sussurrou.
- Você se arrepende de algo? - eu perguntei a olhando – Algo desde que esteve ao meu lado?
- Sim – ela respondeu com um sorriso nos lábios – Me arrependo de não ter te conhecido bem antes...
Eu beijei Bella com força apertando-a contra mim, eu não queria permitir que ela nos acompanhasse mas seu escudo era necessário e ela jamais ficaria sem a oportunidade de poder salvar a filha. Em silêncio nós permanecemos ali, eu sentia o cheiro doce de morango em seus cabelos e o medo de perdê-la tomava conta de mim, sem Bella eu era apenas uma casca vazia e sem vida, ela me completava e me aquecia tornado a minha existência real e com algum sentido... eu sabia, desde muito tempo, que o único propósito de minha existência era o de amar Isabella.

Depois de algum tempo, os lobos começaram, um a um, a voltar para perto de nós... havia tristeza em seus olhos lupinos e a marca da dor estampada em seus rostos de lobos, eles sabiam que talvez jamais voltassem a rever seus familiares. Sam Uley retornou com a cabeça erguida como um líder tem de ser, mas eu sabia que seu coração estava devastado por ter se despedido de Emily. Jacob apareceu pouco depois, mas não havia dor ou tristeza em seus olhos... mas sim, uma fúria selvagem e incontida.
- Temos de ir – informou Carlisle – Apenas quero que saibam que nada irá mudar o apresso que sinto por todos e que durante todos estes anos vocês me fizeram o homem mais feliz do mundo. Vamos enfrentar nosso destino rezando para que uma luta não venha a ocorrer.
Ninguém respondeu porque não havia nada a ser respondido, nosso destino fora traçado e culminava para este fim, inexoravelmente fomos arrastados para este embate e ele teria que acontecer porque tudo mudaria após ele... se vencêssemos o mundo dos vampiros não seria mais regido pelas leis de Volterra... se perdêssemos... nada mais importaria.
Ainda assim é interessante o quando a vida ruma para situações em que o mundo nos coloca constantemente à prova, somos testados diariamente e nossa força, por vezes, quase se exaure totalmente. Os obstáculos de nossa vida são transpostos um a um quando tentamos ao máximo nos manter íntegros e retos naquilo que cremos; a honestidade, a sinceridade e a justiça em nossos corações são sempre postas à prova e é nossa capacidade de resistir a maldade deste mundo que nos salvará no fim de tudo.

A alma humana é facilmente corrompida... felizes são aqueles que morrem cedo, mas com a alma pura. Eu não creio que ainda tenho uma alma... Carlisle crê que sim, talvez a alma não seja mais do que nossa própria consciência nos dizendo o que é certo e o que é errado; tanto que certa vez um pensador escreveu que a alma do homem é constituída por dois lobos, um bom e um ruim, e que você se tornará o lobo que alimentar melhor. Espero ter, durante todos estes anos em que vivi, alimentado o lobo bom para que no fim de tudo eu possa morrer em paz e pelo que acho certo, afinal, só temos uma chance para fazer isso.
Corríamos na frente enquanto as matilhas, em fileiras, nos seguiam de perto e cada quilômetro transposto nos deixava mais próximo de nosso destino; os pensamentos de todos eram uma mistura de raiva, dor, tristeza e saudade... além do medo de jamais rever os que amavam. Era isso que deveria ser detido no fim, esta capacidade dos Volturi flagelarem todos aqueles que desejam apenas viver em paz, eu não desejava lutar mas sabia que se tivéssemos a oportunidade de vencer... deveríamos fazê-lo para que Aro, Caius e Marcus deixassem de oprimir nossa raça.
Mas isso seria uma tarefa hercúlea, afinal, Marcus Aurélius despertou o temor de Garret e Carlisle; só o pensamento de enfrentar um exército de vampiros habilmente treinados já assinalava o fim de nossas esperanças... mas não podíamos acreditar no fim antes de tudo acontecer ou antecederíamos nossa morte com um pensamento negativista.
A floresta tornou-se levemente rarefeita no momento em que cruzávamos o interior do Canadá rumando para longe de nossa casa que talvez jamais votaríamos a ver... os campos longínquos e frios ladeados por uma floresta de coníferas espaçadas tornou-se a paisagem dominante, montes alto e imponentes recortavam o horizonte e hora ou outra um grupo assustado de cervos fugia de nossa passagem. Com uma pressa desesperada agora que o dia já atingia o meio da tarde, nós cruzamos o sinuoso Rio do Escravo e seguimos para o ponto de encontro mais ao norte deste lugar... corríamos em silêncio pensando apenas no que enfrentaríamos e o que seria preciso fazer para ter Nessie e Alice novamente conosco. Nossos medos aumentando em nossos corações em uma crescente onda de angustia e ansiedade.

Então, quando atingimos uma clareia extensa que era ladeada por uma floresta densa e antiga, os lobos captaram o cheiro leve e camuflado dos estranhos... foi Sam quem nos fez parar. Kaori ligara nossas mentes e agora todos podíamos nos comunicar como uma rede mental semelhante à dos lobos.
“Sim” – ele disse em minha mente – “O cheiro dos estranhos está aqui... muito mais forte do que de costume... muito mais fácil de captar”.
- Ele tem razão – disse Jasper – Até mesmo eu estou sentindo...
Todos paramos e nos posicionamos em defesa centralizando Bella no meio de nós, os lobos nos circundavam formando uma barreira sólida e amedrontadora; ao olhar ao redor eu percebi que era uma área estrategicamente boa para ataques, nós estamos posicionados em uma clareia que nos encurralava com um paredão de floresta densa por trás e do lado direito... no lado esquerdo um alto paredão de pedra nos flanqueava e impedia nossa passagem. Estávamos presos em uma armadilha ardilosa e previamente estabelecida.
- O que me diz? - eu perguntei a Jasper.
- É aqui... obviamente eles desejavam que parássemos aqui mesmo, para eles é um local muito bom porque podem nos cercar e nós não podermos flanqueá-los pois a floresta e o paredão rochoso nos impedirão de manobrar.
- Ben? - chamou Carlisle.
- As pedras do paredão serão úteis... além das árvores e o minério aqui sob a terra... rochas que moldadas poderão formar cristais de quartzo que podem ser usadas como armas... – informou Benjamin com as mãos enterradas no solo memorizando todo o terreno à sua volta... seu poder de influenciar os elementos seria de suma importância para nossa sobrevivência.
- Acha que não seria melhor ocultar os lobos nas florestas por enquanto? - eu sugeri.
- Não faria diferença – disse Carlisle – Provavelmente Aro já leu as memórias de Nessie e sabe quantos lobos existem... e pode ter lido a memória do mensageiro também... além de seu camuflador ter nos vigiado durante muito tempo... não temos nada a esconder deles.
- Ahmed, Bella, ergam as defesas – pediu Carlisle.
- Sam... Jacob – chamou Jasper – Aproximem mais os lobos de nós para que os escudos caiam sobre todos...
- Kaori – eu chamei – Você não precisa participar desta luta, pode se manter afastada e ainda assim nos auxiliar com seu dom unindo nossas mentes para que possamos nos comunicar por pensamentos.
- Eu já perdi uma família antes, Edward – disse Kaori em sua voz farfalhante – Não perderei outra... se vocês morrerão hoje, então eu aceitarei de bom grado morrer com vocês.
Eu olhei para Kaori e encarei seus olhos etéreos e distantes, uma eterna tristeza fria e bela estampada em sua face... ela estava com medo e eu sabia disso, mas ainda assim estava ao nosso lado... todos estávamos com medo; e, no fim das contas, não era nisso que consistia a coragem? Mesmo estando paralisado de pavor... continuar a avançar?


E assim, escudados mentalmente por Bella e fisicamente por Ahmed nós aguardamos... o sol deslizou mais um pouco para a borda oeste do mundo e o vento aumentou de velocidade trazendo até nós o aroma inconfundível de vampiros... a floresta sussurrava para si mesma palavras tristes na linguagem do vento e tudo estava silencioso, apenas a respiração e os corações possantes dos lobos poderiam ser ouvidos... 39 lobos vieram nos defender e este gesto de amizade eu jamais me esqueceria... mesmo que mil anos tenham se passado.
Então, após alguns poucos minutos, nós sentimos o chão tremer levemente e o ar se encheu com um som suave como o bater das asas de centenas de borboletas, um sol brilhante e fulguroso ainda começava a se deitar na borda do mundo e um vento frio fustigou de leve nossos rostos... a planície longa de capim rasteiro nos contemplava em silêncio, as árvores que nos cercavam pareciam gemer baixinho em solidariedade ao nosso inadiável holocausto... foi neste momento que eles surgiram vindo do nada.

Ah, a marcha eterna e invencível dos Volturi, mesmo numa situação como a nossa eu não podia deixar de admirar o esplendor com que eles surgiam... apenas a sua marcha intrincada e unida já seria capaz de congelar os corações dos mais bravos. Eles surgiram com as faces sem qualquer expressão e pareciam flutuar sobre o capim rasteiro, os mantos cinza-claros da guarda fizeram-se vistos ladeando a parte mais exterior da formação; mas as cores, gradual e sutilmente, se escureciam até o centro que era completamente negro. A fluidez sólida e sobrenatural com que se aproximavam de nós apenas aumentou a minha ansiedade... milênios de experiência em batalhas, uma sede de aquisição inimaginável se aproximavam de nós... a formação se abria agora como uma máquina perfeitamente sincronizada qual o mais perfeito artefato bélico, a guarda se posicionando abertamente atrás quando seus três temíveis líderes mostraram suas faces enquanto eram ladeados pelas jóias de sua coleção: Alec e Jane.

Jane era a única que trazia um sorriso maligno nos lábios.

Os pensamentos de Aro estavam arredios mas nem um pouco preocupados... Marcus era uma tabula rasa e Caius apenas planejava a nossa total destruição. O olhar de Felix caía cego sobre mim, ele sempre desejou a minha morte... Demetri apenas encarava mas não pensava em nada a não ser em estratégias de combate... ao lado deles seguiam os dois vampiros que haviam atacado Renesmee na floresta... um velho e outro jovem e um terceiro que até então eu não tinha conhecimento... um homem de pele negra e luzidia, alto e de músculos possantes que trajava roupas esvoaçantes e coloridas; trazia tatuagens tribais escarificadas na pele dos braços e do rosto... seu semblante era austero e maldoso. Eu segurei com força a mão de Bella quando a voz de Carlisle se fez presente em minha mente através do dom de Kaori.
“Muito ruim?” – ele perguntou.
“Bastante... eles não trouxeram testemunha alguma e seus pensamentos são claros: eles nos querem para eles”.
“Onde está o exército de Flávius Aurélius?”
“Eu não sei... eles não estão pensando neles.”
Subitamente, o centro da formação se moveu novamente quando Aro e Caius sinalizaram para que todos parassem, eles estavam a pouco mais de cem metros de nós e Aro avançou sozinho com Renata encostada deliberadamente nele, Felix e Jane se moveram com ele enquanto os outros defensores da guarda – cerca de doze vampiros – permaneceram postados ao lado de Marcus e Caius.
Renata nos olhou com apreensão e ela lembrou-se de dez anos antes quando os lobos eram pouco menos de vinte... agora, lobos gigantescos eram um número considerável a se temer... apesar de que mesmo assim estaríamos em desvantagem.
Aro parou pouco mais longe que os outros Volturi e sua voz soou leve e tranqüila por sobre o campo...
- Carlisle, meu velho amigo, faz poucos anos desde nosso último encontro.
- Você fala mansamente, Aro... meu velho amigo, mas sabemos que palavras levianas não abrandam a situação.
- Eu não desejo o seu mal, Carlisle, nunca o quis... – ele falou com sinceridade mas seus pensamentos traiam suas reais intenções.
- Então me pergunto sobre o porque de ter atacado a minha família. Felix quase matou a minha neta que, por sinal, está sendo mantida cativa junto de uma de minhas filhas.
- Carlisle, acredite, jamais foi nossa intenção ferir qualquer membro de sua adorada família, e Felix já foi devidamente punido por sua falta de tato... – disse Aro virando-se um pouco para Felix que me fuzilou com os olhos quando eu ri abertamente na cara dele.
- O que vocês desejam? - perguntou Carlisle diretamente.
- Viemos fazer-lhes um convite – disse Aro franzindo o cenho ante a pergunta rígida de Carlisle – Um convite que ficaríamos extremamente honrados caso vocês aceitem.
- E que convite seria este, velho amigo? - perguntou Carlisle pacientemente.
- Eu, Caius e Marcus desejamos que vocês... todos se unam a nossa família em Volterra.
Aro fez o pedido cortesmente, sua voz soou com simplicidade e apelo mas seus pensamentos desejosos e cobiçosos traíam suas reais intenções; os três irmãos Volturi jamais esqueceram o grau de poder que os Cullen mantinham... eles nos desejavam como vasos de guerra.
- E nossos amigos Quileutes serão deixados em paz? - perguntou Carlisle mantendo um falso interesse no convite feito.
- Ah, mas com certeza, amigo Carlisle... com certeza. Nós temos consciência de que estes belos guerreiros não são lobisomens de fato mas uma espécie peculiar de transmorfos cujos quais jamais encontramos exemplar em todos estes milênios de existência. Obviamente, as portas de nossa casa estarão sempre abertas para que eles os visitem... – disse Aro com simplicidade mas um coro de rosnados vindos dos lobos foi sua única resposta.
- Nós poderíamos perfeitamente manter nossos laços de amizade morando aqui, Aro – respondeu Carlisle – Não vejo necessidade de morarmos sobre o teto de Volterra.
- Pensem em todo o esplendor de nossa morada – disse Aro falando a todos agora – Permitam-se considerar uma vida de arte, realeza e dedicação à nossa causa... vocês seriam a elite de nossa raça nos auxiliando a construir as leis e normas que regeriam todos os vampiros para sempre...

E então, o veneno fora destilado... diferente de dez anos atrás, os Volturi não vieram com máscaras desta vez, eles realmente pretendiam apenas nos adicionar à sua grande coleção de poderes. Imaginei o poder que os Volturi teriam com um escudo como Bella, com um leitor de mentes e com uma vidente... então realmente eles seriam invencíveis.
- Vejam... – recomeçou Aro levantando a palma da mão para nós num gesto frouxo de paz – Vejam, eu não lhes quero mal apesar de que nossas ações podem não parecer justas diante de vossos olhos, mas ponderem nosso pedido... o que lhes custaria, no fim? A vocês seria permitido viver para sempre sobre nossa proteção e guarda, vocês poderão manter seu regime de alimentação pois os campos da Toscana são fartos em animais silvestres... poderão ver sua preciosa Renesmee ser educada pelos mais eruditos professores da Europa e a ela será permitido cursar qualquer Universidade que desejar em qualquer lugar do mundo. Terão vida de reis e rainhas e a única coisa que deverão dar em troca é sua lealdade...
- Escravidão é o que você oferece, Aro Volturi – cuspiu Garret – Sua casa recheada por velhacos é tão infértil que agora vocês são obrigados a cobiçar a família dos outros... inveja é o que sentem de Carlisle. Durante meses os vigiaram, durante meses os acuaram e agora vêm até aqui para lhes tomar a liberdade... você oferece um vinho com gosto de fel, Aro, oferece um banquete de prioridades distorcidas e tudo o que vejo é um tirano prepotente e malicioso...
- Paz, Garret... paz – bradou Aro – Você e sua adorável esposa podem seguir em paz seu caminho assim como Benjamin e seu amigo egípcio, eu restrinjo meu convite apenas à família de Carlisle. Acolho-os como amigos, e de forma alguma cancelarei sua liberdade apesar de que viverão sempre sob meu teto, afinal, que maior honra haveria a um vampiro do que auxiliar na construção de uma sociedade vampira mais estruturada e sólida?
- E se nos recusarmos? - eu perguntei.
- Seria uma lástima imensa, amigo Edward... uma lástima imensa. Entendam, não é prudente que existam grandes grupos de vampiros... eles podem começar a ter idéias perigosas e podem representar um perigo imediato ao nosso anonimato. O que aconteceria caso clãs de vampiros se formem próximos a centros urbanos? Vocês alimentam-se de animais silvestres mas representam um número diminuto em nosso mundo, um grande grupo de vampiros que se alimentam de sangue humano pode colocar em xeque o nosso segredo pois precisariam matar muitas pessoas para sobreviver e, desta forma, colocariam toda a nossa ordem em perigo.
- Então você nos culpa por incitar outros vampiros a viver em família? Mas que desculpa mais sem cabimento você está apresentando, Aro. Não há argumento à sua vinda até aqui... – eu disse com raiva.
- Eu preferiria que vocês desse mais ouvidos à razão... Edward. – disse Aro numa voz mortal.
- Estou cansado desta encenação, irmão. – bradou Caius caminhando até o lado de Aro.

Ele veio com uma expressão de morte e raiva no rosto, seus pensamentos revelando tudo o que havia se passado nestes últimos meses... em um segundo eu li os pensamentos de todos os Volturi e descobri todo o seu plano temível. Há muito tempo, Caius planeja nossa destruição e a destruição dos lobos... eles deixaram Volterra e vasculharam o mundo atrás de vampiros talentosos que fizessem frente à nossa família e encontraram três vampiros que fariam a diferença.
Alexandrovich Bakurin era o vampiro velho que atacou Nessie junto de Felix, fora encontrado no leste europeu junto da Rússia e seu dom era muito específico... ele neutralizava o dom de outro vampiro, fora ele, o tempo todo, quem anulou o dom de previsão de Alice.
Miguel Ramirez de Assuncion, um vampiro jovem nascido no México, tinha o dom de camuflar-se a si mesmo e outros de sua espécie... ele simplesmente conseguia deixar invisível quem quer que fosse. Mas os dois juntos não teriam tanto poder e aí é que entra o guerreiro africano que estava com eles.
Chamava-se Goredema e era facilmente identificável com suas tatuagens em forma de escarificações na pele, era alto e forte e seu olhar era assassino, seus olhos injetados de sangue o tornavam assustador e ele tinha um dom peculiar que até então jamais vira num vampiro: era um amplificador de poderes. Ele aumentava o poder de um determinado vampiro tornando-o muito mais forte... fora ele que, durante todo o tempo, ampliara o poder de Alexandrovich permitindo que o russo anulasse o poder de Alice durante tanto tempo e a longas distâncias... era fundamental aos Volturi que nós não víssemos o futuro.
Neste momento ele ampliava o dom de Miguel... o mexicano estava escondendo o exército que os Volturi haviam trazido.
“Jasper” – eu chamei rápido – “Temos de nos livrar do vampiro velho... ele anula poderes”.
“Tem certeza?”- perguntou Jasper.
“Sim e desconfio que ele anulará Bella assim que uma luta comece”.
“Maldição” – xingou Jasper e começou a traçar planos junto de Bem e Emett enquanto Caius desfilava palavras vazias.

- Já estou farto deste teatro e já estou longe de minha casa há muito tempo para ver tudo resolvido por palavras vazias. Não podemos ameaçar o nosso modo de vida – bradava Caius com raiva – A idéia de grupos imensos de vampiros quase levou à destruição de nossa raça no passado... principalmente na América do Norte... exércitos de recém-nascidos guerreavam entre si. Antes, os humanos não contavam com a tecnologia que hoje possuem... em muitos casos eles desconfiam de nossa presença e vários investigam a nossa existência... o mito não nos ocultará durante tanto tempo. Os humanos se comunicam numa velocidade impressionante e se grupos de vampiros começarem a se formar de modo irresponsável... seremos forçados a interferir.
- Ou seja – bradou Garret – Esta é uma lei Volturi.
- Nós protegemos a existência dos vampiros há séculos, agitador – disse Caius olhando Garret com desprezo – Você viveu durante sua vida toda como um anarquista e jamais compreenderia a vitalidade das leis que criamos... agradeçam por Aro ter-lhes feito este convite prestigioso e não nos forcem a tomar medidas mais drásticas.
Bella apertou minha mão e me olhou com receio, os lobos rosnaram ainda mais alto ante a ameaça de Caius, Carlisle franziu o cenho e sua voz pode ser ouvida em minha mente... eu sabia que todos estavam ouvindo.
“E então, o que fazemos?” – ele perguntou com pesar.
“Você está brincando?” – rosnou Emett – “Eu nunca vou me aliar a estes malditos”.
“Muito menos eu” – apoiou Rosalie.
“Eu tampouco” – completou Jasper.
“Eu aceito o que você decidir, Carlisle” – disse Esme.
“Este é o momento de decidirmos entre o caminho fácil e o tortuoso” – eu falei – “Entre a nossa liberdade e a escravidão... eu escolho a liberdade”.
“As leis dos Volturi estão deturpadas e eles desejam tudo com cobiça em prol de si mesmos” – completou Bella – “Eu segurei Edward aonde ele for”.
“As palavras deles são mentirosas” – disse a voz possante de Sam em nossa mente – “Eles querem a morte das matilhas tanto quanto a de vocês... e não pararão até serem destruídos, a cobiça deles é eterna”.
“Eu lutarei” – disse Jacob e os lobos uivaram a nossa volta.
“Eu também” – disseram Garret e Kate ao mesmo tempo.
“Assim como eu...” disse Benjamin.
“E eu” – falou Ahmed – “Há séculos não participo de uma boa luta”.
“Eu ficarei ao lado de vocês...” – disse Kaori baixinho.

Estava decidido... não nos dobraríamos sobre a ameaça opressiva dos Volturi.

- Aro... minha filha e minha neta? - perguntou Carlisle com a voz endurecida.
Com um gesto a guarda se abriu em lá, seguras por quatro guardas imensos, Alice e Renesmee surgiram sem um único arranhão.
- Mãe – gritou Renesmee e eu senti Bella soltar minha mão e dar um passo para frente, Jasper fitou Alice e o ódio cresceu em sua mente.
- Elas estão seguras... Carlisle. – disse Aro.
- Escolham – bradou Caius – Unam-se a nós ou sejam destruídos... mas as duas jovens que estão conosco serão levadas a Volterra depois de assistirem às suas mortes e se não aceitarem submeterem-se às nossas leis... também elas serão destruídas.
E a máscara dos Volturi cai por terra... lutaríamos pela nossa vida e pela libertação de Alice e Nessie.
- Então lutaremos... – disse Carlisle simplesmente e os lobos se agitaram ao nosso redor fechando ainda mais a nossa formação.
- Uma lástima – disse Aro com um pesar sincero, ele não gostaria de perder tantos vampiros talentosos de uma só vez – Realmente uma lástima... meu velho amigo Carlisle, eu decididamente não queria que tudo isso terminasse assim.
- Preparem-se – bradou Caius retornando rapidamente para o meio de sua guarda... Jane riu alto e Felix flexionou os punhos, obviamente os três velhos Volturi não lutariam, os reis nunca lutam... apenas ordenam que os soldados se sacrifiquem por eles.

Um segundo depois a guarda se fechou na frente de Aro, Caius e Marcus e Alec e Jane posicionaram-se na frente da coluna ladeados por Felix, Demetri, Alexandrovich, Miguel e o africano Goredema. A um sinal de Caius, Miguel relaxou seu dom e a visão aterradora se formou em nossa frente.
A principio eu vi, como se uma cortina invisível caísse diante de meus olhos, eles surgirem do nada como se sempre estivessem ali... como se uma bruma se desfizesse e revelasse um exército esplendido e luminoso diante de nós. Na frente, um homem alto de meia-idade... seu rosto de barba aparada iluminava-se com o sol, os olhos rubros faiscando selvagens, trajava um peitoral de prata ricamente ornado, além de grevas e protetores de antebraço de um tom acobreado... um saiote de couro escuro e nos pés usava sandálias altas de tiras de coro, portava ainda um escudo retangular e prateado fortemente seguro na mão esquerda; na cabeça um elmo fechado com uma escova vermelha cruzando toda a superfície da testa até a nuca... um perfeito general romano: o grande Flávius Aurélius, um militar de centenas de anos.
Seu exército era vasto aos nossos olhos e nos apequenamos diante de sua altivez... os soldados também trajavam vestimentas semelhantes ao de seu general mas inferiores em beleza e riqueza de detalhes. Contei rapidamente 350 soldados o que, obviamente, comprovou que nos últimos séculos as fileiras do exército engrossaram com mais vampiros experientes em batalhas. E uma pontada de medo correu por meu coração quando notei que os soldados do exército portavam lanças argutas e afiadas e rapidamente me recordei do sonho de Renesmee onde uma destas lanças brilhantes transpassava seu peito.

Era um exército devastador... Mercadores da Morte.

Nossos corações esfriaram... nossas vozes secaram... nossa sentença de morte traçada, nem os mais bravos de nós mantiveram a coragem. Emett e Jasper estavam silenciosos e silenciosos também ficaram os poderosos lobos Quileutes pois diante do exército invencível dos Volturi nós seríamos sepultados.
“Que Alá tenha piedade” – murmurou Ahmed em nossas mentes.
E quando nossa esperança morreu... quando nosso destino fora traçado... quando vi lágrimas correrem pelo rosto de minha filha no momento em que ela percebeu que sua família seria morta, um uivo estrondoso correu pela campina verdejante fazendo com que até mesmo os Mercadores da Morte estreitassem seus olhos...

E Jacob Black se posicionou em nossa frente com seu corpo gigantesco e majestoso de Alfa, sua pele castanha-avermelhada fulgurando com o sol... e ele ergueu sua cabeça para o céu e um novo uivo rompeu a claridade do dia, em seguida ele bradou em nossas mentes gritando.

“Eu sou Jacob Black... filho de Willian Black e descendente de Ephraim Black... Eu sou Lobo-Guerreiro filho da poderosa nação Quileute e não temo inimigo meu... Olhem para mim pois eu não temo inimigo meu!”.

E então, na voz duplicada do Alfa, Jacob iniciou a declamação de um antigo poema quileute cujo qual eu ouvira apenas um trecho há muitos anos atrás.

“Veja, ali está o meu pai...
Veja, ali está a minha mãe, minhas irmãs e meus irmãos.
Veja, ali estão os meus ancestrais desde o princípio...
E eles me chamam...”

E então como uma onda, as vozes de todos os lobos se ergueram de uma só vez e ribombavam em nossas mentes como uma maré possante e eterna... as vozes se mesclavam e se agitavam enquanto todos os lobos declamavam, em uníssono, A Canção de Morte dos Quileutes.

“Veja, ali está o meu pai...
Veja, ali está a minha mãe, minhas irmãs e meus irmãos.
Veja, ali estão os meus ancestrais desde o princípio...
E eles me chamam...
Me convidam a tomar o meu lugar ao lado deles...
Nos Campos Eternos, diante da Fogueira Imperecível...
Onde os bravos vivem para sempre...”

E então, quando a canção de morte fora declamada... Jacob Black virou-se para as matilhas.
“Irmãos” – bradou ele “Não temam, pois hoje, ao pôr-do-sol deste dia sangrento, eu morrerei ao lado de vocês... preparem seus corações e não sintam medo, pois logo suas almas estarão correndo livres pelos Campos Eternos e ao anoitecer estaremos reunidos diante da Fogueira Imperecível ante os olhares gloriosos dos Bravos de nosso povo que estão na presença do Grande Espírito”.

“Irmãos, eu sou Jacob Black e não temo inimigo meu... hoje eu derramarei meu sangue com vocês e estaremos todos festejando no outro mundo... pois sou Lobo-Guerreiro e não temo a morte... pois sou filho da nação Quileute e não temo a morte...HOJE, ESTAREMOS TODOS REUNIDOS ONDE OS BRAVOS VIVEM PARA SEMPRE”.

E uma estrondosa saudação de uivos e gritos ecoou em minha mente e pela campina afora fazendo com que os Volturi se encolhessem e quando percebi, eu estava gritando também e ouvia Jasper e Emett gritando comigo assim como todos de minha família... morreríamos sem medo porque lutávamos por nós... lutávamos por nosso direito à liberdade e ao amor que nutríamos uns pelos outros...


Os Mercadores da Morte se prepararam... nós nos preparamos e os lobos também.


Jacob Black tinha razão...


Pois ao pôr-do-sol deste dia sangrento... estaríamos todos mortos.



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Próximo Capítulo: A Batalha das Lágrimas Incontáveis.


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