Josie não faz ideia de como voltar para o apartamento sozinha.
Ela tem a chave reserva que Hope lhe entregou, mas não se lembra do caminho que fizeram para chegar até ali. Ela poderia pegar um ónibus ou um táxi, mas tão pouco sabe o nome do hotel. Deus, ela nem sabe a cidade em que estão porque a tríbrida não quis lhe contar.
A herege bebe um gole da garrafa de whisky que pediu no bar antes de correr após seu surto no banheiro, cambaleando pela calçada e eventualmente se desculpando com uma pessoa ou outra por esbarrar neles.
A lembrança embaçada da briga em sua mente só faz toda a situação parecer pior, porque por mais que Josie quisesse ter tido aquela conversa, definitivamente não queria que tivesse sido com ela bêbada no banheiro de um bar qualquer.
Ela para por um momento na frente de uma loja e se olha no vidro da vitrine, engolindo um soluço. Sua maquiagem está borrada pelo suor e as lágrimas, fios escuros fora do lugar por ter apertado os cabelos. Ela luta para se manter em pé corretamente enquanto da outro gole na bebida, derrubando um pouco porque a garrafa pesa em sua mão.
Em resumo, uma bagunça completa.
Josie morde o lábio, voltando a andar, tentando criar a maior distância possível entre ela e Hope.
Hope, que não se importou em lhe seguir, provavelmente voltando para o encontro com aquele babaca. Hope, que não lhe diz onde elas estão ou o que estão fazendo ali. Hope que não lhe ama mais. Que fez a escolha de não religar a humanidade. Que matou seu pai e lhe abandonou para juntar os cacos de um coração quebrado e raivoso.
Era tão obvio que Hope estava apenas lhe iludindo dizendo que iria a ajudar com a sede, lhe comprando com roupas novas e promessas vazias de que iriam se divertir. Josie sente tanta raiva da ruiva e sente mais raiva ainda de si mesma por acreditar que de alguma forma elas poderiam ter funcionado daquele jeito.
Só o que a herege queria era acalmar aquela dor sufocante em seu coração apaixonado toda vez que pensava na tríbrida. Ela falou sério quando disse que não se importava mais com a humanidade da garota, porque a ideia de tentar fazer ela religar nunca passou por sua mente. Se ela apenas tivesse Hope ao seu lado seria o suficiente para acalmar suas inseguranças, domar seus medos.
Josie se apoia contra uma parede, rindo de sua miséria entre os soluços. Ela está de volta ao que era anos atrás, se agarrando a qualquer migalha de atenção que Hope Mikaelson pudesse lhe dar, implorando por um minuto de seu precioso tempo.
É engraçado como ela tem certeza que todo esse desejo pelo amor de Hope venha de si mesma. Foi ampliado pela ligação, mas não criado.
E então ela explodiu tudo aquilo no rosto da ruiva porque estava cansada, verdadeiramente cansada. Josie estava lentamente começando a se curar, para então ser arrancada daquela vida porque a tríbrida estava entediada e queria uma distração de sua vida monótona de serial killer. Porque aparentemente infligir medo aos outros não era suficiente.
Brincar com os sentimentos de Josie era mais interessante. Ou tão interessante quanto poderia ser para alguém que não sente nada.
E morena não pode mentir que entre todas as dores que sentiu nos últimos 8 meses, ver os olhos azuis se desviarem quando ela pediu para que Hope negasse ter usado Josie como uma distração foi a que doeu mais.
Porque foi escolha de Hope jogar o amor delas fora, como se a validade tivesse se esgotado.
--Ei! Você está bem, princesa?
Josie engoliu seco, virando a cabeça lentamente para o outro lado da rua, seu estômago de apertando de uma maneira desagradável.
Alguns homens mais velhos estavam saindo de outro bar, e o que provavelmente havia gritado para ela vinha em sua direção.
--Parece que precisa de ajuda.
--Estou bem - ela se desencostou do poste, ajeitando a postura.
--Tem certeza? Parece que foi chutada pelo namorado.
Mais como ela ter chutado a namorada e Hope não ter se importado.
Josie não podia fingir que não sentia nada porque era impossível, naquele momento mesmo ela sentia mais emoções ao mesmo tempo do que podia aguentar, mas ela não iria mais suportar ser o brinquedinho de Hope.
Mesmo que seu coração insistisse em bater descontrolado sempre que os olhos azuis lhe jogassem um olhar intenso, ela estaria se mantendo fiel ao termino delas e suportando cada célula que seria contra isso. Ela já tinha amado sem ser correspondida antes, ela poderia fazer isso novamente agora.
--Estou ótima, obrigada pela preocupação - ela praticamente cuspiu as palavras.
Tropeçando nos próprios pés, Josie virou a esquina e começou a descer por uma rua deserta.
Rapidamente ela escutou passos correndo atrás de si.
--Ei, já que você está sozinha e triste, o que acha de vir a um lugar legal comigo e os meus amigos?
--Recuso - ela rosnou, acelerando o passo - tenho que voltar para meu apartamento.
--A gente te leva lá depois, não é rapazes?
Os amigos do homem deram algumas risadas, concordando com a ideia.
--Então, o que você acha, princesa?
--Acho que não.
O homem correu um pouco, segurando o pulso da morena e arrastando a garota para um beco próximo. Assustada com o ato repentino, Josie tropeçou nos próprios pés novamente enquanto ele a girava para ficarem de frente um ao outro. A respiração ofegante dele bateu contra o rosto dela, seu hálito impregnado de bebida.
--Pare de ser uma vadia egoísta!!
--Me solte!!
--Acho que você precisa aprender a aceitar a gentileza dos outro!!
Josie sentiu a mão dele se acomodar em suas costas, descendo rapidamente para apertar suas coxas com intenções obvias.
E a herege poderia ter feito muitas coisas naquele momento, como correr usando a velocidade de vampiro, ou compulsão olhando nos olhos do homem ou até algum feitiço para afasta-lo dela.
Mas Josie se cansou. Ela tinha tido uma noite horrível, estava irritada e ter um idiota lhe assediando foi o a gota que faltava para transbordar o copo.
Algo sombrio e vicioso se agitou abaixo de sua pele, sussurrando no fundo de sua mente nublada pela bebida como ela não precisava aguentar aquilo. Ela era uma herege, ela estava acima da vendedora da loja, acima do menino do bar, acima do homem a sua frente.
No minuto seguinte ela estava quebrando a garrafa de whisky em sua outra mão contra a cabeça do homem. Ele se afastou, gritando e caindo sentado contra o chão enquanto os amigos próximos corriam para o socorrer.
Josie deu alguns passos para trás, respirando fundo e sorrindo com triunfo.
--Isso é para você aprender o que acontece com desgraçados como você.
--Você é louca! - um dos amigos gritou.
--Está sangrando muito, é melhor chamar uma ambulância!!
O homem afastou a mão ensanguentada do rosto, olhando para ela com os olhos repletos de fúria.
--SUA PUTA!! EU VOU TE-
Ele não conseguiu terminar a frase, em uma questão de segundos se vendo preso contra a parede do beco pelo pescoço. Josie se moveu por reflexo no minuto que viu o sangue escorrendo pelo rosto dele.
As veias saltaram abaixo de seus olhos, as presas aparecendo. Ela encarando, hipnotizada, o líquido vermelho deslizar do corte na testa dele pelo rosto e então pelo pescoço.
--O... O q-que v-você...
Ela sentiu ele tremer contra o aperto em sua mão, as batidas se acelerando com o medo do que estava vendo, fazendo o sangue bombear mais rápido e aquela veia especifica pulsar mais forte contra os dedos dela.
Josie respirou fundo, sentindo o cheiro do sangue nublar mais seu cérebro já se desfocando de todo o mundo ao redor.
Aquela sensação sombria e viciosa se contorceu abaixo dela novamente, lembrando sua mente de como Hope tinha dito que ela podia pegar o quanto ela quisesse.
Então ela iria pegar.
--Grite o mais alto que puder - olhos castanhos se fixaram nos cheios de terror do homem.
Josie afundou as presas na pele dele, mordendo com força e engolindo em goles rápidos e desleixados todo o sangue que escorria.
Os gritos de desespero invadiram a noite e chegaram até ela tão agradáveis e reconfortantes quanto o jazz que Hope normalmente escutava. A herege se sentiu ansiosa para escutar mais, cravando os dentes com mais força, bebendo gota após gota enquanto o corpo dele se debatia preso entre ela e a parede.
Eventualmente a grossura do sangue começou a diminuir até não sobrar mais nada, os gritos se silenciando, os movimentos angustiantes parando.
Josie se afastou, respirando fundo e deixando o homem morto deslizar pela parede e cair contra o chão sujo do beco. Ela lambeu os lábios sangrentos, soltando um gemido baixo de satisfação.
--É... É o d-demônio...
Josie lentamente virou a cabeça para o lado, vendo que os amigos do homem morto ainda estavam ali, paralisados de medo com o que tinham testemunhado.
Ela abriu um sorriso sádico e manchado de sangue, sua voz soando doce e venenosa contra os próprios ouvidos.
--Bem, isso é rude - ela fingiu se ofender - o termo correto é herege.
Josie avançou alguns passos, enrolando algumas mechas do cabelo contra os dedos.
--Apenas entre nós, amigos... Acho que sou mais assustadora que um demônio.
--P-por favor... - um deles falou, recuando enquanto tremia - D-deixa a gente i-ir embora...
--Oh... Mas vocês não estavam tão ansiosos para brincar comigo, assim como o seu amigo ali? - ela acenou com a cabeça para trás.
--A g-gente não i-ia fazer nada!
--Tsc tsc... Mentirosos...
Josie se deleitou com o medo visível nos olhos de todos, aquela emoção sombria se agitando com alegria dentro de si.
--Agora, rapazes... Quem vai ser o próximo?
Os minutos seguintes foram um verdadeiro festival. Gritos ecoando, sangue espirrando contra as paredes do beco escuro. Josie até adicionou algumas magias negras que tinha lido no livro de Hope para tornar tudo mais divertido.
A herege perdeu a noção do tempo, instigada pelos sussurros perigosos em sua mente nublada a continuar avançando. A descontar todo o estresse e irritação que tinha passado desde que a ruiva lhe sequestrou.
Josie sentiu a tensão se esvair de seu corpo por finalmente descarregar aqueles sentimentos conflitantes em alguma coisa, respirando fundo aliviada.
--Josie...?
Hope tinha rodado os arredores do bar por cerca de 20 minutos antes de escutar uma comoção barulhenta demais para ser apenas uma briga comum.
Parada agora na entrada do beco sujo, seus olhos piscaram em todas as direções, admirando a obra de arte que a morena havia pintado. Ela contou cerca de 6 corpos, alguns sem cabeça, outros contorcidos em ângulos nauseantes. Vermelho manchando as paredes e o chão.
Josie lentamente se virou para ela, e até Hope, que não tinha emoções, sentiu seu coração se apertar com a visão que estava recebendo.
Suas roupas estavam tão sangrentas e bagunçadas quanto o cenário. Sangue pingando dos lábios que formavam um sorriso arrogante. Olhos castanhos dilatados e tão escuros que poderiam ser confundidos com preto, preenchidos por um brilho sombrio e perigoso.
Hope acha que poderia ficar horas admirando a aparência de Josie se a situação não fosse tão fora do padrão.
--Hope - sua voz escorria uma doçura envenenada - está atrasada... Acho que não sobrou ninguém para você brincar.
A herege casualmente cutucou um corpo com o pé, checando se de alguma forma o homem ainda poderia estar vivo. Ela deu um risada baixa quando não obteve reação.
--Jo... O que você fez?
--O que você disse - ela respondeu de forma inocente - peguei o quanto eu queria.
--Entendo...
Hope deu um passo a frente, e imediatamente Josie deu um para trás.
--Não se aproxime.
--Jo, está tudo bem.
Hope levantou as mãos, como se estivesse se aproximando de um animal ferido.
--Vim te buscar. Vamos para casa.
--Casa? Vai me levar de volta para a escola? - ela inclinou a cabeça para o lado.
--Jo... Me escute, ok?
Hope avançou novamente, seus olhos fixos no castanho alterado de Josie.
--O que quer que tenha acontecido aqui, já acabou. Não sou sua inimiga. Estou aqui por você-
--Pare de mentir!! Você não se importa comigo!!
Josie levantou as mãos, sua boca se abrindo para sussurrar um feitiço, mas Hope foi mais rápida. Ela correu até a herege e pressionou a garota contra a parede do beco, segurando seus braços acima da cabeça.
--ME SOLTE!!
--ME ESCUTE!!
Josie piscou, atordoada, olhando fixamente para os olhos azuis. Hope sentiu o estômago se revirar com a confusão de emoções que giravam pelo castanho escurecido.
--Se acalme, ok? Se foque apenas na minha voz e não lute contra mim.
--E-eu...
--Não sou sua inimiga. Não vou te machucar.
Josie piscou algumas vezes, confirmando com a cabeça. Seu corpo começou a relaxar contra o aperto de Hope, e a ruiva viu a sombra escura de dissipar dos olhos castanhos, restando ali apenas o brilho da bebida.
--Hope...? - ela sussurrou.
--Estou aqui, Jo. Apenas me escute, ok?
Josie engoliu seco, enquanto Hope abaixava as mãos e se afastava. Ela se desviou para a cena, analisando tudo novamente e a morena fez o mesmo.
Ela soltou um ofego assustado quando viu a bagunça espalhada pelo beco. Suas mãos trêmulas tentaram abraçar o próprio corpo, enquanto ela tremia e negava com a cabeça.
--N-não...
--Josie - Hope voltou a olhar para ela - está tudo bem.
--O... O que eu...
--Vamos sair daqui. O carro está parado na esquina.
Josie sentiu o estômago se torcer, o sangue que havia bebido pesado dentro de si junto com as bebida de antes. Ela se dobrou para o lado, sentindo a náusea começar a subir lentamente.
--A-acho... Acho que eu...
***
Com muito louvor, ela conseguiu se segurar até que estivessem de volta ao apartamento.
Hope mal havia fechado a porta quando Josie disparou para o banheiro, só tendo tempo de levantar a tampa do vaso antes de colocar tudo para fora.
--Pelo menos não foi no meu carro - comentou.
A ruiva jogou as chaves sobre a mesa e caminhou até o banheiro, vendo Josie debruçada sobre o vaso, se segurando nas laterais enquanto uma nova onda saia.
Hope desviou o olhar com desgosto pela cena, se aproximando e segurando os cabelos da herege no alto para não sujarem.
--Honestamente estou impressionada que você vomite depois de beber muito. Sempre achei que teria nascido com tolerância, porque seu pai é um alcóolatra sem salvação... Bom, era. Ajudei ele a acabar com o vício.
Josie virou um pouco a cabeça para poder lhe olhar, vendo a ironia brilhar nos olhos azuis. Então a ânsia subiu novamente e ela só teve tempo de virar o rosto antes de continuar a vomitar uma mistura de bebida com sangue das vítimas.
Depois do que lhe pareceu muito tempo, quando não havia sobrado mais nada em seu estômago, ela esticou uma mão trémula para dar a descarga e se levantou devagar para lavar o gosto horrível da boca.
--... Como consegue? - Josie sussurrou.
--O que?
--Como consegue não... Sentir nada? Não se importar em tirar a vida das pessoas?
--Eles queriam tirar a minha primeiro - ela deu de ombros - é uma troca justa. A melhor defesa é o ataque.
Josie soltou uma risada sem humor, vendo os lábios de Hope se curvarem para cima em um leve sorriso. Ela vai culpar o álcool que ainda corre em seu sangue por como a visão fez seu coração palpitar alegremente.
Olhos azuis observaram a herege se abaixar devagar, até se sentar encostada contra a banheira, na qual Hope estava sentada na borda.
--... Acho que tem algo errado comigo.
--Não tem nada errado com você, Jo.
Josie negou com a cabeça, abraçando os joelhos e olhando para ela.
Hope suspirou silenciosamente para como a menina parecia uma bagunça completa, coberta de sangue seco e suor, fios escuros fora do lugar. Seus olhos estavam nublados agora apenas pela bebida, olhando fixamente para ela.
--... Acho que estou quebrada.
--Não, Jo. Você está perfeitamente bem. O que aconteceu hoje não é fora do comum para a nossa natureza.
--Mas... Não deveria ser comum... Não para a minha - ela abaixou a voz - Eu... E-eu matei 6 pessoas...
--Eles te incomodaram primeiro. Você só deu o troco.
--Eu-
Josie engoliu seco, um nó se formando em sua garganta e impedindo que ela pudesse continuar a falar.
--Me diga o que aconteceu.
--Eles começaram a implicar comigo e eu só... E-eu estava com tanta raiva e precisava descontar em alguma coisa... Quebrei uma garrafa na cabeça do primeiro homem e depois... Foi como se machucar eles aliviasse minhas frustrações...
Hope deslizou para sentar ao lado dela, e Josie deitou a cabeça no ombro da ruiva, respirando fundo e apertando as roupas na região do peito.
--Então eu fiz de novo enquanto bebia cada gota do sangue deles... E algo se agitou dentro de mim com prazer de tudo aquilo.
--É sua parte vampiro. A euforia do sangue, de caçar, é perfeitamente normal.
--Mas quando finalmente percebi o que tinha feito... E-eu não queria machucar ninguém. É com se não fosse eu agindo ali... Mas ao mesmo tempo era... E foi... Emocionante.
--Emocionante?
--A ideia de escolher quem vive e quem morre. Controlar o destino de uma pessoa... Me fez sentir poderosa... Um poder que eu nunca poderia ter antes.
--Eu te disse - Hope sorriu - você não nasceu para viver trancada naquela escola. Você merece conhecer cada canto do mundo e aproveitar tudo o que ele tem para oferecer. Não se contente com coisas pequenas.
Josie piscou os olhos para ela, um sorriso orgulhoso pintando os lábios da tríbrida.
--... Por que você não me levou junto antes?
--Jo-
--Eu disse que se você fosse destruir o mundo, eu iria junto... Eu iria ajudar, Hope. Tudo para ficar ao seu lado.
Hope viu ela morder o lábio, lágrimas escapando silenciosamente.
--Por que nunca sou o suficiente para ninguém?
--Jo-
--M-meu pai te tratou mais como filha dele em poucos anos do que eu a vida inteira. Minha mãe preferiu fugir para encontrar uma resposta que não existia em vez de aproveitar o tempo que restava para as filhas... L-Lizzie só me usou para que ela pudesse se destacar... A-Até Penelope e meus outros relacionamentos desistiram quando perceberam que eu não era boa o bastante.
Josie subiu as mãos para os fios escuros, apertando eles com força para ter no que se segurar.
--E você... Q-quando percebeu que eu era uma perda de tempo, você também foi embora... O que tem de errado comigo? Por que nunca posso ser o suficiente para os outros?
Embora Hope não tivesse emoções, ela não gostava de ver Josie chorar. Simplesmente não parecia certo que a herege se desmanchasse daquele jeito. E a ruiva sabia que a outra garota só estava dizendo tudo aquilo por conta da bebida e da briga que tiveram mais cedo.
--Jo, me escute.
Josie virou o rosto para ela, parecendo mais perdida do que nunca, sem propósito algum. Hope levou uma mão para segurar seu queixo, fazendo com que seus olhares ficassem fixos um no outro enquanto enxugava as lágrimas.
--Você é suficiente. Nunca deixe ninguém te convencer do contrário.
--M-mas-
--Se seus pais ou Lizzie, Penelope e qualquer outra pessoa não enxergaram como você é incrível, então o problema não é você e sim eles. Todos eles.
--... Mas você também me deixou.
--Eu fui embora pelos meus motivos. Não teve nada a ver com você ser o suficiente ou não. Por Deus, eu namorei Landon. Como pode achar que está abaixo dele?
Josie soluçou baixo.
--Não espere que eu me desculpe ou diga que sinto muito pelo que fiz. Não vai receber isso de mim. Não posso te dar isso agora. Apenas...
Hope correu o polegar suavemente pelo rosto dela, descendo para traçar o contorno dos lábios machucados.
--Apenas entenda que você é o suficiente. Que não tem nada de errado com você, que não está quebrada. Você merece o poder que ganhou e não precisa se preocupar se o que fez hoje foi certo ou errado. Já passou muito tempo se escondendo na sombra dos outros... Hora de fazer o que sente vontade sem se importar com a opinião alheia.
Josie respirou fundo, olhos castanhos brilhando com uma alegria suave em meio a névoa do álcool. Hope observou isso, achando uma visão tão deslumbrante quanto as telas que pintava.
Elas ficaram assim, se olhando no silêncio do banheiro enquanto Hope terminava de limpar as lágrimas e um pouco da maquiagem borrada.
--Está melhor?
--Sim...
O momento foi interrompido pelo estômago de Josie roncando alto. Imediatamente Hope viu o rosto dela corar, envergonhada, enquanto a tríbrida levantada uma sobrancelha em divertimento.
--Desculpe. Eu não comi nada a noite inteira e... Acabei de colocar toda a bebida e sangue para fora.
--Acredito que ainda tenha alguma bolsa na geladeira-
--Não - ela cortou - n-não quero sangue de estranhos agora... Não acho que consigo fazer isso agora...
Hope viu a culpa se espalhar pelo rosto de Josie. Honestamente ela achava que era perda de tempo se culpar, mas a herege já estava chateada o suficiente, então guardou o comentário para si. Ela ponderou por alguns minutos antes que uma ideia passasse por sua mente.
--Certo. Então beba de mim.
--... O que? N-não, eu vou encontrar-
--Já falamos sobre isso. De jeito nenhum vou deixar você continuar bebendo de animais. E se um estranho não serve agora, sou a única opção.
--Hope-
--Não vou dizer duas vezes. Sem me gabar, mas meu sangue é da melhor qualidade, então você pode pegar o quanto quiser.
Hope estendeu o pulso para ela, e Josie encarou a pele com um pouco de fascinação. Ela mordeu o lábio novamente, sabendo como compartilhamento de sangue era algo realmente íntimo entre vampiros.
E embora a ruiva não tivesse emoções ou sentimentos, sua expressão também parecia levemente eufórica e interessada na ideia de Josie beber de si.
--... Ok - a morena ofegou.
Delicadamente ela segurou o pulso de Hope, aproximando ele de sua boca. Josie engoliu seco, sentindo o cheiro inebriante de sangue abaixo misturado com o novo perfume da ruiva.
Seu coração acelerou rapidamente enquanto ela roçava os lábios na pele pálida. Ela escutou Hope prender a respiração, provavelmente achando tudo aquilo muito novo, e viu como a tríbrida se arrepiou como pequeno toque.
Josie sorriu com as reações, antes de depositar um pequeno beijo e então morder ela.
Hope a puxou para mais perto de si, fazendo a herege apoiar a cabeça em seu ombro enquanto a garota segurava o pulso dela com mais força, bebendo cada vez mais rápido.
A ruiva observou as veias pulsarem abaixo dos olhos castanhos, muito focada naquela visão para sentir seu sangue sendo sugado. Isso até Josie passar a língua pela região ali, tentando evitar de perder cada gota.
--Isso, Jo... Pegue o que precisar...
Hope se abaixou, depositando um beijo suave nos fios escuros.
Josie suspirou com satisfação, engolindo cada gota com vontade até finalmente se afastar. Ela depositou alguns beijos para acalmar a pele ferida, mas imediatamente Hope começou a se curar, então a morena apenas se afastou mais.
--Obrigada.
Hope sorriu, apreciando os lábios dela manchados com o seu sangue.
Se sentindo repentinamente corajosa, a morena voltou a deitar a cabeça no ombro da ruiva. O silêncio caiu novamente entre elas por mais alguns minutos, até a tríbrida registrar a respiração e os batimentos da herege se acalmando. Josie tinha dormido.
Hope pegou ela facilmente no colo, levando a garota até o quarto que a herege estava ocupando e deitando ela na cama. Seu olhar de demorou na menina adormecida por um tempo.
Certamente o que ela havia visto no beco tinha sido o cenário de um massacre brutal. Hope tinha estudado que hereges costumavam ser mais agressivos que um vampiro comum, mas ela acha que aquilo não foi apenas resultado de uma agressividade. Ou da raiva que Josie sentia quando saiu do bar após a briga dela.
Hope acha que pode ter mais ai, e isso era algo para se prestar atenção futuramente. Poderia ser útil, ou poderia ser um problema.
Por agora ela estava tão satisfeita como que tinha visto quanto a morena após ter se alimentado de si. Fosse pelo bem ou pelo mal, Josie estava começando a entender o que merecia e isso sempre foi o que Hope quis para ela.
--Vamos nos divertir muito, Jo... Como eu prometi. Estou ansiosa por ver o quão longe você vai chegar...
Josie sorriu em seu sono, virando para o lado e afundando mais no colchão macio.
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