História Carnations for you - Antúrios brancos

O dia começa cedo em Nova York e Bucky é uma das muitas pessoas que se levanta assim que o sol mostra seus primeiros raios amarelos e quentes, diferente dessa maioria o jovem florista acorda com um bom humor na maioria das vezes.

 Bucky tem a mesma rotina, ao levantar-se o jovem toma seu café da manhã e somente depois faz a higiene pessoal, desde criança Bucky não via sentido em escovar os dentes primeiro e comer depois, pronto para trabalhar o jovem florista deixa ração e água no pratinho de sua gatinha Kobik antes de sair trancando a porta de seu apartamento.

 James prefere pegar um metrô para chegar em sua loja que fica no centro, cerca de meia hora de sua casa e apesar dos vagões estarem sempre cheios de pessoas apressadas e mau humoradas, o jovem florista mantém seu bom humor e seu sorriso gentil para quem o retribui, ao chegar na modesta loja, seu amigo e sócio Steve Rogers já está abrindo as portas e colocando algumas das plantas e flores do lado de fora, as cores vistosas e vivas sempre atraem apaixonados e maravilhados.

 Apesar de toda essa rotina, para Bucky a enorme diferença é que todo dia ele conhece uma pessoa nova, por mais estranho que seja... Bucky prefere ficar com as entregas de buquês e arranjos, ainda que a maioria sejam para cemitérios, o jovem florista faz questão de escolher à dedo cada flor de modo que as flores transmitam um significado, é assim que Bucky conhece uma pessoa nova todo dia. Pelo significado que elas tiveram em sua vida e na vida de quem encomendou as flores.

 - Hey Stevie, deixe-me ajudar. - acenou ao ver o amigo um pouco atrapalhado com um grande vaso de samambaia com as folhas mais verdes e frondosas que seus olhos já viram, ambos posicionam a planta bem à vista para atrair a atenção de possíveis clientes e antes que Bucky possa oferecer sua ajuda novamente o som do telefone tocando no balcão chama a atenção de ambos, Steve levanta as mãos sujas de terra e o moreno sorri antes de entrar na loja e apressar-se até o aparelho. - Bom dia, Floricultura Encanto das Cores, Bucky falando... Em que posso ajudar?

 - Um buquê médio de Antúrios brancos, a entrega deve ser feita no Cemitério de Woodlawn, o guarda de entrada tem o pagamento e a bonificação. - explicou a voz rouca de um homem que pelo jeito se tratava de alguém muito rico e autoritário, Bucky nem ao menos precisou anotar o pedido e endereço, não é como se ele não conhecesse o cemitério mais famoso de Nova York.

 - Sob o nome de quem devo entregar, senhor? - murmurou educadamente e anotou o nome estrangeiro em um pedaço de papel, o cliente não esperou muito e nem perguntou pelos preços antes de desejar um bom dia e encerrar a ligação.

 - Entrega? - perguntou Steve se aproximando para apoiar os braços no balcão e olhar o nome anotado no pequeno pedaço de papel.

 - Um buquê de Antúrios brancos. - explicou e logo o loiro alto arqueou o cenho em questão e Bucky sorriu levemente recolhendo o papel para então ir até o depósito onde a maioria das flores ficavam, Steve veio em seu encalço com algumas ferramentas para fazer a colheita de algumas. - No Woodlawn. Ainda assim quem encomenda Antúrios?! Isso é tão...

 - Alguém muito rico, oras. - deu de ombros mesmo sabendo da apreciação de seu amigo em elaborar buquês que mostrassem sentimentos e bons significados.

 - Rude, Antúrios são rudes. - resmungou baixinho enquanto recolhia as ferramentas para colher delicadamente algumas flores, sua pequena indignação foi substituída por uma satisfação que o fez assobiar baixinho alguma canção de rádio, Steve já havia deixado preparado um laço branco que combinava com as flores e um plástico simples de cor clara e bonita, com o buquê pronto e chaves da Van em mãos Bucky espirrou um pouco de água nas pétalas ao colocá-las na parte traseira do carro e poucos minutos depois enfrentava o trânsito de Nova York em direção ao Cemitério Woodlawn.

 Levou alguns minutos de engarrafamento para Bucky estacionar nas vagas destinadas do Cemitério, sendo o mais famoso de Nova York por nele estarem enterradas pessoas famosas de todo tipo - desde políticos até artistas - os "corredores" de lápides e mausoléus já tinham uma quantidade considerável de pessoas curiosas.

 - Bom dia, Floricultura Encanto das Cores, eu tenho uma entrega para a lápide de... - sua mão livre logo se embrenhou no bolso para poder ler o nome ali escrito e o guarda de entrada assentiu com um mínimo sorriso pronto para pegar as flores, mas Bucky recuou gentilmente ainda sorrindo mesmo que estivesse com uma pequena mentira na ponta da língua. - Me pediram para que arrumasse as flores na lápide pessoalmente, tudo bem?

 O guarda deu pequenas instruções para que Bucky pudesse se guiar com mais facilidade em meio aos turistas e visitantes até que estivesse na localidade onde alguns dos mais importantes políticos e filhos de tal estavam enterrados, o jovem florista agradeceu com um sorriso antes de passar pelos portões e iniciar sua busca, vez ou outra seus olhos azuis se desviavam para o papel na mão na intenção de não perder nenhum nome.

 Alguns minutos de busca e distração olhando as sepulturas de alguns famosos falecidos e James finalmente chegou ao seu destino, seu rosto se torceu em uma pequena careta ao olhar a data de nascimento na lápide e constatar que um rapaz tão jovem não deveria receber Antúrios em seu túmulo, seus olhos azuis percorreram as inscrições na pedra escura com pequenos pontos roxos como se fossem lascas de cristais incrustados.

 "1994 - 2018

Amado e dedicado filho." - leu baixinho, seus olhos se voltaram para a data e por alguns segundos o jovem florista se perguntou se o homem havia vivido tudo que queria, se os momentos foram felizes o suficiente, internamente Bucky desejou paz e harmonia ao falecido.

 - Ele odeia essas flores. - James soltou um pequeno som surpreso e assustado com a voz rouca e baixa que interrompeu o silêncio e rapidamente se colocou de pé após arrumar o buquê apoiado contra a lápide, seus olhos assustados se moveram rapidamente para um jovem de pele negra e olhos ônix que olhava-o culpado. - Não foi minha intenção assustá-lo, perdão.

 - Imagine, eu estava distraído, sabe... Desejando paz e harmonia à ele. - explicou ainda um pouco abalado pelo susto, mas com um pequeno sorriso gentil nos lábios vermelhos, os olhos ônix do homem seguiram de Bucky para a lápide. - Sinceramente, eu também acho que Antúrios não é uma flor adequada para dar à alguém que faleceu... Soa tão rude. Mas foi a encomenda.

 - Hm... É bem a cara do pai dele encomendar algo assim. - murmurou o homem com as mãos nos bolsos, Bucky tirou um momento para observar o corpo alto vestido em uma roupa social totalmente preta, os cabelos cacheados e a barba curta que emoldura bem sua mandíbula, a pele negra sendo beijada pelo sol da manhã deixava-o ainda mais jovem.

 - Você o conhecia? Como ele era? - perguntou sem frear sua curiosidade e as íris ônix voltaram-se​ à James com uma leve descrença por conta do tom de genuína curiosidade, como se nunca antes tivessem feito essa pergunta.

 - Não muito. - murmurou sem mais detalhes, os olhos desviando para as inúmeras lápides espalhadas pelo grande território, ao longe algumas pessoas tiravam fotos dos túmulos mais famosos de artistas, um pequeno sorriso surgiu nos lábios fartos do homem. - Ele era gentil, procurava sempre favorecer à todos, era amável e acima de tudo alguém simples.

 Bucky estava sorrindo enquanto olhava as inscrições simples na lápide escura e brilhante em roxo, o ato atraiu a atenção do homem negro que capturou cada expressão do jovem florista, principalmente o sorriso bonito que mal havia abandonado seu rosto desde que entrara ali.

 - Ele devia ser alguém incrível. - murmurou gentilmente ao que o homem negro arregalou os olhos mas sorriu minimamente afirmando com um pequeno aceno de cabeça, o momento foi interrompido quando o celular de Bucky vibrou em seu bolso com uma mensagem de Steve avisando sobre novas entregas. - Bem, eu preciso ir. Espero nos vermos novamente, digo, aos dois.

 - Digo o mesmo. - respondeu o homem acenando com a cabeça educadamente e Bucky seguiu caminho para a entrada, algumas poucas vezes seu olhar desviou para trás onde o desconhecido de terno permanecia parado com as mãos no bolso e os olhos fixos na lápide.

 Bucky recolheu seu pagamento com o guarda antes de sair acenando gentilmente, poucos minutos depois e já estava de volta à floricultura, o dia seguiu cheio de entregas, marcado pela dedicação do jovem florista em elaborar lindos arranjos e buquês ricos em significados, algumas outras entregas tiveram que ser feitas em cemitérios, mas nenhuma no Woodlawn.

 Ao final do dia mesmo que exausto, Bucky manteve o bom humor enquanto voltava para casa, já na entrada o homem foi recebido por Kobik que rodeou seus pés miando manhosa em claro interesse por mais comida.

 - Você nem ao menos disfarça, sua pequena interesseira. - reclamou baixinho fingindo estar ofendido enquanto fechava a porta, Kobik miou em seus braços e contorceu-se preguiçosamente esfregando seu pelo branco e macio nos braços de Bucky que seguiu até a cozinha para poder encher a tigela da gatinha com ração e sentar-se no chão ao lado da bichana enquanto observava-a comer animadamente. - Hoje eu conheci um cara muito bonito, ele estava no Cemitério Woodlawn, vestindo um terno bonito sabe?

 A gatinha miou sem muito interesse deixando de lado sua comida por segundos para poder lamber os lábios, beber água fresca e repetir o primeiro gesto antes de voltar a comer rapidamente, Bucky manteve a cabeça apoiada na parede e os olhos em Kobik, sua mão deslizando pelas costas da gatinha em uma carícia lenta no pelo macio e então a constatação o atingiu como uma pedra.

 - Eu não perguntei o nome dele, Kobik! - exclamou recebendo um olhar ladinho da gatinha, como se ela estivesse chamando-o de burro por não perguntar o nome de um homem tão bonito quanto aquele do cemitério. - Não me olhe assim, eu esqueci!

 Kobik miou lambendo os lábios ao terminar de comer e caminhou preguiçosa e majestosamente até o colo de Bucky que a recebeu com carícias nas orelhas macias, os olhos fixos em como os pêlos branquinhos deslizam por seus dedos, não demorou para que o sorriso voltasse aos seus lábios.

 - Quem sabe eu descubra uma outra hora.