História Carpe Noctem - Leave My Body

Estavam todos reunidos em volta da mesa do café da manhã enquanto Lupin, agora acompanhada de Regulus Black, contava a história que a levou até aquele momento. Marlene estava visivelmente nervosa enquanto Sirius encarava o irmão de forma incrédula, sem sequer piscar. Dorcas estava perdida e Emmeline apenas observava o decorrer da cena em sua frente, sentindo sua visão desfocar alguns segundos e um peso apossar-se de seu pequeno corpo felino. 

Era manhã quando McKinnon entrou correndo pela porta da frente e gritou por Emmeline. A gata caminhou até a sala e se deparou com uma pessoa que pensou estar morta. Remie Lupin estava ao lado da loira, com os cabelos presos em um rabo de cavalo e uma camisa que ela reconheceu ser de Marlene sobre o corpo pálido. Ela tentou sorrir, mas parecia em choque para realizar tal ato. E foi então que Regulus, o mais novo da família Black, entrou também. De início ela ficou alarmada, até que o rapaz puxou Lupin para seus braços, apertando-a forte. 

Essa era uma coisa que ela não conseguiu compreender.

— Então quer dizer que você apareceu como lobo e por isso está usando a camisa de Marlene, não é? - perguntou Dorcas. — Uau, só, uau.

— Sim. - respondeu Remie, olhando para a loira de forma curiosa. — Não é uma de nós, é? 

— Uh, não.. eu... - começou, sentindo-se confusa sobre como explicar.

— Longa história, Lupin. - cortou Emmeline, miando baixo. — Acho que podemos conversar melhor após vocês dois descansarem, foi uma viagem e tanto. 

— Acho que seria bom, obrigado. - disse Regulus, sentindo o olhar do irmão quase perfurar seu rosto. 

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Emmeline sentia alguma coisa estranha no ar.

Não conseguia pensar no que poderia ser e por alguns segundos até ponderou ser a aura de Lupin que havia mudado um pouco, mas no fundo sabia que não era aquilo. Era algo pior, mais intenso. Diferente, mas não de um jeito bom. 

Os recém chegados estavam dormindo, assim como Dorcas e Marlene estava sentada no sofá perto da janela, pensativa. Sentiu os pelos que cobriam seu corpo arrepiarem quando a porta foi aberta, ouvindo o som dos sapatos de salto batendo no piso de madeira. Agnes havia chegado. Atrasada. Isso também era estranho. 

— Trago boas notícias, meninas. - exclamou a matriarca dos Sibley, sorrindo. — Marietta conseguiu organizar uma forma de acabarmos com aqueles caçadores de uma vez por todas, isso não é ótimo? 

Marlene sorriu, levantando-se. — Quando começamos e como vai funcionar? 

— Primeiro precisamos chamar Lily de volta, acha que consegue fazer isso agora? - perguntou para McKinnon, que acenou em concordância e pegou o celular do bolso traseiro do jeans surrado. — Depois precisamos reunir todos que estão aqui, não acho que tenha necessidade de explicar separadamente. - explicou Agnes.

— Espere um minuto, trazer Lily de volta? Essa era a última coisa que iríamos fazer, ela está com James escondido, o protegendo e protegendo a si mesma. - falou Emmeline, alarmada.    

— Os planos mudaram, criança. Precisamos de todos os nossos perto, somos mais fortes assim. - disse a matriarca, parando ao sentir presenças diferentes. — Devo perguntar ou vão me falar por livre vontade...?

— Remie voltou. - Marlene contou, sorrindo quando os olhos de Agnes brilharam um pouco.— Mas ela trouxe um hóspede que talvez você deteste. 

— Quem poderia ser? - perguntou a senhora, arqueando a sobrancelha enquanto encarava a escadaria. 

— Regulus Black. - murmurou Emmeline, baixando as orelhas felpudas até estarem encostadas em sua cabeça.      

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Saturno piscava os olhos sem conseguir mantê-los abertos muito tempo, sentindo a necessidade de gritar enquanto via a coisa mais improvável acontecer em sua frente. Só podia ser uma piada do destino. 

— Realmente quer que eu acredite estar tudo bem? Tem um caçador na nossa casa e você acha isso ok, tia? - falou, incrédula. — Estamos marcando em nosso calendário a data certa da morte de todos os membros da família de Regulus e mesmo assim você acha...

— Emmeline, já chega. - riu, fazendo a gata sufocar um miado. — Remie já me contou toda a história sobre a amizade dos dois e ela é parte da família, o que faz dele também. 

— Tudo bem, Leshii, já pode vir me pegar e levar a minha alma para a floresta. - falou, sentindo uma mão acariciar seus pelos negros. — Mirrr.

— Lily vai chegar logo, ela mandou mensagem. - falou Marlene, dando de ombros enquanto ia até Sirius, sentando-se ao lado dele. — Já conversou com seu irmão? 

— Sim, ele me contou o que aconteceu e como ele ajudou sua amiga. Senti falta do meu irmãozinho. - sorriu fraco, olhando para o garoto do outro lado da sala que observava admirado a quantidade de livros diferentes presentes na enorme estante de madeira escura. — Mamãe nunca o tratou bem. 

— Poderia arrancar a cabeça de sua mãe com as mãos Sirius e talvez eu faça isso. - murmurou McKinnon, ouvindo o riso de Remie. — Não sei se devo contar para ela que os pais dela... 

Uma batida na porta foi o suficiente para que todos parassem o que estavam fazendo e um clima desconfortável se instalasse no local. A primeira a caminhar até a porta foi Dorcas, seus olhos procurando pelos de Agnes em busca de alguma confirmação sobre girar ou não a maçaneta. E então o clique foi ouvido em meio ao silêncio, e tudo que conseguiram ver quase não passou de um borrão.

James Potter havia avançado rapidamente, enroscando seus braços em volta do corpo miúdo da garota em um abraço apertado. 

Pelo menos alguma coisa ainda estava no lugar certo, pensava Emmeline.

Lily, que até então sorria por finalmente estar volta, parou quando viu Lupin acenando. E mais uma vez, a história foi contada. 

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Era noite e todos estavam reunidos no quintal da casa dos Sibley, em um círculo quase fechado. Assim como eles, as outras famílias bruxas estavam ali, na espera do momento que Agnes havia mencionado. Não demorou até que a matriarca chamasse Marietta para seu lado, suspirando fundo enquanto passava os olhos por entre todos os presentes. O plano era simples e infalível, segundo a bruxa. 

Os caçadores estariam todos reunidos na praça perto do cemitério na noite da próxima lua cheia, o que seria o dia seguinte. Era a hora para o ataque, seria um massacre e elas acabariam com toda essa briga de uma vez só.

Óbvio e prático.

Emmeline viu as pessoas vibrarem em concordância, todos rindo e celebrando por algo que ao menos havia acontecido ainda. O destino é traiçoeiro e eles deviam saber disso, assim como ela sabia. Percebeu Lily sorrindo para o humano, James e por um segundo seu coração apertou por aquele rapaz. 

— Não está feliz, docinho? - perguntou Dorcas, fazendo com que a gata virasse rapidamente sua cabeça, miando baixo. — O que foi? Não soa como um bom plano para você? - disse, fazendo um leve carinho nas orelhas peludas.

— Está tudo muito rápido, Doe. - constatou a gata, sentando-se quando a garota parou ao seu lado. — Sinto que algo vai dar errado... 

— Seu pessimismo me deixa irritada, bola de pelos. - ambas ouviram a voz de McKinnon soar perto e logo a loira estava sentada junto delas, sorrindo. — Somos um bando de bruxas com vontade de cometer assassinatos, recuperamos Remie e agora temos um local certo para agir, como algo pode dar errado? 

Saturno fechou os olhos, sentindo o vento soprar em seu pelo escuro e ecoar em sua mente. Palavras que ela não conseguia compreender direito. Palavras sussurradas. 

Sofrimento, morte, vitória. 

Talvez o destino não fosse tão traiçoeiro assim.

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Emmeline não conseguiu dormir, nada de fechar os olhos e embarcar no mundo dos sonhos. Não para ela, não esta noite. 

A felina sentia-se nervosa e subitamente assustada, como se uma lâmina gelada estivesse tocando em sua espinha a todo o momento e o fio de sua vida estivesse para ser cortado. Era uma sensação ruim. 

Amanheceu e o clima estava pesado apesar do sol estar brilhando no céu, parecendo zombar de todo o temor parecia ter virado seu companheiro desde o dia anterior. 

Ela sorriu quando Meadowes acordou e beijou o topo de sua cabeça, fazendo-a ronronar antes de irem tomar o café da manhã. A cozinha estava barulhenta, uma coisa singular se tratando daquela casa. Marlene estava ao lado de Lily, que estava ao lado de James, este que estranhamente conversava com Sirius e Regulus como se fossem amigos de infância. Agnes estava retirando uma porção de panquecas da frigideira vermelha e depositando em um refratário, sorrindo ao ouvir os passos de Dorcas.

As horas passaram rápido e estava anoitecendo novamente, mas dessa vez a lua trazia consigo um aglomerado de famílias em busca de vingança.

Haviam saído em busca dos caçadores, deixando Dorcas e James em casa para a segurança de ambos e também precaução. Agnes não queria que o humano sofresse nenhum arranhão antes da hora. 

Chegaram até o grande parque prontos para escrever com sangue o ponto final daquela história que durava anos, mas se depararam com um gramado vazio.

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— Você disse que eles estariam aqui, onde eles estão? - questionou a matriarca, estreitando os grandes olhos cinzas.

— Estão aqui. - respondeu Marietta, a senhora estava de braços cruzados enquanto observava ao redor. — Na realidade logo estarão aqui. 

— O que quer dizer com isso, Wilder? - falou Agnes, sentindo um calafrio passar por seu corpo quando o barulho de passos pesados ecoou pelas árvores. 

— Quero dizer que esta noite você morre. - exclamou a outra, sorrindo quando o bando de caçadores encurralou as bruxas restantes. — E veja só, poderosa Sibley, eles trouxeram companhia. - riu em escárnio quando Dorcas e James foram jogados no chão, com os pulsos amarrados.

O que se passou no momento seguinte foi como um raio, segundo a visão de Emmeline. Impactante e estrondoso. Traiçoeiro, assim como o destino que ela tanto conhecia. 

Não houve tempo para pensamentos elaborados, era puro instinto e ela sabia disso. Correu o máximo que suas patas felinas permitiam até chegar perto de Dorcas, tentando desfazer o nó apertado que mantinha as mãos da garota juntas, mas foi em vão. Um grito alto foi o que lhe chamou a atenção e a fez virar em direção ao som.

Marlene estava caída a alguns passos dela, com uma estaca de carvalho atravessando seu pescoço fazendo-a sangrar até a morte enquanto Lily corria até a amiga, chorando. A ruiva fechou os olhos sibilou algumas palavras, ela conseguia entender pela leitura de lábios. Evans estava tentando reviver McKinnon, mas também foi em vão.

Sirius e Regulus estavam duelando com alguns caçadores e estavam obtendo sucesso, até que Marietta os lançou para longe com um feitiço rápido e doloroso. Ambos caíram no chão se contorcendo e gritando, morrendo aos poucos, assim como os outros bruxos que tentavam revidar os ataques.

Todos mortos, assim como ela estaria se não agisse logo. 

Estava quase conseguindo desprender a garota quando sentiu um chute em suas pequenas costelas, seu corpo batendo em um dos troncos que se encontravam espalhados pelo lugar. Mesmo com a visão embaçada conseguiu ver quando Walburga cravou uma espada no pescoço de Dorcas, cortando a cabeça fora do corpo. A gata queria gritar e acabar com a vida daquela velha maldita mas não conseguia se mover, sentia dificuldade até mesmo para respirar. 

Ouviu o grito estridente de Lily em meio aquela confusão e sentiu o peito arder, doendo assim como seus ossos. A ruiva teve seu coração arrancado e ela soube disso no momento em que suas patas viraram pés e suas orelhas foram para o lugar certo. Sua amiga estava morta e a maldição havia sido quebrada. 

Agnes havia matado mais de dez caçadores em uma única vez e agora concentrava toda sua ira em Marietta, deixando que Remie cuidasse de James, que chorava ao olhar o corpo desfalecido de sua melhor amiga. 

— Você nos traiu! Traiu a todos nós, como pôde fazer isso? - gritou Agnes, a raiva passando por sua corrente sanguínea juntamente com o sangue. — Diga-me por qual razão você nos entregou? Sua vadia! 

— Acha que eles conseguiram capturar Lupin por pura sorte? Bruxa velha e tola, é isso que você é! Uma imprestável, assim como a sua mãe foi! Toda a sua família não merece estar aqui, você não merece estar aqui! Nossa líder? Você nem sabe cuidar de si mesma, olhe agora onde estão todos aqueles que você ama, estão todos mortos. - sibilou, sorrindo. — Mortos como seu querido Arthur, mortos como você vai estar agora. 

— Você não... - e a fala de Sibley foi cortada ao ver sua menina caída no chão, pálida e sem vida, assim como todos os outros. Amigos, família, todos acabados e a culpa era dela. — Devia ter desconfiado de você, Marietta. Devia ter acredito em tudo que Honora me falou! - gritou, olhando para o céu em busca de ajuda. 

— Está sozinha agora, Agnes. - disse Wilder, sorrindo. 

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Emmeline sentiu o gosto metálico do sangue tomar conta do seu paladar, tentou forçar seu corpo, agora humano, a levantar do chão mas tudo que conseguiu foi machucar-se ainda mais. Conseguiu abrir os olhos e viu Remie carregando James pelos ombros, mas foi surpreendida quando a jovem bruxa caiu no chão desacordada e Potter foi atingido por uma espécie de flecha no calcanhar, o impedindo de seguir em frente sozinho. 

O garoto tentou se arrastar, mas um dos caçadores foi mais rápido. Um tiro certeiro e as últimas palavras do moreno ecoaram pelo ar. Lily.

Sofrimento, morte, vitória.

O vento novamente soprava aquelas palavras em sua mente, mas agora ela sabia o significado.

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Emmeline apenas observava o decorrer da cena em sua frente, sentindo sua visão desfocar alguns segundos e um peso apossar-se de seu pequeno corpo felino. Sentiu uma mão tocar seu pescoço e miou assustada, fazendo Marlene a olhar de forma estranha.

— Está tudo bem, bola de pelos? Você ficou em transe olhando para o nada por sei lá, uns dez minutos? - falou a loira, franzindo a testa quando a gata ficou quieta. — Emme?

— Está tudo bem, eu só... só me distraí um pouco. - murmurou, lembrando-se de tudo que viu. 

— Acho que você precisa comer alguma coisa Docinho, você quer uma tigela de leite? - sorriu Dorcas, acariciando levemente as orelhas felpudas. 

— É, eu acho que sim.. - murmurou, sentindo um arrepio passar por seu corpo e uma voz soar em sua mente. 

Destino.