História Carta - Porque Temos Você, Sarada

Dias dos Pais

Naquela manhã nublada onde prometia chover mais tarde, dentro da academia shinobi os futuros genins homenageavam seus pais. Na qual nestes já eram em sua maioria jounins e um em especial capitão da anbu. Na sala de aula, se via apenas cadeiras de assento único espalhado no lugar onde deveria estar as carteiras dos alunos. Cada pai olhava com orgulho seus filhos que ali em frente ao quadro branco presenteava-os com lembranças, cartinhas, canções, teatrinho, apresentações de habilidades ninjas e até um pequeno show de desenhos “animados”.

Um de cada vez, um aluno se apresentava por ordem de chamada. Ali entre os alunos, se encontrava uma menina de cabelos negros e curtos que mexia nervosamente no aro de seus óculos tentando arrumá-los entre os olhos. Ela em especial não estava lá muito afim de ler em público o que escreveu ao seu pai, que se encontrava ali entre os jounins, o temido capitão anbu. Sentia vergonha e temia a reação que seu pai teria com aquela carta que revelava dele o seu “eu” verdadeiro.

Sasuke olhava entediado as crianças que se apresentavam ali, nenhuma delas lhe interessava e estava pouco se lixando se o agradavam ou não. Afinal, mesmo adulto com os seus quase trinta anos, as meninas daquele colégio o olhavam com expressões apaixonadas, mesmo sabendo que ele se encontrava casado. No fim das contas, apenas estava ali pela sua pequena “princesa”, claro nunca havia dito tal palavra em voz alta pelo simples fato de que ela não gostava muito de apelidos constrangedores. Característica herdada do pai, óbvio, com maior orgulho se deve mencionar.

Shino:_ ...Uchiha Sarada – chamou com os olhos voltados a lista de chamada.

A morena andou levemente nervosa para a frente da sala, soltou um sorriso sem graça para os pais que a observavam e arrumou desajeitadamente os óculos novamente entre os olhos, pequeno detalhe que não passou despercebido por Sasuke que sabia da mania que a pequena tinha quando se encontrava nervosa, em outras palavras “em apuros”.

Ela avaliou rapidamente seu pai que se encontrava após uns dois jounins que estavam em sua frente e o viu assentir como se desse permissão para se apresentar. O que francamente ela rezava que fosse o contrário, pois fora pega de surpresa quando chegou hoje pela manhã com o anúncio do sensei Aburame, que fariam apresentação para os pais com o trabalho que tinham feito.

Rapidamente abaixou os olhos para a folha escrita pela suas letras legíveis e bem feitas. Notou corada que suas mãos tremiam levemente ao segurar o frágil papel. Deu uma última espiada por cima da folha e verificou se seu pai tinha notado algo estranho, mas não, estava com uma terrível poker face. O que fez a pequena se tranquilizar, apesar de saber o verdadeiro significado daquela face neutra. “Tenho orgulho só de você, de mais ninguém”

Sarada:_ O papai... O papai é o mais doce do mundo...

Começou tímida. Pelo canto dos olhos percebeu a cara incrédula dos outros pais e um arquear de sobrancelha do próprio pai.

Sarada:_ O papai é o mais bonito... – os homens presentes se sentiram indignados.

Ah, mas isso ela não tinha dúvidas, já presenciou mulheres vulgares se oferecerem ao seu pai, fazendo propostas de serem suas amantes. Claro, eram prontamente ignoradas antes de lhes lançar um olhar enojado.

A menina ri internamente, o que não percebe que acabou soltando um sorriso “a lá Uchiha”.

Sarada:_ O mais inteligente...

Sasuke sorria convencido com os elogios lhes direcionados.

Sarada:_ O mais esperto...

Se lembrou das conversas que tinha com a mãe, quando ela perguntava como seu pai era na infância. E relembra da frase que sua mãe mais falava: “ele era um gênio na academia” – e soltava um suspiro apaixonado.

Sarada:_ O mais gentil...

Recorda das atenções privilegiada que ele sempre a dá, seja nos estudos; nos treinos; nas ações domésticas ou simplesmente quando ele passava ao seu lado na cama até pegar no sono, a protegendo.

Sarada:_ Ele é o meu super-herói...

Seus ciúmes de pai, ria mais em seu interior quando observava seu pai ficar louco quando via Boruto de gracinhas pra cima de si.

Seus olhos começam a lacrimejar.

Sarada:_ O papai... quer que eu... vá bem na academia... – tentou engolir o choro – O papai é ótimo...

Um soluço alto escapa pela sua garganta, deixando os outros pais apreensivos e um ali na beirada do pânico vendo sua princesinha chorando.

Sarada:_ Mas...

Sua voz saiu engasgada, enquanto secava seus olhos com a manga de sua roupa, escondendo propositalmente sua visão. Mal notando seus dedos finos amassando de leve a margem da folha que lia.

Sarada:_ Ele mente...

Um silêncio terrível assumiu o lugar. Os outros pais horrorizados e assustados com o desabafo voltaram suas atenções descaradamente ao Uchiha que olhava em choque sua pequena que o acusava de mentiroso. Sarada já não conseguia mais olhá-lo nos olhos e continuou a sua leitura mental. Mental por que seus olhos encharcados não viam com precisão a folha que segurava, ela não precisava ler já havia decorado faz muito tempo o que ela mesma escreveu.

Sarada:_ Ele mente sobre o trabalho...

Ontem mesmo ela viu seu pai chegar exausto da anbu. Ele a enxergou na porta do quarto o olhando timidamente, ele assumiu um sorriso grande e a chamou para brincarem. Se lembra dele a colocar sobre os ombros e como duas crianças ficaram correndo pela casa. No final da noite a pequena notava seu pai dolorido ao seu lado, mas sempre dizendo que não estava com sono e que tudo estava bem.

Sarada:_ Ele mente sobre o dinheiro...

Já o viu resmungar diversas vezes em frente a vários papéis e em raras vezes, quando não a notava, espalmava sua mão na mesa enfurecido e dizia: “ela precisa de mim e eu não estou conseguindo pagar a porcaria do hospital!”

Sarada:_ Ele mente que não está cansado...

Muitas vezes Sasuke passava seus dias livres no hospital e ficava até o quanto podia e quando voltava seu semblante é sempre o mesmo. Abatido.

Sarada:_ Ele mente... que não sofre tanto pela mamãe... – Seu choro intensifica drasticamente.

A dois dias atrás, no hospital, Sasuke estava sentado como sempre em frente a cama de sua esposa, segurando a mão dela contra o seu rosto enquanto chorava em silêncio pelo estado de coma em que ela se encontrava.

Sarada:_ Ele mente que não está com fome...

Quando jantavam juntos em casa, muitas vezes Sasuke apenas cutucava a comida do jantar e mal levava algo a boca com seus olhos inexpressivos.

Sarada:_ Ele mente que nós temos tudo... – Outro soluço.

Eles não tinham a mãe/esposa presente.

Sarada:_ Ele mente sobre sua felicidade...

Sasuke sempre disfarçava seu abatimento diante a filha. Em noites ele passava o maior tempo se lamentando e se culpando longe dela.

Sarada:_ Ele mente... Por minha causa...

Sorri secando o rosto e o olhando.

Sarada:_ Para eu viver melhor...

Sem que ninguém percebesse, Sasuke deixava as lágrimas caírem de seus olhos a muito tempo. E os outros apenas notaram agora ao verem ele se mexer do lugar e um baixo som que sua garganta produziu no que forçava para segurar, levantando sua única mão ao rosto.

Sarada:_ Eu amo o papai.

Ela foi surpreendida de repente por um corpo enorme lhe apertando num abraço carente. Era ele, Sasuke estava de joelhos no chão abraçando sua filha, abraço esse que ele tanto precisava. Os outros pais olhavam emocionados os dois abraçados com a menina quase sumindo pelo forte abraço do homem.

Sarada:_ Ela vai voltar papai, ela vai voltar.

O consolava apertando seus dedos na camisa dele.

Sasuke:_ Eu sei filha, eu sei. Sua mãe é forte...

Sakura:_ Hn.. Sa..sasuke-kun... Ahn... ahn... Sa..sarada-chan...

“O futuro de uma criança vale qualquer sacrifício"