História Carta a um velho amigo - Até amanhã

Quando da essência do que é o ser vem a inspiração, ela não deve ser desperdiçada, é por isso que lhe trago uma reflexão, oque há demais em nós, caro Fernando? Espero eu que graciosas linhas de inspiração estejam bordando belas poesias em sua mente, já que nós dois sabemos que o sono lhe falta quando a melancolia lhe sobra durante a noite e que de qualquer forma, amanhã vai me ver e não responderá a minha proposta, pois em seu íntimo pensa que não há demais e sim algo faltante em nós, míseros mortais atormentados pela tristeza que a sina das palavras convida à nossa porta. 

Será que poderia ceder a esta velha amiga e também amiga velha um pouco de seu precioso e mal gasto tempo? E digo amiga velha pois os meus 17 anos estão pesando agora, meu caro. Sabes bem que nunca fui agraciada com o dom de decidir, e agora que esta sociedade, que também sabes eu odeio, me cobra, tenho que decidir. Daí o motivo de nosso encontro. Gostaria que este fosse por saudades de sua parte, mas será apenas uma breve troca de palavras e um sorriso, e por este sorriso que meu coração ainda bate teimoso, seria errado? 

Meus votos mais sinceros de felicidade e também melancolia, pois sem melancolia você tem sono e se tem sono não escreve, e que sentido faz sua existência se não escrever, não é mesmo? Ainda partilho da opinião sincera de que você, meu caro Fernando, desperdiça tanto talento andando com aqueles que caem nas graças da desgraça e nada de bom acrescentam ao mundo. E não digo isso por mera implicância, eles não são boa coisa, se bem que eu também não sou, mas ainda sou capaz de ter utilidades. 

E caminhando nessas areias onde já não deixo pegadas, tento mesmo seguir em frente, mas as memórias trazem a bendita da nostalgia que me enraíza os pés em um chão lamacento cheio de você e dele. Onda após onda eu me limpo um pouco, apenas para me sujar de novo, mas assim é a irônica senhora vida.

Devo levar-lhe uma rosa ou preferiria um abraço? Sabe que me sinto tola ao pensar que pode não ler essas linhas? É sim... Mande lembranças ao Alberto, querido Fernando, seja lá como as coisas estiverem. Espero sinceramente que seu mundo cinza e ranzinza se torne um tantinho colorido quando se libertar no final da primavera. E que gaste seu talento, de que adianta inglês, francês, ser mestrado na arte da criação e das palavras e mais mil e uma qualidades se de nada faz uso e continua apenas a dormir e reclamar com o chá de hibisco? Pense nisso.

Até amanhã, querido Fernando, até amanhã.