História Carta de uma Suicida - Apenas uma carta...

“Oi. Pai, Mãe.

Sei que nunca paramos para conversarmos todos juntos.

Desculpa por essa ser a primeira conversa sincera que vamos ter. Primeira e última.

Sempre estive sozinha, acabei por me acostumar a isso. Vocês dois nunca tiveram tempo para mim, estavam sempre ocupados com o trabalho então não quis perturbar. Desde o infantil nunca tive amigos. Quando cheguei no sétimo ano passei a sofrer bullying e não parou, mesmo com o tempo, foi se tornando um costume deles me tratarem assim. Como sempre eu não quis perturbar vocês, que sempre estavam trabalhando. Tentei entrar em grupo de amigos, para não ficar tão só, mas eles nunca notavam minha tristeza, já estava acostumada a guardar tudo para mim então achei que não seria um problema suportar tudo. Passei a descontar em mim mesma, já estava explodindo. Era muita coisa para eu suportar sozinha, mas eu fui orgulhosa e não pedi ajuda, eu não queria pedir ajuda. Com alguns dias notaram meus cortes e perguntam o que aconteceu, falei que havia me arranhado ao cair. Nem desconfiaram. Passei a me afastar do grupo em que estava, afinal eu lá e nada era a mesma coisa. Nem notaram. Meus dias foram se tornando mais sufocantes, pra mim já estava tudo preto e branco, não vi mais graça em nada, não senti vontade de mais nada. A escola, que eu tanto quis ir quando pequena, passou a ser minha tortura e o canto do meu quarto minha salvação. Vocês chegavam em casa e nem iam ver se eu estava lá, se eu estava bem. Passava noites e mais noites chorando, sentindo uma dor insuportável dentro de mim, que não conseguia tirar, não sabia de onde ela vinha, ela apenas estava ali. Quando eu finamente cheguei ao meu limite eu fiz minha primeira amiga, mas eu sinto muito, foi tarde demais a sua chegada, eu já tinha me afundado até o ponto onde não conseguia mais ver a saída. Eu sei que você quis me ajudar, não se culpe. Mas não dá pra ajudar alguém que já está no fundo do poço e não quer estender a mão para mais ninguém. Eu estava do seu lado mas ainda assim estava distante. Desculpa, eu te ignorei e me joguei mais para o fundo. Não se culpe, está tudo bem. Mãe, pai, desculpa, por mostrar esse rosto tão sem vida que estão vendo agora, eu não sou tão forte como você pai, não sou tão bonita como você mãe. Desculpa, mas aquela menininha que corria na frente de casa feliz cresceu e desistiu de crescer mais. Desculpa, mas eu precisava de vocês. Desculpa, mas eu só queria um tempo a mais com vocês. Desculpa, mas só queria que vocês fossem mais presentes. Desculpa, mas não pude continuar a viver, estava doendo, estava me sufocando, estava me machucando, estava me fazendo tão mal.

Desculpa. Desculpa. Desculpa.

No meio desse rosto sem vida tem um sorriso.

No meio desse coração escuro tinha uma luz, eu só não soube achá-la.

Novamente, desculpa, por ter que verem sua filha assim, mas te juro,

Eu estou melhor agora e não sinto mais dor.”

De: Um monstro sem vida.

Para: Mãe, pai e melhor amiga.