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História Carta para Helena - Para Helena


Escrita por: Kyoukoo

Capítulo 1 - Para Helena


Cara Heleninha...

faz tempo que eu não te chamo assim não é? Parece que faz tanto tempo desde que a gente teve uma conversa de verdade, e sinceramente, eu sinto saudades. De você, das nossas conversas que rapidamente trocavam de assunto, de todos os trabalhos que fizemos juntos, enfim... eu só queria poder conversar com você de novo. Parece que desde quando eu te contei como eu realmente me sentia, as coisas nunca mais foram as mesmas, e como poderiam não é? Só um amigo, que de repente começou a ter sentimentos por você, eu nunca parei pra pensar como deve ter sido assustador pra você. Eu imagino o quão difícil deve ter sido, dizer que não se sentia da mesma maneira, e depois ter que continuar a conviver comigo. Ainda mais quando você já se sentia dessa forma por outra pessoa, não?

Infelizmente nós nunca conversamos de maneira apropriada sobre esses sentimentos, eu nunca fui capaz de entender como você se sentia, e de forma alguma isso é sua culpa, dadas as circunstâncias, fizemos o melhor que podíamos. Mas Helena, peço desculpas, pois passei a ideia errada de que nós estamos resolvidos, e que já não sinto mais nada por você. Mentiras que eu disse para mim mesmo, pois tudo que eu queria era que as coisas apenas voltassem a ser como antes, e não foi o que aconteceu.

Mudar não é ruim, mas a sua mudança foi algo que me machucou. No seu caso, foi como ver a pessoa que eu mais admirava ser destruída bem na frente dos meus olhos, lentamente, se corrompendo e se tornando algo completamente diferente. Mas isso é completamente minha culpa, fui eu quem a idealizou, quem a viu como um ser puro. Como poderia ser, sendo esse repleto de imperfeições? No fim acho que foram elas que fizeram eu realmente me apaixonar por você.

Tudo começou por causa do Giovanni, e minha inabilidade de não carregar os sentimentos dos outros comigo. Você sabe como o machucou, mesmo que tenham "se resolvido", você continua a machucá-lo, mesmo que tu sejas ignorante a isso. Eu tenho certeza que você sabe que nunca serão como eram ano passado, mas não sei dizer se para a Helena atual isso realmente importa. Compreendo que aos poucos você desenvolveu uma habilidade natural de afastar as pessoas de você. Quantas pessoas sobraram de verdade Helena?

Claro, essa é apenas minha visão da Helena atual.

Mesmo que eu quisesse voltar a ser  próximo de ti, eu nunca conseguiria, era impossível. Contudo eu ainda queria me aproximar, voltar a sentir o que sentia. Assim eu me prendi em uma espiral decadente, minha mente girava em círculos, e lentamente eu era arrastado cada vez mais fundo. Para onde? Um abismo de tristeza, solidão e desespero. Sinceramente eu me sentia preso a esses sentimentos, sem nunca poder descansar, abrir os olhos ou respirar um ar fresco novamente. Por isso eu menti, menti para ti e para mim mesmo, disse que não me sentia da mesma forma, queria livrar-me desses sentimentos de uma vez por todas, queria solta-los, e deixa-los cair no abismo, antes que eu me afundasse ainda mais... Assim o fiz, e por um tempo, me senti mais leve, minha mente se estabilizou, e comecei a subir novamente.

Só que de repente, uma mão começou a me puxar novamente, e eu compreendi que precisava me livrar dela, pois assim continuaria a subir. Foi aí que eu me afastei de novo, mas o que seria essa mão, de forma literal? Imagino que para não se aproximar de mais de mim, nossos assuntos se resumiam a diálogos sobre escola, trabalhos e afins. Eu ajudava a você  e a sua irmã, mas era só isso... e eu não queria que fosse só isso, eu queria algo genuíno, nem que fosse uma amizade. Contudo vocês chamavam tais atos de amizade, e isso me enfureceu, fiquei desolado, e minha cólera fez eu me afastar abruptamente de vocês. Me senti usado, como poderia você ignorar meus sentimentos? Usa-los a seu bel prazer, e chamar isso de amizade? Mas como posso culpa-la, pois tu sofrias também, não? Não podia se aproximar de mim, não para me proteger, e sim para não se machucar... você sabe que é verdade, não se esconda atrás de hipocrisia. Humanos são assim Helena, lutam para preencher o vazio em seus corações, com um pedaço do coração do outro. E no fim usamos desculpas vazias como: "eu não quero que ele se machuque" apenas para nos eximir da culpa que sentimos.

Tentando me livrar dessa mão que tentava me puxar, acabei agarrando-a com toda a força, pois afastar-me de ti apenas me deixou pior, mais triste, mais desolado, e sem conseguir me livrar desses sentimentos, eu sucumbi. A cada dia que passava, ficava mais difícil lidar com o fato de ter que continuar estudando na mesma sala que você. Aos poucos fui perdendo a vontade de viver, de ser quem eu sou, e comecei a perder a vontade de fazer coisas que eu há muito gostava. Aquele garoto ingênuo, a quem você ensinou o amor próprio, aos poucos foi perdendo tudo aquilo que aprendera. Passei a odiar essa parte de mim, essa parte que continuava presa aos mesmos sentimentos que me fizeram sofrer tanto.

Em relação a você, fiquei confuso, há momentos em que a odeio do fundo do meu coração, por causar tanto mal (mesmo que indiretamente) a minha alma, por tirar tudo aquilo que eu gostava sobre mim, e por deixar de ser quem eu realmente gostava. Mas por um outro lado, continuo gostando de você, pois eu sei que você não deixou de ser quem eu gostava, mesmo que tenha mudado. Eu sei que a Helena boba, que ficava até tarde se esforçando para fazer os trabalhos ainda existe dentro de você, mesmo que em algum lugar remoto e desolado, ela ainda faz parte de quem você é. Espero do fundo do meu coração que todas as experiências que tivemos juntos tenham te ajudado a moldar a pessoa que você é e será.

Eu gosto de você, eu gosto do seu rosto, que o tempo todo demonstra uma sincera inocência. Eu gosto do seu cabelo, do jeito que é ondulado, como as ondas do mar que você tanto ama. Eu gosto dos seus olhos, de como são verdes, e tocam as profundezas do meu coração.

Eu gosto do seu corpo, e de como suas curvas refletem a bondade que há em seu coração.

Eu gosto do seu jeito besta, de como evita falar palavrão e substitui por palavras como "boboca".

Eu gosto de como é gentil, e faz de tudo pra ajudar aqueles ao seu redor.

Eu gosto de como é grossa, e mesmo sendo, continua fofa.

Eu gosto de como se irrita fácil, mas também se cansa rápido.

Eu gosto de quando você prende o seu cabelo, e de como isso enfatiza a beleza do seu rosto.

E acima de tudo, eu gosto de como você esforça pra ser quem é, de como você luta contra os achismos das pessoas para continuar seguindo em frente. De como você trabalha duro para tirar uma boa nota. De como você tenta mostrar que realmente sabe o conteúdo que estuda. De como mesmo com suas falhas, você luta para ser uma pessoa melhor.

Sempre que penso em você, memórias passam como um flash pela minha cabeça, elas vem e vão, trazendo felicidade e tristeza. Lembra de quando nos conhecemos, e eu imediatamente comecei a zoar você? Lembra de uma das primeiras apresentações de português, que fiz você passar vergonha na frente da sala inteira, contando aquela cantada do Léo? Lembra da paródia que cantamos juntos, da música que eu escolhi? Lembra de como você se sentiu excluída, e todos conversaram? Lembra de como eu me abri naquele dia? Como expus a pessoa horrível que eu era, e você me acolheu, e disse me compreender? Lembra de como eu fui falar com você, e passamos a conversar diariamente? Lembra de como você sofreu naquele trabalho de português e perdeu seu aniversário para fazê-lo? Lembra de como eu me esforcei para te ajudar a terminar, e ainda fiz a parte de várias pessoas? Eu sei que eu me lembro de tudo isso. Eu me lembro de quando esse trabalho terminou, e eu pude ver o sorriso que mudou a minha vida. Eu me lembro de quando comecei a sentir que gostava de você e até te disse que estava gostando de alguém. E lembro que a primeira coisa que você me disse, foi para aprender a me amar antes de tudo. Eu me lembro de como você fez eu ser capaz de me amar e de me aceitar, eu lembro de como ficamos acordados de madrugada fazendo trabalho de biologia, e de repente começamos a falar e compartilhar fotos. Eu lembro de quando acabou a luz por causa da chuva, e ficamos andando pela escola conversando junto com o Felipe. Eu lembro de quando eu, você e sua irmã começamos a cantar músicas do legião urbana no final do ano. Eu lembro de todas as nossas apresentações de eixo, de como eu me esforçava para ficar perto de você, o máximo possível. Eu lembro de quando deitei no seu ombro durante uma apresentação de outro grupo. Lembro de quando assistimos aquele documentário sobre vários assassinos brasileiros, e fiquei admirado por se interessar tanto por um assunto, e por se dedicar tanto a um sonho tão distante. E também lembro daqueles exercícios de português, que você me acordou me ligando, para fazer junto contigo, sendo que nem mesmo tivemos que apresentar. E por fim, me lembro daquele abraço do último dia de aula, tão curto, tão quente, e tão significativo para mim.

E durante esse ano conturbado, também tivemos bons momentos, mas infelizmente, para mim, a maioria deles foram ruins. Me entristece que isso me afete tanto ao ponto de hoje em dia ter de fazer tratamento psicológico e tomar antidepressivos para tentar me sentir melhor. Mesmo em desespero eu ainda procuro ajuda em você. Meu primeiro amor, não? Engraçado como tentamos nos afastar do amor, sempre dizendo que "somos jovens de mais para entender tal sentimento" mas alguém realmente entende este sentimento, para dizer que o que eu sinto não é amor? Eu te amo, Helena, sendo esta uma visão distorcida ou não, essas palavras não se tornam menos verdadeiras. Mesmo que você não sinta nada por mim, mesmo que eu nunca possa tê-la ao meu lado, mesmo que seu amor pertença a outra pessoa, eu continuo te amando. Talvez chegue o dia em que esse fogo seja extinto, mas até lá, estarei sempre aqui por você.

Sempre aqui,                                                                                                                    Renan



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