História Cartas para Kentin - Ponto de explosão

Hannah.

Passei quase o dia inteiro procurando as cartas, ainda acho que pode ter sido Ambre, mas ela já teria feito alguma coisa pra me fazer passar vergonha.  Estou apavorada, minhas cartas são o que existe de mais intimo para mim, são meus pensamentos mais puros, bem ali escritos com todas as letras no papel. Não sei o que fazer caso Kentin leia aquilo, eu escrevi aquilo como se fosse para ele, mas não quero que ele leia aquilo de jeito nenhum! Lá tem o que eu sinto de melhor e de pior por aquele garoto estupido. Mais das cartas nem sinal.

-O que aconteceu Hannah? Ambre te fez algo?

-Oi Castiel, perdi uma coisa.

-Deve ser algo importante, você tá toda nervosinha, até essa tua carinha gentil, tá desfeita.

-É mesmo importante. Você não teria visto umas cartas por ai?

- Não vi nada não, fique tranquila você está sempre procurando coisas pela escola inteira, vai acabar achando.

Ele coloca meu cabelo que caiu na frente do rosto, para trás da minha orelha.

-Você tem razão, e desde quando você anda tão gentil?

-Então você prefere que eu te trate de forma arrogante ou sarcástica?

-Lógico que não seu bobo.

-Você não parece muito bem estes dias.

E esta é uma daquelas coisas impressionantes da vida, Castiel e eu nos demos super bem, talvez por gostarmos das mesmas musicas, ou o nosso jeito de acabar falando na lata, então a gente se entende, eu vejo um lado nele que poucos vêem, no fundo ele é uma boa pessoa, só não com qualquer um.  Então acho que chegamos num ponto onde temos uma certa amizade.

-Vou continuar procurando minhas cartas.

-Espero que não sejam cartas de amor para mim. – Diz ele de forma irônica.

-Pode ser que sejam mesmo pra você. –Digo eu imitando o tom dele e piscando.

Saio de lá decidida a procurar minhas cartas  de novo, mas não consigo encontrar, espero que se alguém achou tenha jogado no lixo, e elas estejam onde ninguém possa achar.

Resolvo dar uma última busca e decido entrar na biblioteca, ando pelos corredores de livros, e vejo Kentin sentado numa mesa com Melody, eu devia ir embora, mas não consigo, resolvo chegar mais perto, disfarçadamente mais perto, me escondo atrás dos livros e  assim consigo escutar o que os dois dizem.

-Nossa Kentin você é tão bonito- reviro os olhos para a patética insinuação de Melody.

-Eu não era assim antes.

-Eu sei, vi sua foto na ficha que você fez quando veio para cá da primeira vez.

-Ainda bem que mudei, não suportava mais ser aquele menino estupido e idiota, eu precisava mudar, tanto por dentro quando por fora.

-Como era na sua escola? A que você estava estudando depois de sair daqui.

-Difícil, era um colégio militar, a semana zero foi horrível.

-O que é semana zero?

-É uma semana antes das aulas começarem, onde aprendemos tudo sobre o militarismo, desde marchar debaixo do sol quente, até os comando militares. E depois foi pior ainda. Mas agora posso fazer até 200 flexões.

-Parece que foi bem difícil estudar lá.

-E foi mesmo, mas agora estou mudado pra melhor, você também é muito bonita, queria ter te visto antes de ter saído daqui, talvez eu nem tivesse ido embora por sua causa. – Diz ele de forma sedutora, e ela ri.

-Vou fingir que acredito.

-Você não acredita? É a mais pura verdade. – Não acredito que ele está falando esse tipo de coisa! Acho que aquele Ken que eu gostava não existe mais, pois este que está aqui não pode ser ele. Ele nunca teria coragem de falar esse tipo de coisa, e ainda mais pra ela, achei que ele gostava de mim, mas parece que eu só me fodo, não seria a primeira vez, nem sei por que ainda me deixo enganar, já escutei o bastante para ficar furiosa, então vou embora tão silenciosa quanto cheguei. Mas antes de sair da biblioteca tenho tempo de escutar ele a chamando pra sair, e assim pregando o ultimo prego no meu caixão.

Depois de dar alguns passos para fora da sala, eu sinto alguém pegar no meu ombro, e me viro pra ver quem é.

-Já ouviu o suficiente para sair espalhando fofocas? – diz Kentin com olhar presunçoso.

-Você sabia que eu tinha ouvido?

-Claro, você é tão sutil quanto um acidente de carro. – Fico furiosa.

-E dai que eu escutei?! Volta pra lá, não vai querer deixar sua futura namorada esperando.

-Tem razão, não vou querer deixar. – Diz ele dando as costas.

-Você é um merda. Nunca entende porra nenhuma não  é? 

Já começo a lacrimejar, mas ele segura meu braço com força.

-O que você quer dizer com isso? Merda é você que me tratou como se eu fosse lixo, quando tudo que eu fiz foi te tratar como uma deusa.

-Não quero dizer porra nenhuma, foda-se Kentin. – Como uma deusa, sei, pra mim isso só mostra a culpa que ele estava sentindo.

Puxo meu braço e saio correndo aos prantos, parece que tenho feito isso muitas vezes ultimamente.