"O mundo fecha portas, mas Deus abre caminhos" – Autor Desconhecido
// BEATRICE//
Dias se passaram desde que fui no encontro da pastoral. Frases como "Há um propósito maior que você pode entender" "Ele te escolheu e te conhecia antes mesmo de você ser gerada" "Busque com todo o seu coração" pertubavam meus pensamentos por mais que eu tentasse esquecer todo aquele dia e a situação mais estranha da minha vida.
A partir desse dia minhas amigas começaram a alegar que havia alguma coisa acontecendo, questionando sempre o motivo de eu estar mais calada, pensativa e distante. Não que não houvesse confiança nas minhas amigas porém as palavras ficavam travadas e eu não conseguia descrever a situação nem mesmo os sentimentos que senti naquele dia.
Quando chegou o fim de semana, decidi que iria de todas as formas ignorar aquele momento vivenciado na pastoral e por essa razão decidi acordar às seis e meia da manhã para dar uma corrida com meu cachorro Sam a fim de me distrair e tirar toda a tensão dos meus músculos. Meu labrador é filhote ainda porém cheio de energia e louco por passear, sendo quase adoravelmente irritante a forma como ele me acorda latindo em uma forma de implorar para ser levado para passear e latir com o maior número de pessoas que ele encontra no caminho.
Geralmente minha mãe é a única que acorda cedo por conta do trabalho então ela é a primeira pessoa que vejo quando desço as escadas com Sam na coleira. Ela está ainda com suas roupas de dormir, parada e tomando o café. Não me canso de pensar o quão sortuda sou por ter sido adotada pelos Matters e uma forma de agradecer esse gesto tão bonito quando eu não entendia nada de "familia" é dar um beijo seguido de um abraço ao amanhecer e ao anoitecer.
"Parece animada doçura. Que tal algumas torradas com queijo?" Mamãe diz e quase posso me derreter com sua voz manhosa pela a manhã
"Vou comer alguma coisa no caminho. Não há tempo para torradas, o garotão aqui está desesperado para paquerar as cadelinhas dos vizinhos" Despeço-me da mamãe com outro beijo e dou uma mordida na torrada para evitar que ela me olhe de cara feia. Não gosto de chateia-la, sei o quanto ela ama preparar o café da manhã.
Mesmo sendo quase sete horas da manhã, o sol de Nova York não tira férias. Particularmente eu não sou uma grande fã do verão, minha estação favorita é o inverno ao contrário de Sam que detesta o frio por ficar trancado por longos períodos dentro de casa sendo consequentemente limitado para correr e brincar. Inicialmente meu percurso com meu cachorro inicia dando uma volta em toda a nossa quadra e depois damos uma volta ao parque central para ele se divertir com as crianças que ficam brincando na caixa de areia.
Depois que conseguimos gastar quase quarenta minutos para chegar na praça, deixo Sam a vontade para curtir seus quinze minutos de fama. É incrível como ele faz sucesso todas as vezes que vem no parque, as crianças e os adultos se derretem quando ver seus olhos grandes e o corpo coberto de pelo. Hoje o parque está mais movimentado que o normal porém com poucas crianças. Deixo Sam brincando com seu brinquedo favorito que sempre trago e sento próximo para observar o que estava acontecendo.
– Olha Nic, um filhote! Podemos ficar com ele? – ouço uma voz murmurar e viro-me para olhar. É óbvio que direi que o cachorro é meu, não deixaria ninguém levar o Sam para longe de mim – Ah, ele tem uma dona – a criança de cabelos bagunçados completa quando me ver olhando-os
– Hey, Beatrice certo? Nunca fomos apresentamos mas pegamos algumas aulas juntos, eu sou Nicolas – O garoto loiro caminha até mim e estende a mão. Nunca tinha percebido como o inglês dele é diferente de um nativo.
– yeah, sim – por um momento fico desconfortável, talvez seja por ele ter sido um pouco rude quando falei do Deus dele com deboche.
– Essa é a Emily, minha sobrinha – Ele diz e volto o olhar para a pequena garotinha para apresentar-me mas ela corre para a caixa de areia com o Sam. Fico nervosa por estar a sós com Nicolas, de uma forma bizarra ele me intimida e sinto-me exposta. Ele parece que conhece desvendar meus pensamentos e olhar o que há de trás do meu olhar. Seria patéticamente romantico como nos filmes se não sentisse tão incomodada com a situação
– Sam gostou dela – digo quebrando o silencio monstruoso que se estendeu no ambiente e Nicolas sorri olhando-os. Uau, sorrindo ele fica ainda mais charmoso. Não, não e não. Nada desses pensamentos Beatrice. Tento rapidamente espantar esse tipo de comentário do meu subconsciente, concentrando-me em algumas barracas e iluminações colocadas no canto direito do parque – O que será que vai ter aqui no parque hoje? Deve ser algo muito importante para o prefeito ter disponibilizado o espaço
– É um evento da minha igreja voltado para as crianças para promover o trabalho do ministério de crianças que participo com uma galera – Nicolas murmura dando uma leve espionada na minha reação – Você gostaria de participar? Nós precisamos de voluntários e convidados também para assistir as apresentações das crianças
– Ah claro, parece ser interessante – digo sem muita animação. Aquilo era um convite para sair?
– Preciso ir agora, os pais da Emily chegarão daqui a pouco – Nicolas diz chamando pela a sobrinha entretida com Sam. Emily faz um biquinho para amolecer o coração de Nicolas para ficar brincando mais com o meu cachorro e eu sorrio pela a cena – Te vejo as 18:30 então?
– Oh sim, estarei aqui as 18:30. Obrigada pelo convite e até mais Emily, Sam gostou muito de você – falo e garotinha se anima com as minhas palavras, despedindo-se de vez do Sam e dando um tchauzinho para mim
Quando estou sozinha com Sam caminhando para casa, reflito sobre a idiotice que fiz. O que eu quero ir fazer em um evento infantil? ainda mais da igreja, seria uma catástrofe se alguém da escola me visse em programações cristãs principalmente se esse alguém fosse uma das minhas amigas. Não preciso aparecer, ainda mais quando há boatos que o time de futebol da escola dará uma festa da piscina, meu subconsciente murmura dando a resposta lógica.
Porém por outro lado, se eu não for para esse evento nunca conseguirei me aproximar de Nicolas e ganhar mais uma rodada do Jogo da mentira. Sei que não é certo brincar com o sentimento dos outros e não aconselharia ninguém fazer o mesmo. Agora há um anjo e um demônio no meu ombro, ambos se contradizendo. O anjo diz para eu deixar para trás o jogo da mentira e deixar o pobre garoto quieto; O demônio – meu lado favorito – me diz para continuar e ganhar confiança de Nicolas para até então ser finalmente conhecida como a melhor do meu grupo. Gosto de desafios e o o demônio no meu ombro sabe disso. Por essa razão, não perderei esse evento por nada.
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