História Cat and Kat - Lucky One

Kai espreguiçou-se na cama, aos poucos acordando de sua soneca.

Abriu os olhos e percebeu que faltava pouco tempo para o sol se pôr.

Alguns dias haviam se passado desde a última vez que vira Hasung - no dia em que ela o visitou.

Desde então, depois das broncas de sua madrinha e da própria Hasung, ele se esforçou mais para ter cuidado e se focou mais ainda em sua recuperação.

Ainda que fosse difícil, ainda que ele tivesse passado dias chorando e não comendo direito por conta do momento depressivo que o atingiu, devido às dores físicas e mentais de não poder dançar e mais do que nunca, se sentir realmente inútil.

Algumas semanas antes desse acidente, Jongin havia conseguido um emprego noturno em uma boate. Ele queria agir como um humano normal nem que fosse por algumas horas, mas agora nem sair ele podia mais.

Passou dias assim, embaixo daquela nuvem negra que o perseguia. Até que finalmente, ele decidiu que queria sair daquilo. Ele queria melhorar logo, melhorar para poder sair de novo, para trabalhar e, principalmente, para ver Hasung.

A boa notícia era que com o passar dos dias, ele já não sentia mais tanta dor, à menos que forçasse um pouco o tornozelo, ou caso movimentasse muito bruscamente.

A pomada que Hasung lhe dera também havia ajudado bastante quanto à isso.

Ah, ele sentia tanta falta dela.

E também sentia falta de dançar.

Era muito difícil se manter focado na recuperação quando ele queria tanto vê-la, mas ele era determinado.

Sempre que colocava algo na cabeça, ele o fazia. Não importante quanto tempo demorasse. De acordo com o previsto, ele só precisava ficar naquela situação por mais duas ou três semanas, e então poderia sair novamente.

Ele sentia muito tédio o dia inteiro, mas seus instintos felinos ajudavam um pouco.

Especialmente aquele que o fazia dormir por horas seguidas, facilmente.

Ele já conseguia dormir facilmente como humano, imagine como gato então. Ficou deitado imóvel, olhando para o relógio. A qualquer momento, ele se transformaria.

E foi isso que aconteceu, quase tão logo que ele pensou. Uma luz se espalhou por todo o seu corpo e ele fechou os olhos.

Segundos depois, quando os abriu, ele era humano novamente.

Juntou coragem para levantar e quando finalmente o fez, foi até o banheiro e tomou um banho.

Entretanto, quando Jongin chegou na cozinha em busca de comida, deu de cara com sua querida vizinha conversando com sua madrinha. Estancou no mesmo lugar, surpreso por vê-la ali depois de tantos dias. As duas mulheres o observaram após notar sua entrada e sorriram para ele.

Entretanto, Jongin só prestou atenção em Hasung.

Acenou de leve com a cabeça e murmurou uma saudação, sentindo um frio na barriga dominá-lo. Adentrou na cozinha, ainda mancando por conta da tala presente em seu tornozelo e foi em direção à geladeira em busca de água. Jongin não percebeu, mas Hasung o olhava discretamente, observando cada movimento do rapaz, curiosa.

Ele era definitivamente misterioso e  havia algo nele que a atraía. Era como se eles já se conhecessem há tempos, mesmo tendo se falado por poucas vezes.

— Jongin, eu convidei Hasung para jantar conosco. Será que você poderia nos fazer companhia dessa vez? Eu preciso sair um instante porque esqueci de comprar algo no supermercado. Fique aqui e faça companhia a Hasung, eu volto logo — sua madrinha anunciou, deixando-o sem entender, mas Jongin não disse nada.

Logo que ficaram a sós, Jongin sentou-se à mesa, em frente à garota e ficou quieto.

Ora, o que diabos ele ia falar?

Não sabia sequer como iniciar uma conversa. Não tinha prática nisso já que não tinha amigos e a única pessoa com quem socializa não era outra senão sua madrinha.

Humanamente falando, é claro.

Como gato, é claro que ele gostava muito de passar o tempo com Lee Hasung, obviamente, sem falar nos outros gatos da vizinhança com quem havia feito amizade.

Mas quanto a Hasung, ele a conhecia bem, mas ela não o conhecia.

— Kai... — a garota falou e ele ergueu os olhos, automaticamente.

— Sim? — respondeu, sem pensar e na mesma hora percebeu seu deslize.

Droga.

— Ah... O gato da sua madrinha. Kai. Onde ele está?

— Ah... Claro. Ele gosta de sair durante à noite.

— Oh. Faz tempo que ele não me visita. Da última vez, ele ficou agitado por algum motivo e quando tentei pegá-lo, ele me atacou — Hasung comentou, parecendo decepcionada.

Jongin podia sentir seu coração um pouco mais acelerado, em um misto de ansiedade e culpa.

Claro que ela iria ficar magoada com ele, oras.

Ele a havia machucado.

— Sinto muito — ele disse, por fim — Não vai acontecer novamente, eu prometo.

Hasung estranhou o modo como Jongin falou aquilo.

Sua expressões faciais demonstravam culpa e talvez um pouco de vergonha, mas ela não sabia porquê, afinal, não era como se ele tivesse feito aquilo e sim Kai, o gato.

— Eu não estou chateada. Na verdade, eu me preocupei que talvez ele estivesse doente.

— Ah, entendo. Em breve, ele provavelmente irá te visitar de novo.

— Sim. Jongin-ssi... Eu, na verdade... Queria muito falar com você à respeito de algo.

— Falar sobre o quê? — ele indagou, curioso.

Ora, é óbvio que ele estaria curioso. Aquela era a garota que ele gostava, querendo puxar assunto com ele-ele e não ele-gato.

— Bem... É que daqui à alguns meses haverá uma competição de dança que eu gostaria muito de participar... Mas tem um problema. Eles só aceitam casais e bom, eu não conheço nenhum dançarino que esteja disponível ou que queira participar comigo... Então, eu lembrei de você. Sei que você está machucado ainda, mas é só daqui a três meses e eu não sei, talvez você também não aceite e-

— Tudo bem — ele a interrompeu.

— O que disse? — Hasung perguntou, para confirmar se havia mesmo ouvido certo.

— Eu falei que tudo bem, eu posso dançar com você, dependendo de uma condição. O horário do concurso... É a noite?

— Oh, isso. Sim, é durante à noite.

— OK. Hm... Tem outra coisa também quanto aos horários, eu só posso ensaiar durante a noite. E eu ouvi dizer que você trabalha durante o dia, certo?

— Oh, claro. Por mim, está perfeito.

— Qual o estilo de dança?

— Obrigatoriamente, eles exigem o balé, mas é permitido mesclar balé com outro tipo de dança. Eu pensei que algo como pop ou hip hop talvez fosse ficar interessante, o que você acha?

— Por mim, tudo bem. Você pode escolher o estilo, eu posso te ajudar com a coreografia também, se precisar.

— Sério? Obrigada! — ela sorriu, animada e Jongin fez o mesmo.

Alguns segundos depois, sua madrinha adentrou na cozinha.

— Pelo seu sorriso, eu acho que você conseguiu convencê-lo — disse ela.

Jongin lançou um olhar acusador para a mais velha.

Então, não se passava de um plano.

Bom, pelo menos ela havia tido a esperteza de disfarçar ao trazer uma sacola de compras.

E independente de ser algum plano ou não, Jongin estava mais que feliz por aquilo.

Estava muito feliz mesmo.

Ele ia passar mais tempo com Hasung, iriam ensaiar juntos.

Dançar juntos.

Ele iria fazer o que mais amava, com a pessoa que mais amava.

E acima de tudo, ela iria conhecê-lo de verdade.

Embora a situação não mudasse tanto e ele ainda fosse um gato, Jongin não podia evitar que aquele pequeno fio de esperança crescesse nele e também, de se achar sortudo por aquilo tudo estar acontecendo.

Wah! Você é tão sortudo, Kim Jongin.