História Catch 22 - 5 seconds of summer - Maybe

L U K E

Era só mais um dia comum em que eu ficava encostado nos armários do colégio, observando a vida monótona e o jeito padronizado dos seres humanos a minha frente no corredor. Era normal o tédio me perseguir.

Às vezes eu sorria para algumas garotas que passavam que me pareciam interessantes ou até para conhecidas, mas contudo eu estava mais que entendiado. Surtava por algo novo, tudo era tão autômato, igual. Parecia que o mundo queria se manter cinza e parado no tempo. E esse "algo" não existir no meu encalço me deixava frustrado a cada dia a mais que passava.

Ouvi cochichos nos corredores. Meninas apontavam com o queixo para frente e voltavam, e caras sorriam, provocadores. Porém, nada atingia o alvo que miravam.

Passava uma garota de loira no corredor. Era um loiro diferente. Escuro. E quando a luz do sol passa por seus fios sutilmente claros, se acentia. Era muito bonita. Não a mais bonita de todas que já vi, mas era de se impressionar. Tinha as curvas do corpo muito nítidas, delineadas por uma regata preta, sua pele era clara e de estatura extremamente baixa comparada a mim, apesar de suas botas com saltos. Ousava também, com batom vermelho e um óculos escuro.

Seu andar indiferente mostrava que estava irritada, ou cansada. Talvez os dois. Talvez com o mundo, talvez com dia. E como eu supunha disso? Porque eu fazia a mesma coisa e por alguma razão, eu queria um motivo para me identificar com ela. Talvez ela quisesse algo novo também. Talvez não.

Mordi meu piercing olhando para ela e notando as pessoas indo apressadas para as salas de aulas. A garota havia tirado seus óculos, mostrando, assim, olhos confusos, indefinidos. Uma mistura forte de castanho, amarelo e verde. As vezes, ao balançar sua cabeça com a música que sibilava, seus olhos iam ao sol, esclarecendo e voltavam escuros e brilhantes.

Aquele par de olhos claros junto com cada detalhe que eu pegava nos vários minutos que me mantive em transe, davam a intenção de que ela sabia de tudo. Poderia estar me equivocado ao pensar que um ser tão jovem como aquele me parecesse entender os segredos do universo. E talvez soubesse. Era tudo uma questão de talvez.

Eu a observava mais pouco ao colocar seus livros no armário, enquanto o caos ao redor se dissipava. Eu tinha que ir, mas não queria. Aquela garota me hipnotozara. Ela era algo novo. Algo interessante. Alguma parte dentro de mim disse para me aproximar devagar e ir provando cada pedaço lentamente. Por outro lado, minha fome parecia ser grande de mais para segurar.

Quando o impulso e a coragem me fizeram voltar meus passos a ela, uma garota mais loira que o sol veio correndo em sua direção. Não levou um susto, mas se irritou, como se aquilo fosse um ato repulsivo que a outra tinha mania de fazer. Talvez tivesse.

- Andrômeda, você vai ser atrasar... - Ouvi a menina reclamando para a garota, que agora, tinha um nome. Andrômeda. Peculiar até, mas que nome combinaria mais com aquele pequeno ser enigmático, que Andrômeda?

- Eu sei, caralho. Eu já vou! - Arregalou os olhos e bufou, sinalizando que tinha entendido toda aquela euforia desnecessária. Parecia tão calma ao falar. - Eu to ligada que a minha primeira aula é contigo. Só espera.

Andrômeda arrumou seu cabelo, fechou os olhos e suspirou. Ajeitou a alça de sua bolsa e conversou brevemente com a menina, um pouco alterada, mas aparentemente as duas já lidavam com isso a muito tempo. Talvez seja só mau humor. Ou não. Então Andrômeda deu de ombros e murmurou que seguiria a amiga.

No meio do caminho, olhou para mim e lançou um sorriso. Era lindo, seu lábio superior se comprimia, mostrando um pouco mais que sua arcada dentária. Não foi um sorriso sedutor, ou desdenhoso. Ou algo que eu já esperasse. Foi solidário algo, como se eu precisasse. Talvez eu precisasse. Talvez eu precisasse dela.

Talvez.