História Cell 23 - You are an idiot!

Presidio Of Alcatraz — 15h16min.

Lizzie Burrow — Point Of View

Calor.

Era exatamente isso que eu sentia naquele momento. Aquele sem dúvida fora o único dia que não estava fazendo dois ou cinco graus, meus braços estavam descobertos deixando que os raios solares pinicassem em minha pele.

A touca de cor azul que cobria a parte de cima do meu cabelo, a ponta das minhas orelhas e uma mínima parte da minha testa estava apenas ali por que eu estava com medo de que de repente fizesse um frio fora do comum ali, como outras vezes já havia acontecido.

Observei minimamente todo o pátio e suspirei me sentando em um dos bancos vagos dali. Estava tudo como antes, os mesmos grupos, as mesmas pessoas, tudo estava exatamente igual.

Levantei meu olhar minimamente olhando para o céu nublado, porém ainda assim o sol queimava levemente todo o local.

– Burrow?!

Virei meu rosto procurando por quem me chamava e vi Ryan ali olhei para os lados apenas para confirmar se ele realmente me chamava, e era realmente eu. Me levantei do banco e caminhei lentamente até ele.

– Preciso que me acompanhe!

Assenti e Ryan deu espaço para que eu passasse e em seguida trancou o portão novamente, ele segurou levemente em meu braço e começou a me guiar pelo grande espaço do lado de "fora" do presídio. 

– Aonde nos...

Interrompi minha frase assim que Ryan me empurrou na parede e sua mão se apoiou ao lado do meu rosto e a outra ao lado da minha cintura na parede, meu olhos se arregalaram e deixei um soluço surpreso escapar.

– Por que o Justin? — pergunto firme e franzi o cenho – Por que Burrow? Por que logo ele?

– Q-qual o problema? — perguntei tremula assustada com aquela repreensão repentina.

– O problema Lizzie, é que a minha vida toda Justin conseguiu tudo o que sempre quis e tudo o que EU QUIS. — gritou a ultima tarde e tentei me afastar.

Mas Ryan não se moveu, continuou me encarando firmemente com seus olhos azuis tão intensamente quanto antes.

– Eu não o escolhi, Butler. — falei baixo.

– Por que todas vocês caiem ao pé dele? — riu com escárnio negando com a cabeça – Eu realmente não entendo, Lizzie, como uma menina como você caiu na dele.

Antes que eu formulasse alguma frase para respondê-lo, suas mãos seguraram meu rosto e em seguida eu previ o que aconteceria no segundo seguinte e me soltei rapidamente dele, que passou a mão no cabelo com a expressão tanto quando frustada.

– Ryan, o que você...

Parei de falar assim que vi Wendy um pouco distante de nós porém com seus olhos presos em mim.

Ela rapidamente pegou a vassoura que provavelmente havia caído no chão e saiu rapidamente dali, ela era da manutenção.

Neguei brevemente com a cabeça me virando para Ryan que encarava o mesmo lugar que eu há alguns segundo.

– Eu quero sair daqui, Butler! Me leve pro pátio, por favor.

Ryan suspirou e pegou novamente em meu braço me guiando para longe do lugar em que estávamos, assim que notei que não estávamos indo em direção ao pátio o olhei confusa.

– Vou te levar para enfermaria, — falou me lançando um olhar de soslaio – insulina.

Assenti olhando para frente e logo entramos no prédio principal do presídio, não demorou muito para que chegássemos na enfermaria, a decoração em cores branco e azul claro predominava o local.

Ryan me guiou até uma das salas e passei rapidamente pela mesma apoiando meus braços na maca tomando impulso para me sentar nela.

Senti seu olhar sobre mim e o ignorei fitando meus pés, aquilo no meu ponto de vista chegava a ser até um pouco cômico. Quando eu iria imaginar que eu iria ser presa, ficaria apaixonada pelo delegado da delegacia e um dos guardas ainda tivesse atitudes... bastante estranhas.

Eu não sei exatamente quantos minutos eu passei observando cada detalhe daquela sala atentamente, mas um barulho do lado de fora chamou minha atenção e sorri de súbito ao ver Justin ali pela grande janela de vidro, ele não me olhava, fitava a sua frente sorrindo e o observei atentamente.

Seus traços másculos, seu cabelo arrumado em um perfeito topete, seu blazer escuro perfeitamente alinhado em seu corpo, a baixo a blusa social branca com listras quase imperceptíveis de tão finas e claras em um tom cinza, a calça de lavagem escura que combinava perfeitamente com seu blazer. Ele era realmente lindo.

Meu sorriso murchou assim que vi Chloe o abraçar e Justin a apertar contra ele fortemente pela cintura, eu podia ver que ele falava algo em seu ouvido e a mulher que roçava os lábios no lóbulo de sua orelha sorriu maliciosa de canto mordendo o lábio.

Senti um nó em minha garganta e fechei meus olhos com força engolindo toda aquele misto de sensação ruim que havia me tomado. O frio na minha barriga que mostrava meu nervosismo, meu coração batia ainda com mais força em meu peito de uma forma fora do comum.

Minhas estavam levemente tremulas e as levei até meu cabelo fazendo um nó no mesmo e passei a mão pelo meu rosto sentindo meus olhos arderem. Não, não Lizzie. Eu repetia para mim mesma não deixando que nenhuma lágrima caísse.

A porta foi aberta e uma Chloe completamente sorridente e animada entrou na sala e desviei o olhar assim que Justin passou para dentro logo atrás dela com o maxilar travado mostrando tamanha irritação.

Senti um algodão molhado em meu braço e suspirei engolindo a seco enquanto sentia a ponta da agulha furar meu braço.

– Está tudo bem, Lizzie? Furei errado? — Chloe perguntou preocupada notando meus olhos lacrimejados.

– N-nã-ã... — respirei fundo tentando recuperar o controle do meu corpo – Está tudo bem! 

– Talvez deva chamar Ryan para ajudá-la, não é mesmo, Burrow? — a voz de Justin soou tão ríspida que me perguntei se era realmente ele falando.

– O que você quer dizer com isso, delegado? — frisei o delegado o olhando firmemente.

Eu encarava tentando desvendar em seus olhos o motivo dele estar agindo daquela forma, e seus olhos estavam nos meus de forma raivosa e revoltada e eu me perguntava a todo instante o por que daquilo.

– Eu vou buscar mais alguns algodões, tenho mais pacientes! — Chloe sussurrou saindo rapidamente da sala.

– Você é sonsa, ou só se faz? — perguntou estúpido se aproximando da minha maca.

Rapidamente me levantei da mesma ficando em pé, minhas pernas estavam bambas e me peguei tentando de toda forma sustentar meu corpo sem trepidar com a sua tremenda proximidade.

Eu era bem mais baixa que Justin e isso fazia com que seu ar superior fosse ainda maior, ele estava tão perto, sua boca pequena e perfeitamente formada estava tão convidativa e me peguei pensando quando seria bom que nada daquilo estivesse acontecendo para que eu pudesse curtir a sua proximidade.

– Você está me chamando de sonsa? — perguntei um pouco trêmula – O-o que você acha que é? O que eu fiz pra você para que você esteja dessa forma? Eu não te fiz nada. Você é idiota ou o que?

Bieber riu negando com a cabeça aproximando ainda mais seu corpo do meu os fazendo roçar um no outro. Minhas mãos tremiam ao lado do meu corpo, minha respiração estava acelerada enquanto nos encarávamos nos olhos sem nenhum dos dois ser fraco o suficiente para desviar.

– Eu sou idiota sim! — falou baixo fazendo seu hálito fresco bater em meu rosto – Idiota por ter acreditado em você, idiota por achar que você era diferente de todas as mulheres lá dentro, mas não Lizzie, você é igual a cada uma delas. Agora me diga a que ponto você chegou, — riu negando com a cabeça enquanto eu não tinha reação – ao ponto de conquistar um dos guardas por regalias.

– O QUE? Você é louco? De onde você tirou isso? — ri nervosa negando com a cabeça – Você está completamente errado e louco.

– Sim, eu estava louco, mas olha só, não estou mais sabe por que, Burrow? Louco eu estava quando comecei a me envolver com uma presidiária. Quando eu comecei a me envolver com uma garota como você. 

A forma que Justin disse aquelas palavras me atingiu em cheio fazendo com que eu não segurasse mais nenhuma lágrima, e elas começassem a sair sem nenhum pudor.  

– Sabe, Justin, você deve me achar uma tola, na verdade, eu me acho uma idiota, uma tola burra! — ri com escárnio limpando o contorno dos meus olhos – Por achar que você era diferente, por achar que você realmente gostava de mim e... e foi apenas necessário eu negar a única coisa que você realmente queria de mim para que você começasse a inventar coisas sobre mim apenas para usar como desculpa para se afastar. Mas quer saber? Eu não vou me importar mais, não vou por que eu sei que daqui a quarenta dias ou sei lá toda essa dor que eu sinto desde o dia que meus pais morreram vai acabar. E uma das maiores decepções da minha vida, pode ter certeza que será ter me apaixonado por um cara como você!

Justin estava sem reação e quando eu terminei a frase ele me encarava com os lábios entreabertos com a respiração acelerada.

– Lizz...

– Lizzie está na hora de você ir para a ce...

Eu não desviava meus olhos de Justin por nem se quer um segundo, desviei meu olhar soltando a respiração e caminhei até Ryan que nos encarava com os olhos levemente arregalados e completamente confuso.

– Eu a levo, Butler. Volte pro seu trabalho! — o tom de voz de Justin soou baixo porém continuou ríspido.

– Eu não quero que você me leve, Ryan vai me levar. — falei caminhando até Butler e senti a mão de Justin em meu braço me impedindo.

– Volte para o trabalho Ryan, eu ainda mando nessa merda de presídio então faça o que eu to mandando agora.

Ryan assentiu e rapidamente saiu dali, engoli a seco sentindo meu corpo ficar quente com o simples toque de Justin em meu braço e todo meu estômago revirar em um misto de nervosismo, ansiedade... tantas coisas.

Justin me puxava pelos corredores e diversas pessoas o cumprimentava e ele apenas ignorava. Ele parecia tenso e estava completamente pensativo, eu apenas me perguntava de onde ele havia tirado aquela história toda.

Eu sentia uma decepção tão grande e me perguntava quando que eu realmente poderia me sentir feliz dentro desse lugar, o que me parecia impossível.

Os gritos e assobios começaram assim que o delegado Bieber começou a caminhar pelo largo corredor das celas.

– Abram a cela 23. — sua voz rouca e alta tão próximo ao meu ouvido fizeram com que os pelos da minha nuca se arrepiassem e me mexi discretamente me livrando de seu toque para que aquilo não me torturasse ainda mais.

Os ferros da minha cela começaram a se movimentar rapidamente o abrindo e logo atravessei entrando no pequeno cômodo. Wendy que estava deitada na cama de cima se levantou rapidamente ao me ver entrar ali.

– Tomou providências sobre as informações que eu lhe dei, delegado Bieber? — a voz de Wendy soou e franzi minha testa a encarando com os braços entre os ferros da cela agora fechada.

E foi naquele momento que eu me liguei de tudo, Wendy havia me visto com Ryan, e foi rapidamente me "denunciar" para o delegado.

– Então foi você que foi falar aquele monte de mentira para o Justin? — perguntei incrédula.

– Justin? — jogou a cabeça para trás rindo sarcasticamente se virando em minha direção – Não seria delegado Bieber? Ou você também está dando para ele pra conseguir algumas regalias aqui dentro, Burrow?

– Você não sabe nada sobre mim! — falei seria – O que eu te fiz, Wendy? Por que esse ódio todo?

Wendy permaneceu em silêncio e apenas fitou o chão se virando novamente para as grades soltei o ar apoiando meus cotovelos nos joelhos e apertei meus olhos com força com a ponta dos dedos.

Eu me perguntei naquele momento o que eu fiz, o que eu fiz para merecer estar passando por tudo aquilo, o por que de ta passando por todo aquele sofrimento, nada dava certo. Mas eu sabia, por mais que a esperança fosse pequena que tudo ainda iria se resolver.