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História Cellbit - O Pecado tem Olhos Azuis - Calango Feelings


Escrita por: JuSalvattore

Notas do Autor


oiiiiiiiii
só pra avisar que é um POV do Calanguinho viu?
eeeee
gente
se vcs quiserem acompanhar a leitura com essa música
Fleurie- hurts like hell
so pra ne
ajudar na bad
enfim
Essa coisa bela da capa do capítulo é o tio Dimitri viu gente.
É o ator Tobin Bell, o belíssimo vilão do Jogos Mortais

BOA LEITURAAAA s2

Capítulo 29 - Calango Feelings


Fanfic / Fanfiction Cellbit - O Pecado tem Olhos Azuis - Calango Feelings

Faças sofrer ou sofrerás no lugar

...

E eu permanecia lá, estático.

Depois de lá seus longos minutos, consegui correr até a beira do penhasco. O lugar que me trazia lembranças nostálgicas... Agora, seria o portal entreaberto para o inferno.

Respirei fundo. Minha cabeça doía como se estivesse sendo comprimida, o suor frio misturava-se à chuva que já caia levemente. Meu olho direito queimava como um corpo estranho, queimava como se não quisesse estar ali, e além de tudo embaçava... O olho azul era embaçado, e eu não conseguia enxergar muito bem com ele.

Malditas vozes, malditas vozes que me atormentava.

O rio corria revoltado à muitos metros abaixo de onde eu estava. Do lado direito, a cachoeira desaguava a uma distância considerável.

Fitei abaixo dos meus pés novamente, Elizabeth... Onde você está... Se é que ainda está, ao menos... Viva.

Respirei fundo afastando o cabelo molhado para trás das orelhas.

Ah... Eu tô muito na merda. Bufei com meu murmúrio.

Caminhei lentamente para baixo da grande árvore e me sentei recostando-me em seu caule.

 Os passos dela ainda estão marcados no solo amolecido.

Bati a mão no bolso direito sentindo o pequeno volume. Enfiei a mão direita retirando o pequeno frasco branco com uma escrita borrada.

Humanity...

Sim, eu havia ingerido duas pílulas antes de começar a treinar com as facas.

Era o único modo de me tornar sociável, ou.. Sentir sentimentos, nem que... Temporários.

-Droga..- Recostei a cabeça no caule da árvore guardando o frasco no bolso novamente.- O que eu vou fazer?- Respirei fundo.

Culpa.

Raiva.

Desespero mental.

Eram os sentimentos que o efeito da pílula me fazia sentir.

Eu costumava tomá-la para poder gravar os vídeos para o meu canal. Era o único jeito que eu possuía para expressar felicidade, piadinhas sem graça ou qualquer outra coisa.

Eu não sentia sentimentos negativos à tanto tempo... Que sinceramente, não estava conseguindo lhe dar.

Talvez a Humanity tenha sido o impulso que tive, para acaba contando coisas pessoais minhas para a Elizabeth... Sim, foi proposital... Eu queria contar a ela... Mas jamais imaginei que as coisas acabariam dessa maneira.

Além de tudo... O beijo.

-Ai..- Levei as mãos à cabeça.

Estúpido...

Por isso é um fracassado...

Inútil...

-Para.- Berrei. Minha voz ecoou por todo o bosque.

Levantei-me cambaleando e me apoiei à árvore.

Essas vozes.. Eram vozes... Do Rafael.

­- Maldito...- Gemi entre dentes e corri.

Corri de volta, pelo mesmo caminho que havia vindo.

Eu podia fazer o trajeto de volta de dez minutos em cinco. E o fiz.

Eu corria rapidamente pelo caminho de barro e cascalhos, meus pés se rasgavam por conta das rápidas pisadas nos cascalhos pontiagudos.

Que se dane...

Dor física não importava nesse momento.

Corri sem ao menos parar para puxar fôlego, a leve chuva me acertava em cheio enquanto eu me desviava dos obstáculos, galhos caídos, árvores no meio do caminho, insetos venenosos.

-Finalmente.- Freei deslizando sobre o solo melado e chocando-me contra o grande muro de pedras da Mansão.- Merda..- Respirei fundo afagando o braço que havia machucado ao me bater no muro.

Ao atravessar esse buraco e adentrar a Mansão... Eu tenho certeza, que as coisas apenas piorarão.

**

Ao adentrar a rachadura entre a parede e o solo barrento, eu corri. Corri de volta para o inferno.

-Calango..- Freei disfarçando o cansaço. Nina esboçava um sorriso amigável, estava de joelhos afofados no gramado, ajuntava serenamente as facas que eu havia usado com Elizabeth.

-Eai..- Fechei a cara empurrando os cabelos molhados para trás das orelhas.

Era muito difícil manter o jeito sério quando se estava sob efeito da Humanity. Essa droga sabia como dissolver todo o ego interior construído durante todos esses anos em questão de segundos.

-Você viu a Lisa por aí?- Ela se levantou com cinco facas abraçadas ao peito.

-Ahn..- Engoli em seco.- Nã..- Minha negação interrompida por uma forte pontada na cabeça.

Mentiroso...

A voz sarcástica de Rafael gargalhou dentro da minha mente. Maldito.

Desde que recebi a maldita transfusão de sangue dele, consequentemente esse olho. Eu não tenho mais paz. Simplesmente não tenho.

Pelo maldito fato de que Lafaiete disse, que com o tempo... Eu acabaria me tornando parte do Rafael.

Só nunca imaginei que soaria sua voz dentro da minha cabeça.

Maldito Lange...

Maldito sobrenome que carrego.

- Viu o Rafael por aí?- Bufei.

-Ahn..- Uma expressão pensativa e um morder de lábios.- Acho que está na sala dele...-

-Ótimo.- Girei sobre os calcanhares rumo à porta de acesso da Mansão.

-Eita... Calma.- A voz espantada de Nina ficou para trás quando adentrei os corredores.

-Ou..- Me esbarrei em alguém que cruzara meu caminho no corredor.

-Alan?- Franzi o cenho, ele estava coberto de sangue.

-Eai calaguinho.. Qual foi mano? Por que cê tá tão apressado?- Um sorriso malicioso típico dele.

-Eu... Preciso resolver umas coisas.- O olhei de cima a baixo.- O que está fazendo?-

-Sabe a filhinha do delegado?- Assenti com a cabeça sem entender muito bem.- Eu e o Felps mandamos ´aquele´ nela ontem... Só que...- Um franzir de cenho.- A gente ainda ia dar uns pegas nela.. Mas o Pk fez o favor de matar.-

Permaneci escutando.

-Agora eu e o Felps conseguimos o corpo de volta e desmembramos.- Um sorriso.

-E cadê?-

-Lá fora mano.. Cê vai querer algum órgão?- Alan passou por mim no corredor.

-Não...- Apressei o passo.- Valeu.- Neguei com a cabeça e corri rapidamente pelo corredor. Não era hora de decidir comida.

**

Cheguei ao segundo andar. Recostei-me à parede para descansar. Meu corpo latejava por completo e minha cabeça latejava tanto ao ponto de explodir a qualquer momento.

Escutei a grande porta negra do fim do corredor ranger, era a porta da sala de Rafael.

Ergui a cabeça para ver quem se aproximava.

-Calango..- Guaxinim caminhava lentamente pelo corredor em minha direção, vestia uma calça preta e um casaco marrom, afagava os cabelos azuis desbotados.

Esbocei um leve sorriso amarelado ao vê-lo parar na minha frente. Guaxinim retirou a máscara de caveira que cobria a metade do seu rosto.

-O que faz por aqui mano?- Ele deu uma piscada.

-Preciso.. Falar com o Rafael.- Guaxinim não precisava saber qual o real motivo.

-Ah..- Ele afagou a barba crescida.- Ele tá na sala dele... Se eu fosse você não o incomodaria..-

-Por que não?- Franzi o cenho, odiava ser desafiado dessa maneira.

-Ele me deu a ordem de trazer uma mina que tava falando dele no Twitter..- Guaxinim riu, arqueei a sobrancelha.- Eu trouxe...- Deu de ombros.- E... Ele não quer ser interrompido..- Sorriu.

O encarei.

-Me poupe..- Bati com a mão no seu ombro empurrando-o da minha frente.- Não tenho tempo para gracinhas do Rafael.- Soltei entre dentes.

-Tá mano... Calma.- Escutei a voz espantada de Guaxinim por trás das minhas costas.

Caminhei de cenho franzido pelo corredor, empurrei o portão com as mãos adentrando na sala escura iluminada pela grande lareira.

Fitei à frente, Rafael como um sanguessuga, tinha suas presas coladas ao pescoço de uma garota franzina de cabelos loiros. Ela estava amarrada à uma cadeira com os braços para trás.

-Rafael.- Berrei o fazendo se afastar bruscamente da garota, que chorava desesperadamente.

-O que você quer?- Ele berrou de volta, limpando a boca ensanguentada com a costa da mão direita.- Não vê que estou ocupado moleque?- Me encarava sério.

Ah que saco!

-Elizabeth..- Engoli em seco.

Rafael fitou a garota sentada aos prantos e desferiu um tapa de mão aberta, fazendo-a cair para o lado na cadeira. A menina bateu a cabeça no chão desacordada.

Franzi o cenho e tornei a fitá-lo.

-O que houve?- Seus olhos mantinham-se fixos nos meus.

Respirei fundo.

-Eu... A levei para um ... Passei no Penhasc...-

-O que?- Rafael berrou correndo até a minha direção.- Enlouqueceu seu bastardo?- Rafael bateu as duas mãos no meu peito empurrando-me bruscamente para trás.

Merda..

Me choquei contra o portão machucando a minha costa.

-Porra..- Soltei franzindo o cenho.- Para por um segundo e me escuta caralho.- Berrei, Rafael franziu o cenho soltando uma risada de deboche.

-O que fez com ela seu babaca?- Rafael berrou.

-Ela..- Nem fudendo que contarei que nos beijamos.- Ela caiu.. do Pen...-

Minhas palavras foram interrompidas por um tapa.

Um tapa certeiro de unhas encolhidas.

Meu rosto virou para o lado com o impacto e eu cambaleei, além do tapa... As unhas de Rafael rasgaram meu rosto propositalmente.

Senti meu sangue voar e a dor se expandir pelo meu rosto.

Maldito... Não sabe o quanto tenho vontade de matá-lo.

-Mas o que é isso..?- A voz soou atrás das minhas costas.

Ah não... Dimitri.

-O que houve?- Disse o velhote.- Que maldita gritaria é essa?-

-Pergunta dele..- Rafael cuspiu as palavras.

Me ergui, sangue descia quente pelo meu rosto, minha bochecha direita completamente dormente. O sangue cálido descia meu pescoço molhando meu peito.

-Elizabeth, Senhor..- Engoli em seco me virando de frente para eles.- Ela... Caiu do Penhasco..- Tranquei os dentes e fechei os olhos bruscamente endurecendo o corpo. Esperei uma pancada de ambos os lados, que não veio. Abri os olhos novamente.

Rafael de braços cruzados encarava Dimitri, esperando alguma ação do velho.

-O que fez com ela Thiago?- Dimitri me encarava passeando a mão pelo queixo liso, enquanto a outra mão estava repousada sobre a bengala que sempre o acompanhava.

-Eu a levei para...- Dei um passo para trás, a dormência da metade do meu rosto era tanta que me impedia de falar.- Esfriar a cabeça.- Omiti a aposta que fiz com ela.- Mas...- Lembrei do beijo.- Ela acabou...caindo.- Fitei Dimitri.

-Mentiroso.- Rafael com uma expressão de nojo descruzou os braços.- Com certeza... Vocês foderam... não é mesmo?- Ele cuspia as palavras com desprezo.- Jogou o corpo morto no penhasco...-

-Não.- Berrei.

-Você sabia que não poderia transar... A garota morreria.- Rafael me fitava com um olhar sarcástico.- Herdou meu sangue, meu olho e a minha maldição também seu babaca.-

Respirei fundo.. Não me contive. Serrei o punho e quando Rafael se aproximou com o seu sarcasmo, eu ataquei.

Desferi um soco em cheio no meio do seu peito, fazendo-o dar passos atrapalhados para trás e cair de costas puxando fôlego.

-Elias..- Dimitri me fitou.- Já chega de insolência.- Ele caminhou até mim agarrando-me pelo cabelo.

-Ai..- Mordi a língua. Eu não podia fazer nada.

-Chega de infantilidades..- O velho me fitava o cheiro forte de tabaco saia junto com suas palavras secas.- Não sei por que não morreu junto com a sua mamãezinha..-

-Não..- Agarrei sua mão e o empurrei.- Jamais..- Dei passos para trás fitando-o.- Fale da Lilian..- Engoli em seco empurrando o cabelo para trás.

Dimitri soltou uma gargalhada que ecoou por todo o cômodo. Ele não perderia tempo com as minhas revoltas, era desprezível demais para isso.

-Levante-se daí seu palerma.- Dimitri fitou Rafael que apoiava as mãos no chão para se levantar, ainda meio grogue.

Não é tão forte quanto dizem, não é mesmo Rafael?

Apenas um mimadinho estúpido.

-Prestem atenção as duas crianças...- O velhote olhou para nós dois.- Eu quero os dois... daqui a dez minutos no salão principal...- Sua voz fria e baixa.- Agora.- Dimitri respirou fundo retirando uma cartela de cigarros. Retirou um e guardou o resto no bolso, puxou um isqueiro preto do outro bolso e acendeu.- Vejo vocês daqui a pouco bebês.- Disse o velho sorrindo e saindo do cômodo.

Fitei Rafael, que se punha de pés.

-Escute uma coisa..- Me aproximei de Rafael.- Não se exalte por conta da maldição.- Me pus de frente para ele.- Sabe que jamais poderá tocar nela.. Sem matá-la.- Bufei.

Suas têmporas suavam assim como os olhos azuis que me fuzilavam.

-Agradeça eu não matá-lo...- Rafael mantinha a mão acima do estômago, sorriu mostrando os dentes sujos de sangue.- Bastardo..- Cuspiu no chão em tom de provocação me empurrando no ombro e saindo na porta.

Respirei fundo. Meu coração palpitava rápido e meu corpo esquentava tanto que parecia querer explodir.

Eu sentia os efeitos da Humanity esvaindo-se de mim.

E a partir de agora...

Seria impossível expressar qualquer tipo de coisa, que não fosse... Uma alma vazia e revoltada.

**

E lá estávamos todos nós no pátio principal.

Alan e Felps lado a lado, Guaxinim de braços cruzados, Rafael com as mãos na cintura fitando o chão com uma expressão séria e eu do lado de Pk, que estava sentado no chão comendo algo que não dei a mínima.

Eu tentava esboçar o mínimo de reação facial. Meu rosto queimava em carne viva por conta das unhas de Rafael. Seguiam de próximo do meu olho azul, da parte inferior descendo minhas bochechas até uma parte inferior. Já doeu tanto que adormeceu a metade do meu rosto.

Dimitri descia as escadas lentamente, com uma calça preta e camisa de mangas compridas.

Franzi o cenho.

Belo milagre ele ter abandonado aquele terno cafona por pelo menos uma vez...

-Crianças..- Ele descia lentamente as escadas, olhando para todos nós.- Tenho... Novidades..- Dizia ele com um sorriso irônico. Que diabo de humor era esse do Dimitri hoje?

-Pk..- Bati com o pé no garoto sentado no chão ao meu lado direito.- Pk..- Olhei para ele.- Levanta... Não vê que é importante?- Franzi o cenho ao fitá-lo.

Pk mastigava ao apoiado com suas duas mãos à boca.

-Matheus...- Dimitri elevou o tom de voz ao pôr os pés no salão. Pk levantou a vista, seu rosto sujo de sangue.- O que está comendo?- Dimitri parou fitando-o.

O garoto não respondeu nada, ergueu as mãos na direção de Dimitri.

-Fala sério mano..- Ouvi Alan murmurar cutucando Felps.

Era... Uma mão...

Uma mão?

Dimitri fez uma cara de desprezo e deu de ombros.

-Foda-se..- Disse o velho.- Apenas uma alma perdida.- Ele caminhou lentamente batendo aquela bengala irritante no chão. Pondo-se no centro do salão e nos fitando.- Thiago Elias..- Sua voz ecoou.- Temos aqui o nome do maior fracassado que essa organização já teve.-

Meu corpo esquentou ao ouvir aquelas palavras. Todos me olharam, Rafael me fuzilava com os olhos enquanto o Pk comia distraído o seu mísero pedaço de carne. Embora eu fizesse o mesmo de vez em quando, era repugnante para Pk naquelas condições.

-O que... Houve?- Guaxinim sussurrou fitando Dimitri.

-Elias jogou Elizabeth do penhasco...- Respondeu Dimitri.

-O penhasco?- Felps arregalou os olhos.

-Eu não a joguei.- Serrei os punhos.

-Cala a boca maldito.- Rafael berrou.

-Quietos..- Dimitri elevou o tom de voz a pondo de fazer todos nós nos calarmos.- Eu não tenho saco para isso.. Trate de trazê-la de volta seu merdinha.- O velhote me olhava fixamente com aqueles olhos azuis mortos.

Eu não sentia nada além de indignação e ódio fluir dentro de mim.

Era inexplicável o que eu sentia naquele momento.

-Você... irá atrás dela... Eu a quero de volta e... Com vida.- Um sorriso sarcástico.- Aquela garota é nossa chance de arrancar milhões de dólares de Draco Ulric... e além disso, sua morte.-

Engoli em seco. Apesar de todas as coisas, esse plano de Dimitri era loucura. Era doentio tentar aniquilar a maior facção da América usando a filha do ´chefão´ deles.

-Senhor..- A voz cansada surgiu do corredor. Os gêmeos babacas apareceram. Bacana.

-Desculpe o atraso...- Um deles disse. Sei lá. Eles eram iguais e eu não fazia questão de saber quem era quem.

Não sei que ideia imbecil foi essa de Dimitri trazer esses dois idiotas americanos para cá.

-Então..- Dimitri assentiu para os garotos e tornou a nos fitar. Os gêmeos pareciam não entender muito bem o que estava acontecendo.

-Eu a quero nesse salão, o mai rápido possível.- Dimitri bufou.

-Trouxa...- Rafael soltou uma risada baixa negando com a cabeça irônicamente, permanecia de braços cruzados.

-E você..- Dimitri bateu a ponta da bengala no chão.- Rafael... já que não anda fazendo nada de produtivo...-

-O quê? Ah pai... Não.- Rafael saltitou do surto.

-Pai?- Dimitri sorriu.- Sou seu pai apenas quando lhe convém não é mesmo moleque?-

-Ah..- Rafael berrou extravasando a indignação.

Respirei fundo e neguei lentamente com a cabeça.

Puta merda...

-Espero que lembrem... Temos um tratado assinado com os Malik..- Dimitri passeava os dedos calmamente pelo queixo.- Ao cruzar o perímetro do penhasco estarão quebrando esse tratado de anos... Todos aqui são cientes que se ultrapassarem o perímetro, poderão morrer nas mãos deles...- Os olhos azuis do velhote passeavam por todos nós.- Tragam Elizabeth para mim... E quando a trouxerem... Será posto o plano em prática.-

Todos estavam muito tensos, os gêmeos congelaram seus olharem em mim enquanto Rafael surtava.

-Ele faz merda e sobra pra mim?- Rafael berrou.- Ah... Qual é? Na moral Dimitri.- Rafael correu até ele.- Que ele morra sozinho naquela mata, eu não vou.-

-Calado.- Dimitri desferiu um tapa com a costa da mão no rosto de Rafael, fazendo-o cair no chão. Todos permaneciam calados olhando tudo.

Gargalhei por dentro... Esse babaca merecia isso e bem mais.

-Eu quero que vão... Agora...- Ele ergueu a mão gesticulando.- Darei uma pequena trégua... Podem trocar de roupa e... Pegar algumas armas.- Disse ele fitando Rafael.- Vocês tem meia hora para deixarem a Mansão..- Uma pequena pausa.- Quer saber... Não, Rafael.- Ele fitou o garoto que levantava com dificuldade, sangue escorria do seu lábio inferior partido ao meio.- Pegue apenas uma pistola... Vocês não merecem tudo isso.- Uma risada. Ele passou caminhando pelo salão, para trás das minhas costas.

Todos olhavam atentamente, Pk era o único que simplesmente cagava para a situação.

-Quero que saiam... Agora..- Dimitri suspirou.

Fitei Rafael, ele ainda não conseguia sair do lugar, mas se esforçou. Passou caminhando lentamente pelo meio do salão chocando o ombro com o meu.

Meu corpo esquentou e minha cabeça deu algumas pontadas. Eu ouvia algumas vozes aleatórias dentro da minha cabeça mas, indistinguíveis.

Me afastei um pouco do Pk, eu estava sinceramente sem rumo ainda. Respirei fundo e me virei.

Rafael passava de cabeça baixa do lado de Dimitri rumo ao corredor de saída.

A sensação que eu sentia a cada passo lento que eu dava atrás de Rafael, era indescritível... Era estranho. Embora eu não soubesse expressar as coisas, ou descrevê-las.. Posso dizer que era uma sensação estranha.

Respirei fundo e continuei caminhando.

-Uma coisa..- Ouvi a voz de Dimitri soar atrás das minhas costas. Me virei para ver o que o velho queria.

Quando senti o brusco impacto que me arremessou no chão liso do salão.

-Caralho..- Escutei alguém gritar.

A dor intensa me fez rasgar a garganta num grito profundo. Levei a mão esquerda ao braço direito. A dor era a mais intensa que já senti em toda a minha vida. Com a queda, acabei chocando o rosto contra o chão, espirrando sangue pra todo o lado.

Pela primeira vez que eu me lembre, lágrimas ferventes desciam minhas bochechas, fazendo meu corpo doer mais ainda do que já estava. A dor era tanta, que eu sentia o ar faltar em meus pulmões.

A gargalhada sarcástica de Dimitri despertava mais ainda o ódio dentro de mim.

-Meu braço...- Indaguei jogado no chão.- Eu não... Sinto o meu braço..- Solucei sem conseguir me mexer.

-Levante-se seu verme.- Senti as mãos de Dimitri me levantarem pelos ombros. Seu toque brusco na minha carne dolorida reagiu como fogo.

Fitei meu braço direito, eu podia ver o osso saltando do lugar por dentro debaixo da pele. Me firmei em pé com todo o esforço do mundo, eu não poderia bancar o fracassado, muito menos na frente do Rafael, que nesse momento ria da minha cara.

-Pare de choramingar..- Dimitri caminhava do meu lado.- Acharia mesmo que eu o deixaria ir sem sofrer as consequências?- Sua voz soou no meu ouvido esquerdo.

Eu não conseguia mover meu braço.

Com um impulso, o agarrei puxando-o contra meu peito. Engoli a vontade de gritar de dor mais uma vez.

Meu corpo suava por inteiro, o calor era intenso assim como pequenos choques na minha carne. Jamais imaginei que aguentaria tanta dor ao mesmo tempo.

Filho da puta...

Meu braço estava quebrado.

Eu estava fodido...

Bufei fitando-o.

-As coisas serão piores se não trouxer a vadiazinha de volta..- Ele sorriu.

-O q..- Engoli o nó na minha garganta.-O q.. Vai fazer?-

-Vou queimá-lo vivo..- Dimitri gargalhou se afastando.

Essas palavras me deixaram em choque.

Era uma união de coias dentro da minha cabeça, que eu não sabia o nome. Era uma mistura de coisas que me faziam me sentir mal, muito... Estranho... Sei lá.

Eu simplesmente não levo jeito para descrever essas coisas que sinto... Só não sei o nome, eu acho.

Maldito velho.

A ameaça não era a mesma para Rafael, Dimitri simplesmente o ignorou.

Droga Elizabeth...

Olhe só a merda que me meti... Por sua causa...

Queria não ter levado você para aquele penhasco...

Merda.

Mas...

Apesar de tudo.

Farei qualquer coisa...

Para encontrá-la com vida. Nem que seja apenas 1% de chance...

Nem que seja como procurar uma agulha em um palheiro... Mas eu vou, achar você.

Nem que eu pelo menos, morra tentando.

...

-Anda logo moleque..- Senti o empurrão nas minhas costas.

Dei passos atrapalhados para a frente, o simples empurrão que fez meu corpo todo gritar em dores.

Parei próximo de Rafael que me encarava com um sorriso sarcástico.

**

Rafael caminhava lento à minha frente no corredor, podíamos avistar a porta de saída para os fundos da Mansão. Dimitri havia nos dado meia hora para deixar o lugar, ainda tínhamos uns quinze minutos de saldo.

Respirei fundo, eu caminhava com dificuldade. Meu rosto parecia repuxar-se a cada minuto que passava, a dor era tão insuportável que já havia adormecido. Assim como meu braço, completamente intocável.

Dobrei em uma porta aberta no corredor, a cozinha.

-Nina..- Suspirei adentrando o lugar e procurando a garota.

-Oi Calango.- Nina estava de costas para mim mexendo em uma gaveta.- Olha eu fiz uns bol... Meu Deus.- Ela se virou de frente para mim soltando a bandeja de vidro no chão com vários bolinhos. Não sobrou nada mais que cacos de vidro e resto de bolinhos coloridos. Mordi a língua ao ver sua reação.- Calango..- Ela correu até mim.- O que houve com você? Meu Deus.- Ela segurou meu braço e me puxou.

-Ai Nina..- Me puxei bruscamente.- Cuidado.. Está quebrado..- Gemi. Ela levou as mãos à boca.

-Mas...- Podia sentir o desespero nos seus olhos cheios de lágrimas.

Ela correu pegando um pano.

-O que vai fazer?- Bufei.

Ela rasgou o pano branco em duas partes dando um nó uma na outra. Passou pelo meu pescoço e enfaixando o meu braço. A dor era intensa, mas eu aguentaria tudo... Calado.

-Ob... Obrigado..- A fitei com lágrimas nos olhos.

-Seu rosto..- Ela me olhou nos olhos.

-Não..- Segurei sua mão.- Não toque..- Mordi a língua. Segurei sua mão dando um leve beijo.- Obrigado Nina..- Sorri levemente.

-Você age como uma despedida..- Ela me encarava assustada.

Neguei com a cabeça lentamente.

-Nos vemos por aí..- Bufei girando sobre os calcanhares rumo à saída.- Desculpa pelos bolinhos.-

**

E lá estava nós.

Rafael guardava uma pistola dada por Alan na cintura.

E caminhamos...

Caminhamos pelo mesmo caminho que eu havia feito com Elizabeth...

Eu sentia uma coisa ruim a cada passo. Uma coisa vazia e inexplicável.

Rafael não havia soltado uma palavra.

Cruzamos o muro da Mansão. Precisei amassar meu braço contra o solo de barro para passar para o lado de fora.

Fome, dor, calor, coisas estranhas... Eu sentia tudo isso e muito mais.

Dores físicas não chegavam perto do que sentia por dentro...

**

Penhasco. Bosque Mágico

10:49

-Então... Foi aqui?- Rafael estava de pé à beira do penhasco com as mãos na cintura. A brisa fria e o céu tão vazio quando eu.- Aqui a foda perfeita Calango?- Rafael me fitou. Eu estava bem atrás dele.

Minha garganta ferveu ao ouvir suas provocações.

-Aqui morre nossa aliança com os índios canibais...- Sorriu falsamente.- Parabéns Calango.-

Mais uma provocação e eu voo no seu pescoço...

Eu juro...

-Vamos logo...- Franzi o cenho me irritando com tudo aquilo. Eu era destro, e o braço quebrado era justamente o direito... Isso já me causava uma pequena preocupação. Além disso, a dor infernal já adormecida, causava-me repulsa a cada momento que meus olhos viam o osso saltando dentro da minha pele, estava inchado e arroxeado.

-Belezinha..- Rafael esfregou as mãos uma na outra.

Caminhei manquejando até próximo dele. O vento forte fazia correr um frio leve pelo meu tórax despido.

-Que Lúcifer esteja do nosso lado.- Rafael agarrou o amuleto da TBS, desferindo um beijo no triângulo em um tom de reverência.

 

Encontre-me a tempo

ou morrerás tentando

...

 

 


Notas Finais


Esse foi sem dúvida o maior capítulo que fiz até agora...
tadinho do calanguinho ... ;-;
bjão.. até o próx. cap.


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