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História Chalé 13 - Interativa - Conhecendo Nathaly Harris


Escrita por: LawlietSan

Notas do Autor


Capitulo novo, espero que gostem.

Capítulo 6 - Conhecendo Nathaly Harris


Hora da confissão: descartei Grover assim que chegamos ao terminal rodoviário.

            Eu sei, eu sei. Foi rude. Mas Grover estava me deixando fora de mim, me olhando como se eu fosse um homem morto, murmurando: “Por que sempre tem de ser no sétimo ano?”.

            Sempre que Grover ficava nervoso, sua bexiga entrava em ação, portanto não fiquei surpreso quando, assim que descemos do ônibus, ele me fez prometer que eu esperaria e foi direto para o banheiro. Em vez de esperar, peguei minha mala, sai discretamente e fui tomar o primeiro táxi saindo do centro.

-Cento e quatro Leste com Primeira Avenida – disse ao motorista.

Uma palavra sobre minha mãe, antes que você a conheça.

            Seu nome é Nathaly Harris e ela é a melhor pessoa do mundo, o que apenas prova minha teoria de que as melhores pessoas são as mais azaradas. Os pais morreram em um desastre de avião quando ele estava com cinco anos, e então foi criada por um tio que não lhe dava muita bola. Queria ser escritora, assim passou o curso de ensino médio trabalhando e economizando dinheiro para pagar uma faculdade com um bom programa de oficinas literárias. Então o tio teve câncer e ela precisou abandonar a escola no último ano para cuidar dele. Depois que ele morreu, ela ficou sem dinheiro nenhum, sem família e sem diploma.

A única coisa boa que lhe aconteceu foi conhecer meu pai.

            Não tenho nenhuma lembrança dele, apenas essa espécie de sensação calorosa, talvez o mais leve resquício de seu sorriso. Minha mãe não gosta de falar sobre ele porque isso a deixa triste. Ela não tem fotografias.

            Veja bem, eles não eram casados. Ela me contou que ele era rico e influente, e o relacionamento deles era um segredo. Então um dia zarpou para vários países em algumas jornadas importante, e nunca mais voltou.

Perdido pelo mundo, minha mãe me contou. Não morto. Perdido pelo mundo.

            Ela vivia de trabalho esporádicos, estudava à noite para tirar o diploma de ensino médio e me criou sozinha. Nunca se queixava ou ficava zangada. Nem uma só vez. Mas eu sabia que não era uma criança fácil.

            Acabou se casando com Gabe Ugliano, que foi simpático nos primeiros trinta segundos em que o conhecemos e depois mostrou quem realmente era, um imbecil de marca maior. Quando eu era pequeno apelidei-o de Gabe cheiroso. Sinto muito, mas é a verdade. O cara fedia a pizza de alho embolorada enrolada num calção de ginástica.

            Em nosso pequeno apartamento, esperando que minha mãe já estivesse voltado do trabalho, em vez disso, Gabe Cheiroso estava na sala de estar, jogando pôquer com seus cupinchas. Na televisão, o canal de esportes estava no volume máximo. Havia batatinhas e latas de cerveja espalhadas pelo tapete.

Mal erguendo os olhos, ele disse com o cigarro na boca:

-Então você está em casa.

-Onde está minha mãe?

-Trabalhando – disse ele. – Você tem alguma grana?

E foi isso. Nada de Bem-vindo ao lar. Bom ver você. O que fez nos últimos meses?

            Gabe tinha engordado. Parecia uma morsa sem tromba com roupas de brechó. Tinha uns três fios de cabelo na cabeça, todos penteados por cima da careca, como se isso o deixasse bonito ou coisa assim.

            Era gerente do Hipermercado de Eletrônica do Queens, mas passava a maior parte do tempo em casa. Não sei por que ainda não tinha sido demitido. Ele só fica recebendo o pagamento, gastando o dinheiro em charutos que me dão náuseas e em cerveja, é claro sempre em cerveja. Toda vez que eu estava em casa ele esperava que eu lhe fornecesse fundo para jogar. Chamava isso de nosso “segredo de homem”. Isto é, se eu contasse para minha mãe, ele me quebrava a cara.

-Não tenho grana nenhuma – falei.

Ele ergueu uma sobrancelha oleosa.

            Gabe era capaz de farejar dinheiro como um cão de caça, o que era surpreendente, já que seu próprio cheiro deveria encobrir qualquer outro.

-Você pegou um táxi no terminal de ônibus – disse ele. – Provavelmente pagou com uma nota de vinte. Recebeu seis ou sete dólares de troco. Alguém esperava viver embaixo deste teto devia ser capaz de se sustentar. Estou certo, Eddie?

            Eddie, o síndico do prédio, olhou para mim com uma pontinha de solidariedade.

-Vamos, Gabe – disse ele. – O garoto acabou de chegar.

-Estou certo? – repetiu Gabe.

            Eddie fez uma careta para sua tigela de pretzels. Os outros dois caras soltaram juntos seus gases.

-Tudo bem – disse eu. Tirei um maço de dólares do bolso e joguei o dinheiro em cima da mesa. – Tomara que você perca.

-Seu boletim chegou, geninho! – gritou ele às minhas costas. – Eu não ficaria tão metido!

            Bati a porta do meu quarto que na verdade não era meu. Durante os meses de aula era a “sala de estudos” de Gabe. Ele não “estudava” coisa nenhuma lá, exceto revistas de automóveis, mas adorava socar as minhas coisas no armário, largar as botas enlameadas no peitoril da janela e fazer o possível para deixar o lugar com o cheiro de sua colônia detestável, charutos e cerveja choca.

Larguei a mala em cima da cama. Lar doce lar.

            O cheiro do Gabe era quase pior que os pesadelos da sra. Dodds ou o som da tesoura daquela velha enrugada cortando o fio de lã.

            Mas assim que pensei naquilo minhas pernas bambearam. Lembrei-me da expressão de pânico de Grover – de como me fizera prometer que não iria para casa sem ele. Um calafrio repentino me percorreu. Era como se alguém – alguma coisa – estivesse procurando por mim naquele momento, talvez subindo pesadamente a escada, com garras compridas e horrendas crescendo.

Então ouvi a voz de minha mãe.

-San?

Ela abriu a porta do quarto, e meus medos se foram.

            A simples entrada de minha mãe no quarto já consegue me fazer sentir bem. Seus olhos brilham e mudam de cor com a luz. O sorriso é quente como uma manta. Ela tem alguns poucos fios grisalhos misturados com os longos cabelos castanhos, mas nunca penso nela como uma pessoa velha. Quando me olha, é como se estivesse vendo todas as coisas boas em mim, nenhuma das ruins. Nunca a ouvi levantar a voz ou dizer uma palavra indelicada para ninguém, nem mesmo para mim ou Gabe.

-Ah, San. – Ela me abraçou apertado. – Eu não acredito. Você cresceu desde o natal!

            O uniforme vermelho, branco e azul, da Doce América, tinha o cheiro das melhores coisas do mundo: chocolate, alcaçuz e tudo o mais que ela vendia na doceria da Grande Estação Central. Tinha levado para mim um belo saco de “amostras grátis”, como sempre fazia quando eu ia para casa.

            Sentamos juntos na beirada da cama. Enquanto eu atacava os doces de mirtilo, ela passava a mão no meu cabelo e queria saber tudo o que eu não havia escrito nas cartas. Nada mencionou sobre o fato de eu ter sido expulso. Não parecia se importar com isso. Mas eu estava o.k? Seu menininho estava bem?

            Eu disse a ela que estava me sufocando, pedi que desse um tempo e tal, mas, secretamente, estava feliz demais em vê-la.

Do outro cômodo, Gabe berrou:

-Ei, Nathaly! Que tal um pouco de pasta de feijão, hein?

Eu rangi os dentes.

            Minha mãe é a mulher mais gentil do mundo. Devia ter se casado com um milionário, não com um imbecil como Gabe.

            Por ela, tentei parecer otimista em relação aos meus últimos dias na Academia Yancy. Disse-lhe que não estava muito chateado com a expulsão. Dessa vez, conseguira durar quase o ano inteiro. Eu havia feito novos amigos. Tinha me saído muito bem em latim. E, honestamente, as brigas não tinham sido tão ruins como dissera o diretor. Eu tinha gostado da Academia de Yancy. De verdade. Enfeitei tanto os acontecimentos do ano que quase convenci a mim mesmo. Comecei a ficar com a voz embargada só de pensar em Grover, Katherine e no sr. Brunner. Até Nancy Bobofit de repente não pareceu assim tão má.

Até aquela excursão no museu...

-O quê? – perguntou minha mãe. Seus olhos puxaram pela minha consciência, tentando arrancar os segredos. – Alguma coisa assustou você?

-Não, mamãe.

            Eu me senti mal por mentir, queria contar a ela sobre a sra. Dodds e as três velhas com o fio de lã, mas achei que aquilo parecia bobagem.

            Ela apertou os lábios. Sabia que eu estava escondendo alguma coisa, mas não quis pressionar.

-Tenho uma surpresa para você – disse ela. – Nós vamos à praia.

Meus olhos se arregalaram.

-Montauk?

-Três noites... no mesmo chalé.

-Quando?

Ela sorriu.

-Assim que eu me trocar.

            Mal pude acreditar. Minha mãe e eu não tínhamos ido a Montauk nos últimos dois verões porque Gabe dissera que não havia dinheiro suficiente.

Gabe apareceu no vão da porta e rosnou.

-Pasta de feijão, Nathaly. Você não ouviu?

            Tive vontade de dar-lhe um soco, mas meus olhos encontraram os da minha mãe e entendi que ela estava me oferecendo um acordo: ser gentil com Gabe só um pouquinho. Só até ela estar pronta para ir para Montauk. Então sairíamos dali.

Os olhos de Gabe se apertaram.

-A viagem? Você quer dizer que estava falando disso a sério?

-Eu sabia – murmurei. – ele não vai nos deixar ir.

-É claro que vai – disse minha mãe calmamente. – Seu padrasto só está preocupado com o dinheiro. É tudo. Além disso – acrescentou – Gabriel não terá de se conter com pasta de feijão. Vou fazer uma pasta de sete camadas suficiente para todo o fim de semana. Guacamole. Creme azedo. Serviço completo.

Gabe amaciou um pouco.

-Então esse dinheiro para a viagem... vai sair do seu orçamento para roupas, certo?

-Sim, meu bem – disse minha mãe.

-E você não vai com meu carro para lugar nenhum, só vai usar na ida e na volta.

-Seremos muito cuidadosos.

Gabe coçou seu queixo duplo.

-Talvez se você andar logo com essa pasta de sete camadas... E talvez se o garoto pedir desculpas por interromper meu jogo de pôquer...

            Talvez se eu chutar você no seu ponto sensível, pensei. E fizer você cantar com voz de soprano por uma semana.

            Mas os olhos da minha mãe me advertiram para não deixa-lo zangado.

            Por que ela aturava aquele cara? Eu quis gritar. Por que ela se importava com o que ele pensava?

-Desculpe – murmurei. – Sinto muito ter interrompido seu importantíssimo jogo de pôquer. Por favor, volte a ele agora mesmo.

            Os olhos de Gabe se estreitaram. O cérebro minúsculo provavelmente estava tentando detectar o sarcasmo na minha frase.

-Está bem, seja lá o que for – convenceu-se.

E voltou para o jogo.

-Obrigada, San – disse minha mãe. – depois que chegarmos a Montauk, vamos conversar mais sobre... o que quer que você tenha se esquecido de me contar, certo?

Por um momento, pensei ter visto ansiedade nos olhos dela – o mesmo medo que vira em Grover na viagem de ônibus – como se minha mãe também estivesse sentido um estranho calafrio no ar.

            Mas então o sorriso dela voltou e concluí que devia estar enganado. Ela despenteou meu cabelo e foi fazer a pasta de sete camadas para Gabe.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, e até a próxima amigos, meu intuito é postar uma capitulo por dia, espero que consiga.


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