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História Champagne Problems - Sollicitudo


Escrita por: thereddiamond

Notas do Autor


Olá, como vão? Espero que bem! Aqui está um novo capítulo e espero que gostem, agora definitivamente as coisas vão se desenrolar. Rs.
Sendo assim, antes de deixá-los seguir para a leitura, quero agradecer quem comentou e favoritou no capítulo passado, sinceramente não esperava uma resposta tão rápida assim e isso definitivamente me deixou animada a continuar com a estória! Por isso, beijos a todos. ^^
Muito obrigado e boa leitura!
;)

Capítulo 2 - Sollicitudo


Não foi nenhuma surpresa descobrir que a clínica, previsivelmente, tinha aquela movimentação silenciosa em seus corredores brancos, onde enfermeiros e médicos atarefados cruzavam caminhos, cumprimentando quem aparecesse a sua frente com extrema educação. O forte cheiro de produtos de limpeza reinava no ar frio e asséptico, provocando uma leve ardência em minhas narinas. Havia alguns pacientes perambulando no saguão com enfermeiros a sua cola, enquanto outros simplesmente pareciam fugir do confinamento de seus quartos. Na sala de espera encontrei familiares de pacientes, que ansiosos aguardavam notícias dos médicos, que com aparências exaustas e sorrisos desgastados davam-lhe atenção.

Para um lugar caro, até que tinha um fluxo de pacientes intenso. Pensei que não haveria tantas pessoas, mas realmente era algo de se espantar.

Eu e minha pequena comissão nos dirigimos ao elevador adaptado para comportar pesos absurdos, que tinha uma extensão maior que a dos elevadores comuns, do qual Taemin apertou apressadamente um comando no painel de controle. Quando as portas prateadas abriram caminho para o corredor do terceiro e último andar do prédio, senti meu coração explodir no peito. O nervosismo de uma vez por todas tomou conta da minha consciência, que criou milhares de situações possíveis para o que viria a seguir.

Sem querer formei uma imagem sólida da pessoa que tomaria a responsabilidade da minha reabilitação. Não sei por que, mas algo me dizia que quem me atenderia teria uma aparência madura, olhos gentis e um sorriso agradável. Talvez imaginar coisa do tipo, conseguisse convertê-lo em realidade. Eu realmente queria que a médica fosse uma pessoa simpática e fácil se relacionar, ou teria que me preocupar sobre como me manter firme, até o dia em que venham me buscar. Mais uma vez amaldiçoei Song-ah, por ser obrigado a me abandonar. Seria duplamente melhor dividir minha frustração com alguém que entendia a situação.

Minha cabeça se manteve por todo o caminho para o consultório, nos irritantes “e se”, como se isso pudesse facilitar a situação. Agir dessa maneira somente me deixava estressada ao ponto de não conseguir sorrir apropriadamente, as pessoas passavam pela gente e eu reagia como se tivesse com dor de barriga, abrindo um meio sorriso decrépito. Literalmente isso era vergonhoso. A mente falhava nos momentos em que mais precisava dele, o que me frustrava eternamente. Não custava nada ter um pouco de autocontrole como tinha nos palcos. Sorrir nunca me foi um real problema, atuar era uma função tão fácil e básica do meu corpo, que o fazia com facilidade. E, nesse exato instante, tudo isso pareceu desaparecer, como se estivesse retrocedendo a minha infância e mamãe está me obrigando a entrar no jardim de infância, enquanto morro de medo de largar a barra da sua saia.

- Chegamos! – A enfermeira exclamou com uma animação contida e pude perceber que tentou segurar o sorriso, para que não rasgasse seu rosto em dois. Tomei sua atitude como algo positivo.

Ela não poderia agir assim se a doutora fosse tão ruim. Ou poderia?

Meus olhos grudaram na plaquinha da porta, hostilizando aquele pedaço de metal fosco como se fosse um inimigo prestes a me atacar, onde encontrei o nome Jeon Jiyoon gravado em letras cursivas. O nome obviamente me fez questionar sua nacionalidade e lembrei que Song-ah havia dito que ela tinha sido transferida de Seoul. Acreditei que se tratasse de um estrangeiro que retornava a casa e não que saia de casa para o estrangeiro. Definitivamente aquilo era interessante, pude admitir a contragosto, engolindo em seco.

Com duas rápidas batidas a porta, Taemin pediu permissão para entrar, utilizando um tom de voz ameno e diferente do educado, superficialmente polido e profissional, que utilizava conosco. Uma voz rouca e abafada cresceu do outro lado da porta, em resposta, incentivando-nos a entrar.

Mostrando-me um sorriso espirituoso, a enfermeira abriu a porta e pediu desculpas por incomodar a médica tão subitamente. A tensão nos meus ombros pareceu triplicar quando tentei endurecer a postura para enfrentar o encontro da maneira apropriada e mais adulta possível. Lancei olhares inquietos na direção da mulher, tentando captar algum tipo de aviso em seu olhar. Mas tudo que encontrei em seu rosto foi um sentimento ameno e brincalhão. Ainda assim, parecendo ignorar meu apelo silencioso, Taemin se posicionou novamente a minha costas, tomando controle da cadeira de rodas, e me empurrou para dentro da sala.

Eu não estava preparada para o que poderia encontrar e nem tive tempo de fazê-lo. Quando meus olhos se focaram a frente, encontrei uma figura encurvada sobre alguns papéis, tão concentrada no trabalho, que tardiamente notou a entrada de seu paciente. Um par de orbes escuros, como pedras de obsidiana, se ergueu em minha direção repentinamente, deixando-me confusa e nervosa. Está certo, vou admitir que havia criado uma imagem muito diferente da pessoa que se encontrava a minha frente. Esperava que fosse alguém mais velho, que transmitisse um ar de superioridade, ou quem sabe uma senhorinha baixinha e simpática, que mais parecia com minha avó. Ou seja, exatamente o total oposto do que verdadeiramente encontrei.

Como se assumindo um personagem, a doutora se ergueu da cadeira e se dirigiu para frente da mesa, largando o trabalho para trás.

- Unnie, trouxe sua paciente das 13 horas. – Taemin tomou partido no silencio que quis dominar o consultório, chamando a atenção dos olhos dela. Os cantos de seus grossos lábios lentamente se ergueram num sorriso de agradecimento, tinha certo grau de timidez e culpa que suavizou o olhar intenso e carregado.

- Valeu Taemin... Estou te devendo uma! – Soltou uma risada sem graça, como se desculpasse seu descuido anterior. A maneira informal como as duas se dirigiram a outra, me deixou intimidada. – Como vão? – Ela se virou na minha direção e de Song-ah, que engoliu em seco por um motivo desconhecido. Sua reação foi tão perceptível, que atraiu a atenção dos meus olhos. Ele também havia se surpreendido, mas diferente de mim, parecia atraído por sua aparência. A médica realmente tinha uma beleza apreciável. – Eu sou a médica encarregada pela Senhorita Kim. Me chamo Jeon Jiyoon.

Apresentou-se com tanta formalidade, que cheguei a me perguntar se a informalidade anterior havia existido ou se foi coisa inventada pela minha mente. Ignorante dos meus pensamentos, ela abriu um genuíno sorriso afável, que causou um ardor estranho em minhas bochechas. Estava corando e ao menos tinha noção do motivo. Certamente era uma reação que não esperava sentir.

- É um prazer conhecê-la, doutora Jeon. – Song-ah tomou a frente na conversa, atraindo os olhos questionadores da mulher para si. Acompanhei seu olhar e percebi que meu empresário agia de maneira mais relaxada, como se uma áurea casual e relaxada, que a rondava, tivesse o alcançado. – Estou aliviado em saber que mais alguém consegue conversar com Hyuna... Ela não é muito boa com seu inglês! – Fez piada da minha lamentável situação, que provocou meu interior. Por pouco não seguro meu ímpeto de reclamar dele, dando-lhe um soco em seu braço.

As sobrancelhas da médica se arquearam em compreensão, os lábios avermelhados lentamente se esticando sobre os dentes brancos, ampliando ainda mais seu belo sorriso. Pegando-me com a guarda baixa, fazendo os músculos do meu abdome tencionarem. Rapidamente seus olhos escuros caíram sobre mim, antes de voltarem para ele, foi uma ação tão ligeira que meu cérebro por pouco não notou.

- Bom, com isso ela não precisa se preocupar. – Respondeu num tom ameno, evitando que o sorriso alcançasse a voz, contendo-se a nossa frente para manter o profissionalismo. – Posso viver aqui, mas nasci e fui criada em Seoul minha vida inteira... – Dessa vez se virou para me encarar. – Como foi a viajem até aqui, senhorita Kim? Espero que tenha sido tranquila.

- Hyuna, prefiro que me chamem de Hyuna. – Por puro reflexo a corrigi, evitando que usasse tamanha formalidade. Era preferível manter esse tipo de proximidade que melhorava o clima entre estranhos, porém, sem motivo aparente, agir assim me deixou envergonhada. E para contornar tal situação, voltei ao foco principal da conversa. – A viagem foi maravilhosa... O país é assombrosamente lindo.

- Fico feliz em ouvir isso. – Comentou com sinceridade fazendo os olhos cintilarem e, parecendo não notar minha reação anterior, continuou a falar. – Sinto muito por tê-los recebido assim... – Apontou para a mesa bagunçada atrás dela. – Mas meio que acumulei trabalho. Com o término das olimpíadas, muitos atletas contundidos apareceram para tratamento, o que me sobrecarregou, me deixando sem tempo de recebê-los da maneira certa. Sinto muito!

Curvou-se num pedido de desculpas e ao retornar a postura normal, tinha um sorriso no rosto, do qual os olhos sorriram em conjunto, deixando-a absurdamente linda. Outra reação inesperada dominou meu corpo. Meu coração bateu acelerado no peito contra minha vontade. Quase que bruscamente desviei meu olhar, evitando que notasse minha reação estranha.

Droga, ela tinha que ser simpática e fofa? Senti uma imensa vontade de sorrir com ela, mas simplesmente não conseguia, porque meus lábios se recusassem a seguir os seus.

Song-ah, totalmente imerso da minha reação à doutora, tomou a dianteira da conversa e começou a questioná-la sobre os procedimentos do tratamento. Educadamente, trazendo a tona todo seu profissionalismo, ela pediu que se sentasse numa cadeira em frente à mesa bagunçada, da qual imediatamente tratou de limpá-la, transferindo vários papéis e pastas para um armário às costas. Taemin, que todo esse tempo tinha ficado em silencio, observando a nossa interação, me empurrou até ficar próxima a mesa. Piscou um olho para mim, como se satisfeita em ter provocado tal reação em mim com o encontro e pediu licença para se retirar, havia trabalho para fazer.

- Então, - Jiyoon iniciou a conversa assim que viu a porta da sala se fechar, fazendo o silencio imperar sobre o recinto. O leve chiar do ar-condicionado podia ser escutado sob nossas cabeças, dando a impressão de que aquele som era o único que escutava quando ficava sozinha. O quarto branco, de móveis sóbrios e impessoais me transmitia uma sensação inquietante. Parecia uma profissão solitária no final das contas. Meus olhos caíram sobre sua figura e embora a pequena boca sorrisse, os olhos continham uma rigidez que me perturbava. Era o olhar de quem guardava segredos. – Ontem à tarde recebi os laudos do doutor Jin e só posso dizer que seu trabalho foi sensacional. Como está o seu pé, Srta. Hyuna?

Mais uma vez nossos olhares se cruzaram, intimidando-me a respondê-la. Notei que me avaliava silenciosamente, parecendo desejar conhecer-me, enquanto, ao mesmo tempo, tentava manter uma distância segura.

- Está bem, eu acho. – Respondi automaticamente, imersa no mistério em seu olhar.

- Ele dói quando se movimenta? – Questionou com impessoalidade e profissionalismo, quebrando o contato visual para fazer anotações num bloco de notas, que parecia sempre estar em sua mesa. Meus olhos baixaram para suas mãos, parando para observar os dedos esguios se movimentarem rapidamente, movendo a caneta contra o papel. Inexplicavelmente tal movimento era hipnotizante, e me senti enervada porque seus olhos não se encontravam mais com os meus.

- Não. – Novamente a respondi sem tomar real ciência do que fazia, tentando ser sincera, enquanto o meu cérebro trabalhava em analisa-la.

- Isso é um ótimo sinal... – Murmurou para si, mas alto o suficiente para que escutássemos. – Faz duas semanas que seu pé está engessado. Acredito que hoje mesmo podemos removê-lo e iniciar os tratamentos. – Ergueu os olhos e pude ver sua hesitação. – Mas a senhorita deve estar extremamente cansada da viagem e louca por um descanso, estou certa?

- Absolutamente certa! – Concordei exageradamente, fazendo-a rir da minha reação. Sua risada foi inesperada e ao invés de provocar constrangimento, um estranho formigamento tomou conta da boca do meu estômago.

Song-ah me lançou um olhar repreensivo, mostrando-se envergonhado com minha reação sincera. Ele também desejava descansar e aproveitar o jatleg, porém sua educação não permitia que fosse tão aberto como fui. Poderia ser considerado um ato egoísta e rude da minha parte. Não dando bola para sua reação, retruquei seu olhar com firmeza.

- Vamos adiar o nosso próximo encontro para amanhã. – Ela se levantou da cadeira e se aproximou enfiando as mãos dentro do bolso do jaleco, definitivamente chamando a atenção para si. – Podemos nos encontrar nesse mesmo horário ou mais cedo, se preferir.

Encostou o quadril na borda da mesa, lançando seu olhar diretamente em mim, obviamente mostrando que cabia a mim tomar aquela decisão.

- Esse horário está ótimo... – Respondi com confiança, sabendo que quando meu corpo ficava terrivelmente exausto após uma viajem, necessitando de descanso por tempo prolongado, antes de iniciar as atividades com certa decência. E agora que havia ficado parada por mais de um mês, sinto meu corpo mais preguiçoso que nunca. – Obrigada por nos receber, doutora.

Em troca de sua gentileza, abro mão da casualidade, arrancando um meio sorriso, que voltou a agitar meu estômago. Seu rosto arredondado ficou mais suave e reluzente, mostrando que minha reação lhe agradava.

- Pode me chamar de Jiyoon... Essa formalidade me faz sentir mais velha do que realmente sou. – Resmungou humoradamente abrindo uma expressão desconfortável. Seu pedido me enviou uma onda de alívio, que diminuiu a tensão em meus ombros, permitindo que minha postura ficasse mais relaxada e um sorriso de sincero agradecimento crescesse em meu rosto. Para minha surpresa, isso pareceu pegá-la desprevenida, pois seus olhos se arregalaram por curtos instantes antes de retornar a normalidade. – Taemin mostrou as instalações para vocês?

Questionou com uma brusca mudança de assunto, deixando-me meio perdida com sua atitude, mas logo retornei ao momento e respondi afirmativamente.

- Estávamos fazendo isso antes de vir pra aqui.

- Fico feliz em saber que ela anda fazendo bem seu trabalho. – Brincou com a enfermeira, que infelizmente não estava aqui para retrucá-la. Aparentemente as duas tinham uma amizade que se estendia ao ambiente de trabalho. – Vou escolta-los até a saída... Não quero que se percam no meio do caminho, já que Taemin está ocupada no momento.

- Hã, não precisa doutora. Posso conduzi-la sem problemas... – Song-ah tentou recusar sua ajuda, que logo foi refutado.

- Preciso respirar um pouco de ar fresco... – Resmungou com humor, que fazia seus lábios se esticarem num sorriso desengonçado e tímido, mexendo os ombros para aliviar a tensão de suas costas.

E assim ela nos acompanhou para fora do seu consultório, havendo interlocuções que giravam em torno de questões básicas. Aos poucos descobri pequenos detalhes de trabalho e também de sua vida privada.  

Enquanto a escutava falar sobre as vantagens de trabalhar em St. Cecília, minha mente logo tratou de analisá-la fisicamente. Jiyoon definitivamente não era como imaginei. Tinha uma estatura razoável e, se eu não estivesse presa a essa cadeira, poderia analisar melhor esse quesito, pois qualquer um é mais alto que eu nesse momento. Pelas poucas formas que o jaleco permitia mostrar, tomei proporção da sua magreza, que era atlética. A médica cuidava do corpo, nada de novo até ai. Seu visual era outra coisa que me intrigava, embora usasse calças jeans – que eram justas nas pernas torneadas – e botas de salto, dando-lhe um ar despojado, o suéter de lã vermelho dava um toque requintado e mais amadurecido, o que contrastava com a aparência jovial. Praticamente não havia maquiagem em seu rosto. Um traço firme e fino de delineador contornava seus olhos, acentuando ainda mais a curva deles.

Não tinha como defini-la naquele instante e dentro daquele ambiente, era praticamente impossível, pois tudo que encontrei foi um tipo de maquiagem. Como se usasse uma máscara. Para mim, Jeon Jiyoon era significativamente gentil e simpática, podendo sorrir com facilidade, sabendo como mudar o ambiente ao seu redor, moldando-o com suas palavras inteligentes. De vez em quando me encontrava hipnotizada pela forma como seus lábios se moviam ou em como os olhos tomavam um brilho diferente, quando o assunto se enveredava sobre coisas que tínhamos em comum. Eram nesses momentos que encontrava a verdadeira parte de seu ser. Aliás, preciso comentar que ela me reconhecia. Quer dizer, sabia do meu trabalho e tinha tido curiosidade o suficiente para dar uma olhada nas minhas músicas. Receber um elogio seu me deixou terrivelmente encabulada, fazendo-me agradecê-la com o rosto virado para qualquer outro lugar, porque ficou difícil encará-la diretamente nos olhos. Sua atitude poderia ser de pura simpatia para conquistar mais um cliente, mas havia sinceridade que me fez acreditar nela.

Assim que conseguimos alcançar o lado de fora, somos recebidos pelo clima ameno, que contrastava com a temperatura da clínica a nossas costas. Tinha uma leve brisa que agitou nossos cabelos, trazendo mais fragrâncias florais dos campos e jardins próximos, quando senti um aroma diferente, que atraiu minha atenção por completo. O perfume de alguém sobrepôs ao das flores por breves segundos, antes de desaparecer junto com o vento. Voltei minha cabeça para o lado, a procura da fonte daquele cheiro, e encontrei a doutora que olhava o céu ensolarado. Ela parecia absurdamente aliviada e alegre por sair daquele ar confinado de seu consultório, chegando a virar a face para cima, recebendo os raios de sol sobre o rosto com evidente prazer.

Seu perfume tinha nuances que, definitivamente, não consegui assemelha-los de imediato, deixando-me curiosa para descobrir do que se tratava. Seriam cravos ou jasmins?

- Acredito que aqui está de bom tamanho, doutora! – Exclamou Song-ah, com uma confiança recém-alcançada pela médica, que desceu o olhar em sua direção, parecendo momentaneamente confusa com sua frase. – Eu e a Hyuna seguiremos em frente, você pode ir aonde quiser... Não iremos mais incomodá-la.

- Ah. – Ela soprou inconscientemente e logo tratou de camuflar sua decepção, que diminuiu o brilho de seus olhos, com um leve sorriso. – Então nos encontramos amanhã. Tenham um bom descanso e Srta. Hyuna – Voltou a encarar-me com humor aquecendo suas feições. – prometo que farei o possível para curá-la o mais rápido. Assim você poderá retornar ao trabalho e fazer o que mais gosta.

Promessas... Nunca foram, em minha opinião, algo que valorizei em minha vida. A única certeza que tinha sobre elas, era de que foram feitas para serem quebradas. Portanto, leva-las a sério era simplesmente incomodo, fazendo-me evita-las, como se estivesse jogando-as ao vento para que ninguém pudesse me machucar por causa de uma coisa tão insignificante, que não possuíam qualquer valor. Contudo, Jiyoon transmitiu um sentimento totalmente novo, transbordando tanta confiança em suas palavras, que praticamente as tomei como lei.

Ela não mentia e nem dizia aquelas palavras por gentileza ou educação. Estava quase que fazendo um voto, tomando uma confissão, de que faria tudo ao seu alcance para me recuperar o mais rápido possível. Meus olhos significativamente não largaram os seus e ainda, que dentro de mim, houvesse ceticismo instintivo, que por pouco me fez ignorar suas palavras, segurei-me aquele pequeno gesto como um bote salva-vidas. O calor de seus orbes escuros somente exigia de mim um voto de confiança, pedindo mentalmente que confiasse naquelas singelas palavras.

Um calor diferente e brando se espalhou em meu corpo, do qual imediatamente relacionei ao seu olhar, que me constrangeu ao ponto, de mais uma vez, para que o evitasse.

- Obrigada. – Agradeci ao apoio que transmitiu a mim anteriormente, focando o olhar para um ponto distante atrás de sua cabeça.

Sem falar nada, ela inclinou levemente à cabeça, fazendo com que as mechas de seu cabelo escuro e curto caíssem no rosto, agitando a franja que cobria a testa.

A parte disso tudo, satisfeito com a promessa feita por Jiyoon, Song-ah também demonstrou sua gratidão, sorrindo-lhe timidamente e se despediu antes de voltar a empurrar a cadeira de rodas, levando-nos para longe da clínica.

Olhei por cima do ombro e encontrei a doutora, ainda parada na entrada da clínica, que, ao notar meu olhar, abriu um sorriso que mesclava timidez e delicadeza, e acenou para mim, despedindo-se. Retornei o seu gesto quase que mecanicamente, estava um pouco confusa com essa nova aparência. Quantos tipos de Jiyoon existiam dentro daquela mulher? Será que não era o suficiente ser bonita e educada, também tinha que ser delicada e elegante?

Definitivamente, a doutora era a criatura mais estranha e diferente que havia me deparado em toda minha vida, e olhe que já me deparei com muita coisa.

Voltei a olhar para frente e pude jogar minhas costas contra a cadeira, soltando um suspiro pesado, que chamou a atenção de Song-ah. Seu olhar me questionou curiosamente, porém neguei-lhe qualquer tipo de explicação, pois não havia nada a dizer. Estava sem palavras e tudo tinha transcorrido terrivelmente bem. Minha tensão inicial parecia até bobagem, comparado a agora.

Algo me dizia que não seria difícil me aproximar da doutora Jeon. Existia um tipo de campo magnético, que projetava segurança ao seu redor, tornando-a cativante a qualquer olhar curioso. Pelo pouco da conversa que havia prestado atenção, sabia que tinha entrado na universidade de medicina muito jovem, aos 17 anos. Não era de se espantar que tinha a inteligência acima da média, pois o dialeto rebuscado que usava me fazia sentir fascinada, desejando escutá-la falar mais vezes. E tomar contar disso, me fez desejar que Taemin retomasse o seu posto para cuidar de mim, para que pudesse questioná-la sobre o tipo de pessoa com quem estava me relacionando.

O olhar equilibrado e indecifrável de Jiyoon, em certos pontos, me deixou inquieta e ansiosa. Aqueles poucos minutos que tivemos de interação e conversa jogada fora, fez crescer a vontade de conhecê-la profundamente, já que arranhar a superfície do seu ser era insatisfatório.

Song-ah deslizou eficientemente a cadeira para dentro da minha cabana, aparecendo a minha frente, meio deslocado, sem saber o que fazer, andando inquietamente de um lado para o outro. Seu olhar caiu duas vezes sobre mim, antes de falar o que tinha em mente.

- A doutora Jeon é bem simpática, não é? – Comentou com um sorriso embaraçado crescendo no rosto. As maças de seu rosto estavam tomando uma tonalidade avermelhada, indicando que seus pensamentos eram mais que constrangedores.

- Sim, ela é. – Respondi quase que secamente, intrigando-o momentaneamente.

- Então – ele ignorou minha ríspida reação, que por sinal também chocou a mim, e mudou de assunto. – o que achou daqui até agora?

Eu havia achado várias coisas, o lugar era incrivelmente bonito, cheio de charmes e atrativos, ao mesmo tempo em que certas pessoas aguçaram meus sentidos, fazendo-me agir de maneira opostas a normalidade. Contudo não precisava dizer isso tudo a ele, sendo assim respondi de maneira pragmática, com um sorriso no rosto.

- Que o lugar é ótimo... Pena que você não vai poder ficar. – Meu sorriso cresceu de maneira maliciosa, ao ver que seu rosto murchou em decepção. – Tenho certeza que a doutora adoraria conversar com você novamente.

- Você acha? – Isso pareceu animá-lo, chegando ao ponto de mexer no cabelo, como se concertando a aparência conseguiria a feição da médica.

- Não mesmo. – O sorriso cresceu de vez, quando minha resposta negativa desmontou sua postura, o que me fez gargalhar da sua cara inconformada.

- Engraçadinha... – Resmungou sem graça e dei de ombros para mudar atmosfera, evitando que ficasse com raiva. Song-ah olhou mais uma vez o quarto e suspirou, colocando as mãos na cintura, parando para pensar. – Preciso ir. Tenho que fazer checking in no hotel que reservei e descansar antes de pegar o avião de madrugada. – Lançou um olhar temeroso na minha direção. – Você vai ficar bem?

Boa pergunta. Eu ficaria bem sozinha, sem ninguém para auxiliar e me acompanhar durante o tratamento?

Pensar isso, nesse momento, me faz ter noção que sim, poderia ficar aqui sem causar prejuízo a ninguém e que, em meses, vou poder ter tempo para ficar a sós. Ainda por cima num lugar paradisíaco e recluso nas montanhas, se tornando um inesperado bônus. Quem sabe isso não ajudaria minha criatividade? Compor músicas sempre foi um maravilhoso hobbie do qual mantive por anos, mas que, de uns tempos para cá, se tornou uma tarefa quase que tediosa e rotineira, me fazendo perder alguns decréscimos de criatividade. Minhas canções praticamente não tinham melodia e as rimas perdiam foco durante o refrão, frustrando-me a cada tentativa de corrigi-lo. Talvez esse retiro pudesse mudar esse cenário. Pelo menos é o que espero.

Portanto, retornando para o quarto, sorri para meu empresário e acenei com a cabeça.

- Vou ficar perfeitamente bem.

Song-ah abriu seu sorriso mais aliviado e veio me abraçar, despedindo-se de mim, fazendo promessas de que voltaria em breve e quem sabe com boas notícias ou novidades de casa. Dei-lhe um breve “tchau”, alertando que não se esquecesse de mim ali e o observei sair do quarto.

Finalmente sozinha e para minha surpresa, a sensação angustiante de solidão havia praticamente desaparecido, como se minha mente jamais houvesse cogitado sentir-se assim. Girei as rodas da cadeira, que deslizou suavemente apenas com aquele toque e me aproximei da janela. Afastei as cortinas brancas, que tinha detalhes rendados dando-lhe um toque delicado e observei a campina. Meu pé preso no gesso pesado se agitou. Só de lembrar que o tiraria amanhã me deixava incrivelmente excitada. Sem aquele incômodo extra, com certeza poderei andar pelo lugar, sem necessitar de alguém para me acompanhar. Montar um piquenique na campina não era uma péssima ideia... Poderia pedir tudo que precisasse no restaurante e roubar um cobertor do armário do quarto. Convidaria Taemin para se juntar a mim, seria bom ter alguém para também aproveitar o dia e renovar os poros com vitamina “d”. O clima permaneceria estável amanhã?

Será que a doutora Jeon também aceitaria o convite ou seria demais?

A questão diminuiu alguns degraus a minha excitação, deixando-me repentinamente cautelosa. Com certeza seria legal ter a companhia dela e eu, sem hesitação, queria que se juntasse a mim para acompanhar-me num agradável dia quente e tranquilo. Talvez isso dissipasse a tensão que sempre parece encurvar seus ombros. Ah, isso não importa agora. Amanhã poderia lhe propor tal atividade e ficando ao seu encargo aceitar ou não. Não deveria me estressar e nem importuná-la caso recusasse, embora tenha a sensação de que seria capaz de convencê-la. Seria divertido fazer isso. Então, seria melhor que declinasse a oferta, assim dificultaria as coisas para mim...

Acabei rindo sozinha ao perceber que, de maneiras confusas, queria mais do que nunca a companhia de uma desconhecida. Apoiei a cabeça em minha mão, sem conseguir definir que tipos de desejos são esses. Desde criança gostei de conhecer pessoas, não importa a idade ou gênero, se gostasse dela me aproximaria e iniciaria uma conversa. Se ela permitisse poderia descobrir tudo de sua vida. Claramente era uma maneira extremamente invasiva de fazer amigos, mas até agora ninguém reclamou disso, então esse vem sendo meu estilo. Entretanto, com Jiyoon seria diferente, sinto que, por mais que tenha sido gentil e comunicativa, tinha algo que a tornava distante. E não estava me referindo ao fato dela ser uma completa estranha.

Não sei do que se trata, mas havia um tipo de sentimento que queria dominar sua cabeça, fazendo com que erguesse um tipo de parede invisível para separar as pessoas de si. Ela tinha uma imagem forte e isso poderia intimidar as pessoas, que sem problemas a respeitariam e se manteriam afastadas de seus pensamentos. Porém, comigo isso não funcionava por completo. Digamos que tinha o efeito oposto. E que, por mais respeitasse sua liberdade, não conseguia evitar querer me intrometer em sua vida e descobrir o que a tanto preocupava.

- Ah, o que é que estou pensando... – Murmurei para mim.

Percebendo o enveredar esquisito que meus pensamentos estavam tomando, ergui a cabeça e respirei fundo, procurando outro assunto para poder me distrair. No final das contas, aceitei que estava cansada e que dormir seria uma adorável ideia.

Assim sendo, girei cadeira e me transferi para a cama. Os cheirosos lençóis e a maciez do colchão foram irresistíveis, abraçando o meu corpo cansado, que imediatamente amoleceu sobre ele. Esforcei-me um pouco antes de fechar os olhos e me inclinei sobre o corpo para tirar meu tênis. O joguei perto da mala ainda montada, paralisada onde havia deixado antes de sair e voltei a jogar minha cabeça contra o fofo travesseiro.

Fechei os olhos e permiti que meus pensamentos vagassem. Em pouco tempo estava adormecida, sendo envolta num sono sem sonhos.


Notas Finais


Comentários? Até a próxima! ^^


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