História Chances - Begin again

Eu parei em frente a porta e senti meu estômago revirar pela primeira vez naquela tarde,  mordi meus lábios vermelhos graças ao batom que havia decidido usar pela segunda ou talvez terceira vez na vida, mesmo que todos da minha idade já tivesse ido em alguma balada, era minha primeira vez, não me leve a mal, eu só nunca tinha sentido vontade, pelo menos  não até duas semanas atrás, quando decidi comprar o ingresso para essa aqui.
 Todas elas estavam com a identidade falsa na mão, então eu fiz o mesmo, e embora todos os seguranças ali fossem como armários ambulantes, nenhum deles pareceu ligar para o fato de que quase ninguém na fila imensa de pessoas que se formava era maior de idade, então passamos com uma facilidade impressionante , e eu pude ouvir a música alta pela primeira vez naquele dia, acreditem quando digo que não seria a ultima.
 Meu celular vibrava insistindo que eu desse uma olhada em algumas mensagens que chegavam de uma amiga minha que sinceramente não converso faz tempo, e estas infelizes mensagens me fizeram olhar para o fim da fila, onde vi alguém que eu definitivamente não queria ver, droga. Bom , parte do que a minha pessoa pretende contar aqui não importa, nem um pouquinho, até porque eu não me lembro de muito, mas parece o único modo de manter as memórias vivas, pelo menos dentro de mim mesma.
 A noite pode se resumir em flashbacks.
- Cade ele?- perguntei pela milésima vez enquanto me aproximava de mais um grupo de conhecidos, por que ninguém parecia estar me levando a sério?
- Eu o trai! Eu sei o que fiz- Gritei enquanto me seguravam, por algum motivo, não queriam que eu saísse do lugar.
- Não Clary, você não fez nada de mais, acredite em mim, nada que você fez pode ser considerado errado, então fique de consciência limpa.
-CLARY, ELE É FEIO, ME ESCUTA, EU VOU TE AJUDAR- Falou enquanto segurava minha cabeça com ambas  as mãos 
 Seu beijo era diferente, igualmente prazeroso mas, bem diferente, será que eu deveria realmente ter beijado os dois?
 Fui ao banheiro muitas vezes, por que minha maquiagem não estava mais no meu rosto? A mesma cabine em que vomitei duas ou três vezes estava ocupada, de novo.
Foi tudo um borrão, e no final, não sei se foi certo ou errado, mas sei que eu não me arrependo, nem um pouquinho.

Como qualquer boa, ou má história, para que tudo possa ser entendido, preciso voltar um ano antes dessa festa, quando minha vida deixou de ser tão chata, espero que eu lembre de citar tudo, que por um acaso começa em outra festa, a festa de dezesseis anos da minha melhor amiga. 

31 de Julho de 2015

- Tudo está bem, vai ficar tudo bem, é so agir como se tudo estivesse normal- repeti enquanto andava pelo salão com uma de minhas amigas, Ronnie.
-Mas e se ela descobrir?- insistiu inquieta mais uma vez e eu revirei os olhos- trabalhamos nisso faz tempo, muito tempo para que tudo seja arruinado agora.
- Eu sei, e é por isso que vai dar certo, Rosie não suspeita de nada.
 Uma festa de aniversário para a minha melhor amiga Rosie, uma festa grande de dezesseis anos onde todos se vestem de forma elegante,a comida é boa, assim como a música e as bebidas, uma pena que eu não bebo, embora todos da minha idade já tenham virado pelo menos um ou dois copos. Bom, fora todos os vários convidados da festa que foi planejada pelos pais dela, nós reunimos dezesseis amigos e dezesseis  amigas, e nós vamos surpreende-la, quando ela entrar no salão para a cerimônia, vamos estar lá, com os vestidos trocados e junto de nossos pares, algo que ela com certeza não esperava. 
-Gente, precisamos ir, a Rosie foi trocar de vestido e isso significa que nós devemos fazer o mesmo- Emma disse enquanto puxava meu braço com força, e eu quase tropecei, ainda não estava totalmente acostumada a andar de salto alto.
     As garotas foram separadas dos garotos para um lugar em cima do salão onde nós nos trocamos, para ficarmos todas com o mesmo vestido, que aliás era de muito bom gosto, curto, mais ou menos no fim da coxa, cinza, tomara que caia, e com alguns brilhos, a saia era rodada e sinceramente lembrava a de uma princesa, eu estava me sentindo bonita, depois de muito tempo sem que eu tivesse o prazer de me sentir desse jeito.
- Muito bem, todo mundo silêncio, eu vou citar a lista nas minhas mãos, que diz quem vai ser par de quem- Outra de minhas amigas ,Tris, alertou, e todas ficaram quietas para ouvir, eu já sabia o meu, e estava particularmente feliz com ele, Owen, um ano mais velho, mas que fazia a mesma aula de orientação profissional que eu, sinceramente, não falo com ele, mas as pessoas falam, e dele falam muito bem, parece o tipo de pessoa que te intriga sabe? Que no minuto que você conhece, ve algo de especial na pessoa no mesmo segundo.

 Depois que todas ouviram o nome de seus pares subimos mais um pouco para um outro salão, em cima do salão onde a festa estava acontecendo, onde encontramos os garotos, não havíamos ensaiado uma vez se quer, e as chances de alguém cair no meio da dança eram grande, e eu aposto que serei eu por vários motivos, entre eles o nervosismo e o fato de que eu nunca dancei com alguém antes. Todos os garotos foram achar seus pares, e eu vi Owen perguntar para alguém algo, provavelmente quem eu era, sei quem ele é, mas provavelmente o contrario não acontece, então esperei sua aproximação, que aconteceu depois de segundos.
  - Clary, não é?- perguntou e eu afirmei timidamente com a cabeça.
-Você é a mais bonita delas- pude ouvi-lo sussurrar e um sorriso saiu de meus lábios, não sou tímida, nunca fui, mas em relação a Owen, devo admitir que não sei bem o que falar, pela primeira vez, estou sem palavras, eu sempre sei o que falar, sempre puxo assunto, e sempre sou a brincalhona, mas não dessa vez. Estávamos em fila  indiana, todos os casais, e um homem parou na nossa frente vestindo um terno, possuía uma postura engraçada e segurava um microfone, provavelmente é quem vai nos ajudar no primeiro e único ensaio dessa dança.
- Bom gente, escutem, é assim que vai funcionar- Pude observa-lo dar pulinhos de alegria, parecia estar realmente bem animado- Enquanto eu chamo o nome dos casais lá em baixo, vocês vão entrando no salão, e cada casal vai alternar entre esquerda e direita, ou seja, se o anterior foi para o lado esquerdo, o seguinte vai para o direito. Quando vocês entrarem, o garoto vai estar segurando uma rosa, ele vai beijar a bochecha da menina e entregar a rosa a ela, e é ai que vocês começam a andar em direção a pista e viram cada um pro seu lado.
- Na bochecha, não pode ser na boca?- ouvi Owen perguntar baixinho enquanto sorria, e eu ri, era a primeira vez que ouvia isso em relação a mim, senti um pequeno sentimento de felicidade crescer dentro do meu estômago.
-Depois, a Rosie vai entrar, e o príncipe vai pegar todas as rosas, para formar um buquê, e quando ela estiver dançando com ele, vocês vão fazer o mesmo, então espero que todos aqui saibam dançar valsa.
 O príncipe que Rosie havia escolhido era o melhor amigo que ela tinha, seu nome era Raphael, e ele era meu amigo também, palavras não podem descrever como ele parece nervoso, chega a ser engraçado.
- Ei, vocês não precisam mais ficar de mãos dadas.- O casal atrás de nós avisou.
 Sim , claro, ao entrarmos e durante todo o processo eu e ele vamos estar de mãos dadas, assim como todos os outros.
- Me deixa- Owen riu enquanto olhava para trás- são poucas as vezes que eu tenho a chance de segurar a mão de uma menina bonita.
Olhei novamente para baixo e senti meu rosto queimar, droga, por que eu tinha que sentir tanta vergonha perto dele afinal? 
 Recebemos a rosa e fomos liberados para treinar a dança, sem passos específicos nem nada de mais, e eu agradeci a tudo de mais sagrado por isso.
 Owen fez algumas piadas que eu não tive a coragem de responder, então apenas ri, mas sabia que eu tinha que falar algo mais cedo ou mais tarde.
- Eu não sei dançar valsa- o encarei, e o garoto sorriu novamente, me encanta como ele parece tão diferente das outras pessoas.
 A primeira coisa que eu costumo reparar em alguém  são os olhos, a luz não favorecia muito, então não consegui ver como os olhos dele são, mas Owen é alto, maior que eu, e olha que meu salto era relativamente grande, seus ombros eram largos e sua postura era meio desajeitada, mas seu corpo parecia definido, seus cabelos eram pretos e lisos, e estavam relativamente grandes, prontos para um corte.
- Quer aprender agora?- perguntou com aquele sorriso que já estava me fazendo ficar acostumada, de um jeito bom, é claro- sua mão esquerda vai no meu ombro, e a direita eu seguro, enquanto minha outra mão deve ficar na sua cintura.
E assim o fez, e no segundo que estávamos nessa posição, eu olhei para o chão, para o conforto dos nossos pés.
- Não, não olha pro chão, olha pra mim, olha nos meus olhos- sugeriu enquanto ria, e eu o obedeci, e pude observar o leve esverdeado em seu olhar.- Deixa eu te guiar.
Bom, Owen me guiou , e com ele parecia muito mais fácil do que nos filmes, e eu não pisei no pé e nem tropecei, então acho que deve ser uma vitória, não é mesmo? minha primeira tentativa de valsa foi bem sucedida.
Quando paramos vimos que éramos o único casal ali realmente ensaiando, talvez porque os outros já saibam dançar, muito bem Clary, ponto para sua enorme burrice em nunca ter aprendido valsa na vida.
 Ensaiamos mais duas vezes no máximo a coisa toda, até mesmo os beijos na bochecha, que me deixaram com mais vergonha ainda,  e então o mesmo moço com o microfone nos falou para descer,o que só podia significar que era a hora. Entramos novamente em fila indiana e começamos a descer as escadas que davam na entrada do salão do andar de baixo, onde a festa acontecia.
- Cuidado- Owen alertou- Vamos lá, já que você está com esse salto acho que é justo fazer uma oração para que não ocorra nenhum acidente, não é mesmo?
Eu ri novamente, parece que é tudo que eu consigo fazer perto dele. Quando chegamos na entrada do salão começamos a ouvir os nomes sendo chamados e os casais entrando, nossa vez estava por vir, e meu estômago revirou como se eu estivesse em uma montanha russa, e eu comecei a mexer inquieta no anel que sempre carrego no meu dedo indicador da mão direita.
- Eii, Clary- ouvi uma voz familiar me chamando, era a prima da Rosie, Grace- Fica calma, vai dar tudo certo, boa sorte querida, e lembre- se de respirar, eu sei que as vezes perto dos garotos pode ser meio difícil, mas apenas tente
 Eu estava parecendo mesmo tão nervosa assim? As vezes eu odeio o fato de que não consigo esconder o que sinto, faz com que eu sempre entregue meus sentimentos rápido de mais.  De qualquer forma, Grace era um amor, devia ter uns 28 anos, no máximo, e era uma das dezesseis garotas, pelo simples fato de ser a pessoa maravilhosa que eu sei que ela é. Quando notei, éramos os próximos, e meu coração bateu mais forte, o que me fez apertar a mão do Owen, ele obviamente percebeu, ja que apertou a minha de volta, e me encarou, o encarei de volta na mesma hora e sorri, tentando disfarçar o nervoso dentro de mim.
 Quando as cortinas se abriram e nossos nomes foram anunciados, entramos e fizemos como foi pedido, ele me deu um beijo na bochecha, me entregou a rosa,  começamos a andar, e viramos para a esquerda, éramos um dos últimos casais, então depois de poucos minutos, Rosie entrou no salão, e começou a chorar quando nos viu, quando viu todo mundo ali, sua reação foi impagável, parece que a surpresa funcionou, e funcionou muito bem, os olhos dela brilhavam não só por conta do choro, mas era um brilho de carinho, amor, que todo mundo estava sentindo ali.O vestido que ela estava usando era inspirado no da Cinderela, e eu comecei a me perguntar como seria usar um vestido como aquele, ela deve estar nas nuvens, não que eu também não esteja.
A cerimônia começou com um discurso da Emma, que foi sinceramente um dos melhores que eu ja ouvi na vida, droga, eu não queria borrar minha maquiagem, mas não pude evitar.
 Uma musica que eu não conhecia começou a tocar depois, e Raphael pegou Rosie para dançar, o que significava que era a nossa vez também.
 Owen me conduziu até a ponta da pista e fez como disse que iria, e dessa vez eu pude encarar seus olhos, chegamos bem perto, bem perto mesmo, e a luz também ajudava bastante, então os analisei.
 Eles  eram difíceis de explicar, meio verdes, e ao mesmo tempo, mel, quase perto de um dourado, eram realmente muito bonitos, e antes que eu me esqueça, o garoto estava usando óculos, pretos, simples, talvez eu não tenha chegado a mencionar antes. Ele me puxou para bem perto dele mais uma vez, e eu sorri, mal ouvia mais a música, parecia que apenas nós dois estávamos na sala, e chegou a ser praticamente mágico, droga, por que isso tinha que acabar? 
Provavelmente vai soar bem estupido, mas sejamos honestas, quem não se apaixonaria nessas condições?
- O que foi aquilo?- Meg deu pulinhos enquanto me encarava- O clima entre vocês dois foi surreal, a festa inteira notou.
 E bem, é verdade, eu olhava para os lados e todos me encaravam, e cochichavam, era como se nem ligassem com o fato de que eu sei que estão falando de mim.
- Droga, eu estava tão obvia assim?- Fechei os olhos e cobri meu rosto em sinal de vergonha
- Muito obvia- Ronnie apareceu- Teve uma hora que eu olhei para você,porque diferente da sua pessoa, eu não estava comendo meu par com os olhos,  e só faltava  você babar no terno dele, mas devo admitir que aquele sorriso que ele tinha no rosto também era bem suspeito.
 Ronnie riu e eu cruzei os braços enquanto meu sorriso apenas aumentava.
 Mais ou menos uma hora depois pude me encontrar  sentada, comendo um dos melhores bolos que eu já havia provado, ao lado de uma outra amiga minha, Anna, que também não gostava muito de dançar na balada, alias, ela também foi uma das dezesseis garotas.
- Ei, você sabe onde está o Owen?- perguntei- Não o vejo desde a dança.
- Me contaram que ele foi embora mais cedo, parece que não estava se sentindo muito bem. 
 Bom, eu fiquei lá mais umas duas horas, e foi realmente muito bom, ver tanta gente, e maior parte delas gente que eu amo se divertindo tanto, e quando eu fui embora, Ronnie foi comigo, meu pai nos deu uma carona, e eu tirei aquele vestido umas quatro da manha, uma vez que fiquei dançando pelo meu quarto, varias vezes, tentando relembrar cada minuto daquela noite.
 Minha atual professora de história sempre diz que depois do ápice, ou seja, o apogeu, a decadência sempre vem. E eu mal sabia, mas estava chegando no meu ápice.