– o pai dele deixou algumas anotações. – Theo conta depois de um momento em silencio.
Cedo meu lugar para Mason sentar e Yara trás um copo com água para ele.
- você sabia disso? – Pergunto baixo para Theo que olha de Mason para mim receoso.
- eu... – ele hesita.
- sabia ou não sabia? – reforço a pergunta.
Theo respira fundo e me encara firme.
- não, eu não sabia. Não naquela hora. – confessa me fazendo soltar o ar que nem sabia que estava segurando. – eu soube depois, pesquisando.
- você pesquisou sobre o cara que matou? – Hayden faz uma careta. – porque?
Ele olha dela para mim com indiferença forçada.
- porque eu precisava. – responde simplesmente.
- ah meu Deus! – suspiro me virando para não ter que olhar para ninguém.
Estou tão frustrado que nem pareço caber em mim mesmo.
- olha só, tudo bem eu o matei, não preciso ficar encontrando desculpas para isso.
- rá... – solto nervoso, tentando me controlar. – ninguém está fazendo isso, acredite, sabemos muito bem que você faz o que bem entende.
Isso soa rancoroso até para mim, mas atinge Theo em cheio e ele parece ter levado um soco.
O bom da raiva é que ela te impede de se importar.
- Liam. – Mason adverte e fecho minha boca indo para perto da janela de vidro.
Amanhã é lua cheia e parece que tudo só intensifica isso.
- Eu não sabia do Corey na hora, mas eu sabia de mim. – Theo continua a se explicar soando ainda mais calmo. – eu o reconheci no mesmo momento. Ele era um carrasco da Monroe. – hesita ao soltar a palavra. – Um torturador especializado.
Fecho os olhos, meus dedos formigam e quase posso ver Theo sendo torturado. Me lembro daquelas ligações, dos sons da dor dele, de seu uivo de puro sofrimento.
Meu coração parece esmagar no peito.
- então se ele sabe as técnicas do pai, ele não quer só matar você. – Hayden deduz.
- não. Ele quer vingança, uma lenta e tortuosa. – Theo confirma e então suspira. – Mas, a tortura dele é diferente da do pai.
- o que quer dizer? – a voz de Mason estremece.
- o pai brincava com o corpo, ele gosta de jogar além.
- quer dizer que ele brinca com sua mente também? É algum tipo de psicopata? – Hayden indigna.
- alguém que faz essas coisas só pode ser. – Yara murmura irritada.
- não acho que isso faça diferença. – Dan pondera.
Meu celular toca uma vez com mensagem que ignoro porque minha cabeça gira, sei que estão discutindo atrás de mim, mas mal os ouço.
- então, porque você ainda não o matou? – Mason pergunta a Theo. – apesar de tudo ele é humano.
- ele tem pulseiras de freixo que não nos deixa tocar nele. – digo mais pra mim mesmo. Meu celular toca de novo.
- como você sabe disso? – Mason pergunta pra mim.
- ele me mostrou. – digo baixo pegando meu celular e lendo as mensagens.
São de Meghan.
“Hey volte pra cá.”
“Liam, precisamos conversar.”
“É urgente.”
Estreito os olhos para o celular enquanto eles continuam a discutir.
- e porque ele quer nós agora? – Hayden pergunta.
- é obvio. Ele quer atingir o Theo de todas as maneiras. – Maria responde.
- não é como se ele ligas... ah ta. – ela diz como se só então entendesse tudo.
As mensagens continuam a chegar.
- Liam, da pra dar atenção aqui? Isso é importante. – Mason pergunta, mas há um zunido no meu ouvido.
“Você deveria ter acompanhado ela até em casa.”
Meu coração bate acelerado na boca.
- Liam? O que foi? – Hayden se aproxima enquanto engulo em seco.
“É uma casa bonita. E incrivelmente vazia”
- eu preciso ir. – digo guardando o celular no bolso e já indo pegar meu casaco.
- o que? Ir onde? – Yara indigna.
“Ela é muito bonita. Porque a deixou?”
- eu volto logo. – digo já tentando sair.
De repente Theo está a minha frente, tampando pela segunda vez no dia minha passagem.
- o que aconteceu? – ele pergunta e fico surpreso por ele não tentar esconder a preocupação.
- nada. Nada eu só... – falo tentando passar.
Theo me contorna e agilmente pega meu celular do bolso já lendo as mensagens.
- Theo! – rosno nervoso, mas ele me ignora.
- quem é Meghan? – pergunta pra mim.
- Meghan? Meghan a doida? – Hayden indigna se apoiando na mesa.
- como assim “Meghan a doida?” – Dan pergunta confuso.
- Liam deu um fora nela e ela vive perseguindo ele agora. – ela explica rápido e fácil.
- isso não é perseguição. – comento tirando o celular das mãos de Theo que nem tenta impedir, mas segura a minha com força me fazendo encara-lo.
- não é, é uma armadilha. – diz ele baixo, um aviso.
- não importa. – puxo minha mão de volta. – encontrei com ela no caminho para cá, ela estava bêbada e a coloquei em um taxi...
- o que é muito atencioso. – Yara destaca, mas nego com a cabeça.
- não. Ele deve ter me visto com ela e... eu não sei do que ele é capaz. – minha voz falha, meus olhos desfocam e tenho que piscar para foca-los de novo e sei que ficam amarelos-neon.
- Liam, respira fundo. – Theo diz se aproximando, mas quando vai me tocar dou um tapa na sua mão.
- Não me toque! – afasto e mal posso ver sua ofensa escancarada em seu rosto. – isso tudo é culpa sua... – minha voz falha e tenho que me concentrar.
- Liam, se acalme. Vamos atrás dela, não se preocupe. – Hayden diz me acalmando. Ela toca meus ombros como Scott costumava fazer e me força a concentrar nela. – Ela vai ficar bem. – afirma. – mas você precisa se controlar.
Concordo levando um momento para me acalmar.
- onde ela mora? – Maria pergunta já pronta.
- tudo bem. Não precisam ir.
- protegemos nossa família e vocês são nossa família também. Então está tudo ligado. Suas batalhas são nossas batalhas. – ela diz firme e tenho vontade de abraça-la.
Por fim, juntos vamos para casa de Meghan.
A casa de Meghan é em um bairro chique da cidade, porem um pouco calmo demais. Estive naquela casa apenas uma vez antes e a segunda é bem pior.
Meu coração está acelerado, um arrepio surge na minha coluna.
Como não há motivos para me esconder vou pela porta da frente. Maria e Dan vão por trás enquanto Hayden e Theo tentam ir pelo telhado, vigiar as coisas. Mason ficou no carro com Yara.
A casa está toda apagada, o que deveria dificultar as coisas, mas não dificulta. Entro devagar ouvindo dois corações batendo, um mais rápido que o outro.
Corro até a sala e travo ao ver Meghan deitada no sofá, no escuro consigo ver apenas a silhueta de Andrew apoiado no sofá atrás dela.
- ah Liam, não faça essa cara. – diz ele com a voz mansa. – ela vai ficar bem, se... – destaca. – você colaborar.
- o que você quer de mim? – pergunto tentado a correr até Meghan, mas Andrew estica a mão e tira o cabelo dela do rosto me mostrando sua palidez anormal. – o que você fez? Ela é inocente!
- todos são, não é? Até que se prove o contrario como diz a nossa falha lei. – ele anda até a frente e senta ao lado dela. – porque você se importa tanto com essa mulher?
- eu já disse, ela é inocente.
- ela é? – suas sobrancelhas levantam. – você sabia que ela começou a seguir você?
Engulo em seco.
- sim.
Ele ri curto.
- isso é bem estranho, porque ela sabe de você, ela te seguiu, ela te manipulou para ficar perto, ela te queria mais que tudo e você simplesmente virou as costas pra ela...
- isso não é verdade. Ela não sabe de nada.
- ah Liam... é tão inocentemente belo ver você assim. – sua declaração me da calafrios. – foi o que pensou do Theo? Que ele era inocente? – ele se levanta e da um passo em minha direção. – você inventou desculpas para tudo de ruim que ele fez? Para justificar cada erro e dor?
- não. Eu jamais...
Andrew bufa e se vira ousadamente pegando uma adaga curta do cinto e a girando na mão ao mesmo tempo que contorna Meghan.
Dou um passo para frente.
- nã-não. – ele adverte e travo.
- não toque nela. – aviso em um rosnado baixo.
- para trás. Já disse que ela vai ficar bem.
- o que você ganha com tudo isso? Que tipo de vingança doentia é essa?
Andrew para e me encara, agora com meus olhos mais adaptados a pouca luz posso vê-lo melhor.
Por mais que eu odeie admitir Andrew me lembra Theo. Impassível, Mal, destemido, sem qualquer simpatia alheia, sem nada além de uma ambição egoísta.
- o que eu ganho? – ele suspira chegando perto de mim, me mantenho firme. – Sei que ele está aqui, sei que pode me ouvir e está terrivelmente louco para me matar. Mas ele não vai, sabe porque? – agora ele está cara a cara comigo. – por sua causa. Porque você pode impedi-lo. Você poderia tê-lo impedido! – sua voz é baixa, mas dura feito aço.
Sinto sua respiração quente em meu rosto. Sinto que ele sabe que eu sei.
- eu tentei. – confesso. – eu tentei salvar seu pai. – minha voz falha.
Andrew me encara, seus olhos de um verde único tão perto. Ele é presencial, ele é semelhante e isso me assusta.
Por fim sorri.
- eu sei que sim Liam. – diz mais leve. – é por isso que gosto tanto de você.
Meu coração vai até a boca e o sorriso dele não diminui, não mostra nada além de uma mascara assustadora.
- acham que sabem o que quero, não é? Te atingir para atingir ele? – ele da outro riso curto de deboche e se aproxima do meu ouvido, perto e ao mesmo tempo longe, sinto o poder do freixo já querendo me manter distante. – ele não tem ideia do que quero com você. – sua voz soa quase sedutora e dou um passo para trás em pleno choque.
Andrew segura minha mão apertando o freixo contra minha pele em uma força inacreditável, arde, mas é suportável até que ele enfia sua adaga em minhas costelas ao ouvir o rosnado alto de Theo que sei que está na entrada do lugar, nas sombras, louco para atacar.
Urro de dor e tento me apoiar nele, mas o freixo ainda arde.
- diga para ele se afastar. – Andrew diz pra mim, ainda baixo em meu ouvido. – diga!
- Theo... – peço baixo. Estou de costas pra ele, não posso vê-lo, mas sinto sua presença, ouço sua respiração ofegante.
- bom. – Andrew diz por fim. Ele se volta pra mim. – desculpa por isso, mas era o único jeito. – me olha quase com preocupação. – não tem acônito na faca, você vai ficar bem.
- porque... está fazendo isso? – pergunto devagar a dor lateja em todo lugar.
- você não é um alvo Liam. – explica ele e acho que está olhando pra mim, mas minha visão fica turva, talvez ele tenha acertado algum órgão... – Você é o ponto de chegada.
Não entendo o que ele diz. Ouço Theo rosnar, ouço Maria e Dan entrar na espreita pelos lados e Andrew torcer o lábio perto de mim. Perto demais.
- Diga a eles para me deixar ir ou a garota morre. – diz pra mim.
- Andrew... – nego de leve. – não mando neles.
Ele sorri de canto me colocando no chão devagar e tudo em mim está adormecido.
- você tem mais poder do que imagina, em todos os sentidos. – avisa retirando a adaga rápido e não consigo nem gritar de dor porque todo meu corpo já está paralisado. – eu disse que não havia acônito e você ficaria bem, não que não havia veneno de kanima e você ficaria quietinho por um tempo. – ele da nos ombros. – então, agora pode dizer a eles? A menina está ficando se tempo.
Fecho os olhos para me concentrar nas palavras.
- deixem-o ir. – peço a eles baixo. – apenas deixem-o ir e ajudem a Meghan.
Theo rosna em protesto seguido de Dan.
- por favor. – soo fraco demais.
Andrew sorri.
- obrigado. – diz ele se levantando e então se vira. – ah, nenhum medico vai salva-la. – avisa antes de andar até a porta sem medo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.