Alguns dias depois as coisas ficam mais calmas.
Vou trabalhar, A clinica é no subúrbio da cidade, um pouco mais perto do Loft o que me permite ir a pé. Porem, Theo insiste em me acompanhar até la o que é imensamente ridículo, mas ele é teimoso.
- então, como é? – pergunta ele enquanto andamos.
- como é o que?
- como é essa vida “normal”? Estudar e trabalhar... – diz descontraído.
- está tentando recuperar o tempo perdido? – provoco sem evitar e ele aperta os lábios sem responder. Suspiro. – ok. É bom, sabe? Como se eu fosse comum também, como se tudo que aconteceu comigo, conosco, nunca tivesse acontecido de fato. Foi um sonho louco que eu tive e um dia acordei aqui, com um loft dividido entre meus dois melhores amigos, um emprego de meio período e uma faculdade que na verdade amo apesar de reclamar.
Ele me observa quase orgulhoso.
- posso imaginar. – diz por fim.
- mesmo?
- não.
Sorrio.
- você nunca se viu assim? Sendo como os outros?
Ele faz uma careta.
- se eu quisesse ser como os outros, eu ainda seria como os outros Liam.
Pondero.
- verdade. – me viro para ele de novo. – Mas você não pensa mesmo? Em como seria?
Ele pensa e respira fundo.
- eu já pensei, em muitas coisas. Em como eu seria chato e fraco, nas pessoas que eu não conheceria – ele me da um ohar de canto. – e também nas que conheceria melhor.
Vejo o quanto ele pensa na irmã e talvez nunca admita isso.
Sorrio de leve.
- então não pensa mais?
- não, não penso. Agora eu sou apenas o momento. – diz quase zombalheiro.
- isso é bem estranho, porque sempre achei você era assim o tempo todo.
- não seja ridículo Liam. O único inconsequente aqui é você.
- inconsequente? – índigo. – quer mesmo entrar nesse assunto?
- acho que não. – ele meneia a cabeça.
Andamos em silencio por mais um momento.
- acha que ele vai aparecer tão cedo? – pergunto incomodado. – as vezes acho que estou sendo vigiado o tempo todo.
- não duvido que esteja. – ele olha ao redor disfarçadamente. – mas esse não é o jogo dele. Vai dar um tempo, nos fazer pensar que melhorou, nos dar um pouco de ar antes de arranca-lo do nosso pulmão.
- otimista. – ironizo.
- realista. – ele corrige. – acho que já posso dizer que conheço ele.
- que relação bela vocês devem ter.
Theo me encara.
- você mudou sabia?
- sabia. – dou nos ombros. – mas, no que exatamente?
- em tudo um pouco, mas seu humor... é até estranho.
- ah é? – franzo o cenho. – sente falta do Liam chato, briguento e ranzinza?
- você ainda consegue ser tudo isso, só que agora bem menos.
Levanto minhas sobrancelhas pra ele.
- isso quer dizer que você não gosta?
Ele sorri de canto o que faz meu coração aquecer um pouco mais.
- ah não tire conclusões. Eu gosto e muito.
- E muito? – repito provocativo.
- muito. – ele afirma me fitando, depois suspira e desvia os olhos. – mesmo que a Hayden pareça gostar e usar isso muito mais.
- usar?
- usar. – destaca.
- pra que? – faço uma careta confusa.
- para flertar com você, para tirar uma casquinha, para me irritar. – considera.
- é, ela faz isso. – concordo rindo. – mas não há nada demais.
- parece algo a mais. – pondera.
- mas não tem. – suspiro. – mudei por causa dela sabe? Mason também, mas Hayden foi a que mais ficou comigo depois... – engulo em seco tentando não olha-lo. Ele sabe o que eu iria dizer.
- depois que eu fui embora. – completa. – não precisamos falar disso...
- não, tudo bem. – sorrio amarelo. – então, ela ficou mais comigo e me tornar um pouco mais "bem humorado", me mostrar o lado bom e malicioso das coisas ajudou. Ela dizia que Stiles sempre teve razão, o sarcasmo ajuda. – rio baixo. – bom, foi nosso jeito de nos ajudar.
- foi seu jeito de perdoar ela também? – Theo pergunta quase sentido.
- eu não precisei perdoar ela. Eu a deixei morrer pra começo de conversa. – conto e o encaro. – mas preciso perdoar você.
Theo assente sem dizer mais nada.
No trabalho Jade me atola de coisas pra fazer, ela anda bem preocupada comigo e não a culpo, mas faço de tudo para desviar sua atenção.
Enquanto ela da banho em uma cadelinha na parte de trás a campainha toca e vou atender, mas travo ao ver quem está na recepção.
Andrew sorri pra mim, os olhos claros destacando em sua pele morena. Ele segura um Dobemann na coleira.
- boa tarde. – diz simpático. – não vai me atender?
Não sei bem o que fazer, fico o encarando sem muita reação. Andrew se diverte com isso.
- sabe, essa não é bem a reação que eu esperava. Talvez um pouco de rosnado...
- o que você quer? – pergunto baixo.
- você não cansa de fazer a mesma pergunta e não obter resposta? – ironiza. – vim trazer o Thor, ele anda com problemas com raiva. – índica o cão que rosna pra mim.
- esse cachorro não é seu. – afirmo.
- não, não é. – ele da nos ombros - mas ele ainda tem um problema. – ele da um passo a frente. – pode resolver o problema Liam? Encontrar uma solução?
- ainda estamos falando do cachorro? – pergunto e ele morde o lábio sem responder.
Andrew estende a coleira para mim e no mesmo momento percebo, nem preciso estender a mão para sentir a compulsão do freixo. Aperto os dentes.
- pegue Liam. – ele diz provocativo. – pegue e resolva o problema.
Fico o encarando, firme, sem conseguir entender aquele homem, o que ele planeja.
- Ei, Liam. O que...? – Jade vem dizendo e para ao ver Andrew. Ela sorri simpática. – Ola, boa tarde.
Ele sorri para ela da mesma forma simpática.
- Ola. O Thor aqui está com alguns problemas, acho que pode ser raiva. – diz descontraído, a mão ainda estendida pra mim com a coleira.
- aah.. claro. – Jade me olha estranho e desconcertada vai pegar a coleira de Thor que avança nela fazendo Andrew puxar as rédias.- uau. Ele é nervosinho. – ela sorri.
- foi o que eu disse, ele não era assim. – Andrew finge inocência o que me irrita. – Talvez o Liam devesse tentar.
O olho irritado e respiro fundo me agachando em frente ao cão que rosna pra mim, brilho os olhos para ele falando palavras dóceis baixo e o Dobermann senta como um poodle manso.
Andrew sorri e Jade levanta as sobrancelhas.
- é por isso que você leva jeito pra coisa Liam. – ela elogia e pega a coleira de Thor o levando para trás. – nós ligamos quando terminarmos senhor.
Assim que ela some com o cachorro me volto para Andrew andando até ele e ficando perto, mas sem encostar.
- se você ousar machuca-la... – começo.
- ah Liam, por favor. – ele ri curto. – não quero machucar ela.
- quer machucar a mim, certo? – deduzo. – porque isso te faz sentir melhor?
- não faz. Machucar o Theo me faz sentir melhor, ficar perto de você me faz sentir melhor.
- o que quer de mim Andrew?
Seus olhos brilham para mim e ele demora um pouco mais a responder.
- não deveria fazer perguntas das quais já sabe a resposta Liam. – ele sorri e se afasta. – de qualquer forma, volto depois.
- não volta não.
Ele ri.
- não posso deixa-lo ai. Ele tem um dono, sabe?
Aperto o maxilar.
- entrego ele em outro lugar pra você.
- não seja ridículo, não vai mudar nada. – ele me analisa e morde o lábio. – a não ser que você queira saber mais sobre mim, conhecer minha casa, meus itens colecionáveis. – a forma que ele diz isso me faz recuar.
- eu ligo quando ele estiver pronto. – digo por fim o vendo sorrir.
Andrew se vira para sair mais volta falando baixo:
- só para deixar claro, eu adoraria te mostrar minha casa, mas duvido que você goste. – ele da uma piscadela e sai tranquilamente.
Demoro um momento para voltar a respirar.
No final do dia enrolo o máximo para ter que ligar e dizer a ele pra voltar. O Cão na verdade não tinha nada demais o que só deixa mais explicito que foi uma desculpa esfarrapada.
- esta ansioso? – Jade pergunta me vendo encarar a porta da frente da loja.
- o que? Porque? – pergunto disfarçando.
Ela sorri de canto.
- eu entendo, sabe? Aqueles olhos verdes... uau! Mas não posso deixar de ficar surpresa, quero dizer, achei que você namorava aquela garota que vem sempre aqui...
- Jade, Jade. – a corto porque aquilo já está constrangedor demais. – não é nada disso.
- não? – ela me da um sorriso malicioso. – tem certeza? Porque eu não tenho preconceito nenhum, até gosto entende?
- ah meu Deus. – balanço a cabeça incapaz de esconder o sorriso. – ok, eu já entendi. Mas não é isso.
- tudo bem. – ela da nos ombros e depois de um momento fala: - mas aqueles olhos...
Neste momento Andrew entra na recepção e todo meu corpo fica rígido, em estado de alerta. Ele sorri para Jade que abre um sorriso ainda maior.
- e como está meu garoto? – pergunta a Jade que traz Thor pela coleira.
- está ótimo, acho que estava ansioso para te ver de novo. – ela me da um olhar cumplice.
- não acho que ele é um cachorro afetuoso. – destaco.
- ah muitos são assim, parecem ariscos e indomáveis, mas no fundo... – Jade sorri para mim. – são apaixonantes.
Me seguro para não revirar os olhos, porem mesmo assim Andrew percebe e logicamente está adorando aquilo.
- eu sempre me dei bem em domar os mais indomáveis. – ele provoca e Jade me da um sorriso quase explicito.
- viu Liam? Andrew pode ter tomado o coraçãozinho indomável dele.
- duvido muito. – digo ranzinza.
- o que foi Liam? Não acredita no amor? – Jade pergunta intressada.
- eu... – olho dela para ele que me encara fixamente como se eu fosse uma obra de arte que ele quer entender. – eu acredito no afeto, principalmente entre humanos e animais. Mais da parte dos animais claro.
- então na sua visão seres humanos são horriveis e desalmados? – Andrew pergunta.
- não. Mas com certeza são menos fieis. – pondero.
- então o que está dizendo é... – ele se aproxima e inclina no balcão para mim. – que o lado animal é mais honesto e bom do que o humano?
Fico o encarando, claramente ciente da presença de Jade ali e evitando falar qualquer coisa suspeita.
- acho que é exatamente o que ele quis dizer. – Theo diz da porta e me pergunto quando foi que ele chegou.
Olho para ele, meu coração batendo na boca. Mas Andrew nem se da o trabalho de olhar, ele sorri de canto.
- não pode responder por ele. – diz despreocupado, o olhar em mim, o sorriso sombrio e malicioso.
- mandei você não vir. – falo pra Theo baixo e ele me ignora.
- como se você mandasse em algo. – responde sem tirar os olhos de Andrew, como se esperasse que ele fizesse algo a qualquer momento. – como se eu fosse ignorar isso.
Quero discutir com ele, dizer que não preciso de um protetor, mas me seguro.
- um protetor. – Andrew ironiza.
Posso ouvir o rosnado de Theo da porta o qual Thor responde.
- você deveria ir. – digo firme a Andrew que sorri pra mim. – agora.
- claro. Já está ficando tarde. – diz se recompondo. – obrigado por tudo. – ele agradece a Jade que da um sorriso leve de tensão. Então Andrew se volta para mim, sua voz levemente sedutora. – vamos marcar aquele lance. Garanto que não vai se arrepender.
- duvido muito. – solto mais rápido do que posso pensar e ele ri curto.
- pode até se arrepender, mas iriamos nos divertir muito juntos. – diz abusado.
Não respondo, Theo limpa a garganta e quase posso ver sua aura escurecida. Andrew se vira e caminha até a porta que Theo está tampando. Eles se encaram e novamente sinto que meu coração vai sair pela boca.
- está no meu caminho. – Andrew diz a voz secando. – sempre no caminho.
- deve ser um talento natural. – ele rebate no mesmo tom.
- Theo. – advirto quase urgente, o medo de Andrew fazer algo ali, na frente de Jade...
Theo respira fundo três vezes antes de dar um passo pro lado e deixar Andrew passar.
Quando ele sai solto o ar com alivio e Jade faz o mesmo seguido de um suspiro.
- uau, isso foi... intenso. – ela diz admirada. A olho me desculpando e ela sorri dando nos ombros. – não me olhe assim, eu amo um drama adolescente. – diz me dando um tapa no ombro. – vá pra casa Liam. – ela se vira para Theo. – e você, seja quem for, cuide dele.
Theo assente, Jade vai para o interior da clinica fechar tudo e eu demoro um pouco mais para me lembrar que posso sair dali.
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