Mabelle caminha pela pequena e poeirenta estrada que, supostamente, irá levá-la até a pequena cidade de Yorkshire, mas tudo o que ela vê é terra e mais terra e árvores fechadas de ambos os lados da rua quase formando um túnel onde suas copas, altas e espessas, se tocam sobre a rua. Ainda é tarde, mas a escuridão praticamente engoliu aquele pedaço de terra, fazendo-o sombrio em plena tarde. Mabelle está irritada pela caminhada que fora obrigada a fazer, quando o último ônibus que pegara, no total três até chegar ali, a abandonou e a instruiu a caminha pela rua escura até encontrar a primeira casa do vilarejo. Mas isso havia acontecido a mais de uma hora atrás e agora Mabelle está suada, cansada e seus pés doem onde sua bota aperta desconfortavelmente, sua paciência ficou a, no mínimo, um quilômetro atrás em algumas das inúmeras curvas que havia feito. A faca coça amarrada no cano de sua bota, a vontade de matar qualquer ser vivo que apareça em sua frente pulsa nos seus ouvidos e ela está quase gritando de frustração. A menina de cabelos loiros caminha mais alguns metros quando um farfalhar nas folhas das árvores chama sua atenção, seus pés cravam no chão e ela, calmamente, gira em torno de seu próprio eixo esquadrinhando cada pedaço de terra e árvore que a rodeia. Posição defensiva, pronta para lutar ou correr se preciso, uma das mãos próxima ao rosto enquanto a outra pousa ao lado do cano de sua bota. O que quer que seja, apareceu em boa hora e servirá de distração para a irritação da pequena mulher.
– Não fique com medo. – uma voz rouca e forte soa nas costas de Mabelle, ela empunha a faca e vira-se apontando-a para o rapaz que recua três passos com as mãos levantadas. – Acalme-se, eu não vou te machucar.
– Mas eu vou se não sair da minha frente! – Mabelle rosna e joga a faca de uma mão para a outra enquanto anda em círculos, encurralando o rapaz de pele bronzeada como se ele fosse um carneiro indefeso. – Eu não estou brincando! – ela pula para cima do garoto, a faca parando míseros centímetros da pele morena quando sua mão foi presa entre os dedos fortes e ásperos do rapaz. – Solte-me! Agora!
– Então fique quieta, não vou fazer nada com você, apenas estou curioso… – ele a virou de frente e encarou os olhos acastanhados de Mabelle, sorrindo de lado como quem diz “tudo bem, querida, eu vou cuidar de você” e a garota gemeu raivosa, mas não se moveu quando a mão firme a soltou.
– Curioso com o que? – Mabelle se abaixa para guardar a faca e ajeita a mochila nas costas.
– Estou te observando a alguns minutos, – confessa o rapaz. – e você está sozinha, não tem medo de ser atacada por alguém ou alguma coisa?
– Eu sei me defender… – ela resmunga e volta a caminhar, deixando o jovem para trás.
– Isso eu percebi, mas mesmo assim tem coisas esquisitas assolando nosso vilarejo… – o rapaz já está ao seu lado quando deixa a frase sem final.
– Tipo o que? – ela zomba. – Lobisomens? – Mabelle ri sem humor e balança as mãos em descaso. – Tô sabendo…
– É o que dizem, – o rapaz dá de ombros. – Ninguém pode confirmar a verdade, apenas alguns bêbados dizem já o ter visto, mas quem pode acreditar neles?
– Então, qualquer um pode ser o lobisomem, inclusive você. – aponta Mabelle como quem diz que o dia está lindo, simplesmente e docilmente.
– Não se preocupe, sou apenas um lobo bom. – ele brinca enquanto chuta uma pedra, Mabelle ri e entra na brincadeira.
– E eu uma chapeuzinho negro. – ela puxa o capuz cobrindo suas cascatas loiras e continua caminhando em silêncio ao lado do rapaz.
Eles não sabiam, mas suas vidas iriam mudar radicalmente depois dessa conversa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.