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História Charmant - Pó e cinzas


Escrita por: ArmyTiaDosGatos e pjmwires

Capítulo 28 - Pó e cinzas


Taehyung

Faz duas semanas que Jungkook descobriu que a tal Camille está esperando um bebê, supostamente dele. Ele achou melhor trazê-la para Daegu, para acompanhar o desenvolvimento do bebê, garantir que está tudo bem e que não falta nada para os dois. Nesse momento estamos esperando que ela chegue. Conversamos com Hobi e ele concordou que ela fique no antigo apartamento, dormindo no quarto de Jungkook.

— Tae, eu não estou me sentindo bem. — Kookie diz segurando minha mão.

— Vai ficar tudo bem, amor. Nós vamos dar um jeito. — Dou um sorriso reconfortante.

O motorista aparece carregando duas malas gigantes, sendo seguido por uma mulher bonita. Okay, estou me sentindo um pouco inseguro nesse momento. Ela tem longos cabelos dourados e brilhantes. Grandes olhos verdes, uma pele bonita e um pequeno volume na barriga, deixando clara a situação. Constato tudo isso apenas na análise inicial. As roupas não parecem ruins. Paro toda a análise quando sinto Jungkook apertar minha mão.

— É agora. — Ele sussurra antes que a moça entre no carro.

O motorista abre a porta e logo a moça entra. Ela parece genuinamente surpresa em nos ver.

— Olá! — Ela cumprimenta com um sorriso.

— Olá. — Jungkook e eu respondemos ao mesmo tempo.

— Bom te ver Jungkook. E você é? — Ela me encara.

— Este é Kim Taehyung, meu namorado. — O sotaque puxado dele ao falar inglês é tão fofo.

— Aquele que pelo qual você estava sofrendo quando nos conhecemos? — Ela pergunta.

— Sim, sou eu. Nos resolvemos pouco depois que Jungkook retornou de Vegas. Não foi, amor? — Dou meu melhor sorriso apaixonado.

— Foi sim. — Ele responde beijando minha bochecha.

— Para onde estamos indo, exatamente? — A garota pergunta.

— Você irá para Daegu com o senhor Hyo, motorista de Tae, nós dois iremos em outro carro, porque temos algo para resolver na metade do caminho. Chegando lá, ele te guiará até o apartamento, as chaves estão com ele.

— Você não pode me acompanhar? — Ela pergunta com uma voz manhosa.

— Não. Temos que visitar alguém importante. É inadiável. — Kookie responde prontamente.

Faz duas semanas que não temos notícias da senhora Park. Jae nos ligou ontem e disse que a viu em casa, o que é curioso, já que o médico disse não ter dado alta para ela. Isso é preocupante, então resolvemos passar pela cidade na volta e verificar como estão as coisas. Paramos no meu antigo apartamento para buscar o carro de Jungkook, enquanto a garota vai.

— Não foi tão ruim. — Ele comenta assim que entramos em seu carro.

— Realmente. Esperava que fosse mais constrangedor.

— Até agora, tudo bem.

Paramos na porta da antiga casa de Jungkook antes da hora do almoço. Cumprimentamos Jae na oficina e seguimos para a casa da senhora Park. Está tudo quieto, parece vazio e tranquilo. Até ouvirmos o apito da chaleira, mas nunca desliga. Batemos na porta, sem sinal dela.

— Kookie, acho melhor nós abrirmos a porta. Tente a da frente, vou checar os fundos. — Sigo preocupado.

Felizmente a porta estava aberta. Corro para a porta da frente, mas Jungkook já não está lá. Deve ter dado a volta. Sigo pela casa, chamando a senhora e esperando por resposta. Meu coração gela ao encontrá-la caída no chão.

— Ah não! JUNGKOOK! CHAME UMA AMBULÂNCIA!

Kookie aparece na porta do quarto já com o telefone na orelha. Em pouco tempo paramédicos aparecem para levá-la ao hospital municipal.

— O estado dela é grave, todo o tratamento feito se perdeu quando ela não seguiu à risca. — O médico local informa.

— Podemos transferi-la para Daegu novamente? — Pergunto aflito.

— Devem. Não há muito o que possamos fazer aqui. — O médico é sincero.

Inicio os preparativos e informo o médico que a tratava que estamos à caminho. Em pouco tempo estamos em Daegu. Seguindo a ambulância de perto. A direção do hospital nos coloca em uma sala isolada para evitar imprensa. Quando o médico passa pela porta, seu semblante não é dos melhores.

— Ela ficou duas semanas sem o tratamento. A doença tomou quase todo o pulmão esquerdo e no direito já alcança metade. Iniciamos um tratamento mais intensivo. Se ela tiver família além de vocês, é melhor avisar, as chances não são boas. Sinto muito.

Jungkook cai no banco atrás de si, os olhos perdidos banhados em lágrimas. Ele precisa de um tempo.

— Podemos conversar ali fora, doutor? — Pergunto em um tom baixo.

— Claro. — Ele abre e saímos da sala.

— Doutor, estou tentando entender como um hospital perde um paciente em estado delicado. O que houve?

— Uma falha de segurança. Ninguém nunca imaginou que um paciente tentaria fugir do hospital. Sinto muito por isso. — Ele se curva.

— As chances dela são tão baixas?

— Mínimas. Se não houver resposta em dois dias, não restará muito o que fazer.

— Entendo. Obrigado por todo o trabalho duro, doutor. — Me curvo.

Volto para a sala vendo Jungkook da mesma forma. Ele me encara por um segundo.

— Preciso ficar sozinho, Tae. — Ele pede com a voz rouca.

— Tudo bem. Eu só vim pegar meu telefone, prometi ao Hobi que avisaria. — Pego o telefone e saio da sala.

Disco o número de Hobi enquanto encaro o jardim externo do local. Há pacientes, médicos, acompanhantes. Cada um envolto em sua própria situação.

Tae? Acharam ela? — A voz aflita de Hobi me corta o coração.

— Achamos. Jae disse que ela só apareceu por lá ontem à noite. Isso significa que não fazemos ideia do que houve com ela nessas duas semanas.

Vou sair do trabalho e pegar o carro em casa, logo chego aí.

— Não! Hobi, nós estamos em Daegu. O quadro dela não é nada bom. Te liguei para dizer que você deve vir assim que puder. Não venha dirigindo. Fale com Soobin, diga que eu autorizei que você venha com o motorista.

É grave?

— Só... Venha. Te conto tudo assim que chegar.

Compro um chá para mim e outro para Hobi. Enquanto digito uma mensagem para Jin, explicando a situação e pedindo o número de Ji Eun. Ligo para ela assim que ele me envia.

O diretor da Charmant me ligando. A que devo a honra? — Ela atende com a voz carregada de sarcasmo.

— Estou no hospital de Daegu. Sua avó não está nada bem, o médico sugeriu que eu avisasse a família dela.

O que? Deixe de mentiras, estive no hospital e ela estava bem.

— Ela fugiu do hospital há duas semanas. Ficamos como loucos procurando, só a encontramos hoje. Ela voltou para a cidade natal e passou mal. O estado dela não é nada bom. Ji Eun, se você ainda tem uma ponta de humanidade em seu coração, sugiro que venha até aqui dar um possível último abraço na única família que lhe resta. Se precisar de dinheiro, eu envio. Só venha, sei que vocês tem suas desavenças, mas é melhor deixar isso de lado no momento.

Eu vou. Vou apenas fazer as malas e vou. — Ela desliga a chamada.

Envio o endereço do hospital e o número do quarto para ela por mensagem. Bem a tempo de ver uma notificação de Hobi avisando que chegou. O encontro na entrada e o levo até o jardim, sentados, lhe entrego o chá e conto o que o médico disse. Ele chora e eu tento me manter firme.

— Onde está Jungkook? — Ele pergunta ainda tristonho.

— Ele disse que queria um tempo sozinho. Eu o deixei na sala de espera próxima ao quarto. Te levo até lá.

Assim que me levanto, Hobi também o faz, mas me abraça antes de irmos. O abraço de volta.

— Obrigado, Tae. Sem você, talvez ela não tivesse resistido até aqui.

— Eu gosto dela tanto quanto vocês, Hobi.

— Sei disso. Vamos, preciso ver minha futura esposa. — Ele diz forçando um sorriso.

O médico só permite que observemos através do vidro. Pouco depois de entrarmos, Jungkook aparece. Faço menção de sair, mas Hobi segura minha mão.

— Você merece estar aqui tanto quanto nós. Sei que ela nutre um carinho especial por você. — Ele diz.

— Temos que avisar Ji Eun. — Kookie diz sem tirar os olhos da mais velha.

— Eu avisei. Ela está à caminho. — Meu telefone vibra no bolso.


Tae, temos uma emergência.

Um problema em N.Y.


Observo a mensagem de Jimin e então a senhora Park através do vidro. Não parece certo deixá-la assim. Hobi parece ter lido a mensagem e me observa.

— Vai. Jungkook e eu ficamos aqui com ela. — Ele coloca a mão em meu ombro e olha para Jungkook.

— Pode ir. — É tudo que Jungkook diz.

— Volto assim que puder. O motorista ainda está por aqui, Hobi?

— Sim. No estacionamento.

— Ótimo. Até mais. — Abraço Hobi e dou um beijinho na bochecha de Kookie.

O piso administrativo da Charmant está um caos. Assim que saio do elevador, Soobin está me esperando com anotações. Recados importantes e problemas, um monte deles.

— Tae! Graças aos Céus. — Jimin exclama em minha direção.

— Um incêndio por vez. Soobin, verifique todas as pendências e classifique. A prioridade maior são ligações do hospital, Jungkook ou Hobi. Jimin vem comigo.

Entramos no escritório, logo sou informado do problema com a locação para a parte digital do desfile e demais pendências.

— Vamos tentar outros locais. Se nada der certo, posso ter uma ideia um pouco ousada. — Digo analisando outros locais.

Começo a delegar funções para tentar resolver o máximo de problemas possíveis para essa situação. Soobin aparece em determinado momento com caixas de comida. Aparentemente todo o andar fez uma pausa para o jantar. Só então me dou conta do horário e que não tive mais notícias sobre a senhora Park. Resolvo ligar para Jungkook, mas ele não atende. Ligo para Hobi em seguida.

Hey, Tae. Tudo bem por aí?

— São tantos problemas que parece um sueter feito com um novelo de lã cheio de nós.

Droga. Quer que eu vá ajudar?

— Não. Tenho equipes trabalhando em cada situação. Fizemos uma pausa para jantar e como não tive notícias o dia todo, resolvi ligar. Como ela está?

Não houve melhora, mas também não houve piora no quadro. Ji Eun chegou no final da tarde. Surpreendentemente, ela parece minimamente educada com todos. Acho que ela vai se comportar por enquanto. O médico conversou com ela por um tempo, acho que vamos conseguir conviver em paz.

— Isso é bom. Onde está Jungkook?

Ele saiu faz umas três horas, disse que ia checar como a golpista, ops, Camille está.

— Esqueci completamente dela. Droga. Você precisa que alguém te leve algo? Roupas, produtos de higiene ou você vai para casa?

Ji Eun vai passar a noite com a avó, eu volto de manhã. Ah... Sobre isso... Tae, eu sei que não estou na empresa. — Ele parece hesitante

— Você tem horas extras mais que o suficiente para ficar quanto tempo precisar, Hobi.

Obrigado Tae.

— Não por isso. Vá descansar, qualquer mudança, me avise por favor. — Peço.

Certo.

Desligo a chamada e volto a trabalhar. Uma parte de mim fica um pouco incomodada ao pensar em Jungkook e aquela garota sozinhos no apartamento. Resolvo enviar uma mensagem, pelo menos para ele saber que apesar de não estar lá, tem meu apoio.

— Tae, o pessoal daquele terceiro local está ligando. — Soobin anuncia.

— Certo.

Resolvo atender a chamada e depois escrever a mensagem para Jungkook. Me perco em tantos problemas que surgiram apenas com base em algo simples. Passa das quatro da manhã quando resolvo parar e dormir um pouco. Não cogito ir para casa, apenas deito no sofá da minha sala e programo o despertador para as sete e meia.

Com toda essa confusão, só fui para casa à noite, dois dias depois. Felizmente a situação foi resolvida e temos tudo pronto para os eventos daqui três meses. Quando finalmente cheguei em casa, estranhei o silêncio e vazio do local.

— Jungkook? — Chamo.

Tomo um longo banho e resolvo me deitar e dormir. Estou exausto e completamente esgotado mentalmente. Não vi Jungkook chegar, mas acordei com ele dormindo ao meu lado. O abraço e deixo um beijinho em seus lábios antes de me levantar e preparar nosso café da manhã. Ele aparece quando já estou quase terminando tudo. Os olhos inchados, totalmente sonolento. Tão fofo.

— Estou indo ao hospital. Quer ir junto? — Pergunto quando noto que ele está minimamente acordado de fato.

— Não. Vou na hora do almoço. Ji Eun precisa sair um pouco, então vou ficar fazendo companhia enquanto ela não volta.

— Certo. Vou indo. Até mais tarde. — Deixo um beijo em sua testa e vou.

Passo primeiro na sala do médico para checar como está o avanço do tratamento. Não há boa notícia. Não houve melhora no quadro, mas não perco a esperança. Sigo para o quarto e a observo por alguns minutos. Os médicos a mantém sedada para auxiliar em sua recuperação. Ji Eun quase não sai do lado da avó. Ela conversa com a mais velha, lê livros em voz alta e não solta sua mão em momento algum.

— Olá Taehyung. — Ela me cumprimenta.

— Como está? — Pergunto.

— Estou bem. Um pouco cansada, mas bem. Falou com o médico?

— Sim. Ele me explicou a situação. Não vim antes porque houve um problema na empresa.

— Ah. Seu pai continua com aquele plano estúpido de te tirar do cargo. Eu sei que sou um ser humano desprezível, mas seu pai definitivamente consegue ser pior que eu.

Acabo rindo sem humor. Definitivamente, ele é a pessoa mais desprezível que já conheci.

— Você reconhecer um erro, já mostra que é muito superior ao meu pai. Jin me disse que você está ajudando a reunir provas contra o velho. — Comento.

— Sim. Eu acabei presenciando algumas reuniões do seu pai com pessoas importantes. A vantagem de ter um rosto bonito e parecer fútil, é que homens como seu pai deduzem que sou totalmente burra, o que não é verdade. Enfim, Jin é uma boa pessoa, sua mãe e você também me trataram com respeito mesmo quando eu errei. Devo isso a vocês. — Ela dá um pequeno sorriso. — Vou buscar um chá, você vai estar aqui quando eu voltar?

— Sim.

O médico me autorizou entrar um pouco, desde que utilizasse todo o aparato de segurança. Sentei ao lado da mais velha e contei como estava o dia, como foi minha semana e até mesmo lhe contei sobre a chegada de Camille. Assim que Ji Eun retornou, me despedi de ambas e fui trabalhar.

Confesso que anda difícil trabalhar. Conciliar minha vida pessoal com o trabalho, ao mesmo tempo lutar contra meu pai para manter cada mínima coisa. Minha mãe tem tentado ajudar, mas anda muito difícil para ela também. Jin, mamãe e eu estamos aos poucos comprando ações de certos acionistas. Espero que em breve consigamos mais ações e assim calar a boca dele de uma vez.

A bomba do dia no trabalho, é a desistência de algumas modelos. São pequenas coisas que vão gerando problemas mais complexos. Alguns acionistas acreditam que devamos manter o "padrão" das modelos e isso me irrita imensamente. Se queremos ser globais, devemos abranger o máximo de pessoas e suas particularidades. Felizmente, a maioria do conselho tem o bom senso de entender isso. Justamente as modelos mais incríveis desistiram e nesse momento estou tentando entender o que houve.

Taehyung, meu querido. — Helena diz assim que me vê pela vídeo chamada.

— Helena, meu amor. Tudo bem? Você parece um pouco cansada. A vida em Paris está cansativa?

Jamais. Cada dia é uma novidade nesse lugar. Sei que não ligou para falar sobre como seu país é lindo e sim sobre minha desistência.

— Também. Pode me dizer o que houve?

Seu pai foi tão idiota que resolvi processá-lo. Não a Charmant, jamais. Vocês me deram minha primeira chance.

— O que ele fez?

Eu estava indo para uma reunião com Namjoon, para resolver os últimos detalhes para as fotos. Seu pai apareceu quando eu já esperava o elevador e disse que o elevador de carga ficava nos fundos. — Seus olhos estão cheios de raiva.

— Não. Não. Não. Não. — Coloco as mãos sobre as têmporas. — Helena me perdoe. Sinto muito que tenha passado por isso. Ainda mais dentro da Charmant. Eu tenho tentado mudar isso, juro. Aos poucos os outros tem entendido, mas ele é um imbecil de proporções épicas. Há algo que eu possa fazer para te ajudar com esse processo? Imagens das câmeras, testemunhas, uma arma, talvez? — Digo a última parte apenas para vê-la sorrir.

Não, querido. Namjoon quando soube resolveu tudo. Meu agente e eu já demos início ao processo junto ao advogado que seu primo indicou. Esse mesmo advogado sugeriu que eu não trabalhe com vocês até tudo estar resolvido. Sinto muito por isso, mas sei que me entende. Essa é minha luta.

— Eu entendo. Vou guardar o vestido até que você possa desfilar com ele.

Posso ver?

— Claro. — Reviro os croquis até encontrar, mostro para a câmera.

Lindo, Taehyung. Como todos que você faz. Esse verde é fantástico.

— O melhor para a minha melhor modelo. Desenhei na última primavera. Estava visitando alguns templos e trilhas ecológicas. Logo imaginei um vestido e seria apenas você a desfilar com ele.

Você fez pensando em mim?

— Sim, cada detalhe. Vou guardá-lo com carinho.

Não mesmo. Foda-se seu pai gordofóbico, eu vou desfilar sim e o advogado que lute para explicar tudo. Não vou deixar você na mão, Tae. Somos mais que profissionais trabalhando juntos. Somos amigos, de longa data, inclusive. Em três meses nos encontramos, esse verde lindo, você e eu. Até mais! — Ela acena.

— Obrigado, Helena. Conte comigo no que precisar. Nos vemos lá.

Ela desconecta a chamada e eu suspiro aliviado. Jimin entra na sala estranhando meu sorriso.

— A noite foi boa... — Ele comenta com um sorriso malicioso.

— Só se for a sua. Dormi a noite toda. Consegui trazer Helena de volta.

— Estamos salvos! — Ele comemora. — O que houve? — Resumo a história para ele. — Seu pai sempre prova que existe espaço para ser mais imbecil. Desconfio que se fizessem uma competição de pais babacas, os de Yoongi e de Hoseok, a mãe de Jungkook e seu pai, entrariam em um empate técnico. Podiam até formar uma banda, "Os Boçais"*.

Acabamos rindo da situação e só então voltamos ao trabalho. Conversamos com outras modelos e ao final do dia, temos uma equipe completa outra vez. Ao mesmo tempo, estou colocando os advogados de prontidão. Com as provas que estou juntando, em breve vou poder provar que meu pai está indo contra o código da empresa, agindo em interesse próprio e prejudicando a Companhia. Por enquanto, só me resta apagar cada incêndio possível, da melhor forma.

Um mês se passou desde que Camille chegou. Boa parte das vezes em que alguém menciona o nome dela, tenho que me esforçar muito para não revirar os olhos em puro desgosto ou fazer algum comentário. Anda muito difícil. Ela tem um comportamento semelhante ao de uma criança mimada em alguns momentos e Jungkook cai em todas as manhas dela. Nas duas vezes em que tentei conversar com Jungkook à respeito, acabamos brigando, então decidi não fazer mais nenhum comentário direto.

Jungkook passa em seu antigo apartamento todos os dias após sair do estúdio para checar como a mulher está. Foi estranho ele chegar em casa mais cedo e me trazendo um pequeno bolo, mas pensei que fosse uma forma dele se reaproximar. As coisas andam estranhas entre nós na maior parte do tempo. Jantamos juntos, o que quase não acontece ultimamente. Já que não dá para esperar ele chegar todos os dias.

— É um bolo muito bonito, Kookie. Obrigado.

— Dessa vez sem pêssego. — Ele diz me fazendo rir.

— Que bom. Vamos comer.

Dividimos o pequeno bolo sentados no sofá. Assistindo um filme e aproveitando a companhia um do outro. Jungkook me disse para deitar em seu colo e então passou a deixar um carinho em meus cabelos. Tudo parecia de volta ao lugar e eu me sentia incrivelmente feliz.

— Tae?

— Sim?

— Nosso apartamento é tão grande, não é?

— Bom, eu não diria grande. Ele é confortável para nós dois. Eu consigo guardar um pouco das minhas coisas nas araras de um dos quartos de hóspedes, mas se fosse realmente ficar perfeito, teria que fazer um closet maior. — Me viro o encarando. — Você quer um estúdio no outro quarto? Nós podemos conversar com Yoongi. Se ele indicar quem fez o trabalho de isolamento na casa deles em Busan, talvez seja mais fácil. Assim quando a inspiração surgir, vai ser mais fácil.

— Não. Amor... Eu... — Ele hesita. — E se talvez, Cami viesse morar aqui?

— O que?! — Digo me sentando.

— Nós temos quartos sobrando. Seria tão ruim assim trazer ela para ficar aqui?

— Jungkook, você está se ouvindo? Trazer uma mulher que não tem nenhum vínculo emocional conosco para morar na nossa casa? Você quer que eu ceda meu lado da cama para ela? Ou talvez que eu me mude permanentemente para outro apartamento?

— Tae, não seja assim. É só que ela não está se sentindo confortável no apartamento, sozinha.

— Amor, olha para mim. — Peço colocando as mãos em seu rosto. — Eu investiguei ela, ou melhor, paguei um detetive para fazer isso. Seu antigo apartamento é um pedaço do céu perto do buraco onde ela morava em Vegas. Ela tem uma cama confortável, todas as comodidades possíveis, está saudável. Você fornece todo tipo de comida para que ela se alimente bem e com qualidade. Ou seja, tudo o que podemos fazer para garantir que o seu possível bebê esteja saudável, estamos fazendo. Só não me peça um absurdo desses outra vez, por favor. — Me levanto.

— Onde você vai?

— Tomar banho. Talvez assim eu consiga lavar essa sua intenção ruim da minha pele. — Respondo já saindo.

— Intenção ruim? — Ele me segue. — Do que está falando?

— Você chega cedo em casa pela primeira depois de quase um mês. Me traz bolo. Janta comigo. Resolve assistir um filme e fazer carinho em mim. Faz mais de um mês que você não me toca. E eu como um idiota que sou, pensei que você tivesse feito tudo isso para se reaproximar, mas fez tudo isso na intenção de me persuadir a aceitar essa mulher na minha casa. Isso foi engenhoso e cruel da sua parte.

— Tae, não foi assim. Eu só... Eu... — Ele procura palavras, mas não sabe o que dizer.

— Está tudo bem. Eu vou superar isso. Já está tarde, vou tomar banho e dormir. Boa noite.

— Boa noite.

Acordo na manhã seguinte, ainda decepcionado. Me arrumo no quarto de hóspedes para não acordar Jungkook. Não quero conversar sobre o que houve ontem. A Charmant ainda está parcialmente vazia quando chego. Envio uma mensagem a Jimin pedindo que ele vá até a cafeteira próxima à empresa para tomarmos café e conversarmos.

— Um mês aqui e essa mulher já mostrou as garras. — Jimin resmunga assim que termino de contar sobre a conversa com Jungkook ontem à noite.

— Espero estar errado, mas tenho a impressão de que ela está tentando usar a gravidez para se aproximar dele. O problema é que Jungkook é tão inocente, que não percebe a intenção por trás dessas atitudes dela. No início da semana, ela ligou para ele às duas da manhã para dizer que tinha uma barata no banheiro. Em todo o tempo que moramos lá, nunca vi nenhuma barata.

— Ela queria que ele fosse lá matar? — Jimin pergunta indignado.

— Sim.

— E ele foi?

— Não. Pelo menos, não às duas da manhã. Ele passou lá pela manhã.

— O que Jungkook tem tem de bonito, tem de trouxa. Quem não percebe o que essa mulher está querendo? Soulmate, você tem que agir. Se não fizer nada, essa Serpente Prenha vai destruir o que vocês têm.

— Não acho que seja só ela. Tem algo errado com Jungkook. Desde a história com a senhora Park. Faz mais de um mês que nós não... Bem, você sabe.

— Um mês sem sexo? — Ele pergunta baixo, mas ainda assim chocado. — Nada? Tipo, nada mesmo? Nem uma chupadinha no chuveiro? Uma mão amiga? Nada? — Nego com a cabeça. — Se Yoongi faz algo assim comigo, eu enlouqueço. Sério mesmo. O que você pretende fazer?

— Nada.

— Como assim nada? Taehy, a vida não é só trabalho, precisa de diversão. E se nós sugerirmos uma brincadeira saudável? Yoongi, Jungkook, você e eu. — Ele pisca para mim, então sei que está propondo só para me fazer sorrir.

— Faz muito tempo, Jimin. — Chego bem próximo à ele. — Está com saudades? — Pergunto com uma voz sedutora e ele ri, o que me faz rir também.

— Vamos trabalhar.

— Melhor mesmo.

Caminhamos de volta à Charmant. Tudo parecia tranquilo, até ver o carro que entrava no estacionamento. Meu pai resolveu encher a paciência todos os dias nos últimos tempos.

— Taehyung, por que essa sala está trancada? — Ele pergunta assim que me vê.

— Minha sala só pode ser aberta por mim e você não entra nela sem minha autorização. Pode se retirar, temos muito trabalho a fazer e sua presença é incômoda.

— Você anda muito audacioso, garoto. Vamos ver o que fará quando eu assumir a empresa outra vez.

— Acho pouco provável. Minha mãe me contou que o divórcio finalmente saiu. Você já não tem mais o nome dos Kim, muito menos o poder que vem com ele. Seus dez porcento em ações não significam nada. Você agora é um acionista, com direito a voto como os demais, mas sem cargos de alto escalão. Volte para as suas garotas de vinte anos e festas em iates. É o melhor que pode fazer por todos.

Entro na minha sala deixando-o para trás. Jimin logo aparece. Passamos boa parte da manhã e tarde trabalhando juntos em uma coleção conjunta, até Soobin entrar na sala afobado com meu telefone pessoal em mãos.

— É Ji Eun. — É tudo que meu assistente diz.

— Sim?

Taehyung, minha avó acordou e quer ver vocês três. Já avisei Jungkook, mas não tenho o telefone de Hoseok.

— Ele trabalha comigo. Vou levá-lo. Obrigado por avisar.

Saio quase correndo. Passo pela mesa de Hobi o chamando. Chegamos ao hospital em pouco tempo. Passamos pelo procedimento de higienização e entramos em seu quarto. Ela sorri para nós.

— Meu raio de Sol. — Ela diz estendendo a mão para Hobi. — Você é a alegria em forma humana, um girassol iluminado. Eu sei que um dia, seus pais vão se arrepender do que fizeram e procurar você. Porque todos queremos um pouco de luz. Continue sorrindo, meu amor. Você é a esperança de muitos.

— Eu vou. — Ele sorri amplamente para ela, mesmo que seja nítida sua vontade de chorar.

— E você, meu príncipe em um cavalo branco. Em pouco tempo na minha vida, você fez toda a diferença. Sempre se preocupando com uma velhinha que mal conhecia. Eu adorava as quartas, porque sabia que você sempre me ligaria. Também amava os sábados, porque você sempre me enviava algo. Até do meu aniversário você se lembrou. Um menino tão bom, tão doce. Sua mãe veio me ver algumas vezes. Você se parece com ela, em tudo. Almas boas encontram almas boas e é por isso que sei que Jungkook e você estão destinados. Confie, no final tudo dá certo. — Ela passa a mão no meu rosto e sorri.

— Eu te amo como minha avó. — Deixo um beijo em sua mão.

Jungkook entra todo afobado. Ela sorri para ele e lhe estende a mão.

— Você carrega o peso do mundo nas costas desde que seu pai se foi. Tão responsável, trabalhador. Sinto muito por não ver seu filho nascer, querido. Sei que ele será bem cuidado e amado. Por você, mas também por eles. — Ela aponta para Hobi e eu. — Vai chegar o dia em que sua mãe se arrependerá, esteja aberto a perdoá-la quando a hora chegar. O perdão liberta. Você foi meu primeiro neto depois de Ji Eun. Seu sorriso está gravado na minha mente como o dela. Você é uma boa pessoa, mas é ingênuo em alguns momentos. Tome cuidado com isso. Está tudo bem ser um pouco egoísta às vezes. Seja feliz, meu menino. — Ela segura sua mão.

— Obrigado por tudo. Por cuidar de mim, me apoiar não me deixar desistir dos meus sonhos.

Agora já estamos todos chorando. O médico sinaliza para mim do lado de fora do vidro. Sigo para fora tentando não chamar atenção.

— Você já teve contato com outras pessoas em hospitais? Em situação semelhante? — Ele questiona.

— Já. Muitos não acreditam, mas eu vivi na prática. A melhora da morte.

— Sim. É muito debatido entre os médicos, particularmente, acredito que acontece. Esteja preparado.

— Obrigado doutor, sei que fez o possível para ajudá-la.

Volto para a sala observando os quatro. Conversando, sorrindo, relembrando histórias. Ficamos com ela até anoitecer. A despedida foi a parte mais difícil. No fundo todos sabíamos que a hora chegaria em breve. Jungkook e Hobi decidiram que voltariam juntos ao antigo apartamento, resolvi passar em um restaurante e comprar o jantar antes de ir, ninguém estava com cabeça para cozinhar. Logo que terminamos de jantar, a notícia chegou. Senhora Park se foi. Tranquila, sem dores, com um sorriso sereno no rosto. Levou consigo um pedaço de cada um que a conhecia, mas deixou um pedaço de si em troca.

Voltei ao hospital e ajudei Ji Eun com todos os detalhes para o funeral. Senhora Park desejava ficar em sua cidade, foi seu último pedido. Na tarde do dia seguinte nos reunimos na pequena cidade. Grande parte dos moradores vieram para prestar respeito à uma das mulheres mais incríveis que o mundo já viu. Ao final da cerimônia, Ji Eun, Jungkook, Camille (que ainda não entendi porque veio), Hobi, Jimin, Yoongi e eu fomos para a antiga casa da senhora Park. Seria perigoso pegar a estrada sem descansar. Nos acomodamos nos quartos e nos forçamos a descansar um pouco. Jungkook e eu ficamos no mesmo quarto.

— Vai ficar tudo bem, Kookie. — Digo baixinho, tentando consolá-lo.

Sua única resposta é chorar. O dia está quase amanhecendo, logo voltaremos para Daegu ou Busan, depende do que Jungkook decidir.

— Jimin e Yoongi sugeriram passarmos alguns dias em Busan. Talvez nos ajude a lidar com a perda. — Digo baixinho.

— Como você pode estar pensando em ir à praia em um momento como esse? — Ele pergunta em um tom grosseiro.

— Jungkook, estou tão triste com tudo isso quanto você, mas... — Começo, mas ele me interrompe.

— Não! Você não está! Sabe por que? A culpa é sua! — Jungkook explode apontando o dedo para mim.

— O que? — O encaro confuso.

— Se eu não tivesse ido com você para a França. Se Hobi não tivesse atolado em trabalho. Ela não se sentiria sozinha e não teria fugido do hospital. — Ele continua esbravejando e eu o encaro sem saber o que dizer.

— Já chega Jungkook! — Ji Eun diz em um tom firme.

Yoongi, Jimin e Hobi chegam juntos e analisam a situação em silêncio. Vejo Ji Eun respirar fundo como se juntasse coragem e então voltar a falar.

— Taehyung é provavelmente o mais certo entre todos nós desde o início. Ele acolheu amou e até mesmo assumiu as despesas médicas de uma mulher que não era nada dele, simplesmente por ser uma boa alma. Não foi por nada disso que minha avó saiu do hospital. Uma noite, ela acordou e parecia bem. Nós conversamos e eu a perguntei porque fugiu do hospital. Ela sorriu e disse que sentia muita falta do meu avô, dos meus pais e de como eu era quando criança. Que queria uma última vez, fingir tomar um chá com todos à mesa. Por muito tempo, Hoseok e você foram sua única família, então Taehyung apareceu e ela, que já havia desistido da vida resolveu esperar mais um pouco. Não foi por achar que vocês não eram o suficiente que ela fugiu, foi porque a saudade daqueles que se foram se tornou insuportável. — Vejo seus olhos marejados, os meus não muito diferentes.

— Você está sendo ridículo, Jungkook. — Hobi diz duramente. — Francamente, esperava muito mais de você. — Ele sai antes que Jungkook possa responder.

— Vamos, Tae. Esse ambiente está tóxico de mais nesse momento. — Jimin diz, me abraçando.

Yoongi dá um olhar reprovador para o primo e nos segue. Apesar do que Ji Eun disse, me sinto mal. Será que sou, de fato, culpado? Sigo refletindo se tenho culpa e me deixo ser guiado para fora da antiga casa da senhora, dando de cara com a mãe de Jungkook. Tenho a impressão de que ela ficou nos esperando para destilar seu veneno. Yoongi vai à frente, Hobi e Jimin ao meu lado.

— Nem se atreva. — Yoongi diz erguendo um dedo. — Volte de onde veio ou eu juro que contrato uma mulher para te dar uma surra tão grande que vai te virar do avesso.

A mulher arregala os olhos e se vai. Yoongi entra no carro, seguido por mim e Jimin. Meu Soulmate parece saber que me sinto quebrado e me abraça apertado, talvez só assim eu me mantenha inteiro.

— Vou ficar. — Hobi diz, provavelmente respondendo alguém. — Jungkook foi um imbecil, mas ainda é meu amigo. Alguém tem que ficar e levar a Serpente Prenha e ele para Daegu.

— Nós vamos para Busan. — Jimin diz baixinho. — Voltamos em dois dias. Jin e Sunny estão à frente de tudo e meu Soulmate precisa de um pouco de tranquilidade no momento. Se precisar de algo, me ligue.

— Se cuide, Hoseok. — Yoongi diz seriamente.

Aperto a mão de Tae em um gesto de carinho, sendo retribuído por um sorriso fraco. Um pedido silencioso de que ele cuide de tudo. O caminho até Busan foi silencioso. Yoongi e Jimin resolveram fazer uma parada para comprar comida, aproveitei para sair do carro e esticar as pernas. Continuo pensando se realmente tive culpa na morte da senhora Park, começo a chegar a algumas conclusões. Talvez Jungkook já não me ame e esse seja o início do fim. Meu telefone toca me tirando de meus pensamentos sombrios.

— Oi Hobi. Algo errado? Jungkook está bem? — Pergunto preocupado.

Sou eu, Tae. — A voz de Jungkook soa áspera. — Não tinha certeza se você atenderia se eu ligasse do meu número.

— Eu atenderia mesmo assim.

Sinto muito, Tae. Eu fui um idiota. Não sei porque disse aquelas coisas. Não é o que eu penso de verdade, muito menos o que sinto. Me sinto culpado pelo que houve com ela, mas definitivamente não é culpa sua. Me perdoe por ser um babaca.

— Jungkook, você não pode me machucar dessa forma. Desde que a senhora Park voltou para o hospital, você ficou estranho. Agora tudo faz sentido, não é? Você me culpa pelo que houve. Eu sinto muito por não sentir muito. Não sou culpado, Ji Eun disse isso com todas as letras. Não sei o que anda passando pela sua cabeça, mas eu não vou ficar me sentindo mal por algo que não é minha culpa. Meu pai quer minha cabeça e meu cargo em uma bandeja de prata, o conselho parece achar que pode ser uma boa ideia. Jimin me pediu ajuda para que possa adotar uma criança. E ainda tem você com Camille e seu bebê. Estou cansado, Jungkook. De ser o errado da nossa relação. De sempre ser o que tem que ceder. Vou tirar um tempo para mim. Focar no trabalho e pensar, sugiro que faça o mesmo. Algo não está certo. Vou ficar em Busan por dois ou três dias, depois vou para Seul por quinze ou vinte dias. É tempo o suficiente para refletirmos.

Tae, não vai. Você tem trabalhado de mais, sinto sua falta.

— Jungkook, preciso que você me entenda. Se o conselho der poder ao meu pai outra vez, muitas pessoas boas vão perder seus empregos. Contratos que beneficiam pequenos produtores e empresários de pequenas empresas serão prejudicados. Sinto sua falta desde que você se fechou para mim no dia em que a senhora Park voltou ao hospital. Faz um mês que você criou essa bolha intransponível à sua volta e não me deixa entrar. Eu te amo, Jungkook. De verdade. Você é meu noivo secreto e eu ainda espero o dia em que vamos nos casar, mas nesse momento, preciso que me entenda e que reflita.

Tudo bem.

— Preciso ir. Até mais.

Até.

Jungkook desliga a chamada me deixando mais convencido ainda de que talvez estamos chegando ao fim. Sempre que eu dizia "eu te amo" recebia uma resposta, dessa vez tive apenas silêncio. Jimin e Yoongi retornam com as compras. Seguimos para a casa deles em um silêncio confortável.

Passar dois dias em Busan me fez muito bem. Aproveitei para ajudar meu casal favorito com os papéis para adoção. Ajudei Yoongi por baixo dos panos a checar informações sobre barriga de aluguel, já que eles têm recebido muitas respostas negativas durante esse mês em que começaram a procura.

Seul esbanjava sua primavera quando cheguei. Jungkook me ligou algumas vezes, mas parecia cada vez mais distante. Resolvi afundar em trabalho e ter certeza que meu pai não teria nada para usar contra mim na reunião mensal do conselho.

Uma noite cheguei em casa e me deparei com um belo arranjo de tulipas me esperando na porta. Havia um cartão. "Sei que gosta de flores em casa, espero que goste dessas. JK." Me senti tão feliz com esse pequeno gesto. Até esqueci do cansaço e fome, liguei para ele imediatamente.

— Recebi suas flores. São lindas. — Digo assim que ele atende.

Fico feliz que tenha gostado. Reparei que não tinha nenhuma flor no apartamento ontem quando cheguei. Me dei conta de que sem você elas nunca chegariam em casa e que você não deve estar tendo tempo para comprar.

— Tem sido tudo tão corrido. Sinto muito, Jungkook, por te deixar assim. Prometo te recompensar por tanto tempo separados.

Cami disse que jamais me abandonaria assim. — Reviro os olhos em puro desgosto.

— Quando Camille estiver à frente de uma multinacional que emprega quase cem mil pessoas ela terá o direito de latir alguma coisa à respeito de como vivo minha vida e nosso relacionamento. — Respondo já sem paciência.

Taehyung! Não seja assim...

— Jungkook, eu estou cansado. Tive um dia cheio, difícil e estressante. Sempre que você me liga, tira um assunto do cu para fazer com que nós dois comecemos a brigar. Nos falamos depois. — Desligo sem paciência para esse drama todo.

Faltam três dias para que eu possa voltar para Daegu. Nesse meio tempo, Jin tem sido meu conselheiro. Amanhã definitivamente preciso de um conselho dele sobre essa situação.

— Ele disse isso com a maior naturalidade. Ou seja, ele está expondo nossa vida para aquela... Jin, o que eu faço?

— Primeiro, o que você não faz. Taehyung, seja esperto. Se essa mulher está de olho no que é seu, relembre o Jungkook quem ele ama. Só assim ele vai colocá-la no lugar dela. Não seja bobo. Se ele está contando coisas, é porque está tendo o que contar. Volte para Daegu e tente conversar com ele sobre tudo, menos ela. Claro que se ele falar algo você ouve, mas sempre desvie para o bebê.

— Você acha que vai funcionar?

— Claro.

Quando finalmente retornei a Daegu, esperava que Jungkook pelo menos estivesse em casa. Afinal, passava das dez. Só fui encontrá-lo no outro dia, à noite. Quando ele finalmente deu o ar da graça. Respirei fundo e fingi que estava tudo bem. Nos sentamos e tentamos nos resolver, mas muita coisa ficou no meio do caminho. Fiz como Jin sugeriu e sempre que Jungkook falava sobre Camille, eu logo desviava o assunto para o bebê. Qual seu tamanho? Se já estava se mexendo? Qual a previsão de nascimento? Qualquer coisa para desviar o assunto. Porém a distância continuava entre nós. Definitivamente estava tentando o meu melhor, mas estava cansativo fazer isso sozinho.

Faz três meses que Camille chegou. Meu inferno particular começou no dia em que essa garota pisou os pés em Seul. Hoje Kookie e eu completamos sete meses juntos. Resolvi deixar todas as animosidades de lado e comemorar com meu amor. Envio uma mensagem logo pela manhã.


Bom dia lindo. Esteja em casa às oito para o jantar, temos muita a celebrar.

Te Amo.


Tudo bem, amor. Nos vemos em casa.


Tento me manter alegre durante todo o dia. Me recuso a me estressar com trabalho. Saio do escritório mais cedo, para ter tempo de cozinhar com tranquilidade. Estou fazendo uma mescla dos meus pratos favoritos e os de Jungkook. Quando tenho tudo pronto, me organizo para tomar um longo e relaxante banho. Troco os lençóis e seleciono nossa playlist favorita. Visto uma bela roupa, comprada especialmente para a ocasião. Me sento no sofá às sete e cinquenta e sete, pronto para esperar por Jungkook.

O relógio marca oito e quinze. Me convenço que ele está preso no trânsito. Oito e quarenta, começo a me preocupar. Algo ruim pode ter acontecido. Ligo em seu telefone, mas cai na caixa de mensagens. Isso aumenta minha preocupação. Ligo na Ddaeng, ninguém atende, o que significa que todos já foram. Ligo até mesmo nos hospitais, para ter certeza de que ele não está lá. Só resta uma opção. Ligo para Hobi, ele deve saber de algo.

Taehyung? Tudo bem? Algo errado para amanhã?

— Jungkook não chegou, nós marcamos às oito, já são quase onze. Você o viu?

Não, eu saí do escritório e passei na casa de um amigo. Não estou sabendo de nada.

— Me desculpe, Hobi. Sinto muito atrapalhar sua noite. Se você tiver notícias, por favor me avise.

Sem problemas. Se eu souber de algo, te aviso imediatamente. Boa noite.

— Boa noite.

Sento no sofá com uma taça de vinho, pedindo aos Céus que meu noivo esteja bem. Os piores cenários passam pela minha cabeça. Abro o aplicativo de mensagens esperando por notícias. Nada. O sono começa a me atingir. Não consigo lutar contra o cansaço e adormeço.

Acordo sobressaltado com o barulho das chaves sendo deixadas sobre a mesinha da entrada. Me coloco de pé imediatamente. Lá está Jungkook, ileso. Meu coração se sente momentaneamente aliviado.

— Tae? — Ele me encara confuso.

— Onde você esteve? Eu fiquei tão preocupado.

— Eu estava com Cami. — Ele diz com a maior cara de sonso.

Acabo rindo soprado. Incrédulo da minha capacidade de ser um idiota ridículo.

— Não passou pela sua cabeça que eu poderia ficar preocupado com o seu sumiço? — Pergunto frustrado.

— Taehyung, não seja ridículo. Você sabe que eu sempre passo por lá antes de vir para casa.

— Jungkook, nós marcamos às oito. São duas da manhã! Eu esperei por você para comemorar nosso aniversário e... — Me interrompo. — Quer saber, esquece. Está tarde, tenho muito o que fazer amanhã.

— Tae, não seja assim. É só um aniversário. Não é o fim do mundo.

É como se uma espada fosse cravada em meu peito. Sinto uma lágrima solitária escapar. Me seguro para não chorar.

— É isso o que você acha?

— Taehyung, não é para tanto. Podemos comemorar amanhã, já que você faz tanta questão.

— Não Jungkook, eu não faço questão. Você sequer se lembra... — Respiro fundo.

— Conversamos sobre isso quando você estiver mais calmo. — Ele passa por mim em direção ao quarto.

— Pode parar bem aí! Você não vai dormir no meu quarto.

— O que? Tae, não seja infantil.

— É o que eu me tornei para você agora? Um ridículo e infantil? Já que eu sou tantas coisas ruins, pode voltar para o seu antigo apartamento e dormir por lá! FORA!

— Tae, você ficou maluco? Eu não vou sair. Se eu estivesse em qualquer outro lugar, você não estaria nervoso, mas como eu estava com a Cami, você faz esse escândalo. — Ele revira os olhos.

— Jungkook! Você está se ouvindo? Relembre as merdas que disse para mim desde que chegou! São três meses dessa palhaçada! Estou cansado de você agir como um cachorrinho dessa mulher! De ver você me tratar como um nada desde que ela chegou.

— Tae, ela carrega o meu filho.

— Não tiro a importância dessa criança, Jungkook. Porém, examine a forma como tem me tratado, o quanto tem negligenciado nossa relação. Você ainda me ama?

— É claro que amo, Tae. Eu só... — Ele é interrompido pelo toque do telefone.

— Seu telefone estava ligado, você só deliberadamente não atendeu minhas ligações.

— Não. Tae, não foi assim. Eu juro que não ouvi suas ligações. Deixei o telefone na sala e não ouvi tocar lá do quarto.

— Do quarto? Jungkook, o que você estava fazendo no quarto com aquela garota?

— Massagem. Ela disse que meus ombros estavam tensos, então se ofereceu para fazer uma massagem.

— Tudo bem para você? Receber uma massagem dela?

— Claro. Por que não?

— Jungkook, já chega. Não dá mais para mim. — Ele me encara surpreso.

— O que?

— Eu quero terminar. Quero você fora desse apartamento, fora da minha vida! Namorar você foi um erro, o maior que já cometi na minha vida. — As lágrimas escorrem sem que eu consiga controlar.

— Não, Tae. Você não está falando sério. O que nós temos é lindo. Não me deixe assim.

— Estou cansado, Jungkook. De lidar com toda essa situação. Eu estive mais que disposto em acolher seu bebê, cuidar se fosse necessário, mas ver você me trocar por essa mulher? Isso é pedir de mais.

— Tae, não faz isso. Vamos conversar amanhã, com calma.

— Não temos mais o que conversar. É melhor atender, sua dona te chama. — Aponto para seu telefone que voltou a tocar.

Saio da sala sem dizer mais nada. Tranco a porta do quarto e só então me permito chorar, sem segurar nada. Choro para entorpecer a dor. Me sinto quebrado, morto por dentro. 


Notas Finais


Que capítulo foi esse?! Até eu estou chocada.
Pessoas, estou sem betas, então conto com vocês para me contarem o que acharam e também se houver algum erro.
Obrigada por ler! 💜
*Boçal - que ou aquele que é desprovido de inteligência, sensibilidade, sentimentos humanos; besta, estúpido, tapado.


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